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Durante as últimas duas décadas tem-se verificado uma tendência internacional e nacional para encarar a observação de aulas como um processo de interação profissional, de carater essencialmente formativo, centrado no desenvolvimento individual e coletivo dos professores e na melhoria da qualidade do ensino e das aprendizagens (Bordeus & Abbott, 2010; Reis, 2011).

A observação de aulas é uma técnica de recolha de dados essencial, na medida em que, permite aceder às estratégias e metodologias de ensino utilizadas, às atividades educativas realizadas, aos instrumentos de avaliação aplicados, ao currículo implementado e às interações estabelecidas entre o professor e o aluno (Reis, 2011). Neste sentido, a observação pode ser utilizada com múltiplas finalidades, nomeadamente, demonstrar uma competência, partilhar um sucesso, diagnosticar um problema, encontrar e testar soluções para o problema, explorar formas alternativas de alcançar os objetivos curriculares, estabelecer metas de desenvolvimento e avaliar o sucesso.

Segundo Guba e Lincoln (1991), a observação de aulas torna-se necessária para compreender as complexidades das situações educacionais através de estudos realizados no ambiente real em que se desenvolvem, já que a descrição exaustiva das situações permite compreender o que se está a passar. O fator humano está presente no dia-a-dia das escolas e das salas de aula, pelo que recomendam que a atitude, reações, apreensões e motivos de cada docente são aspetos que devem ser tidos em conta e incluídos nas investigações que se desenvolvem sobre a educação.

Neste estudo foi utilizada a técnica da observação participante, na medida em que se procura estabelecer sempre uma interação entre os participantes e a investigadora (Bordeus & Abbott, 2010). A observação participante permite obter informações sobre as ideias e ações dos sujeitos, tendo em vista compreender a realidade em que se inserem, integrando os seus próprios pontos de vista.

Esta técnica pode introduzir alguns riscos de contaminação, já que a presença do observador pode alterar o comportamento dos professores intervenientes. Para minimizar estes riscos, durante a observação tentou-se reduzir ao máximo o envolvimento da investigadora evitando fazer qualquer tipo de intervenção nas práticas letivas dos professores. Sentada num lugar que habitualmente não era ocupado, na zona posterior da sala, conseguiu-se maior disponibilidade para observar toda a turma e garantir menor contaminação. Os alunos olharam no início com alguma curiosidade, mas tirando esse momento inicial pareceram esquecer a presença de terceiros, assim como os professores que evidenciaram bastante à-vontade e não demonstraram qualquer tipo de constrangimento com a situação.

A observação desenvolvida teve um caracter formal, pelo que poucos minutos antes de cada aula ocorreu um breve encontro para enquadramento da mesma, onde os professores deram conhecimento dos principais objetivos e das metodologias que iriam utilizar para a sua concretização. Após a observação, os momentos conjuntos também foram curtos, salientando-se os aspetos que correram bem, os aspetos que poderiam ser melhorados, as situações atípicas vivenciadas por alguns alunos, e como sugere Reis (2011) acrescentando-se pequenos comentários sobre alguns aspetos que condicionaram o desenvolvimento da aula.

No que se refere às datas de observação de aulas, no caso de Miguel, ocorreram em fevereiro e maio de 2012, nos dias em que o professor mostrou interesse. Assisti a aulas da turma B do 11.º ano, do curso de Ciências e Tecnologias, em que o professor lecionava a sub-unidade “Equilíbrio ácido-base” da componente de Química, no decorrer dessas aulas os alunos realizaram uma atividade experimental, com revisão da matéria, levantamento de questões e hipóteses de investigação, desenvolvimento e confronto de resultados entre os diversos grupos de trabalho e noutra aula, o tempo foi dedicado à consolidação de conhecimentos através da realização de diversos exercícios criteriosamente selecionados do manual escolar. No caso Sofia, a observação das aulas ocorreu, cerca de dois meses após a primeira entrevista, também nos dias em que a professora manisfestou interesse. Deste modo, em novembro de 2012 assisti á primeira sessão, uma aula de Química do 10.º ano, do curso de Ciências e Tecnologias, onde o objeto de estudo era “Moléculas na troposfera - fórmula de estrutura de moléculas poliatómicas; geometria molecular e ângulos de ligação” e a última observação ocorreu

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no final do segundo período do mesmo ano letivo. Nesta altura, a professora já se encontrava a lecionar a componente de Física, na mesma turma, registando no sumário “Forças dissipativas ou resistivas. Resolução de exercícios das atividades práticas das unidades zero e um”, pelo que a estrutura da aula foi dividida em duas partes, a primeira de caráter mais teórico, embora as tarefas selecionadas tenham implicado o envolvimento do aluno, e a segunda parte mais prática, onde os alunos trabalhavam em pequeno grupo, sob a orientação da professora.

As aulas observadas decorreram, naturalmente, nas salas destinadas inicialmente nos horários dos professores. Tal como já foi referido, a marcação das aulas observadas foi feita pelos professores, procurando atender aos seus interesses. Durante a observação procurou-se estabelecer um clima de confiança e colaboração. O sucesso da investigação, além da qualidade dos instrumentos aplicados e da forma como os resultados são utilizados, depende bastante da compreensão dos objetivos da investigação, por todos os participantes na investigação e da sua implementação num clima de confiança (Reis, 2011).

Estas aulas sucederam as entrevistas e foram sujeitas a gravação audio. Atenta às estretégias de ensino, aos instrumentos utilizados e aos comportamentos dos alunos, procurei seguir a atuação do professor, registando as estratégias que adotaram e pensando quer sobre o significado das suas palavras quer sobre a postura por estes adotada de modo a interpretar corretamente a sua forma de atuação. Assim, durante as aulas observadas foram efetuados registos ou notas de campo sobre a ação dos professores, num guião que foi elaborado préviamente (anexo 4), tendo-se constituindo instrumento privilegiado, na medida em que permitiu recolher dados, quer a partir de situações planeadas, quer a partir de situações que não eram previstas à partida. As notas de campo, escritas durante a observação das aulas pela investigadora são essencialmente observacionais e incluem, os registos que se foram criando durante as aulas observadas, conduzindo posteriormente, a uma reflexão que permitiu interligar e relacionar as intervenções dos professores com as ideias recolhidas durante a entrevista para posteriormente comparar com as finalidades da educação científica.

Antes de cada aula, houve sempre uma conversa informal, cerca de 15 minutos, com os professores a fim de se identificarem os objetivos e estratégias que iriam utilizar em sala de aula. Após a observação das aulas ocorreu uma breve conversa com os

professores, para esclarecer alguns aspetos menos claros procurando-se sempre evitar a formulação de qualquer juizo de valor sobre a forma como esta decorreu.