• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 1: Educação Histórica e Passados Dolorosos

1.2. Os The Troubles na Irlanda do Norte (1969-2007)

1.2.7. O princípio do fim

Apesar da tentativa, o cessar-fogo não foi definitivo e a violência voltou à Irlanda do Norte. Entretanto, Tony Blair ganhou as eleições do Reino Unido com uma maioria es- magadora, em 1997. O Primeiro-Ministro britânico estava decidido a acabar com a vio- lência e a devolver a paz e a tranquilidade à Irlanda do Norte. Desta forma, T. Blair exigiu que as conversações de paz fossem retomadas, incluindo a participação do partido Sinn Féin, e, em maio de 1997, foi autorizado o contacto dos oficiais do Governo com este partido. Foi demonstrado que se o IRA cessasse fogo, a posição do Governo britânico iria mudar totalmente em relação ao Sinn Féin: “It was made known to republicans that in the event of an IRA ceasefire there would be a complete transformation in the attitude of the British government, and that Sinn Féin would be admitted to talks within weeks” (Feeney, 2014, p. 119). O dia 15 de setembro foi a data estabelecida para o início das conversações de paz e maio de 1998 foi a data-limite para um futuro acordo entre os partidos da Irlanda do Norte. Apesar de toda a violência da fação radical unionista, os republicanos acredita- ram na palavra do Primeiro-Ministro Tony Blair e, novamente, foi anunciado um novo cessar-fogo por parte do IRA. Mais tarde, em dezembro do mesmo ano, o líder do grupo paramilitar LVF (Loyalist Volunteer Force, uma fação do UVF) foi assassinado na prisão e como vingança o grupo paramilitar iniciou o ano de 1998 com uma série de assassinatos; enquanto o IRA continuava envolvido em tiroteios e homicídios (Feeney, 2014). Foi em abril de 1998 que surgiu o primeiro presságio de mudança, com a assinatura do tratado Good Friday Agreement ou Tratado da Boa Sexta-Feira, assinado pelos partidos no dia 10 de abril, na sexta-feira Santa. Este acordo possuía as propostas para a criação de uma Assembleia, na Irlanda do Norte, de Poder Partilhado: “At 5.30 pm on Friday 10 April 1998, George Mitchell stated: I am pleased to announce that the two governments and the political parties in Northern Ireland have reached agreement”87. Este acordo acabou por

ser emendado com o St Andrew’s Agreement em 200688. O acordo da Boa Sexta-Feira foi

um bom indício, mas não foi suficiente para acabar com todos os problemas vividos na Província de Ulster. Infelizmente, a paz só acabaria por chegar à Irlanda do Norte, anos mais tarde.

Foi a 15 de agosto de 1998 que se deu a explosão mais mortífera da história dos The Troubles. Uma bomba explodiu na área comercial na vila de Omagh, matando 28 pessoas, inclusive uma grávida de gémeos. Porém, em 2004, o cenário Norte-Irlandês começou a mudar. Os homicídios acabaram e o Governo britânico anunciou a retirada de milhares de soldados até ao ano de 2005. Assim, os Governos de Londres e Dublin começaram a preocupar-se com a restauração de instituições políticas fundamentais na Irlanda do Norte. Em setembro de 2004, os dois Governos criaram um acordo que devia ser assinado por todos os partidos políticos. Porém, o partido DUP, (Democratic Unionist Party), exi- gia ver provas de como o IRA estava realmente a desmantelar o seu armamento e para o provar permitiram que dois clérigos testemunhassem a destruição do seu arsenal. Ambos os Governos tinham esperança de que um acordo fosse alcançado antes do Natal, mas todas as suas expectativas saíram goradas quando o Northern Bank foi assaltado no dia 20 de dezembro, rendendo 26.5 milhões de libras e mais um montante desconhecido em moeda estrangeira. Apesar do partido Sinn Féin afirmar que nada tivera que ver com o assalto, tudo indicava que os autores pertenciam ao IRA, mostrando que o grupo não estava desarmado e que se mantinha ativo. Mais tarde, e tendo em vista as eleições futu- ras, Gerry Adams pede ao IRA que aceite os meios democráticos (Feeney, 2014).

Após as eleições, verificou-se a hegemonia de dois partidos políticos: o DUP e o Sinn Féin, ou seja, tanto a fação unionista como a fação nacionalista obtiveram bons resulta- dos, tendo o Sinn Féin ultrapassado o partido SDLP na representação da população Na- cionalista residente na Irlanda do Norte: “In the event, both Sinn Féin and the DUP pros- pered in the election. Sinn Féin raised their Westminster total to five seats over the SDLP’s three, but the DUP’s performance was spectacular. They took nine seats (…).” (Feeney, 2014, p. 133).

Mais tarde, e depois deste resultado surpreendente nas eleições da Irlanda do Norte, o partido Sinn Féin aceitou que teria de lidar com o partido DUP, mas que para facilitar este relacionamento, os republicanos teriam de fazer algo nesse sentido. Assim, a 28 de

julho de 2005, o IRA anunciou mais uma vez que iria baixar as suas armas e pediu aos seus voluntários que fizessem o mesmo. A 26 de setembro, o IRA tinha terminado todo o seu desmantelamento, tendo como testemunhas dois clérigos. Após esta cedência, o par- tido DUP exigiu que o partido Sinn Féin apoiasse a polícia na Irlanda do Norte, condição que acabou por ser concedida após várias reuniões. É neste clima de cedências e negoci- ação que o Good Friday Agreement é revogado, sendo substituído pelo St Andrew’s Agre- ement e finalmente foi anunciada a notícia há muito esperada pela população: Gerry Adams, líder do partido Sinn Féin e Ian Paisley, líder do partido Unionista Democrático (DUP), sentados lado a lado, anunciaram um executivo partilhado (Power-Sharing) a ser estabelecido no dia 8 de maio de 2007 (Feeney, 2014).

Gerry Adams declarou que “a new era” estava a chegar (Feeney, 2014, p. 135) e, de facto, a era da paz e do diálogo chegara, finalmente, à Irlanda do Norte, após mais de 30 anos de conflitos, de discórdias que separaram comunidades, que destruíram famílias, lares e que assentaram sobre a sepultura de 3636 pessoas.