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Ao longo dos tempos, tem-se assistido a transformações da sociedade relativamente às atitudes, objetivos políticos e educacionais estratégicos relacionados com a pessoa com deficiência. Em Portugal, a tendência atual orienta-se pelos mesmos princípios da Comunidade Europeia, consignados na Declaração de Salamanca, Declaração de Madrid e Decretos de Lei, como o Decreto-Lei 319/91 e o Decreto-Lei 3/2008. Estas medidas legislativas refletem a tendência da sociedade cada vez mais consciente do direito à Educação para todos e retratam um percurso que vai desde a exclusão/ segregação da criança com NEE até a sua integração e inclusão na sociedade em geral e em particular na sala de aula.

Tradicionalmente todas as sociedades possuem formas próprias de regular a existência e a convivência com as pessoas que nascem “diferentes”. Na Grécia Antiga, as crianças com deficiências físicas eram colocadas na encosta de uma montanha ou atiradas aos rios (Sprinthall & Sprinthall, 1990; Correia, 1997). No entanto, as políticas de discriminação podem aparecer sob outras formas. A marginalização psicológica é uma dessas formas de discriminação e manifesta-se pela negação à criança com NEE da possibilidade de se desenvolver, excluíndo- a do grupo maioritário ou negando-lhe cuidados adequados e diferenciados.

A integração ou a sua variante mais actual, a inclusão, consiste na expansão das fronteiras e redução das barreiras que segregam a criança da “corrente principal” ou o conceito de Mainstreaming5. Esta máxima preconizada na “public law”, já referida como a Magna Carta das crianças excluídas, obriga a inclusão na sala de aula das crianças com deficiências fisicas, sensoriais, mentais e de comportamento. A máxima menos restritiva pressupõe, não só a eliminação das barreiras arquitetónicas, mas também ensino diferenciado, especializado e com currículos adequados.

5 O conceito de Mainstreaming, traduzido do inglês significa “corrente principal”. Advém da lei Americana de Rehabilitation Act de 1973 que garante o direito á educação das pessoas com NEE. Até à publicação da lei os indivíduos com deficiência ficavam confinados aos seus quartos ou instituições segregadas da sociedade. Segundo esta lei as escolas deveriam apetrechar-se dos meios necessários ao atendimento de crianças e jovens com NEE e outras desvantagens.

Atualmente, as condições de atendimento à criança com NEE, mesmo em países com carências de recursos como o nosso, são consideravelmente mais adequadas. Com as sucessivas medidas legislativas publicadas, com especial enfoque o Decreto-Lei n.º 3/2008, de 7 de janeiro, a escola e o professor do ensino regular veem, progressivamente, acrescer as responsabilidades com a criança com NEE. Muito para além de a criança ter de se adaptar à escola esta, ao inverso, deve adequar-se à criança, proporcionando-lhe as condições de aprendizagem adequadas à sua condição. Esta nova realidade que obriga o professor regular a responsabilizar-se pelo ensino de todos os alunos independentemente da problemática que apresentem é provavelmente o maior desafio dos últimos anos colocado, ao sistema, à comunidade educativa e à escola.

A inclusão da criança com NEE na sala de aula pressupõe muito mais do que a mudança de atitudes. A formação necessária para responder com flexibilidade de estratégias e métodos de ensino diferenciados conforme os estilos de aprendizagem de cada aluno, não só os colocados pela existência de perturbações de desenvolvimento e de aprendizagem, como também da criança dita normal que em determinado período da sua vida necessita de apoio em determinadas matérias. A individualização das atividades de ensino, tendo em conta as especificidades das perturbações e das dificuldades de aprendizagem, é o cerne do desenvolvimento do currículo e vários autores (Correia,1997; Cruz, 1999, 2007) são unânimes em afirmar que, sem a devida preparação do professor do ensino regular, a inclusão não se torna uma realidade. Inclusão sem preparação e sem dotação das escolas dos recursos necessários consiste num processo de “despejo” da criança numa sala de aula e esperar que o professor seja capaz de ser responsivo a todas as suas necessidades (Correia,1997:161). Sobre o assunto, o autor afirma que as instituições de ensino superior têm um papel fundamental, pois devem formar os professores do ensino regular para a compreensão das dificuldades do aluno e a forma como estas afetam a aprendizagem; identificar as necessidades de aprendizagem e desenvolver as experiências de aprendizagem prescritivas; individualizar a educação; ter uma compreensão emocional da criança, entre outras.

A inclusão eficaz de alunos com NEE na sala regular é um processo que reclama do professor regular necessidades de colocar no currículo do aluno modificações apropriadas, sem as quais as necessidades particulares decorrentes da sua condição não se satisfazem. Para além dos recursos físicos, didáticos e humanos, provavelmente a adaptação mais importante para o aluno e mais difícil de executar está ao nível do currículo. As adequações ao nível dos conteúdos, objetivos e metodologias são a fonte de inseguranças de alguns professores, pois

por um lado sentem o constrangimento da necessidade de “cumprir os programas” e, por outro, a evidente necessidade de proceder a adequações, pois nem todos podem aprender tudo. Mesmo depois de ajustadas as necessidades ao nível dos objetivos, conteúdos e metodologias torna-se necessário adaptar as formas de avaliação e garantir que a mesma é feita de forma justa, sem que fiquem em situação de desvantagem os que cumpriram o currículo comum nem os do currículo especial. Correia (1997:105) condensa as apreensões dos professores do ensino regular perante a situação de inclusão de alunos com NEE na sala de aula, uma vez que, “ignoram aquilo de que esses alunos precisam, como não saberiam quais os métodos a adoptar

e os meios didácticos a utilizar”.

Os currículos, conforme a tradição do nosso país e de uma forma geral dos países do Sul, prescrevem as aquisições que devem ser mantidas às gerações vindouras. Não obstante, e segundo Ribeiro (1993) e Correia (1997) estes devem ser contextualizados através das medidas existentes, nomeadamente o Projeto Educativo de Escola (PEE) e o Plano Anual de Turma (PAT). Na abordagem presente importa salientar as adequações curriculares ao nível da turma e a nível individual.