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1. Democracia e representação popular

1.6. Sobre os grupos de pressão

Alexandre de Moraes (Jurisdição..., 2003, p. 58) cita os fatores sociais que contribuem para a crise partidária, entre eles: · a perda da centralidade do conflito entre traba- lho e capital; · excessiva fragmentação dos interesses sociais; · as agremiações políticas efê- meras; · a perda da centralidade do circuito governo-parlamento, como itinerário das decisões políticas; · redução da política econômica à política conjuntural e de manobra monetária.

Nesse contexto, formam-se os grupos de pressão, cujo objetivo não é o po- der em si mas que seus interesses sejam ouvidos e atendidos. Existem mecanismos que favo- recem a existência de vários grupos de pressão, como o direito de reunião, o direito de associ- ação, o direto de petição, o direito de sindicalização e outros. Paulo Bonavides33 define o gru- po de pressão pelo exercício da influência sobre o Legislativo, para lograr decisões ou medi- das estatais que satisfaçam seus interesses.

Os grupos de pressão são conjuntos de pessoas ou entidades que tentam ob- ter leis e medidas governamentais que lhes interessam, sendo mutáveis, variados e flexíveis, correspondem ao sistema em que estiverem inseridos, conforme o ambiente histórico, cultu- ral, econômico, social e institucional.

São eles as associações, ONG's (organizações não-governamentais), os lo- bistas, os grupos institucionais (sindicatos), grupos anônimos, a imprensa e outros. Surgi- ram, também, os movimentos sociais representativos de vários segmentos heterogêneos da população, como formas de mobilização fora dos espaço dos partidos políticos, das associa- ções e dos sindicatos. As câmaras econômicas ou profissionais são outra opção para repre- sentar os interesses de grupos, os quais têm a previsão de locais no parlamento para sua atu- ação.

Os mandantes dos grupos de pressão são os verdadeiros fatores de poder, os que efetivamente comandam os destinos da Nação. Ferdinand Lassalle34 indica alguns: a mo- narquia, a aristocracia, a burguesia, os banqueiros, a classe operária e outros. Raymundo Fao- ro examinando em sua obra35 a sociedade portuguesa, desde o século XV até a brasileira pós- Estado Novo, ratifica de forma inescusável essa assertiva.

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33 BONAVIDES, Paulo. Ciência política. 13ª ed. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 461.

34 LASSALLE, Ferdinand. O que é uma Constituição? Belo Horizonte: Líder, 2002. p. 42-48. 35 FAORO, Raymundo. Os donos do poder. 2ª ed. Porto Alegre: Globo, 1975, passim.

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Quanto mais fracos os partidos, mais fortes e atuantes esses grupos serão, pelo que estes também podem ser perniciosos à democracia, já que a vontade geral fica es- quecida em detrimento dos interesses deles, mais organizados, fortes e poderosos.

Os defeitos desses movimentos sociais são: · a não aceitação de idéias contraditórias à opinião da maioria; · que suas ações não se submetam às regras do proces- so eleitoral; · não são responsáveis por suas decisões políticas; · muitos desses grupos não são identificáveis e atuam nos bastidores e · sua atuação não possui nenhuma regulamen- tação.

Andréa Cristina de Jesus Oliveira36 tem uma visão mais romântica dos lobistas. Para essa doutora em sociologia política, o lobbie é uma atividade pela qual os grupos de pressão contribuem para a elaboração de políticas públicas através da "[...] cole- ta de informações, propostas políticas, estratégias apropriadas para dar suporte a tais de- mandas, confecção de pesquisas e a procura por aliados". Ou seja, para orientar a tomada de decisão, esclarecer e instruir sobre temas tortuosos, ajudar a formular propostas e per- ceber as reações da sociedade civil, os políticos se valer-se-iam das confiáveis idéias e o- piniões tecnicamente especializadas dos lobistas e seriam convidados a emitir parecer sempre que necessário, sem, porém, haver pretensão de venda de produto ou serviço e passíveis de responsabilização, perante a Justiça na hipótese de exceder os limites da ati- vidade lobista.

Discordamos da posição desta estudiosa por não se coadunar com a rea- lidade. Mas por sua autoridade acadêmica e pelo rigor metodológico, nós o citamos. Di- ante da descrição dessa respeitável professora, seríamos forçados a concluir que o em- presário Marcos Valério37, protagonista do escândalo do mensalão, não teria praticado

lobbie.

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36 OLIVEIRA, Andréa Cristina de Jesus. Breve histórico sobre o desenvolvimento do lobbying no Brasil, Revista

de Informação Legislativa, a. 42, n. 168, outubro a dezembro/2005. p. 29-44.

37 O publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza era sócio de duas agências de comunicação, a DNA e

a SMP&B, as quais possuíam inúmeros contratos supostamente fraudados com o Governo Federal e com empresas estatais, a exemplo dos Correios. Ele detinha uma posição detacada no esquema do mensalão, pois além da atividade de lobista, era o responsável pelo pagamento periódico de vários parlamentares en- volvidos no escândalo, que será melhor explicado abaixo. Matéria da Folha Online, sem autoria, entitulada

Saiba mais sobre Marcos Valério, o publicitário acusado por Jefferson. Disponível em:

<http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult 96u70168.shtml>, publicada em 2/7/2005, acessada em 19/6/2007.

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Acrescentamos que, em plena Ditadura Militar38 (agosto/1981), a Conferên- cia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) editou um documento, Reflexão cristã sobre a

conjuntura política, no qual afirma que nenhuma reforma logrará instaurar e consolidar a de-

mocracia apenas por meio de eleições livres, sendo necessário criar condições para que o po- vo possa se organizar, não apenas pela representação político-partidária – mas também pela manifestação direta de suas reivindicações, por intermédio de organismos comunitários, entre eles, as associações de bairros.

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38 ALENCAR, Francisco et al. História da sociedade brasileira. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1981.

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