• Nenhum resultado encontrado

MERCADOS DE OBRIGAÇÕES DE DÍVIDA PÚBLICA DA ÁREA DO EURO CONFRONTADOS COM TENSÕES

CRESCENTES EM 2011

As taxas de rendibilidade das obrigações de dívida pública de longo prazo com notação AAA apresentaram, em geral, uma descida em 2011, tanto na área do euro como nos Estados Unidos. De cerca de 3.3%, o nível que registavam em ambas as regiões no início de Janeiro, baixaram para 2.0% nos Estados Unidos e para 2.6% na área do euro no fi nal de Dezembro (ver Gráfi co 12). Nos três primeiros trimestres de 2011, as taxas de rendibilidade das obrigações de dívida pública a 10 anos da área do euro e dos Estados Unidos seguiram trajectórias semelhantes, mantendo a tendência iniciada em meados de 2010. No resto do ano, porém, as taxas de rendibilidade nas duas regiões tenderam a divergir, principalmente porque as da área do euro refl ectiram as rápidas oscilações no sentimento do mercado, associadas, por seu lado, sobretudo à evolução da crise da dívida soberana.

Gráfico 11 Taxas de juro do BCE e taxa de juro overnight

(percentagens por ano; dados diários)

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5

Jan. Mar. Maio

2011

Jul. Set. Nov.

taxa de juro das operações principais de refinanciamento taxa de juro da facilidade permanente de cedência de liquidez

taxa de juro da facilidade permanente de depósito taxa de juro overnight (EONIA)

Fontes: BCE, Bloomberg e Thomson Reuters.

Gráfico 12 Taxas de rendibilidade das obrigações de dívida pública a 10 anos

(percentagens por ano; dados diários: 1 de Janeiro de 2006 a 2 de Março de 2012) 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0 5.5 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0 5.5 2006 2007 2008 2009 2010 2011 área do euro Estados Unidos

Fontes: Thomson Reuters e BCE.

Nota: A taxa de rendibilidade a 10 anos da área do euro inclui apenas países com uma notação AAA de acordo com a Fitch.

Em 2011, a evolução das taxas de rendibilidade das obrigações de dívida pública teve duas fases distintas. Em Janeiro e Fevereiro, as taxas de rendibilidade das obrigações de dívida pública a 10 anos da área do euro e dos Estados Unidos aumentaram, à medida que os dados económicos divulgados continuavam a sinalizar uma recuperação económica sólida. Na área do euro, o sentimento do mercado proporcionou apoio adicional, refl ectindo a melhoria das condições nos mercados de dívida soberana dos países com tensões orçamentais, como consequência de expectativas quanto a uma extensão do âmbito e da dotação do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF – European Financial Stability Facility). Nos Estados Unidos, os mercados de obrigações de dívida pública benefi ciaram do apoio adicional dos planos fi scais anunciados pela administração norte-americana em Dezembro de 2010.

A segunda fase teve início em Março, quando a tendência de sentido ascendente das taxas de rendibilidade das obrigações de dívida pública cessou, tanto na área do euro como nos Estados Unidos, criando as condições para um longo período de declínio. A inversão da tendência foi desencadeada pelas tensões políticas no Norte de África e no Médio Oriente e pelo sismo no Japão, que provocaram, em geral, fl uxos de investimento para activos seguros, sobretudo para activos denominados em dólares dos Estados Unidos e em euros. Parte do decréscimo das taxas de rendibilidade deveu- -se também a uma avaliação menos positiva do crescimento nos Estados Unidos, no contexto de um aumento da restritividade da política monetária na China e de uma descida dos preços das matérias-primas, que os participantes no mercado tenderam a associar a sinais de um abrandamento da economia mundial. Na área do euro, a nova intensifi cação das tensões nos mercados de dívida soberana e as preocupações crescentes acerca de uma possível reestruturação da dívida soberana da Grécia fomentaram um decréscimo das taxas de rendibilidade nos países com notação AAA, num contexto de prémios de liquidez elevados.

A partir de Julho, a crise da dívida soberana na área do euro alargou-se para além das economias de menor dimensão e começou a propagar-se também a alguns países de grande dimensão. Tal levou a uma nova descida das taxas de rendibilidade das obrigações de dívida pública a 10 anos com notação AAA, na sequência de uma intensifi cação da aquisição de obrigações como “fuga para a segurança”. Apesar de um aumento da incerteza do mercado no início de Agosto, desencadeado tanto pela redução da notação da dívida soberana dos Estados Unidos por parte de uma das três principais agências de notação de crédito como pelas discussões sobre o limite da dívida pública nos Estados Unidos, o decréscimo das taxas de rendibilidade associado ao fenómeno da “fuga para a segurança” persistiu, face a nova evidência de um enfraquecimento das perspectivas económicas e a uma reavaliação pelos mercados da trajectória futura das taxas de juro de curto prazo.

No último trimestre do ano, as taxas de rendibilidade das obrigações de dívida pública a 10 anos da área do euro com notação AAA subiram de forma moderada, atingindo um máximo ligeiramente acima de 3% no fi nal de Novembro e diminuindo depois para aproximadamente 2.7% no fi nal do ano. Nos Estados Unidos, pelo contrário, as taxas de rendibilidade das obrigações correspondentes continuaram a reduzir-se, descendo cerca de 20 pontos base para 2%, como consequência da apetência persistentemente elevada dos investidores internacionais por activos denominados em dólares dos Estados Unidos e do anúncio pelo Comité de Operações de Mercado Aberto do Sistema de Reserva Federal (Federal Open Market Committee − FOMC) de que iria alargar o prazo de vencimento médio dos títulos do Tesouro que detinha. O aumento das taxas de rendibilidade das obrigações da área do euro com notação AAA, nesta parte do ano, pode ser atribuído a dinâmicas divergentes nos diferentes países da área do euro com notação AAA. Embora as taxas das obrigações de dívida pública alemãs e francesas tenham seguido trajectórias semelhantes nos três primeiros trimestres de 2011, em Outubro começaram a

divergir, refl ectindo diferenças crescentes nas percepções quanto ao risco soberano. Tal foi particularmente visível na primeira quinzena de Novembro, quando as taxas de rendibilidade das obrigações alemãs continuaram a descer, em consonância com os desenvolvimentos nos Estados Unidos, ao passo que as taxas de rendibilidade das obrigações francesas aumentaram consideravelmente.

Um elemento importante nos mercados de obrigações de dívida pública da área do euro em 2011 foi a evolução divergente das taxas de rendibilidade entre países, como consequência das respectivas notações de crédito ou das percepções dos mercados quanto

aos fundamentos orçamentais dos vários países. No geral, as taxas de rendibilidade de longo prazo decrescentes em alguns países da área do euro com notação AAA e as taxas de rendibilidade crescentes em países da área do euro com notações mais baixas podem ser vistas como uma indicação de uma percepção de que o desvio em termos de risco entre os dois grupos de países estava a aumentar. No entanto, os co-movimentos positivos nos prémios dos swaps de risco de incumprimento (credit default swaps – CDS) da dívida soberana entre todos os países da área do euro fornecem evidência de uma percepção de que a dívida soberana envolvia maior risco no conjunto da área do euro, embora em diferentes graus (ver Caixa 5).

Caixa 5

PERTURBAÇÕES NOS MERCADOS DE DÍVIDA SOBERANA DA ÁREA DO EURO E REPERCUSSÕES NO

Outline

Documentos relacionados