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Capítulo 2: O sistema de ensino da Irlanda do Norte desde a primeira metade do século

2.4. Reforma do sistema educativo da Irlanda do Norte na segunda metade do século

2.4.3. O final dos anos 1990 e o início do século XXI

Com a reforma curricular de 1989, verificou-se que, à semelhança da Inglaterra e do País de Gales, as disciplinas de Geografia e História eram demasiado complexas, com temas demorados e orientações excessivas, o que conduziu os professores, principalmente os do ensino primário, a exigirem uma nova revisão curricular. A primeira revisão, segundo os autores, iniciada em 1994, voltou a ser influenciada pelo trabalho desenvolvido em Ingla- terra e no País de Gales e previa a redução e/ou remoção de alguns dos seus conteúdos. À instituição CCEA196 (the Council for the Curriculum Examinations and Assessment) “was given the job of ‘slimming and refining’ the Common Curriculum, which was to be implemented from September 1996, differed little in design from the original except that it was significantly less burdensome for schools.” Nesta revisão curricular, os temas a serem trabalhados por ambas as comunidades (os chamados cross-community themes) foram ainda mais fortalecidos (Donnelly, McKeown & Osborne (Org.), 2006, p. 121).

Contudo, as revisões curriculares não foram suficientes e a comunidade educativa voltou a exigir mais uma reforma. Desta vez, o Governo pretendeu ouvir as sugestões dos pro- fessores e alunos, para assim delinear um currículo mais adaptado às necessidades da realidade da Irlanda do Norte. Um exemplo disso foram as conferências Curriculum 21, onde especialistas em Educação de todo o mundo se juntaram para pensar e sugerir estra- tégias relacionadas com: “(…) the impact of brain research upon teaching and learning; the crucial importance of early childhood education; preparation for the world of work” (…) entre outros temas relevantes no âmbito da Educação. No final destas conferências, o Departamento da Educação foi chamado, em 1999, para uma “radical review of the

195 De referir que esta reforma foi primeiramente publicada em março de 1988 e que teve um período de 21 meses para consulta pública. Ao longo destes 21 meses, o Parlamento recebeu mais de 5000 propostas por escrito, para além de terem sido feitas várias apresentações orais sobre esta questão. Esta reforma foi ainda o tópico de vários fóruns, que tinham como objetivo discutir e apresentar sugestões para melhorar esta reforma educativa. (Education Reform (NI) 1102, 13 December 1989 - Conversa no Parlamento entre Mi- nistros).

196 Que nasceu da junção da NICC (Northern Ireland Curriculum Council) e da NISEC (Northern Ireland Secondary Examinations Council) (Donnelly, McKeown & Osborne (Org.), 2006).

curriculum and its assessment arrangements.”(Donnelly, McKeown & Osborne (Org.), 2006, p. 122).

Assim, durante os quatro anos que se seguiram, (1999-2003), o Governo Norte-Irlandês tornou-se mais independente e criou um currículo mais adaptado às necessidades da sua comunidade educativa. Em 2002, foi apresentado um conjunto de propostas para o currí- culo das escolas primárias e, no ano seguinte, foram lançadas as propostas para o ensino pós-primário. A Irlanda do Norte criou, então um novo currículo à medida das suas ne- cessidades:

“(…) to respond to this agenda and the aspirations of young people for a curriculum that prepares them for life and work as well as further education. The creation of a more pluralist, more flexible and hopefully more socially and economically responsive curriculum in Northern Ireland is the outcome of a comparatively long, and some might say, torturous process of research, development work, con- sultation and revision.” (Donnelly, McKeown & Osborne (Org.), 2006, p. 125).

Com o Belfast Agreement, assinado em 1998, foram feitas duas referências relativas à Educação na Irlanda do Norte. A primeira dizia respeito às escolas Irlandesas,197 (Irish- medium education), que previa o apoio e o estímulo da Educação Irlandesa, cuja respon- sabilidade era do Departamento da Educação. Já a segunda referência tratava o tópico ‘reconciliação’: “An essential aspect of the reconciliation process is the promotion of a culture of tolerance at every level of society, including initiatives to facilitate and encour- age integrated education and mixed housing” (Donnelly, McKeown & Osborne (Org.), 2006, p. 2). Para apoiar as Irish-medium schools, foi criada, no ano 2000, a junta Comhairle na Gaelscolaíochta. Para além disso, foi também criado o TRC, ou seja, Transferor Representatives Council, uma junta comum para a defesa dos interesses da Igreja da Irlanda, da Igreja presbiteriana e da Igreja metodista. Apesar de estas organiza- ções não possuírem a qualidade de categoria, (statutory), passaram regularmente consul- tadas no que diz respeito a questões ligadas à Educação (Donnelly, McKeown, & Osborne (Org.), 2006, p. 15).

Com a ideia de uma sociedade pluralista e tolerante, foi produzido, em 2004, pela orga- nização NIHRC, (Northern Ireland Human Rights Commission), o documento “Draft Bill of Rights”, que reforçava a ideia de que os pais tinham o direito de escolher a escola mais

adequada para os seus educandos, (com uma orientação religiosa específica, escolas in- tegradas ou escolas irlandesas), e que defendia ainda que o Estado devia proporcionar apoio financeiro e outro tipo de apoio de forma equilibrada a todas as escolas (Donnelly, McKeown & Osborne (Org.), 2006, p. 6).

O final dos anos 1990 também foi marcado pelo início dos trabalhos em torno do tema “um futuro partilhado” ou a Shared Future, pela mão do Primeiro-Ministro John Ma- jor198, e que foi apresentado apenas em março de 2005, dizendo respeito a várias áreas, incluindo a Educação. Este documento pretendia que existissem oportunidades para a promoção de uma Educação Partilhada e de atividades interculturais, a todos os níveis, desde o infantário ao ensino secundário. Isto porque a maior parte das crianças, (cerca de 90%), continuava, à data199, a ser educada separadamente, sem contacto com as comuni- dades cuja orientação religiosa era diferente (Richardson & Gallagher (Org.), 2011). Esta realidade continua a promover o isolamento da sociedade, embora que não de forma tão grave como fora no passado. É com programas como o Shared Education200 que as cri- anças podem conviver, aprender e brincar juntas, ou seja, conhecer o outro e criar laços que, paulatinamente, vão fortalecendo a relação entre as duas comunidades.

Com a intenção de uma sociedade Norte-Irlandesa mais equilibrada e tolerante, o Depar- tamento da Educação continuou a legislar para que este objetivo máximo pudesse ser alcançado num futuro próximo. Assim, segundo os autores C. Donnelly, P. McKeown, e Osborne (2006), foram reforçadas as seguintes medidas: em 2001, algumas alterações foram feitas de forma a fortalecer as escolas Integradas, bem como as escolas Irlandesas, (Irish-medium schools), aumentando as opções de escolha dos pais no mercado educaci- onal, ao mesmo tempo que era promovida a reconciliação e o pluralismo da sociedade Norte-Irlandesa e foi eliminada a obrigatoriedade do exame “11+”. Esta alteração foi

198 Primeiro-Ministro entre 1990-1997. “As Prime Minister Sir John Major oversaw Britain's longest period of continuous economic growth and the beginning of the Northern Ireland Peace Process.” https://www.gov.uk/government/history/past-prime-ministers/john-major. Consultado a 11.05.2019. 199 Oito anos depois, esta continua a ser a realidade da Irlanda do Norte. A maioria dos estudantes frequen- tam escolas católicas ou escolas protestantes. Uma notícia publicada pelo Jornal Belfast Telegraph, a 30 de abril de 2019, afirma: “Statistics from the Department of Education show that, on school census day this year, there were 175,649 Catholic pupils in Northern Ireland's nursery, primary, secondary, grammar and special schools. This accounts for almost 50.7% of all enrolments, with the amount of Catholics pupils at an all-time high. In comparison, there were 114,314 Protestant pupils, 33% of the total, while 56,408 were designated as 'other'.” https://www.belfasttelegraph.co.uk/news/northern-ireland/northern-ireland-catholic- school-population-surges-to-record-high-38063956.html. Consultado a 17.05.2019. Ou seja, 50.7% dos es- tudantes frequentam escolas católicas, enquanto 33% frequentam escolas protestantes, o que deixa apenas 16.3% de alunos a frequentarem outro tipo de escolas.

anunciada pelo Ministro da Educação Martin McGuinness, em outubro de 2002. O exame “11+” apresentava-se como o teste de transferência que todos os alunos tinham de realizar no final da escola primária de forma a serem colocados na escola secundária mais ade- quada às suas capacidades cognitivas (Donnelly, McKeown, & Osborne (Org.), 2006).

Paralelamente, os bispos católicos da Irlanda do Norte decidiram que as escolas católicas não eram apenas para alunos católicos e que estas deviam estar abertas a todas as crenças religiosas, o que fez com que o número de alunos com crenças e culturas diferentes au- mentasse nas escolas católicas (Donnelly, McKeown & Osborne (Org.), 2006).

No que diz respeito às crenças religiosas dos docentes das escolas Norte-Irlandesas, e segundo o estudo da instituição Equality Commission, (ECNI), na primeira década do século XXI, quase 100% dos professores empregados pelas escolas católicas eram tam- bém eles católicos. Já as escolas protestantes, (as State schools), empregam cerca de 85% de professores protestantes, sendo os restantes 15% docentes com uma crença religiosa não protestante. Contudo, em 2003, a Irlanda do Norte viu-se obrigada a acrescentar uma nova premissa ao Tratado “Fair Employment and Treatment Order”, uma vez que estava impossibilitada de discriminar os docentes no acesso a um determinado posto de trabalho numa escola, devido à sua religião (Donnelly, McKeown & Osborne (Org.), 2006, p. 8).

2.4.4. A reforma curricular: The Education (Curriculum Minimum Content) Order (North-