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Perfil das universidades e programas de pós-graduação

No documento Revista Sinais Sociais / Sesc (páginas 142-145)

Outro aspecto relevante em relação às ações afirmativas na pós-gradu- ação é que, até o momento, as políticas não estão distribuídas pelo ter- ritório nacional tal como aconteceu com as políticas para ingresso nos cursos de graduação. O levantamento mostra que a região Sudeste do país é a que concentra o maior número de iniciativas, seguida da região Centro-Oeste – dado diametralmente oposto ao que ocorreu com as cotas na graduação até pelo menos 2012, pois o Sudeste foi então a região mais resistiva (FERES JÚNIOR, DAFLON, CAMPOS, 2011).

Fonte: Elaboração da autora.

Ademais, ao analisarmos a distribuição das iniciativas pelos estados da Federação, verifica-se que o estado de São Paulo concentra o maior nú- mero de políticas afirmativas para a pós-graduação, havendo oito inicia- tivas na Universidade de Campinas (Unicamp) e uma na Universidade de São Paulo (USP) – mais uma diferença significativa, pois São Paulo é até hoje o estado que mais resistiu à implantação de cotas raciais na gradu- ação, vide o enorme atraso com que a Unesp as adotou (UNESP..., 2013), ou a ineficiência escandalosa dos programas de bônus implantados por Unicamp (VENTURINI, FERES JÚNIOR, 2016) e USP (VENTURINI, 2015). Em seguida, aparece o Distrito Federal com sete iniciativas na Universidade de Brasília (UnB) e o Rio de Janeiro com três iniciativas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), uma na Universidade Federal Fluminen- se (UFF) e mais três nas universidades estaduais em decorrência da Lei Estadual n° 6.914/2014.

MAPA 1: Distribuição das políticas de ação afirmativa para pós-graduação por estado da Federação (N=41) 2 1 1 9 7 4 7 1 2 1 2 1 3 AM AC RO MT MS RS SC PR SP RJ ES BA GO DF TO MA RR AP PA CE PI RN PB SEAL PE MG

Fonte: Elaboração da autora.

Conforme mencionado nos itens anteriores, há um debate sobre a cria- ção de ações afirmativas para ingresso em cursos de pós-graduação, e uma preocupação com a excelência acadêmica dos programas. Ou seja, programas mais bem avaliados poderiam apresentar maior resis- tência à criação dessas políticas devido à preocupação com as notas da Capes. Estudo feito sobre o estado das políticas de ação afirmativa para a graduação antes da entrada em funcionamento da Lei Federal nº 12.711/2012 mostra que as universidades com melhores desempenho no Índice Geral de Cursos (IGC)14 eram as que menos inclusão promo- viam (FERES JÚNIOR et al., 2013).

A avaliação da pós-graduação feita pela Capes é um instrumento impor- tante para a concessão de auxílios pelas agências de fomento nacionais e organismos internacionais. Os programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado, doutorado e mestrado profissional) são submetidos a uma avaliação a cada quatro anos e recebem notas distribuídas entre 1 e 7, sendo que (a) notas superiores a 5 somente são atribuídas a programas com elevado padrão de excelência e que necessariamente tenham cursos

Sinais Sociais | Rio de Janeiro | v. 11 n. 34 | p. 119-153 | set./dez. 2018 Anna Carolina Venturini

143 0 1 2 7 7 3 4 5 6 7 8 9 10 5 9 4 Capes 7 Capes 6 Capes 5 Capes 4 Capes 3

GRÁFICO 5: Número de iniciativas (N=31)15 voltadas para o ingresso na

pós-graduação conforme nota de avaliação da Capes Conceito CAPES

de doutorado; e (b) programas de nota 7 são aqueles com desempenho claramente destacado dos demais, inclusive dos de nota 6.

Assim, é importante analisar se as políticas também estão sendo insti- tuídas por programas de pós-graduação bem avaliados. O levantamento cruzou as políticas afirmativas com o conceito obtido pelos programas de pós-graduação na última avaliação da Capes. Verifica-se que 41% das iniciativas foram instituídas por programas com notas 6 (28%) e 7 (12%), aqueles com o maior padrão de excelência segundo a Capes. Apesar da amostra ainda não ser representativa do conjunto de programas notas 6 e 7, a constatação de que tais programas estão instituindo ações afirma- tivas é relevante e pode ser utilizada como argumento em discussões nos programas que ainda enfrentam resistência à criação dessas medidas, particularmente daqueles que sustentam ser a ação afirmativa adversá- ria do mérito e da excelência.

Fonte: Elaboração da autora.

Por fim, pesquisas demonstram que, apesar do acesso à universidade ter se democratizado, e de ter ocorrido aumento expressivo do número de pretos e pardos, não houve acesso igual a todas as carreiras: áreas menos valorizadas pelo mercado de trabalho, tais como Humanidades e Ciências Sociais Aplicadas, incluíram mais do que as áreas duras (RI- BEIRO, SCHLEGEL, 2015, p. 2). No caso das políticas de ação afirmativa para pós-graduação, nota-se que 76% das iniciativas foram criadas em cursos da área de Humanidades, havendo baixo número de programas em cursos de Biológicas e nenhum no âmbito das Exatas.

0 5 0 2 31 10 15 20 25 30 35 8 Todas as áreas Ciências exatas Ciências biológicas Humanidades

GRÁFICO 6: Número de iniciativas de acordo com área do conhecimento (N=41)

Fonte: Elaboração da autora.

É interessante observar que o curso de pós-graduação com o maior nú- mero de iniciativas é o de antropologia. Ao todo, sete programas de pós- -graduação dessa disciplina distribuídos por diversas regiões do país (Norte, Centro-Oeste, Sudeste e Sul) criaram ações afirmativas, sendo que três desses programas obtiveram nota 7 na última avaliação da Capes.

O trabalho buscou apresentar um desenho das ações afirmativas criadas em cursos de pós-graduação no período de 2002 até o início de 2017. Em linhas gerais, é possível observar que não há uniformidade nas políticas instituídas pelos programas de pós-graduação, especialmente no que se refere à modalidade de ação afirmativa criada, aos critérios adotados, aos grupos sociais beneficiados, bem como às justificativas apresentadas para sua instituição. É importante salientar que não há unificação for- mal de critérios adotados nos processos de seleção de candidatos à pós- -graduação no Brasil, uma vez que os programas detêm autonomia para definição dos critérios, permitindo a existência de grande variação entre as políticas afirmativas dentro de uma mesma universidade.

Não apresentei análise dos resultados dessas políticas, uma vez que são medidas relativamente recentes e incipientes, as quais demandam tam- bém estudos aprofundados sobre seu processo de criação e justificação. A partir deste levantamento, foi possível verificar que alguns programas buscaram criar políticas que levassem em consideração as característi-

No documento Revista Sinais Sociais / Sesc (páginas 142-145)