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Para tratar da produção e compreensão docente sobre o gênero textual oral, selecionamos a atividade 6, ilustrada abaixo, cuja proposta envolve uma entrevista oral.

Após a ilustração da atividade em questão, apresentamos algumas análises à luz das considerações dos sujeitos investigados.

Atividade 6

Obra: Português uma Proposta para o Letramento: ensino fundamental, 3ª série. São Paulo: Moderna, 1999.

Autora: Magda Soares

Continuação

Continuação

Na abordagem sobre os objetivos da atividade, relativas ao trato com a oralidade, P3 afirma que a questão visa a:

Trabalhar essa questão da expressão oral, que alguns alunos eu acho que nem todos participariam, né? Até porque ele questiona quem tem irmão menor, os outros vão ser repórteres é? Mas assim, de toda forma vão ter sempre aqueles que vão ficar calados sem se expor se o professor não orientar ou até dizer: “Oh fulaninho faz uma pergunta agora o que que você quer perguntar?” Alguns vão ficar paralisados. É mais essa questão da expressão oral e da leitura, eles terão de ler os textos pra depois desenvolver a questão das perguntas (P3).

Destacamos na fala de P3 a atenção para a expressão oral e para a leitura como objetivos da atividade em tela. Para a docente, o momento da expressão oral pode ser compreendido como espaço em que o aluno deve falar sobre o assunto em pauta. Percebemos que a ação de desenvolver a expressão oral e promover a discussão e a conversação em sala de aula envolve atividades que fazem parte também de um trabalho voltado para desenvolver a oralidade. Entretanto, sem objetivos claros no sentido de desenvolver competências ligadas ao desenvolvimento da argumentação, por exemplo, incorre-se em atividades que, embora sejam realizadas oralmente, não apresentam elementos que visem a garantir os objetivos pretendidos.

No que se refere a P4, vemos que a professora, ao analisar a proposta, faz algumas considerações sobre os comandos dispostos para sua realização. Dentre essas considerações, enfatizamos as atividades de leitura silenciosa, resgate dos conhecimentos prévios dos sujeitos para a execução da atividade e discussão sobre o tema, conforme podemos notar no trecho de sua fala, a seguir.

Ai que interessante! Essa atividade aqui né, como aqui no enunciado ta falando assim que antes, antes da leitura né. Porque se propõe uma leitura silenciosa e antes tem que ter uma atividade oral, né. Eu...eu tô entendendo que deve ser alguma discussão, alguma conversação, né, sobre... sobre o assunto. Aí assim, o que me chamou atenção é porque são dois textos com o mesmo título, só que um fala que o irmão menor é ruim ter, é é uma coisa ruim e o outro fala que é bom, né. Isso ai realmente vai gerar uma polêmica, com os meninos, né. Aí depois da oralidade tem a leitura silenciosa que eles vão ler e depois é a interpretação escrita né, que é uma interpretação de texto do irmão menor, aí depois dessa interpretação aí que

eles vão fazer a leitura silenciosa desse outro texto, aí que eles vão realmente se se chocar com as ideias, oxente! um dizendo que é ruim, outro ta dizendo que é bom! Então aqui dá pra trabalhar a leitura, a leitura silenciosa que é uma coisa que eles precisam ter um momento de leitura silenciosa pra eles se concentrarem, né, pra eles entenderem (P4).

Dentre as considerações feitas pela professora destacam-se a menção a atividades de leitura silenciosa, o resgate dos conhecimentos prévios dos sujeitos para a execução da atividade e a discussão sobre o tema, conforme podemos notar no trecho de sua fala, ilustrado acima.

Em meio às citações de alguns eixos de ensino, P4 menciona o eixo da oralidade e da escrita, como notamos em seguida:

Aí dá pra trabalhar a questão da oralidade, isso sem dúvida nenhuma, bem antes, e a questão do da escrita, da interpretação e do entendimento do texto e textos antagônicos que são totalmente, ah professora é o mesmo título, porém ah:::, o sentido é diferente. Tem o mesmo personagem que é o irmão menor, porém tem sentidos diferentes, totalmente coerências diferentes. Ai isso já dá mais pano pra manga, pra trabalhar (P4).

É possível perceber que oralidade aparece na fala de P4 como espaço de discussão sobre o conteúdo textual. Parece haver um interesse de sua parte quanto a seus alunos debaterem sobre o tema e perceberem que estão sendo abordadas duas questões, sob pontos de vista diferentes. Entretanto, não temos em sua fala elementos que sinalizem encaminhamentos mais diretivos no sentido de promover tal debate.

Ao voltar seu olhar para o gênero textual a ser produzido, entrevista, P4 sinaliza para a modalidade de produção a ser realizada, bem como para o eixo de ensino que está em evidência: o da oralidade.

Aí aqui eu vi a questão da entrevista que é um gênero textual, né, que é um gênero textual, vai ser uma entrevista, não vai ser uma entrevista escrita, entrevista falada que um aluno, alguns

alunos vão, um voluntário né, um aluno vai se propor a ser um entrevistado e a turma vai entrevistar, ah pra trabalhar a oralidade isso é maravilhoso. (P4).

Vemos que, no evento comunicativo “entrevista em sala de aula”, o gênero textual em tela, por se tratar de um evento realizado oralmente não dispensa um planejamento apoiado na escrita, uma vez que estão em jogo práticas e eventos de letramento (KLEIMAN. et.al, 1996). Decorrem desse fato duas exigências para a realização da entrevista: a leitura de textos escritos e a produção de questões para nortearem o desenvolvimento do evento, ou seja, do planejamento.

O planejamento para a realização da atividade é percebido também por ambas as docentes. No planejamento está envolvida a prática de leitura, eixo explicitado na fala de P3 e P4. Assim, o aluno deve ler para preparar as perguntas (P3) e ler para compreender o texto e realizar a entrevista (P4). Já no quesito preparação para a construção de perguntas para o desenvolvimento da entrevista, apenas P3 explicita em sua fala que “eles terão de ler os textos pra depois desenvolver a questão das perguntas”.

Para P5, a atividade tem como foco

[...] comparação de textos, onde você vai tirar os pontos negativos e os pontos positivos. Porque às vezes o que é negativo para um não é negativo pro outro, às vezes o que é positivo para uma pessoa não é positivo para outra. Então a gente trabalhava muito isso neste sentido. Ta, na entrevista... é a entrevista eu acho uma coisa, ta é uma coisa que eu gosto de bastante, porque ela te da uma liberdade muito grande de trabalhar nela. Você tanto pode pegar, colher as informações, como também pode é em cima dessa entrevista formular um texto coletivo com eles mesmos. Então é algo que dá assim um leque de opções, só tendo uma simples entrevista já da pra você ter subsídios a vontade. [...] é você fazer a entrevista e em cima dela fazer alguns textos coletivos, mostrando também esse lado do que, como é que uma pessoa vê determinado assunto e como é que a outra, o mesmo assunto tem uma visão diferente. Às vezes duas pessoas, quatro cinco, tem duas pessoas com a mesma opinião, então eu acho que isso é legal (P5).

A fala de P5 revela objetivos ligados a um confronto entre os textos e a produção do gênero. O comando para a produção escrita também é recuperado em sua fala, assim como na fala de P4. Para aquela docente, a escrita vem como uma culminância de um trabalho, fruto de uma coleta de informações sobre o tema. A entrevista assim serviria como suporte para uma produção textual escrita de modo coletivo. Para esta, a escrita

surge como mais uma possibilidade de trabalho entre os alunos no desenvolvimento/preparação para a entrevista, embora P4 não explicite maiores detalhes do que faria com a escrita no desenvolvimento desse processo. Vemos que as práticas de escrita sempre surgem em meio às atividades voltadas para desenvolver a oralidade, são práticas orais mediadas pela escrita e/ou conjuntas a esta.

Como objetivos de ensino dessa atividade, destacamos a fala de P4, para quem a proposta

quer que o aluno [...] trabalhe gênero, aprenda o gênero textual entrevista, perguntas e respostas, a questão da ordem também, questão organização né, de como formular uma pergunta, também tem a questão do sentido da pergunta. Tem que ser uma pergunta dentro daquele tema, não pode ser diferente (P4).

Em sua análise, P4 evidencia passos estruturais na realização da atividade. Notamos que ela pontua o trabalho de reflexões sobre o gênero textual entrevista, observa a composição deste, “perguntas e respostas”, bem como o seu conteúdo textual: “Tem que ser uma pergunta dentro daquele tema” e atenta para a construção das perguntas e o seu ordenamento na efetivação do gênero.

A caracterização da entrevista por P4 afina-se com uma perspectiva bakthiniana, para quem o tripé composição, conteúdo e estilo são elementos caracterizadores daquela ferramenta de linguagem (KOCH e ELIAS, 2006). A forma como a professora observa a produção da entrevista é um indício de um trabalho que utiliza o gênero textual como ferramenta (SCHNEUWLY e DOLZ, 2004) que norteia o olhar sobre a língua em suas modalidades escrita e oral.

Prosseguimos a investigação com os sujeitos, dessa vez, solicitando a cada professora que indicasse, dentre as atividades por nós trazidas, aquela(s) que mais chamassem a sua atenção e que teria(m) a possibilidade de ser(em) aplicada(s) com a sua turma. Pedimos também às docentes que explicitassem com quais objetivos aplicariam a(s) atividade(s) escolhida(as) e se desejariam realizar alguma alteração na proposta didática, com vistas a adequá-la(s) às demandas de seu grupo-sala.

CATEGORIA 11

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