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Imagem 2: Atena e Hermes c. 1585 Fresco Castle, Prague

Invocação às Musas

Canta para mim, ó Musa, o varão industrioso que, depois de haver saqueado a cidadela sagrada de Tróade, vagueou errante por inúmeras regiões, visitou cidades e conheceu o espírito de tantos homens; o varão que sobre o mar sofreu em seu íntimo tormento sem conta, lutando por sua vida e pelo regresso dos companheiros. (...) Deusa, filha de Zeus, conta- nos, a nós também, algumas destas façanhas, começando por onde quiseres (HOMERO, 1981, p. 11).

Como Homero invocou a Deusa Atena, filha de Zeus, para narrar as façanhas de Ulisses: “Canta para mim, ó Musa”, convidei os professores da

Educação Básica, da cidade de Londrina-PR, para “contarem suas rapsódias” e experiências vividas.

Começo esta viagem narrando de que modo convidei os professores a embarcar comigo nesta “Odisseia” e como foram os preparativos para o percurso da pesquisa.

Recorri à deusa Atena, protetora de Ulisses, para guiar meu caminho com sabedoria e encontrar os professores da Educação Básica que pudessem viver, comigo, uma experiência de formação estética.

Em resposta, Atena me disse: “Irei ajudá-la nessa ´Odisseia`, logo voltarei com notícias”. Tão logo a deusa virou-se e atou aos pés suas belas e imortais sandálias de ouro, que a levavam para a imensidade da terra e das águas, tão veloz como os ventos, pegou a sua lança pontiaguda e inquebrável, com a qual derruba vários heróis e foi até Zeus, no monte Olimpo.

Chegando lá, falou: “Zeus, meu poderoso pai, aflige meu coração ao relembrar que a prudente Cyntia ainda aguarda o momento de iniciar a sua viagem (pesquisa)”.

Zeus, amontoador das nuvens, respondeu: “Minha filha Atena, como poderia me esquecer da tese de doutorado da Cyntia? Faça o seguinte: envie Hermes, o mensageiro, para tocar em sonho e convidar os professores de Londrina a compartilharem as suas experiências vividas, rumo ao caminho de ´Ítaca`”.

Atena foi em direção a Hermes e falou: “Hermes, tu que és o portador de todas as mensagens, anuncie a irrevogável decisão de Zeus aos professores que atuam na Educação Básica: queremos convidá-los a ´cantar` as suas experiências vividas, mergulhando em uma viagem ´Odisseica`”. Assim falou e o mensageiro perguntou: “Mas, Atena, se eles perguntarem mais detalhes do destino, o que farei? ”. Atena respondeu: “Ah, sim, bem lembrado, Hermes, diga que buscaremos rememorar as experiências vividas, inspirando-nos na obra literária Odisseia, de Homero”.

Hermes não lhe desobedeceu e visitou-os em sonho. Os professores, ao vê-lo face a face, imediatamente o reconheceram, pois os mortais conhecem a aparição divina e cada um o interrogou: “Hermes de bastão de ouro, a quem respeito, por que me procuraste? Dize-me o que pretendes que meu coração está disposto a cumprir teu desejo, caso me seja dado fazê-lo e ele for realizável” (HOMERO, 1981, p. 53).

Zeus, por intermédio de Atena, ordenou-me que viesse aqui convidá-lo a ´cantar a sua Odisseia`, porque sabemos da riqueza de suas experiências de vida e da importância de serem partilhadas com outros colegas de trabalho. Experiências singulares, onde encontramos a fonte das narrativas, com as incertezas, as aventuras e os riscos da vida como a história de Ulisses, que durante anos passou por provações em alto mar e terra e, após vinte anos, retornou a sua terra (Ítaca) com uma experiência alargada.

Tendo Hermes 14 a sua missão concluída, retornou e falou-me:

“Preparamos os seus convidados, agora é a sua vez”. Na Grécia, os deuses preparavam antes o coração das pessoas para uma passagem ou avisava-os em sonho sobre um acontecimento, como o episódio de Atena, que, com um sopro do vento, deslizou no leito da donzela Nausica, filha do rei Alcino, e conduziu-a para encontrar Ulisses, no rio de águas cristalinas, e levá-lo para o palácio do seu pai.

Quando Hermes, com suas asas enormes, virou-se para voltar à sua morada, falei: “Gostaria daquela erva que ofereceu a Ulisses quando foi entrar na morada da Circe, lembra?”. Hermes hesitou: “Mas por que precisa dessa planta benéfica? Quando entreguei a Ulisses foi porque não queria que ele caísse no feitiço da deusa Circe. E qual a sua necessidade?”. Respondi a ele: “Também não quero nesse percurso de viagem me entregar às tentações da racionalidade

14Hermes “tem origem, provavelmente, em herma, palavra grega que designava os montes de pedra

usados para indicar os caminhos” (HOMERO, 1981, p. 107). Por isso, certamente, a sua relação com as viagens e o seu papel de deus das viagens.

instrumental, pois muitas vezes somos seduzidos a expressar juízos de valores, sendo vítimas também da nossa formação e das artimanhas científicas. Como essa viagem envolve muitas vidas e estas fazem escolhas individuais, não quero cair nas armadilhas de sobrepor os meus valores em detrimentos de outros”.

Hermes15 me disse: “Tenho um pouco aqui nesse solo”. E explicou-me

acerca da erva: “Tinha a raiz negra e a flor branca como o leite. [...] Os mortais muito a custo logram arrancá-la; aos deuses”, e, em seguida, entregou-me algumas folhinhas. (HOMERO, 1981)

Em seguida, Hermes retirou-se para o vasto Olimpo, através da ilha arborizada; e percebi que me imunizou apenas para o começo da viagem, mas me lembrou que estaria acompanhada da deusa Carol16 até o meu regresso a “Ítaca”.

15 Muitas vezes precisamos de um Hermes que nos alerta dos encantos da feiticeira Circe.

16 Expressão atribuída com todo respeito, carinho e admiração pela memória da minha estimada

professora orientadora, Dra. Carolina Bovério Galzerani, exemplo de pessoa e profissional que lamento, imensuravelmente, não poder ter a honra de estar comigo em minha chegada até “Ítaca”. Sinto, diante das tempestades e infortúnios com que me deparei na caminhada, com a sua presença em meu coração, buscando forças por acreditar incontestavelmente, que está me acompanhando em outra dimensão. Quando fiz esse texto, não imaginava que perderia minha grande companheira de viagem, pois, assim como Ulisses, durante o percurso, teve a sua nau espatifada e deparou-se perdido no oceano, sem o auxílio e o apoio de seus amigos, que juntos haviam partido para a viagem.