• Nenhum resultado encontrado

Este capítulo descreve as ações tomadas frente aos objetivos dessa pesquisa, os quais foram definidos, de modo mais amplo, no sentido de analisar o saber docente no trato da oralidade e, de modo mais específico, no sentido de compreender o olhar docente sobre o oral enquanto objeto de ensino-aprendizagem e como os professores analisam o ensino do oral a partir de um conjunto de atividades presentes em livros didáticos de língua portuguesa.

Das etapas da pesquisa

Com vistas a alcançarmos esses objetivos, estruturamos a investigação nas etapas abaixo indicadas:

(i) Questionário de identificação, cujo propósito foi melhor conhecer a trajetória de formação e atuação profissional dos participantes, pois acreditamos, conforme Tardif (2008), que a construção dos saberes é plural e agrega saberes oriundos da formação profissional, dos saberes curriculares, disciplinares e experienciais. Essa multifatorialidade nos conduz a melhor conhecer o perfil dos sujeitos e dialogar com a sua formação no processo analítico da pesquisa.

(ii) Entrevista semi-estruturada, cuja finalidade se constituiu em sondar a compreensão e a construção dos sabres docentes para o ensino da oralidade. Neste propósito, as questões levantadas abarcaram dimensões relativas aos objetivos para o ensino de língua portuguesa; ao olhar docente sobre as proposições de livros didáticos para atingir os objetivos desse ensino, bem como o trato com a oralidade; as demandas de fazer pedagógico docente para o ensino do oral; a sua trajetória de formação inicial e em serviço; bem como as suas proposições para a efetivação do trabalho com a oralidade. As falas dos sujeitos foram devidamente gravadas (áudio-gravação) com a autorização dos participantes.

(iii) Protocolo de atividade do livro didático, cuja função é trazer exemplificações de propostas de ensino da oralidade indicadas por diferentes manuais, tendo em vista refletir como o docente compreende a oralidade a

partir de um conjunto de atividades presentes em livros didáticos de língua portuguesa que se propõem a tratar do referido eixo didático. Nesse sentido, selecionamos seis exemplos de atividades coletadas em duas coleções de livros didáticos destinados aos anos iniciais do ensino fundamental (1ª a 4ª séries – à época), cujos manuais foram analisados por nós na ocasião do mestrado.

Das estratégias de seleção do corpus de análise

A eleição dos sujeitos envolvidos na pesquisa se deu pela “seleção de casos recomendados”, em que os mesmos foram indicados pelo assessor pedagógico da Rede de Ensino (GOETZ e LECOMPTE, 1984, citados por MOREIRA e CALEFFE, 2006, p. 206), bem como pela aceitação voluntária dos sujeitos em participarem da investigação.

A definição do quantitativo de sujeitos envolvidos nessa pesquisa também se deu por um novo movimento exploratório da dissertação de mestrado, cujo objetivo foi verificar para quais níveis de ensino havia maior ocorrência de atividades orais. Logo, observamos uma maior concentração de atividades voltadas para o ano de consolidação do sistema de escrita alfabético, 3º ano, e demais propostas com foco nos anos posteriores, 4º e 5º anos.

Os resultados da exploração nos conduziram a focar a investigação em três sujeitos de pesquisa, atuantes de 3º ao 5º ano, respectivamente. Os sujeitos foram identificados por uma única letra seguida de numeração que identifica o nível de ensino em que atuavam. Assim, temos para P3, por exemplo, a identificação de professora que lecionava no terceiro ano do ensino fundamental (anos iniciais).

No quadro geral, vejamos a caracterização dos sujeitos participantes da pesquisa. REDE DE ENSINO PROFESSORAS PARTICIPANTES ANO CICLO DE ATUAÇÃO TEMPO DE DOCÊNCIA TEMPO DE DOCÊNCIA NA REDE FORMAÇÃO Escola municipal localizada na região metropolitana de Recife.

P3 3º ano (2ª série) 13 anos 13 anos Pedagogia (Pós-

graduação)

P4 4º ano (3ª série) 09 anos 06 anos Pedagogia (Pós-

graduação)

P5 5º ano (4ª série) 15 anos 05 anos Pedagogia (Pós-

graduação)

A seleção das docentes obedeceu aos seguintes pré-requisitos:

a) serem professores efetivos da Rede municipal de ensino com experiência mínima de cinco anos;

b) terem formação mínima em curso normal médio; c) atuarem em salas de aula de 3º ao 5º ano;

d) fazerem uso do livro didático em suas práticas (seja ele o manual adotado na Rede ou da escolha pessoal do professor);

d) terem frequentado ou estar frequentando cursos de formação continuada;

e) aceitarem participar da pesquisa, contribuindo para um bom andamento da mesma.

Os critérios estabelecidos visavam:

a) trazer para o campo de investigação professores integrados na cultura da rede de ensino e no seu campo de atuação;

b) que os professores possuíssem uma formação com habilitação para o magistério, o que pressupõe sujeitos competentes para a atuação no campo;

c) que os mesmos se enquadrassem no nível de ensino compatível com o critério de seleção estabelecido por nossa pesquisa (3º ao 5º anos);

d) que eles utilizassem livros didáticos em sua prática pedagógica o que, possivelmente, os habilita a terem ferramentas/critérios de análise para avaliar as demais propostas que lhes fossem apresentadas;

e) a predisposição dos docentes a, de forma voluntária, participar como sujeito da investigação tendo a sua fala gravada, transcrita e posteriormente divulgada por nossa pesquisa.

Fez parte desse processo de coleta de dados o nosso compromisso ético com as docentes, no sentido de preservar as suas imagens, bem como de entregarmos uma cópia da transcrição de suas falas para que pudessem ler e revisar. Com esse acordo as professoras ficaram livres para ocultarem ou acrescentarem as informações que desejassem. Atrelamos a divulgação de suas falas somente após a sua leitura/revisão dos textos. Comprometemo-nos também a guardar de forma sigilosa as cópias das gravações após a finalização da pesquisa.

Não houve por parte dos professores indicações de mudanças nos seus textos. Apenas P5 nos informou que havia subtraído do texto algumas marcas orais de repetição, pois segundo ela, por vezes a sua fala era tautológica. Explicamos à docente que no processo de recorte dos fragmentos das falas para análise e o tipo de pesquisa a que nos filiamos – análise de conteúdo - as repetições não eram tomadas como objeto de discussão. Feitas as elucidações, não houve mais pronunciamento da docente.

A opção pela seleção de professores pertencentes a uma única escola pública municipal21, localizada na região metropolitana do Recife, levou em consideração diferentes elementos, dentre eles:

a) o investimento sistemático da Rede com a formação continuada (FC) de seus professores, o que evidencia uma preocupação com a qualidade na formação em serviço dos seus docentes;

b) o nosso trabalho, no ano de 2009, como assessora pedagógica e formadora de professores do município em uma das escolas da Rede, critério esse que favoreceu também a nossa escolha por investigar professores de uma escola em particular.

Avaliamos que os requisitos elencados por nós contribuíram para a seleção de sujeitos comprometidos com a formação qualificada dos educandos e abertos a pensar sobre a sua prática em um movimento contínuo de ação-reflexão-ação (SHÖN, 2000), tríade que estrutura práticas e possibilita a explicitação e construção de saberes.

A preparação para a coleta dos dados envolveu visitas regulares à escola para maior aproximação com as professoras e negociação com a coordenação dos dias e horários que iríamos nos encontrar individualmente com cada sujeito para procedermos às etapas de preenchimento do questionário de identificação, das respostas às questões da entrevista e análise de protocolo de atividade.

Os dados foram coletados no período de março a junho de 2011. O horário de coleta correspondeu ao turno no qual atuavam as professoras, P3 e P4 – manhã; e P5 - tarde. O dia da visita foi agendado de acordo com a data dos encontros pedagógicos realizado pela Rede, em que a coordenação, junto às professoras, planejava suas atividades mensais. Em virtude desse evento, as aulas dos alunos somente aconteciam no primeiro momento do turno, que se estendia até a hora do intervalo, ficando o horário posterior para o referido encontro.

21

Esclarecemos que por questões de acordos entre os sujeitos da pesquisa, o nome da escola não será divulgado, tampouco a Rede que serviu de base para a investigação.

Nessa configuração, a coordenação nos autorizou a fazermos nossa coleta de dados no primeiro momento das aulas, no próprio espaço escolar. As professoras se programaram com atividades para os seus alunos, algumas contavam com apoio de estagiárias que assumiam o comando das atividades.

A coleta de dados seguiu os passos já anunciados: questionário de identificação; entrevista semi-estruturada e protocolo de atividade do livro didático. Detalharemos a seguir os dois últimos instrumentos:

A entrevista obedeceu ao roteiro composto por dez (10) questões investigativas, que, ao serem tratadas por nossa análise, foram alocadas em 5 (cinco) categorias.

ENTREVISTA CATEGORIAS

1. Para você, qual o objetivo de se ensinar à língua portuguesa nos anos iniciais do ensino fundamental? (na série em que você atua)?

1. Olhares docentes sobre os objetivos do ensino da língua materna na prática pedagógica e nos manuais didáticos.

2. Você considera que as atividades propostas pelo livro didático de língua portuguesa dão conta desse objetivo que você citou?

3. No que diz respeito aos eixos de ensino de língua portuguesa: leitura, produção de texto e oralidade, por exemplo, quando é que você considera que o livro didático trabalha a oralidade?

2. Olhares docentes sobre a oralidade como eixo de ensino no livro didático de língua portuguesa.

4. Em sua prática, você já realizou alguma atividade que teve como foco a oralidade? O que você ensinou? Como eram essas atividades? Poderia descrever?

3. Práticas docentes para o ensino do oral: atividades, demandas, objetivos e avaliação .

5. Houve alguma demanda específica por parte de seus alunos para você executar as atividades?

6. Você estabeleceu algum critério para selecionar essas atividades? Quais? 7. A realização da atividade deu conta

dos objetivos que você traçou para ensinar? De que forma você percebeu esse bom resultado?

8. Você destacaria alguns pontos que poderiam ser melhorados no seu trabalho com oralidade? Quais? Poderia detalhar?

9. A sua trajetória de formação docente

influenciaram a construção e realização dessa atividade com oralidade? De que forma?

4. formação para ensinar a oralidade.

10. Se algum professor/a lhe pedisse orientação de alguma atividade para trabalhar com a oralidade junto a uma turma do mesmo ano que você leciona, qual sugestão daria? Poderia detalhar?

5. Proposições docentes para o ensino da oralidade.

Tabela 2. Apresentação do roteiro de entrevista e as categorias analíticas referentes a análise da entrevista.

No que diz respeito ao protocolo de atividade do livro didático, revisitamos o corpus de atividades analisadas por nós na ocasião do mestrado22, em que investigamos as coleções Português uma Proposta para o Letramento: ensino fundamental, São Paulo: Moderna, 1999 da autora Magda Soares (doravante C1) e Vitória Regia – Língua Portuguesa, Campina Grande do Sul/PR. Ed. Lago, 2001, da autora Solange Gomes (doravante C2).

As atividades analisadas na dissertação compunham propostas de coleções avaliadas pelo PNLD 2004, antes da vigência do ensino fundamental de nove anos, portanto organizadas em séries (1ª a 4ª séries do ensino fundamental). No trabalho que ora apresentamos, ajustamos a série de ensino ao ano de escolarização, à medida que observamos as especificidades de cada etapa. Assim, o livro de 2ª série passou a corresponder ao 3º ano do ensino fundamental – anos inicias.

Selecionamos cinco exemplos de atividades com base em quatro categorias de análise empreendidas na investigação acima aludida, entretanto, trouxemos um exemplo de atividade não contemplada nas categorias de discussão de nossa dissertação, a saber, a atividade que trata da “oralização da escrita”, em virtude da recorrência, em uma das coleções analisados (C2), que tomava exemplos de tal natureza como atividade oral, o que não se afina com a concepção de oralidade que nossa pesquisa se filia. Os protocolos de atividades foram organizadas em 6 (seis) categorias:

22

A dissertação de mestrado defendida por nós no ano de 2006, no Programa de Pós-Graduação em Educação, UFPE teve por título: Livros didáticos de língua portuguesa: propostas didáticas para o ensino da linguagem oral.

CATEGORIAS DA

Documentos relacionados