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Grande parte dos êxitos e também dos fracassos dos alunos, estão relacionados com o trabalho que se desenvolve em sala de aula (Alves, 2004; Eurydice, 2004; Fernandes, 2004; Reis, 2011; Silva, 2007). A fim de promover a realização, junto dos alunos, de atividades de aprendizagem que satisfaçam as finalidades do novo currículo, é necessário que ocorram no professor, mudanças em relação a conceções e práticas de ensino e avaliação de muitos anos, as quais foram, provavelmente, governadas pela cultura da transmissão de conhecimentos.

Considera-se da maior importância para a qualidade do ensino e da aprendizagem que os professores saibam conjugar, adaptativamente, o ensino de conteúdos, de técnicas, procedimentos e estratégias em função de situações concretas e das metas que antecedem e as que dão continuidade à aprendizagem dos alunos num dado momento, a fim de garantir padrões de eficácia no desenvolvimento curricular. Mudar as metodologias nas aulas de ciências, no sentido de métodos ativos, promotores de situações de comunicação ou de descoberta, de tarefas abertas, do trabalho em grupo cooperativo é, cada vez mais, uma necessidade absoluta se queremos formar jovens dinâmicos, críticos, participativos e capazes de se inserirem facilmente numa sociedade com as caraterísticas da atual (Gaspar, 2003; Perrenoud, 1999; Abrantes, 2002; Santos, 2005).

À imagem do professor como um técnico especializado que aplica as regras e rotinas que derivam do conhecimento científico, sistemático e normalizado, para gerir os processos da aula e provocar a aprendizagem dos alunos – modelo de “racionalidade técnica”, na designação de Schön (1991) – contrapõe-se hoje à imagem do professor como um profissional reflexivo, um prático autónomo, que reflecte, toma decisões e cria durante a sua própria intervenção (Murillo, 2011; Reis, 2011).

Hoje o papel do professor deve ser diferente. O professor deve seguir uma metodologia construtivista, na qual procure o envolvimento do aluno na construção do seu conhecimento, pois no processo de ensino aprendizagem, este é o principal responsável por traçar o seu percurso pessoal. É da sua responsabilidade ensinar o aluno a pensar e a refletir acerca da sua prática, pelo que o ensino requer um professor que intervém para ajudar o aluno a ultrapassar as suas necessidades e criar outras, para o

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ajudar a ganhar autonomia, a distinguir a verdade do erro e para o ajudar a compreender as realidades sociais e a sua própria experiência. É necessário, por isso, que o professor oriente o ensino, centrado no estudo de problemas recentes e mais relevantes para o aluno e com maiores possibilidades dos saberes construídos serem transferíveis e mobilizáveis para o seu quotidiano, contribuindo para a formação da cidadania da sociedade.

Para que a reorganização curricular se possa materializar com êxito, o professor além de conhecer bem os conteúdos curriculares tem de saber planear e desenvolver situações de ensino em que estimule as interações sociais dos mesmos e as suas intervenções (Murillo, 2010). O professor deve ser capaz de reflectir sobre as suas próprias práticas pedagógicas, avaliar a eficácia das suas estratégias e de as modificar em conformidade. Tem a responsabilidade de motivar os alunos, fomentando o desenvolvimento pessoal e social dos jovens num contexto de sociedades tecnologicamente desenvolvidas que se querem abertas e democráticas.

Este modelo de ensino pressupôe que o professor reveja a sua experiência, analise a sua prática docente, resolva os problemas educativos e avalie em que medida a sua estratégia o conduzem aos objetivos pretendidos. Torna-se fundamental o trabalho de equipa, a construção de redes colaborativas onde se partilhem materias e se discutem formas contemporâneas de linguagem e princípios científicos e tecnológicos que sustentam a sociedade atual, assumindo um compromisso com o sucesso escolar dos alunos e com o sucesso escolar da escola em que cada um leciona (Gaspar, 2003). É preciso um profissional com competência, tanto ética quanto técnica, que conheça e domine os conteúdos escolares e as atitudes que se procura desenvolver nos alunos, que saiba trabalhar em sala de aula utilizando uma metodologia dialética, que tenha um compromisso político, social e seja um investigador, um eterno aprendiz e estudioso. Em suma, que tenha uma prática coerente com a teoria e seja consciente do seu papel como cidadão (Hadji, 2001).

Estes aspetos são defendidos no estudo, sobre o Currículo e a avaliação, desenvolvido por Alves (2004), no qual se conclui que uma aprendizagem significativa deve apresentar tarefas autênticas, contextualizadas, que proporcionem múltiplas representações da realidade; focalizar a construção do conhecimento e não a sua reprodução, diversificando as metodologias, de modo a permitir o desenvolvimento de competências; estimular uma prática reflexiva representativa da complexidade do mundo.

Atendendo às razões expostas, advoga-se uma responsabilidade partilhada no processo de ensino/aprendizagem entre o professor e o aluno, que exige estratégias adequadas em função de situações concretas e diversificadas. O grande desafio do professor exige mudanças importantes na prática pedagógica, com o desenvolvimento de estratégias de aprendizagem tendo em conta o processo de construção ativa do saber pelo aluno e a interpretação da informação dos fatores que estão na base das dificuldades de aprendizagem manifestadas (Murillo, 2010). Cabe, assim, ao professor orientar a ação, planificando antecipadamente as atividades a implementar com vista ao fim que visa alcançar. A aprendizagem só se dá quando a nova informação é integrada na informação já adquirida por processos de associação, complemantação ou relação. Na sala de aula, o professor deverá mediatizar esses processos nos alunos e criar um ambiente propício para que se dê a aprendizagem.

Deste modo, para responder às exigências curriculares e sociais é necessário planificar tarefas que permitam desenvolver o pensamento crítico, colocando os alunos em interação e diálogo para permitir o confronto de ideias e deste modo o desenvolvimento do pensamento (Fernandes, 2011). Este é um processo que visa um saber complexo: o desenvolvimento de um pensamento metacognitivo, onde o professor deve construir o saber no contexto em que os alunos lhe atribuam algum sentido, realçando pistas reveladoras do desenvolvimento de competências ou capacidades estratégicas, indispensáveis em situações complexas.

É na reflexão constante, sobre a ação e na ação, sobre teorias, metodologias, informações, crenças e valores que cada professor deverá encontrar respostas imprescindíveis para se processarem as interações que vão dar origem a actuações mais adequadas aos objetivos em vista e ao contexto vivido. A formação pela investigação é o eixo metodológico que procura ir ao encontro e dar resposta ao crescimento profissional dos professores, que cada vez mais se têm que assumir como produtores da e na sua própria formação, chamando a si a responsabilidade de investigação, ou seja, devem de ser investigadores do seu próprio ensino (Cachapuz, 2007).

No seu “Quadro de uma prática letiva” (Classroom Practice Framework), o Centro Nacional para a Melhoria do Ensino Cientifíco (National Center for Improviing Science Education) introduz os comportamentos específicos que o professor de ciências deve ter a fim de promover uma aprendizagem ativa e significativa, que ajude a:

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- facilitar a aquisição de conhecimentos;

- desenvolver processos cognitivos, atitudinais e metacognitivos; - combinar a reflexão com a prática;

- conduzir os alunos na comunicação, recolha e manipulação de informação;

- utilizar os dados da investigação na resolução de problemas; - estabelecer relações entre os conceitos adquiridos e a vida real; - integrar a ciência, as técnicas e a matemática;

- recorrer a diversos materiais e instrumentos; - praticar uma verdadeira avaliação.

Em suma, o professor de ciências deve conhecer e implementar o programa e ao mesmo tempo proporcionar a reflexão sobre a sua ação, na medida em que esta se torna um processo gerador de uma pesquisa formativa capaz de melhorar os acontecimentos da sala de aula e favorecer as aprendizagens Cabe ao professor de ciências a tarefa de promover a literacia cientifíca, estimulando a curiosidade natural dos alunos pela natureza, a inquietação pelas explicações, valorizar a construção social do conhecimento e a necessidade de criação de soluções para a sobrevivência humana no planeta, diante dos impasses colocados pela realidade do nosso tempo.