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O PROJETO EM SUA CONCEPÇÃO ATUAL 1 Metas e Principais características

6 PROJETO DE INTEGRAÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO COM BACIAS HIDROGRÁFICAS DO NORDESTE SETENTRIONAL

6.2 O PROJETO EM SUA CONCEPÇÃO ATUAL 1 Metas e Principais características

As principais metas do Projeto de Integração de bacias, conforme assinaladas nos documentos de projeto e em relatório síntese elaborado pelo empreendedor, são:

Aproveitamento Eficiente da Água - Viabilização mais efetiva do aproveitamento dos recursos hídricos disponíveis nas bacias receptoras e armazenados por meio da açudagem. Recurso este indispensável, mas que, dada a inviabilidade de se prever o regime de chuvas no clima do semi-árido a longo prazo, não alcança os níveis de eficiência desejados. Em conseqüência, os grandes açudes, que disponibilizam a água durante as freqüentes secas inter-anuais, são operados conservadoramente, sempre à espera de uma seca prolongada que não se sabe quando ocorrerá. Com isso, em vez de se poder utilizar efetivamente a água armazenada, proporciona-se elevadas perdas por evaporação, que superam usualmente a quantidade de água disponibilizada para uso múltiplo;

Garantia de Água - Distribuição da água com garantia em eixos hídricos estratégicos, viabilizando o suprimento das populações localizadas ao longo dos seus traçados, nas bacias dos principais rios intermitentes brasileiros;

Qualidade da Água - Potencialização dos benefícios ecológicos de uma maior permanência da umidade nas calhas fluviais no semi-árido, bem como garantia de melhor qualidade da água nos açudes, beneficiando seus usuários; e

Gestão da Água - Modernização da gestão dos recursos hídricos locais, através da indução do mecanismo de cobrança pelo uso da água bruta proporcionada pelo Projeto.

O Projeto, do modo como atualmente concebido, é constituído por estações de bombeamento e estruturas para condução de água, desde o rio São Francisco até os diversos pontos de entrega nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco (com parte do território inserido na própria bacia do São Francisco). Divide-se em dois grandes

eixos de obras, denominados Eixo Norte e Eixo Leste. A transferência das águas far-se-á através de desses eixos:

EIXO NORTE

Interligando o São Francisco, na altura de Cabrobó (PE), às bacias dos rios Jaguaribe (CE), Apodi (RN) e Piranhas/Açu (PB/RN), atendendo também a bacia do rio Brígida (PB);

EIXO LESTE

Interligando o São Francisco, na altura do Reservatório de Itaparica, à bacia do rio Paraíba (PB), atendendo também à bacia do rio Moxotó (PE) e ao Agreste pernambucano.

Quadro 3 – Projeto São Francisco: eixos norte e leste Fonte: FUNCATE (2003).

O Eixo Norte é formado por 5 trechos (I, II, III, IV e VI). Tem início com a captação no rio São Francisco, situada após o reservatório de Sobradinho, a montante da ilha Assunção, próxima a Cabrobó (PE). Já o Eixo Leste é formado apenas pelo Trecho V, com início no reservatório de Itaparica, no rio São Francisco.

As bacias receptoras contam com infra-estrutura de açudagem e para utilização da água, essencial para o alcance dos objetivos do Projeto em termos de integração de bacias e aumento da oferta de água para a população. Destacam-se, por estado:

CEARÁ Rio Jaguaribe e bacias metropolitanas de Fortaleza — interligadas àquele por meio do Canal do Trabalhador; nelas situam-se 23 médios e grandes açudes, dentre os quais destacam-se Orós e Castanhão.

RIO GRANDE DO NORTE

Rio Apodi e rio Piranhas-Açu, onde se concentram 20 açudes de médio e grande porte, como o Armando Ribeiro Gonçalves e o Santa Cruz.

PARAÍBA Rio Piranhas e rio Paraíba, com 36 médios e grandes açudes; destaque para Coremas-Mãe d’Água, Engenheiro Ávidos, Epitácio Pessoa (Boqueirão) e Acauã.

PERNAMBUCO Rio Brígida e rio Moxotó, com 10 médios e grandes açudes, dentre os quais, Poço da Cruz, Chapéu e Entremontes.

Quadro 4 – Projeto São Francisco: infra-estrutura hídrica dos estados receptores Fonte: FUNCATE (2003).

Nas áreas de influência do Projeto encontram-se cerca de 397 municípios, abrangendo cidades de pequeno, médio e grande porte. Centros urbanos regionais importantes, como Fortaleza/CE, Mossoró/RN, Campina Grande/PB, João Pessoa/PB, Recife/PE, Salgueiro/PE, Arcoverde/PE, Juazeiro do Norte/CE, Cajazeiras/PB e Sousa/PB, também deverão ser beneficiados pelo Projeto. A população residente nestas áreas, pelo Censo Demográfico de 2000, é de 14 milhões de habitantes.

A vazão máxima a ser transferida pelo Projeto será de 89 m³/s (Eixo Norte) e de 10 m³/s (Eixo Leste). Outros 20 m³/s serão destinados ao estado de Pernambuco, na Bacia do São Francisco. Considerando que não haverá bombeamento máximo quando os açudes principais estiverem cheios, a vazão média transposta será, no final do Projeto (em 2025), da ordem de 50 m³/s — cerca de 3% da vazão regularizada pelo reservatório de Sobradinho. A água se destina aos açudes estratégicos de outras bacias – Castanhão, no Rio Jaguaribe; Santa Cruz, no Rio Apodi; Armando Ribeiro Gonçalves, no Rio Piranhas-Açu e Boqueirão-Cabaceiras, no Rio Paraíba. São açudes situados em posição geográfica especial, no limite do substrato rochoso cristalino com áreas sedimentares, aptas ao desenvolvimento agrícola.

Desses açudes, a água será distribuída por sistemas adutores para as principais regiões com demanda hídrica expressiva, nos estados beneficiados, incluindo grandes centros urbanos, industriais, regiões turísticas e áreas de agricultura irrigada, com destaque para os principais Pólos de Desenvolvimento Integrado, incentivados pelo Banco do Nordeste.

6.2.2 Sinergia hídrica

O conceito do Projeto pode ser sintetizado segundo a sinergia que proporciona com os recursos hídricos locais das bacias beneficiárias e que se manifesta em três níveis distintos. A primeira forma de sinergia é alcançada através do ganho de água oriunda das próprias bacias receptoras, que deixa de ser evaporada ou sangrada nos grandes açudes, porque eles podem, com o Projeto, ser operados sem o receio de que falte água no futuro. Esvaziando-se mais os açudes na operação normal programada, não só se reduzem as superfícies de evaporação (e a conseqüente perda de água), como também se possibilita que, no início do período chuvoso, o açude tenha maior volume a ser re-enchido105. A segunda forma de sinergia ocorre pela

105 Registre-se aqui que esse importante conceito, de sinergia hídrica, foi cunhado, segundo informou em entrevista o atual Coordenador Técnico do Projeto, João Urbano Cagnin, envolvido na condução dos estudos e projetos desde 1997, pelo já falecido Professor Otto Pfafstetter. Em 1985, como consultor do extinto DNOS para os estudos iniciais de concepção do Projeto, ele observou, nas simulações de operação realizadas, que o aumento da oferta de água dos reservatórios na condição de um sistema hídrico integrado era maior do que o somatório das vazões bombeadas no tempo (fruto dessa primeira forma de sinergia descrita). Outros autores escreveram posteriormente sobre o conceito. No entanto, tudo leva a crer que essa seja mais uma das importantes