• Nenhum resultado encontrado

3.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO E CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

3.3.1 Os profissionais de Saúde

O primeiro grupo de participantes do nosso estudo foi composto pelos profissionais de saúda da UPAE que exerciam atividades de assistência com as crianças com SCZV ou com suas famílias.

Os profissionais de saúde surgiram como informantes importantes do nosso estudo tanto pela convivência semanal com as crianças e com as famílias como pela convivência longitudinal com as mesmas. Algumas crianças foram encaminhadas para a unidade assim que receberam a confirmação do diagnóstico ou nos primeiros meses de vida.

No decorrer do estudo identificamos outros profissionais que desenvolviam atividades diretamente com as famílias e as crianças com SZCV. Havia médicos e médicas de setores da clínica médica que atendiam as crianças, mas era um atendimento que mesmo longitudinal não mantinha a frequência do cotidiano semanal dos profissionais dedicados a reabilitação. Também tínhamos os trabalhadores de setores administrativos, muitos deles terceirizados e que estavam todos os dias com as famílias, mas que precisavam dividir a atenção com vários setores da unidade.

A composição da equipe diretamente ligada a reabilitação e acompanhamento das fa- mílias, conhecida internamente como equipe “micro” contava com: três fisioterapeutas, um terapeuta ocupacional (mas tivemos a oportunidade de entrevistar dois Terapeutas Ocupacionais, incluindo um que havia se desligado da instituição, mas que teve uma experiência de muitos anos na mesma), uma fonoaudióloga, uma nutricionista, um psicólogo e uma assistente social.

Desses o psicólogo, a nutricionista e a assistente social dedicava parte do tempo de trabalho as crianças e famílias com SCZV e parte da carga-horária de trabalho em outros setores da UPAE.

O pequeno número de profissionais de cada profissão trazia o risco de que o compromisso de anonimato fosse quebrado na apresentação dos resultados. Por isso tanto nas falas como na tabela de descrição dos participantes da pesquisa optamos por não fazer a correspondência direta entre o nome do participante e sua profissão. Acabamos optando pelo termo genérico “Terapeuta” mesmo correndo o risco de deixarmos a leitura um pouco confusa. Preferimos salvaguardar os participantes que contribuíram com a realização da pesquisa.

Tabela 2 – Caracterização dos Profissionais de Saúde participantes da pesquisa

Nome Sexo Idade Raça/Etnia Estado Civil Filhos

Fernanda Feminino 30 Branca Solteira Não

Helena Feminino 28 Branca Solteira Não

Eduarda Feminino 29 Branca Solteira Não

Mayara Feminino 33 Parda/Preta Casada Sim

Laura Feminino 40 Branca Casada Sim

Cyro Masculino 33 Branca Solteiro Não

Kaliane Feminino 32 Parda/Preta Casada Sim

Carla Feminino 25 Branca Casada Não

Yuri Masculino 27 Oriental Casada Não

Fonte: Tabela produzida pelo próprio autor da tese

Sobre a orientação sexual e identidade de gênero, os profissionais e as profissionais de saúde se definiam como homens e mulheres cisgêneros e heterossexuais. Se abrirmos o nosso foco para a instituição como um todo, observamos que a UPAE na totalidade era frequentada por homens e mulheres transgêneros, mas durante todo o período de observação participante não tive contato com nenhuma pessoa transgênero (usuário ou trabalhador) nos ambientes destinados à reabilitação.

Encontramos entre os profissionais da UPAE pessoas deficientes (um dos terapeutas era deficiente visual), mas nenhum profissional era transgênero (todas as pessoas transgêneras que encontramos eram usuárias da unidade). O que demonstra o potencial das políticas inclusivas de cotas para pessoas deficientes e o impacto da transfobia nas relações de trabalho.

Mas confesso que fiquei surpreso com a ausência de pessoas trans no principal serviço de reabilitação da região e que realizava uma média de 1000 atendimentos mensais. Talvez, isso se deva ao pequeno período (pouco mais de um semestre) que passei na unidade e resolvi conversar com Fernanda, uma das terapeutas com mais tempo de serviço na unidade:

Ricardo: – Fernanda, eu gostaria de aproveitar o final da nossa conversa para tirar uma dúvida. Eu estou fechando as minhas informações sobre o perfil de público atendido

na fisioterapia aqui na UPAE. Durante o tempo que acompanhei as famílias, vi homens e mulheres adultos, alguns com amputações. Mas não me recordei nesse período de ter visto algum homem ou mulher transexual. Você tem a memória de algum usuário ou usuária com esse perfil?

Fernanda: – De fato até hoje não tive paciente ou acompanhante transexual, nem soube de alguém que tenha tido . . . homossexual sim . . . mas nenhum ligado a micro (Fernanda, 30 anos terapeuta da UPAE).

A participação dos profissionais se deu através da observação de atendimentos, de conversas informais, na participação de reuniões de equipe e em entrevistas. As entrevistas foram realizadas na maioria na própria UPAE nos intervalos de consultas e atendimentos, apenas os terapeutas ocupacionais foram entrevistados em seus consultórios particulares.

As entrevistas com os profissionais duravam em média uma hora e era dividida em três blocos principais. No primeiro, as perguntas versavam sobre o histórico profissional e trajetória pessoal até a chegada na UPAE, se realizou cursos preparatórios e se tinha experiência prévia no atendimento de crianças com deficiências múltiplas. O segundo bloco abordava o cotidiano de terapias e intervenções, procurando identificar necessidades específicas do cuidado com as crianças e possibilidades de prognósticos e evoluções clínicas. A última etapa da entrevista abordava a percepção dos profissionais sobre a relação com os cuidadores, como a família participava do cotidiano do cuidado e como eles percebiam a participação de mães e pais nos cuidados com as crianças. O roteiro básico de entrevista se encontra no Apêndice C.

Optamos por realizar as entrevistas com os profissionais após três meses do início dos trabalhos de campo, isso facilitou no nosso processo de vinculação com a equipe, não foi registrada nenhuma recusa por parte dos profissionais em participar das entrevistas bem como garantir o nosso acesso aos espaços de atendimento.