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1. O DEGASE COMO INSTITUIÇÃO SOCIOEDUCATIVA

1.7 Perfil dos Jovens-adolescentes do DEGASE

Com base nos dados de 2015 fornecidos pelo SIAD/DEGASE13, podemos ter um

panorama de quem são os jovens-adolescentes atendidos pelo SSE no Rio de Janeiro e provocar uma análise dessa população. Esses dados representam o número geral de jovens- adolescentes que passaram ou estavam no DEGASE no ano de 2015.

12Dados fornecidos pela unidade socioeducativa Escola João Luiz Alves.

13O Sistema de Identificação de Adolescentes (SIAD) é um sistema informatizado desenvolvido pelo DETRAN,

cuja gestão é feita pela Assessoria de Identificações e Gerenciamento de Informações (ASIGI) que cadastra, por meio da identificação civil do adolescente (registro geral – RG) e registra dados, informações e as movimentações do adolescente dentro do Sistema Socioeducativo do Rio de Janeiro.

Tabela 4 - Total de Jovens-adolescentes cumprindo MSE no DEGASE por sexo e idade no ano de 2015.

Fonte: SIAD, 2015.

Podemos identificar que a maior parte dos jovens-adolescentes é do sexo masculino e possui entre 15 e 18 anos de idade. Já no caso da população de sexo feminino a maior entrada se dá entre os 15 e os 17 anos de idade. Em relação à escolaridade, podemos perceber que a grande maioria não completou o ensino fundamental.

Tabela 5 - Nível de escolaridade de jovens-adolescentes por sexo no DEGASE em 2015. Ano 2015

Idade Feminino Masculino Total

12 anos 1 19 20 13 anos 16 100 116 14 anos 35 314 349 15 anos 64 932 996 16 anos 109 1749 1858 17 anos 88 2332 2420 18 anos 57 2008 2065 19 anos 13 349 362 20 anos 2 116 118 21 anos 0 38 38 > 21 anos 1 29 30 Em branco 4 84 88 Total 390 8070 8460 Ano 2015

Grau de Escolaridade Feminino Masculino Total

Alfabetizado 2 2

Analfabeto 9 9

EJA - Fundamental - Fase 1 6 6

EJA - Fundamental - Fase 2 3 3

Fundamental - 1ª Série - 2º Ano 3 107 110 Fundamental - 2ª Série - 3º Ano 3 253 256 Fundamental - 3ª Série - 4º Ano 7 761 768 Fundamental - 4ª Série - 5º Ano 27 781 808 Fundamental - 5ª Série - 6º Ano 76 1018 1094 Fundamental - 6ª Série - 7º Ano 67 711 778 Fundamental - 7ª Série - 8º Ano 40 462 502 Fundamental - 8º Série - 9º Ano 31 400 431

Fundamental Completo 20 20

Fundamental Incompleto 51 2559 2610

Médio Completo 12 12

Médio Incompleto 22 370 392

Fonte: SIAD, 2015.

A partir dessas informações podemos retomar a fala de profissionais do DEGASE sobre as ditas falhas do Sistema de Garantia de Direitos (SGD), quando pontuam que o jovem-adolescente chega ao DEGASE após ter passado por todas as políticas de proteção a infância e a juventude que compõem esse sistema (assistência, educação, saúde, segurança e justiça), e que supostamente essas instituições não conseguiram garantir a “proteção integral” prevista no ECA. De fato sabemos que se os jovens-adolescentes passaram pelas instituições que compõem o SGD, a oferta dos serviços ainda é insipiente e, muitas vezes, precária, podendo assim contribuir para o envolvimento em atos ilícitos.

De acordo com a Tabela 5, o Departamento Geral de Ações Socioeducativas do Rio de Janeiro atende então jovens-adolescentes que ou estão fora da escola ou apresentam uma trajetória escolar fragmentada. Fato é que a trajetória escolar distorcida ou fragmentada se relaciona com a prática de ato infracional, na medida em que a trajetória escolar pode estar corroborando para a infração ou o inverso.

Explicitamos até aqui como os jovens-adolescentes entram no DEGASE e conseguimos brevemente apresentar como se dá sua permanência; entretanto, vale uma elucidação sobre a saída. Ao longo dessa descrição, foi apontado que os jovens são acompanhados, na internação e na semiliberdade, por uma equipe multidisciplinar, frequentam regularmente a escola e participam de uma série de atividades complementares, (oficinas, cursos, atividades culturais). Essa dinâmica de atendimento socioeducativo está baseada no Projeto Pedagógico Institucional (PPI), que defende “de um lado o viés pedagógico; do outro, o viés jurídico da execução das medidas socioeducativas e/ ou atendimento socioeducativo” (DEGASE, 2010). Sendo assim, os relatórios produzidos pela equipe técnica e a consolidação do PIA descrevem o processo de desenvolvimento do jovem dentro do DEGASE, a fim de subsidiar a avaliação da medida socioeducativa aplicada.

A progressão de medida geralmente se dá em função do bom desempenho dos jovens nas atividades propostas, em especial, as escolares (presença regular, comportamento, progressão de série) e aquelas com vistas à inserção no mercado de trabalho (interesse, participação e conclusão). Não podemos esquecer que grande importância é dada à conduta do jovem-adolescente dentro da unidade. Seu comportamento nas mais diversas situações pode influenciar em sua avaliação positiva ou negativamente.

Não Informado 63 595 658

Na pesquisa-ação existencial aqui apresentada, pudemos constatar que o jovem- adolescente que cumpre medida socioeducativa de internação possui uma carga de experiências de vida muito mais densa do que aquela que se espera para sua faixa etária, apresentando desejo de se inserir na vida economicamente ativa, ter acesso à renda, supostamente participar das decisões e responsabilidades no seu núcleo familiar e raras vezes encontra ressonância em relação a esse interesse no meio social.

O DEGASE se configura como uma instituição educativa e nesse sentido esgarça um pouco mais essa prescrição. Apresenta claramente um projeto diverso da experiência vivida pelo atendido. A proposta é que este reescreva sua experiência no mundo e sua relação com os códigos legais, na perspectiva de seguir etapas que viabilizem de forma legal esse acesso à renda, mas esse projeto nem sempre é consolidado durante o cumprimento de uma medida. A instituição propaga um trabalho educativo que direcione esse jovem-adolescente para um outro olhar, um outro lugar, uma outra relação.

Dentre as opções ofertadas no cotidiano de comunidades ocupadas por redes criminosas, onde a maioria dos jovens-adolescentes reside, existem: empunhar uma arma; comprar, vender ou usar drogas; subjugar pessoas através do uso da força; dentre outras experiências. Para além dessa triste opção, espaços populares são marcados pela baixa oferta de equipamentos públicos, quer seja de educação, saúde, esporte, cultura ou lazer, o que faz dessa opção uma perversa possibilidade de ação e sociabilidade nos territórios periféricos.

Assim supomos que a prática de ato ilícito pode se configurar como uma ação criminosa sim e repreensível, entretanto, que se apresenta como uma opção viável e acessível no cotidiano de muitos jovens-adolescentes, que oferta acesso à renda, uma atividade com responsabilidades e obrigações, uma rede de sociabilidade e interação, além de status e poder. Questionamos aqui a existência desta opção. Nenhum jovem-adolescente deveria conviver com essa experiência em seu processo de desenvolvimento, na verdade, ninguém deveria, pois as agressivas e difíceis situações cotidianas promovidas pela presença de redes criminosas no cotidiano de um território são desumanas, inaceitáveis e insuportáveis. Porém estamos cientes que esta experiência é vivida em muitos espaços cotidianamente.

Independente do contexto, a ação, a energia que impulsiona o ato cotidiano, seja no comércio ilícito de drogas ou em qualquer prática da qual nos investimos, revela nossas potencialidades, habilidades e talvez seja essa potência que, no caso de jovens-adolescentes que cumprem medida socioeducativa, precisa ser explorada, trabalhada, investida. Parece-nos que um trabalho socioeducativo que leve em conta a trajetória de vida, a diversidade e as

características pessoais de cada jovem precisa dialogar com a realidade na qual está inserido determinado jovem-adolescente.

Demerval Saviani (2010), em sua análise sobre o Sistema Nacional de Educação e sobre o Plano Nacional de Educação, relembra-nos a finalidade da educação, prevista nas legislações nacionais, que é realizar o pleno desenvolvimento da pessoa, o preparo para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. A socioeducação é regida pela mesma proposta e entendemos que este fim pode ser alcançado a partir de uma prática pedagógica que dê legitimidade à realidade do educando, a sua experiência vivida, evidenciando nela ações, protagonismos, positivando experiências e ofertando para além daquelas estratégias, ilícitas, já exploradas, novos repertórios, ampliando possibilidades a partir do confronto com outras experiências, ressaltando as forças e potências que os socioeducandos já experimentaram.

2. JUSTIÇA RETRIBUTIVA E JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO RECURSOS