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3. O Poder Legislativo

3.7. O mandato e sua perda

No Capítulo 1° desta dissertação já discorremos a respeito da natureza jurí- dica da representação. O mandato

[...] é a investidura política, de natureza representativa, obtida por eleição direta, em sufrágio universal e voto secreto, pelo sistema partidário proporcional, para uma le- gislatura de quatro anos (MEIRELLES, 2003, p. 597).

Inicia-se com a posse e finda com o término da legislatura pela morte, cas- sação, extinção ou renúncia (art. 238 do RI da Câmara e art. 28 do RI/SF). Pode ser interrom- pido pela licença. Com a assinatura do termo de posse, passa-se a estar em exercício do mandato.

A diplomação68 é o atestado "garantindo a regular eleição do candidato". O ato seguinte à diplomação, é a posse, "ato público e oficial através do qual o parlamentar se investe no mandato".

A legislatura de quatro anos possui oito sessões legislativas, que vão de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro (art. 57, com redação dada pela Emenda Constitucional n. 50/2006).

A perda do mandato pode ocorrer por cassação (§ 2° do artigo 55 CF) ou

extinção (§ 3°). Aquela decorre de punição, proveniente da Casa (natureza política) ou da Jus-

tiça Penal (jurídica), nos termos do art. 55 CF. Esta representa o perecimento do mandato, cu- ja deliberação é do Presidente da Casa nos casos previstos em lei.

As hipóteses de perda do mandato são · transgressão das regras do artigo 54 da Carta; · quebra do decoro parlamentar (configurada pelo abuso das prerrogativas, a percep- ção de vantagens indevidas e demais hipóteses tipificadas nos Regimentos Internos); · faltas injustificadas à terça parte das sessões ordinárias da Câmara em cada sessão legislativa; · per- da ou suspensão dos direitos políticos e · condenação criminal por sentença irrecorrível.

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Necessária – tanto na cassação como na extinção – a expressa e taxativa previsão legal das hipóteses69, bem como a estrita observância do devido processo legal, con- soante Regimento Interno do parlamento70. Vejamos a Lei Maior:

Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:

I – que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior; II – cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar; III – que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das ses- sões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autori- zada;

IV – que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;

V – quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta Constituição; VI – que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.

§ 1º – É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regi-

mento interno, o abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Na- cional ou a percepção de vantagens indevidas.

§ 2º – Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela Câma-

ra dos Deputados ou pelo Senado Federal, por voto secreto e maioria absoluta, me- diante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Con- gresso Nacional, assegurada ampla defesa.

§ 3º – Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Me-

sa da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegu- rada ampla defesa.

§ 4º – A renúncia de parlamentar submetido a processo que vise ou possa levar à

perda do mandato, nos termos deste artigo, terá seus efeitos suspensos até as delibe- rações finais de que tratam os §§ 2º e 3º.

As situações do artigo 54, a quebra do decoro parlamentar e a condenação criminal transitada em julgado são hipóteses em que o julgamento da perda (por cassação) do mandato é de competência do Pleno da Casa (Câmara ou Senado), por voto secreto da maioria absoluta, por meio de provocação da Mesa ou de partido político com representação no Con- gresso.

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68 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 8ª ed. São Paulo: Método, 2005. p. 226.

69 CALIMAN (op. cit., p. 15), com sua habitual clareza, professa que as hipóteses de perda do mandato parla-

mentar estão taxativamente listadas na Constituição, exceto o rol nos Regimentos Internos dos atos tipificados como quebra de decoro parlamentar, que pode ser ampliado.

70 O TJ/BA decidiu nesse sentido, anulando decisão de Câmara de Vereadores que extinguiu mandato de verea-

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O rito, segundo escólio de Francinira M. de Moura (1992, p. 132), é: · ins- taura-se o processo; · designa-se relator; · imputa-se os fatos da acusação; · o deputado ou se- nador se defende; · passa-se a fase instrutória, com as razões da acusação e da defesa; · con- clusões do relator; · há o julgamento em Plenário, com manifestação da acusação e defesa; · passa-se a votação secreta, sendo preciso maioria absoluta para a perda do mandato e · se o caso, convoca-se o suplente.

O processo pode ser administrativo (pelo Legislativo) ou judiciário. Nesse caso, o procedimento é semelhante e a decisão não pode ser reexaminada pelo parlamento que deve apenas se ater quanto aos aspectos formais da sentença, ou seja, se já transitou em julga- do e já é exeqüível (MOURA, 1992, p. 133).

Nos casos de desídia, de perda ou suspensão dos direitos políticos e de deci- são da Justiça Eleitoral, a perda (por extinção) é declarada pela Mesa, de ofício, por provoca- ção de qualquer de seus membros ou de partido político com representação no Congresso. Mais flexível, portanto.

A renúncia do legislador submetido a processo que possa redundar em cas-

sação do mandato terá seus efeitos suspensos até que haja deliberação do Plenário ou da Me- sa, nos termos do § 4° do art. 55 da Constituição Federal (acrescentado pela Emenda Consti- tucional de Revisão n. 6/1994 e reproduzido pelo decreto legislativo do Congresso Nacional n. 16, de 1994).

Ou seja: a contrariu sensu, a renúncia do parlamentar antes de iniciado o processo de cassação, provoca a perda de seu objeto (o mandato) e de sua pena acessória – a inelegibilidade para qualquer cargo público, nas eleições que se realizarem durante o período remanescente do mandato para o qual foi eleito e nos oito anos subseqüentes ao término da legislatura, nos termos do artigo 1°, inciso I, alínea b da lei complementar n. 64/90, com reda- ção dada pela LC n. 81/9471.

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71 CALIMAN (op. cit., p. 177) advoga que como essa conseqüência pode ser evitada com a renúncia antes de i-

niciado o processo que vise ou possa levar à perda do mandato, é importante ter definido em que momento pode se considerar iniciado o processo.

O entendimento que prevalece no Senado sobre o artigo 20 da Resolução n. 20/93 (Código de Ética e Decoro Parlamentar) é que o início do processo ocorre com a deliberação da Mesa, em reunião previamente designada para o fim de acolher (ou não) a representação apresentada pelo Conselho de Ética ou por ela mesma proposta. Não é considerado iniciado o processo na hipótese de mero procedimento investigatório preliminar, com o que discordamos, acompanhando Caliman, este amparado em Sebastião Botto de Barros Tojal, Flávio Crocce Caeta- no e José Afonso da Silva.

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Esse expediente tem sido prática comum dos legisladores, que muitas vezes conseguem se reeleger para a legislatura seguinte. Agora tem se discutido no Congresso a possibilidade de reabrir o processo, instaurado na legislatura anterior, contra esses membros, com base no princípio da unidade da legislatura72.