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Um dos passos mais importantes na realização de estudos de caso é a identificação dos casos propriamente ditos, a qual se deve orientar por critérios em função dos objetivos presseguidos (Merriam, 1998; Yin, 2003; Schreiber & Asner-Self, 2011). Tendo em conta que se pretendia conhecer as práticas curriculares e, perceber o papel dos resultados da avaliação externa nessas mesmas práticas, afigurou-se interessante selecionar uma escola cujos resultados dos alunos nos exames estão, no geral, abaixo da média nacional e outra escola cujos alunos apresentam, em geral, resultados mais satisfatórios, quando comparados com os da escola anterior.

Assim, com o propósito de desenvolver a investigação, e como primeiro critério de identificação e seleção dos professores participantes no estudo, analisaram-se num momento prévio, os resultados dos exames nacionais de Física e Química A, entre 2006

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e 2011 e contataram-se os Diretores de alguns Agrupamentos de Évora, com o propósito de identificar as escolas que apresentassem resultados diferentes entre si.

Deste modo, no decorrer do primeiro trimestre de 2010/2011, começou-se por fazer um levantamento dos professores que poderiam vir a colaborar na investigação, recolhendo informações gerais sobre o seu trabalho junto do Diretor da escola onde lecionam. Neste encontro foi explicado, em linhas gerais, quais os objetivos deste estudo e qual o tipo de contributo que se esperaria da escola e dos professores, tendo os Diretores manifestado interesse em colaborar, prontificando-se a encaminhar o pedido até ao Conselho Pedagógico e a disponibilizar toda a documentação necessária. Porém, numa das escolas, o assunto foi apresentado em reunião de Departamento Curricular a todos os professores e, segundo a Coordenadora de Departamento, todos se recusaram a participar, alegando que se encontram revoltados com o atual sistema educativo, não estando por isso dispostos a ajudar sem obter contrapartidas. Mais tarde foi feito um segundo contacto, junto de uma colega que conhecia desde os tempos de universidade, mas a posição da professora manteve-se, apesar de relembrar que o desenvolvimento de investigações em torno de questões diretamente relacionadas com o ensino da Física e Química poderia vir a ajudá-la a clarificar, orientar, fundamentar e melhorar as suas práticas de ensino e consequentemente as aprendizagens dos alunos. A necessidade de me circunscrever às escolas de Évora, onde me encontro a lecionar, foi decisiva e acabei por contatar a terceira escola da cidade.

Depois de identificadas as escolas passou-se à seleção dos participantes, que foi orientada por critérios específicos, tendo presente os objetivos perseguidos. O primeiro critério tem a ver com o nível de ensino dos professores, pelo que foram selecionados professores do Ensino Secundário que se encontravam a lecionar a disciplina de Física e Química A aos 10.º ou 11.º Anos, nas duas escolas.

O segundo critério incidiu sobre os professores propriamente ditos. Em relação a estes, considerou-se importante a sua experiência bem como o reconhecimento profissional na escola. Bell (2008) distingue os professores experientes dos mais novos em três áreas distintas: capacidade de processar amplas quantidades de informação, de um modo significativo; possibilidade de autocontrolo da sua própria atividade; e competências em generalizar a informação adquirida. Este critério foi utilizado no

pressuposto de que os professores assim escolhidos, não só têm uma permanência prolongada na escola, conhecendo a sua cultura, os seus pontos fortes e constrangimentos, mas também pelo facto de terem idênticas experiências no ensino dos programas curriculares, optando por metodologias de ensino, técnicas e instrumentos de trabalho ou de avaliação similares, e, por outro lado, por serem os professores recomendados pelos Diretores das escolas como os que poderiam encarar com mais confiança a participação na investigação, sendo esta menos perturbada com questões relacionadas com a imaturidade ou insegurança.

Tendo em conta os aspetos referidos, a seleção dos professores, apontados pelo Coordenador de Departamento e pelo Diretor do Agrupamento, recaiu sobre dois professores com grande experiência e estabilidade laboral. Estes apresentavam praticamente a mesma idade, pertenciam ao quadro de nomeação definitiva das escolas e ambos, apesar de possuírem algumas caraterísticas distintas em termos do trabalho que têm desenvolvido na escola, apresentavam outras muito similares, por exemplo, o facto de já lecionarem os 10º e 11.º anos de escolaridade há algum tempo e serem considerados pelos seus pares como profissionais bastante competentes, sendo normalmente referenciados pelo Diretor para lecionar este nível de ensino.

O primeiro professor escolhido já tinha trabalhado comigo, há cerca de nove anos, quando fui formadora da ação de formação promovida pela Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular, “Trabalho prático na perspetiva dos novos programas de Física e Química - Uma abordagem ao 10.º ano”. Durante este período estabelecemos uma relação formal e eu pude constatar que se trata de uma pessoa bastante interessada, responsável e com grande vontade de experimentar e implementar estratégias inovadoras que satisfaçam o interesse dos alunos e ajudem a melhorar o seu ensino, pelo que me senti satisteita quando ao contatá-lo me confirmou a sua disponibilidade e interesse em ajudar. De entre os nomes sugeridos considerou que Miguel seria o que mais se adequa à sua pessoa.

A segunda professora foi escolhida após os professores da segunda escola contatada terem recusado colaborar nesta investigação. A necessidade de me circunscrever às escolas de Évora, onde me encontro a lecionar, foi decisiva e acabei contatando a terceira escola da cidade. Ao falar com o Diretor do Agrupamento, este adiantou imediatamente o nome de uma professora, que por acaso eu tinha conhecido no ano anterior, quando fui supervisora do exame de Física e Química A, pelo que decidi

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contatá-la e expor-lhe a situação. No primeiro contato a professora foi muito simpática, mas acrescentou que tinha imenso trabalho na escola, sendo por esse motivo complicado contar com a sua participação. Insisti que considerava muito importante a sua ajuda e reforçando com a opinião que o Diretor tinha a seu respeito, ou seja um perfil que se ajusta idealmente à investigação, acrescentando que este seria mais um desafio na sua atividade profissional e prometendo-lhe que lhe iria “roubar” apenas o tempo mínimo necessário. Desta forma consegui adiar a recusa, acabando mais tarde por confirmar a sua disponibilidade e vontade em ser útil. Foi assim que acabei por selecionar Sofia e conquistar uma colega, com a qual estabeleço hoje laços de amizade e cooperação profissional.

O primeiro contato decorreu de acordo com os pressupostos metodológicos atrás referidos, durante o qual foi dada informação mais detalhada acerca da finalidade a que a investigação se destinava. Foram apresentados os objetivos e os processos a usar, bem como o trabalho que lhes era pedido e os tempos em esperava que os professores participassem. Foi também referido o tipo de dados a recolher, solicitada a sua autorização para poder assistir e gravar aulas e para consultar documentos diversos (planificações, testes, fichas de trabalho ou outros instrumentos de avaliação).

Tornando-se indispensável a recolha de dados detalhados e do foro pessoal, os professores foram alertados para as implicações que o estudo poderia ter a partir do momento em que os resultados fossem tornados públicos. Resultando daí o facto da atribuição de um nome falso para garantir completamente a sua não identificação. O nome foi escolhido por cada um dos professores e no final, tal como referi anteriormente, pedi-lhes ajuda no sentido de darem o seu parecer sobre o conteúdo final do estudo, com possibilidade de retirar os elementos que desejassem manter reservados. Esta foi uma tarefa que os professores aceitaram com entusiasmo, tendo mostrado concordância com o que havia escrito a seu respeito e num ou outro campo acrescentaram pequenos promenores que justificam ou ajudam a compreender a sua forma de atuação.

No decorrer dos encontros para recolha de dados, não houve qualquer colaboração direta com os professores, para evitar juizos de valor e garantir apenas a compreensão do trabalho dos mesmos. Manteve-se, dentro do possível, distanciamento em relação aos dados recolhidos evitando comentários que pudessem de algum modo alterar o comportamento e atuação do professor em sala de aula. Como referem

Schreiber & Asner-Self (2011), a relação entre o investigador e o participante é de grande complexidade e pode contaminar os resultados, se não existir uma postura de equilíbrio entre a proximidade e o distanciamento que evite a intervenção e avaliação por parte do investigador.

A seleção das turmas envolvidas na investigação foi feita por sugestão dos professores, procurando atender aos seus interesses no que respeita ao ambiente de trabalho. Porém, foram informados previamente que como critério essencial deveriam ser contemplados alunos inscritos na disciplina de Física e Química A, do Curso Geral de Ciências e Tecnologias do Ensino Secundário. Esta disciplina dá continuidade à disciplina de Físico-Químicas, do 3.º Ciclo do ensino Básico, representando uma via para os alunos aprofundarem conhecimentos relativos à Física e Química, duas áreas estruturantes do conhecimento das ciências experimentais. Trata-se de uma disciplina bienal, sendo cada uma das componentes lecionada em cada um dos semestres em duas sessões teóricas de 90 minutos e uma sessão de 135 minutos exclusivamente de caráter prático-laboratorial, com a turma dividida em turnos, onde os alunos trabalham individualmente e/ou em pequeno grupo, acompanhados pelo professor.

No início da interpretação dos dados foi solicitada ajuda, aos professores que na altura desempenhavam respetivamente o cargo de Diretores das escolas, hoje já agrupamento, na caraterização das turmas. Estes sugeriram a consulta dos documentos orientadores, projeto educativo e do regulamento interno e posteriormente foi-lhes pedida ajuda na confirmação da caraterização feita, solicitando-se o acréscimo ou retidada de dados que não correspondessem a uma descrição rigorosa e atualizada.