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Capítulo 2: O sistema de ensino da Irlanda do Norte desde a primeira metade do século

3.3. Non-Statutory Guidance for History, Key Stage 3, 2007

Para regulamentar a disciplina de História, no Key Stage 3 foi criado o documento Non- Statutory Guidance for History que, embora não seja estatutário, fornece um conjunto de orientações que auxilia as escolas e os seus docentes a planear e a direcionar o seu pro- cesso de ensino-aprendizagem.

Assim, e como já foi dito, o Currículo Nacional da Irlanda do Norte, pretende habilitar os estudantes com as competências necessárias de forma a promover o desenvolvimento es- piritual, emocional, moral, cultural, intelectual e físico dos alunos tanto na escola como na sociedade, bem como ajudá-los a tomar decisões informadas e responsáveis para além de prepará-los para serem colaboradores conscientes da sociedade, economia e meio am- biente223. A disciplina de História apresenta-se como uma disciplina importante para o desenvolvimento pessoal e social dos alunos, uma vez que:

“(…) connects pupils with their past and helps them to construct a narrative of their own lives, raising their awareness of where they came from and how they got there. Studying History teaches pupils to question and to contest the origin and context of received information past and present, thus equipping them with critical thinking skills to engage with important events and issues in the worlds.224 Assim, esta disciplina deve, por exemplo, ajudar os alunos a perceber o passado para que assim comecem a entender o mundo em que vivem atualmente e para que aprendam a investigar de onde é que os seus valores e atitudes surgiram, (History develops pupils as individuals); ou deve dar aos alunos um sentido de estrutura das sociedades passadas e como é que as pessoas nessas sociedades interagiam entre si e entre outras sociedades, (History develops pupils as contributors to society); ou ainda, examinar as formas de como as sociedades passadas ajudaram a preservar o meio ambiente e através dessa in- formação, como é que os alunos podem ser responsáveis pelo seu próprio ambiente, tendo em conta a sua realidade, (History develops pupils as contributors to the economy and environment)225.

Na secção três deste documento, são apresentados os links que podem ser feitos com o Key Stage 2 e com o Key Stage 4, para uma experiência de ensino-aprendizagem mais relevante para os estudantes. Durante o Key Stage 1 e 2, os alunos estudam o tópico ‘O

223 2007 No.46, The Education (Curriculum Minimum Content) Order (Northern Ireland) 2007, Statutory

Rules of Northern Ireland, p.2 and History Key Stage 3 Non-Statutory Guidance for History, p. 3.

224 History Key Stage 3 Non-Statutory Guidance for History, 2007, p. 3. 225 Idem, p. 3.

mundo à nossa volta’, (World Around Us), onde se inclui a disciplina de História. Ao longo do KS1 e KS2 os alunos estudam as seguintes vertentes: interdependência, (por exemplo, como é que as pessoas interagem com o mundo); lugar ,(como, as mudanças que acontecem durante o tempo num lugar); movimento e energia, (como, as causam que influenciam o movimento de pessoas e animais); e ainda, mudanças ao longo do tempo, (por exemplo, os efeitos positivos e negativos das mudanças globais e como é que nós, seres humanos, contribuímos para algumas dessas mudanças)226. Para além disso, durante o KS1 e KS2, os alunos adquirem um conjunto de competências que lhes vão ser úteis durante o Key Stage 3, como por exemplo, os alunos fazem as suas primeiras observações e recolhem dados primários, bem como amostras do mundo que os rodeia ou fazem o sequenciamento de objetos e eventos numa barra cronológica para que assim adquiram um sentido de mudança, ao longo do tempo e desta forma percebam como é que o passado afetou o presente227.

Quando os alunos frequentam o KS3, adquirem um conjunto de competências que lhes permite serem estudantes independentes e flexíveis, para além de terem a oportunidade de explorar um conjunto de experiências que cria uma base sólida para um estudo mais aprofundado desta disciplina no KS4, como se pode ler no documento Key Stage 3 Non- Statutory Guidance for History, em relação ao Key Stage 4:

“those pupils who elect to continue with further study in History can follow the specifications in Entry Level or GCSE History. (…) For those pupils who elect not to continue with further study of History their experiences during the key stage should have provided them with the historical knowledge, un- derstanding and skills necessary to help them to engage meaningfully with real and relevant issues in their world.228

Já na secção quatro do documento em estudo, é feita uma análise de como perceber as recomendações obrigatórias do currículo na disciplina de História, (Understanding the Statutory Requirements for History), onde se incluem: as explicações para a estrutura das recomendações obrigatórias do currículo; conhecimento, compreensão e competências; objetivos do currículo de elementos chave; resultados da aprendizagem e competências para o pensamento e capacidades pessoais229. Assim, relativamente ao ‘conhecimento,

226 Idem, pp. 5-6. 227 Idem, p. 6. 228 Idem, p. 6.

229 “The Layout of the Statutory Requirements; Knowledge, Understanding and Skills, Curriculum Objec- tives and Key Elements; Learning Outcomes; Thinking Skills and Personal Capabilities.” (History Key

compreensão e competências’, (Knowledge, Understanding and skills), pode-se ler “In the Northern Ireland Curriculum, knowledge is promoted as a means to understanding and as a context for demonstration of skills”230, sendo estas recomendações gerais e po- dendo também ser repetidas ao longo do Key Stage 3. Aqui, espera-se que os alunos in- vestiguem o passado e o seu impacto no mundo através da compreensão das seguintes questões: perspetivas e interpretações diferentes, causas e efeitos, continuidade e mu- dança e progressão e regressão. Para isso, os alunos vão desenvolver competências rela- cionadas com a formulação de questões para assim realizarem investigações históricas; ao mesmo tempo que desenvolvem as suas competências relacionadas com o pensamento crítico de forma a avaliar um conjunto de evidências e assim poderem considerar diversas interpretações; espera-se ainda que os alunos desenvolvam também um conjunto de com- petências criativas aquando da resolução de problemas e na tomada de decisões; para além disso, os alunos devem desenvolver a sua compreensão cronológica, bem como a habilidade de interligar períodos históricos, eventos e momentos de mudança. Final- mente, espera-se igualmente que os alunos desenvolvam as suas competências críticas para analisarem estereótipos e desta forma dar respostas informadas, sensíveis e equili- bradas. Os alunos desenvolvem estas competências através do estudo de vários períodos históricos; através da História Irlandesa, Britânica, Europeia e Global; e ainda, através de acontecimentos políticos, sociais, económicos, culturais e religiosos significantes. De sa- lientar que, segundo as recomendações presentes neste documento, que muitas das ques- tões históricas estudadas pelos alunos não possuem uma única resposta ou solução, para além de serem ricas em contextos que permitem o desenvolvimento de competências re- lacionadas com a resolução de problemas e a toma de decisões.231”

Relativamente ao Curriculum Objectives and Key Elements, é possível verificar que os objetivos estão repartidos em elementos-chave, de forma a assegurar que a disciplina de História está diretamente relacionada com os objetivos do Currículo Nacional. Para além disso, o documento em análise informa-nos também que estes elementos-chave nos for- necem diversos meios para relacionar a disciplina de História com outras disciplinas, bem como com a disciplina Learning for Life and Work232. Como já foi dito, o Currículo Na- cional pretende dotar os estudantes de diversas competências de forma a que estes se

230 Idem, p. 8. 231 Idem.

232 Através da transposição de eventos históricos significantes para a realidade dos estudantes. Isto é, ao trabalharem determinados acontecimentos históricos e os efeitos que os mesmos tiveram, (e têm), na nossa

desenvolvam como agentes individuais e também como colaboradores ativos da socie- dade, economia e meio ambiente, sendo estes os três principais objetivos do currículo. Ou seja, o principal objetivo destas orientações é dotar os alunos de uma consciência social, ambiental e económica, para que desta forma possam ser agentes ativos numa sociedade constantemente em mudança. Na sociedade atual, os padrões sociais mudam frequente- mente, exigindo tolerância e respeito pela diversidade. Também o ambiente está no centro das preocupações do Estado, uma vez que se encontra em risco e ameaçado, exigindo, por parte dos jovens, uma atitude de mudança e de preservação. Por último, num mundo em que a economia é o centro e a base da sociedade, espera-se que os mais jovens adqui- ram competências que os tornem agentes ativos, inovadores e independentes no mercado de trabalho, capazes de criar riqueza e subsistência para si e para a sua comunidade.

Ao olharmos para a imagem seguinte, é possível identificar os elementos-chave que cada objetivo do currículo trabalha, de forma a formar os alunos em agentes individuais, em agentes de uma sociedade e ainda como contribuidores da economia e meio ambiente.

Imagem n.º 13: Curriculum Objectives and Key Elements.

Fonte: History Key Stage 3 Non-Statutory Guidance for History, p. 11.

Segundo o documento History Key Stage 3 Non-Statutory Guidance for History, para a disciplina de História, são cinco os elementos-chave possíveis de desenvolver, mais pro- fundamente, no processo ensino-aprendizagem desta disciplina: Personal Understanding,

sociedade, os alunos podem retirar várias conclusões extremamente relevantes para o seu contexto de en- sino, de trabalho e ainda cultural. Por exemplo, quando os alunos estudam o movimento Sufragista Femi- nino do século XIX, conseguem perceber de que forma este acontecimento histórico teve consequências importantíssimas para a nossa sociedade, uma vez que mudou, de forma irreversível o papel da mulher, no contexto Ocidental. A mulher passou a ter mais poder de decisão e autonomia, o que permitiu, mais tarde, alcançar um conjunto de direitos que colocam o sexo feminino em pé de igualdade com o sexo masculino. Sem este movimento, a igualdade de direitos entre os sexos teria tido, com certeza, um outro desenvolvi- mento.

Citizenship, Cultural Understanding, Media Awareness; Ethical Awareness233. Ou seja, “The key elements offer opportunities to make meaningful links with other subjects and promote coherence across the whole curriculum and facilitate more collaborative plan- ning and teaching234”.

Já em relação aos ‘resultados da aprendizagem’, (Learning Outcomes), para a disciplina de História é semelhante à avaliação feita nas outras disciplinas presentes no Currículo Nacional, como indica o documento aqui em análise: History Key Stage 3 Non-Statutory Guidance for History, 2007235”. Estes Learning Outcomes estão presentes na página 40 do documento The Statutory Curriculum at Key Stage 3 – Rationale and Detail, 2007236, verificando-se que estes resultados de aprendizagem se encontram também no documento aqui já analisado, The Education (Curriculum Minimum Content) Order (Northern Ire- land), 2007, aquando a análise da disciplina de História para o ensino secundário. Posto isto, o uso de competências multidisciplinares é extremamente importante no pro- cesso ensino-aprendizagem de História. Para além disso, é pretendido que os alunos de- senvolvam também competências relacionadas com o pensamento crítico, gestão de in- formação histórica, criatividade e iniciativa, resolução de problemas e tantas outras com- petências que se vão revelar extremamente importantes no dia a dia dos alunos, a curto e a longo prazo.

Finalmente, para o elemento-chave ‘competências para o pensamento e capacidades pes- soais’, (Thinking Skills and Personal Capabilities), pretende-se ainda desenvolver cinco outras competências, para além das já aqui referidas. São elas: 1) “Gestão de informação; 2) Pensar, resolução de problemas, tomada de decisões, 3) Ser criativo, 4) Trabalhar com outros; e 5) Gestão do tempo. Segundo este documento, as competências encontram-se divididas para assim facilitar o processo de planificação para além de “provide criteria against which pupils’ performance can be assessed and reported237”.

233 Entendimento Pessoal, Cidadania, Compreensão Cultural, Conscientização em relação aos media; Consciência Ética.

234 Idem, p. 11. 235 Idem, p. 14.

236 Este documento apresenta-se com um texto complementar ao Currículo de 2007 (Curriculum Minimum

Content Order, 2007). Este indica os conteúdos que devem ser ensinados no Key Stage 3, fornecendo exem-

plos e suplementos práticos para a prática letiva de cada disciplina. Ver imagem número 12. 237 Idem, p.17.

Assim, é recomendado dar especial atenção, na disciplina de História, às competências relacionadas com o pensamento, (thinking skills), ou com as capacidades pessoais, (per- sonal capability), já que estas duas competências irão ajudar os alunos a estudarem um conceito ou um contexto, em particular. “The context in turn provides opportunities for the instruction, development and practice of the thinking skill/personal capability”. Desta forma, é possível desenvolver não só o conhecimento próprio da disciplina em causa, como também promover um modo de pensar autónomo, como é possível ler no docu- mento History Key Stage 3 Non-Statutory Guidance for History. Segundo o mesmo, a esta abordagem é dada o nome de infusão, (infusion). Para planificar de acordo com esta perspetiva é necessário analisar a planificação anual do ano 8, (year 8), e identificar quais são os tópicos mais adequados para introduzir e desenvolver algumas competências es- pecíficas, tais como “evaluating the most appropriate information, justifying opinions, reaching agreement within a group etc.”; para além disso, é preciso identificar as compe- tências específicas, bem como capacidades que melhor se adequam à disciplina de Histó- ria. Posteriormente, é necessário trabalhar os contextos em que essas novas competências vão ser trabalhadas junto dos alunos. Esta abordagem, para trabalhar thinking skills e per- sonal capabilities, fornece oportunidades para observar, registar, comentar e criar relató- rios sobre o desempenho dos alunos, onde os mesmos conhecem os seus pontos fortes e áreas a desenvolver, isto relativamente às competências relacionadas com o pensamento e capacidades pessoais. Para além disso, os alunos serão, posteriormente, capazes de transferir estas competências apreendidas para outros contextos que não a sala de aula238.

Ainda neste documento é possível encontrar uma série de indicações que orienta o pro- cesso de ensino-aprendizagem, a avaliação para a aprendizagem, a interligação de várias disciplinas, a interligação da disciplina de História com a disciplina Life and Work, e ainda recomendações relativas ao Active Learning, ou seja, aprendizagem ativa e/ou significativa. Este tipo de aprendizagem propõe que os alunos aprendam os conteúdos disciplinares de forma mais autónoma e interagindo entre si, tornando a sua aprendizagem mais significativa, ativa e pessoal. Assim, os alunos passam a ser agentes ativos na cons- trução do seu próprio conhecimento, mas sempre com o devido apoio e orientação do professor. É possível ainda encontrar uma secção sobre auditoria e planificação, (a longo, médio e curto prazo).

Como é possível verificar, este documento é um prolongamento do Currículo Nacional, mas específico da disciplina de História. Contudo, o seu conteúdo não diz respeito aos tópicos e períodos históricos a serem lecionados durante os anos 8, 9 e 10, (year 8, 9 e 10), ou às sugestões metodológicas, experiências de aprendizagem, recursos didáticos, sugestões bibliográficas ou manuais escolares que os docentes devem usar na sua prática letiva. Este documento aborda as orientações, normas e competências que devem regular o ensino da disciplina de História, no Key Stage 3.

Este é um documento de grande dimensão e de difícil leitura. Seria benéfico introduzir os temas ou períodos históricos que os alunos devem estudar ao longo do KS3, para que o mesmo não fique ao critério dos professores. Desta forma, os docentes ficariam a ter uma base mais sólida para orientar as suas planificações.239