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3 REFERÊNCIAS CONCEITUAIS

3.1 PROCESSO DE AIA, EIA/RIMA E CICLO DE PROJETO

No dizer de MÜLLER-PLATENBERG e AB’SABER (1998), é recente, na história da humanidade, o reconhecimento do atributo próprio do ser humano de visualizar conjunturas e cenários futuros; de pensar as conseqüências de seus atos e iniciativas presentes. Por conta disso, passou-se a buscar, com relação aos projetos ditos desenvolvimentistas, modelos com sustentabilidade ecológica e econômica. Essa busca passa pelo conhecimento do maior número possível de impactos e cenários gerados por projetos já implantados; pelo emprego de metodologias apropriadas para avaliar as cadeias de conseqüências dos diferentes tipos de planos e projetos; e pela inclusão, em qualquer tipo de projeto, de um rol de medidas que, por um lado, potencializem e maximizem benefícios e impactos socioambientais positivos, e, por outro, assegurem a prevenção, mitigação e compensação de impactos negativos.

Nesse sentido, o processo de AIA, surgido nos EUA, a partir do National Environmental Policy Act, NEPA, instituído em 1º de janeiro de 1970, abrange um amplo espectro de atividades, que devem estar atreladas a todo o ciclo dos projetos, constituindo instrumentos de ajuda ao processo decisório referente à sua concepção, planejamento e projeto, implantação e operação. Em BURSZTYN (1994), encontramos uma descrição das principais etapas desse processo, mostrada na figura 2, a seguir.

Foi dito, na introdução deste trabalho, que o processo de AIA pode incorporar instrumentos de natureza econômica, como as análises custo-benefício, análises de riscos, etc., mas provendo uma abordagem multidisciplinar dos problemas. Destacou-se ainda o fato de o processo privilegiar a participação da sociedade em geral no processo decisório relativo aos empreendimentos para os quais é exigida. A etapalização indicada por BURSZTYN (1994), na figura 2, mostra que a consulta à sociedade, assegurando sua participação no processo, deve estar presente desde a fase de identificação prévia dos impactos até a interpretação e avaliação dos impactos previstos e/ou mensurados. Com efeito, esse é um dos principais desafios para a implementação de processos de AIA bem conduzidos.

Figura 2 – Etapas do Processo de Avaliação Ambiental Fonte: BURSZTYN, 1994, p.52 Planejamento e elaboração do projeto Identificação prévia dos impactos Diagnóstico ambiental

Identificação dos impactos

Previsão e medição dos impactos Interpretação e avaliação dos impactos Programas de acompanhamento e monitoramento Consulta e participação

A identificação prévia dos impactos, também referida como scoping, é um etapa importante do processo, embora nem sempre presente, de modo formal, nos processos de AIA. Quando adotada, favorece os estudos ambientais que se seguem, conferindo-lhes um melhor embasamento para servirem de instrumento de ajuda ao processo decisório. Entre seus objetivos podemos ressaltar: identificar as questões socioambientais mais relevantes, que devem ser levadas em conta pelos tomadores de decisões; sugerir métodos e técnicas apropriadas para os estudos ambientais (por exemplo, com relação à necessidade de serem desenvolvidas análises custo-benefício, análises de riscos, etc.); e propiciar um envolvimento precoce do público, identificando-se grupos alvo e métodos mais adequados de se promover sua participação, de modo efetivo.

A partir daí, desenvolve-se a AIA propriamente dita, compreendendo: o diagnóstico ambiental, caracterizando e analisando a importância relativa de cada um dos fatores socioambientais passíveis de serem impactados; a identificação dos impactos (prognóstico); e a proposição de medidas preventivas, mitigadoras e/ou compensatórias, além de programas de ação, objetivando também a maximização dos impactos positivos dos empreendimentos..

Assim caracterizada, a AIA é materializada em um estudo de impactos ambientais

(EIA). No caso brasileiro, esse estudo é acompanhado de um relatório de impactos sobre o meio Ambiente (RIMA), consistindo em um relatório sintético, em linguagem acessível,

apresentando os empreendimentos, sua avaliação de impactos e as medidas e programas socioambientais propostos. O EIA/RIMA constitui documento de referência para a realização de consultas populares, sendo então debatidos com a sociedade, revistos e complementados, antes de o Estado licenciador manifestar-se quanto à viabilidade ambiental dos projetos.

A formulação e implementação de medidas e programas de ação socioambientais, preconizados no EIA/RIMA (e, complementarmente, nas exigências para o licenciamento ambiental dos empreendimentos), devem ser monitoradas e acompanhadas, desde a fase de planejamento e projeto (retroalimentando-a), até as fases de implantação e início de operação dos empreendimentos, fechando assim as etapas do processo de AIA. Bem conduzida, a AIA resultará em recomendações para a fase de operação e pós-licenciamento dos empreendimentos, concernentes a aspectos da sustentabilidade das intervenções promovidas.

Cabe ressaltar que embora o planejamento e elaboração do projeto esteja colocado, com relação ao processo de AIA, como uma etapa inicial, perfeitamente definida (vide figura 2, acima), existe na verdade um ciclo de planejamento e implantação dos projetos,

envolvendo diversas etapas desde sua concepção, até a entrada em operação dos empreendimentos. Tomando por base a resolução do CONFEA n.º 361/91, que conceitua o projeto básico de Engenharia, tendo em vista as exigências da legislação brasileira para a licitação de obras públicas (referida na introdução deste trabalho), o ciclo completo de um projeto de maior complexidade apresenta as seguintes etapas:

estudos preliminares – de reconhecimento, concepção e/ou inserção regional dos

projetos;

anteprojetos – consistindo no desenvolvimento simplificado das soluções de Engenharia

para as principais alternativas formuladas durante a fase usualmente referida como estudo

de alternativas ou de pré-viabilidade, com vistas à comparação e seleção daquelas que

são técnica e economicamente elegíveis (incorporando hoje, obrigatoriamente, a dimensão socioambiental);

estudos de viabilidade técnica e econômica – para as alternativas pré-selecionadas,

comparando-as tecnicamente e desenvolvendo, para cada uma delas, estudos econômicos detalhados que, em função de parâmetros como relação Benefício/Custo (B/C) e taxa interna de retorno (TIR), irão determinar a seleção final, com vistas ao desenvolvimento dos projetos básicos (devendo, também nesse caso, ser levada em conta a dimensão socioambiental, inclusive com o desenvolvimento, em paralelo, do EIA);

projeto básico de Engenharia – que constitui o requisito essencial para a licitação e

contratação das obras, consistindo em um

conjunto de elementos que define a obra, o serviço ou o complexo de obras e serviços que compõem o empreendimento, de tal modo que suas características básicas e desempenho almejado estejam perfeitamente definidos, possibilitando a estimativa de seu custo e prazo de execução (Resolução CONFEA n.º 361/91, artigo 1º).

Por fim, a conclusão do projeto básico de Engenharia possibilita o detalhamento do projeto, ou elaboração do projeto executivo que, no caso dos grandes empreendimentos de infra-estrutura faz parte da fase de implantação, sendo contratada, via de regra, junto com a execução das obras (consoante com o que preconiza a lei das licitações, Lei n.º 8.666/93).