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Os significados da Pós-Modernidade: a origem do termo O crítico de arte James Gardner (1996) situa a origem do ter-

No documento Em busca da boa sociedade (páginas 109-112)

mo Pós-Modernismo em 1934, entre poetas espanhóis, e em 1947, usado por Arnold Toynbee. Acrescenta que, ao final dos anos 1950, diferentes críticos literários o utilizaram. Assim, em linhas gerais,

Pós-Modernismo designava uma arte que sucedia ao Modernismo e que geralmente o atacava (GARDNER, 1996, p. 87). O Pós-Modernismo, acrescenta Gardner, é uma atitude, uma atitude de uma civilização cansada de si mesma e cansada, sobretudo, das problematizações modernas. No campo das artes, teríamos com o Pós-Modernismo um prazer anestesiado, descomplicado. Enquanto a arte moderna expressaria o mundo moderno da Revolução Industrial, da poluição, do capital líquido, das disputas trabalhistas, das ferrovias, dos aviões, da eletricidade, do Estado nacional, do operário revolucionário, das metrópoles, da família nuclear, das classes médias, das comunicações de massa, das democracias burguesas e dos regimes totalitários, o Pós-Modernismo aspiraria a ser a expressão de uma nova era, com outras características, bem como faria um revival e um pastiche do passado não-moderno (presente, por exemplo, na arquitetura de sho-

ppings e centros de negócios, onde se tenta recriar a praça e o espaço

de estar e de encontro de uma vida comunitária perdida, ou nas ruelas de aldeias de faz-de-conta das disneylândias).

Jair Ferreira dos Santos (1987) chamou a nossa atenção para estes aspectos, quando definiu Pós-Modernismo como sendo o nome aplicado às mudanças ocorridas nas ciências, nas artes e nas socie- dades avançadas desde 1950, quando “por convenção” se encerra o Modernismo. A arte pop dos anos 1960, a crítica da cultura ocidental, o cotidiano da nossa tecnociência seriam fenômenos culturais pós- -modernos, que o autor não sabia dizer se significariam decadência ou renascimento cultural. De toda forma, a cultura Pós-Moderna (não me refiro apenas a manifestações artísticas, mas também ao modo de vida, às formas cotidianas e triviais de viver, pensar, agir e sentir) se caracteriza pela informática, pela saturação informacional que nos deixa indiferentes, pelo hedonismo, narcisismo, neo-individualismo sem ideais, pela identidade móvel (as personas, segundo Maffesoli), pelo niilismo, pela ausência de valores, pela hegemonia do micro, pe- las minorias, por um cotidiano vivido em nichos, pelas participações brandas, metas a curto prazo, realidade virtual e cultura do simulacro. Uma coisa é certa, resume Ferreira dos Santos: “o Pós-Moderno é coisa típica das sociedades industriais baseadas na informação – EUA, Japão e centros europeus. E é eclético, sobretudo.”

Em 1979, Lyotard examinou a incidência das transformações tecnológicas sobre o saber, na pesquisa e na transmissão de conhe- cimentos. O autor diagnosticava, naquilo que chamou de “condição

Pós-Moderna”, que os pólos modernos de atração e de foco de análise – Estados-nações, partidos, profissões, instituições históricas e tradi- ções – teriam perdido sua atração. “Cada um é reenviado a si mesmo”. Teria havido uma decomposição das grandes narrativas (marxismo, freudismo etc.) e as coletividades se estariam tornando uma massa composta de átomos individuais. As sociedades teriam entrado em uma idade pós-industrial e suas culturas na idade dita Pós-Moderna.

Jameson (1996, p. 32) decompõe o pós-moderno nos seguintes elementos: uma nova falta de profundidade (imagem, pastiche e simu- lacro); o enfraquecimento da historicidade; novas intensidades emo- cionais (o esmaecimeno do afeto); novas tecnologias (chips, internet e robôs) e um novo sistema econômico mundial (nova fase capitalista, reestruturação capitalista, o capitalismo multinacional, apoteose do sistema, que substitui a fase monopolista ou imperialista) (1996, p. 87). Como se depreende, Jameson entende o Pós-Moderno não ape- nas como novas expressões culturais, mas também como uma nova fase da sociedade, tendo, portanto, aspectos imateriais (emocionais) e materiais.

Heller e Fehér definiram a Pós-Modernidade como uma nova perspectiva, um “ver o mundo como uma pluralidade de espaços e temporalidades heterogêneos; a condição Pós-Moderna aceita esta pluralidade de culturas e discursos” (o que poderia ser lido como algo muito auspicioso, o alcance do patamar de tolerância madura, tolerância que Bobbio apontou como o apanágio democrático essen- cial). A Pós-Modernidade seria, para Heller e Fehér, uma nova teoria social, nascida em 1968, criada por uma geração desiludida com a sua própria percepção anterior do mundo (1988, p. 138). Seria também um movimento cultural não rebelde, com uma mensagem simples: funciona (“anything goes”). Algo que não seria nem apolítico, nem antipolítico, mas que não se preocupa com a política. Outro traço sintomático desta nova perspectiva seria a ausência da moda: em lugar da estandardização, da ditadura da moda, temos a pluralização de gostos e práticas, prazeres e necessidades, em diferentes nichos, para diferentes tribos. A mídia deixa, assim, de ser a grande mani- puladora para ser o catálogo de gostos altamente individualizados. Em uma palavra, o pós-moderno é a pluralidade, e isso é muito bom.

O marxista Callinicos viu o Pós-Modernismo como representan- do a convergência de três tendências culturais distintas, a saber: a) mudanças já acima apontadas na esfera das artes (pintura, arquitetura,

música, literatura, teatro etc.); b) uma corrente na filosofia dos anos 1970, que ficou conhecida como pós-estruturalismo (Deleuze, Derrida e Foucault), salientando o caráter plural, fragmentário e heterogêneo da realidade e reduzindo o sujeito a um invólucro incoerente de desejos e impulsos transindividuais; e c) mudanças no mundo social (apontadas por Daniel Bell e Alain Touraine), transição de uma economia baseada na produção de massa para outra na qual a pesquisa sistemática é o motor do crescimento. Houve ainda, segundo Callinicos, a fusão do Pós-Modernismo com o pós-marxismo, quando marxistas como La- clau e Mouffe teriam, segundo o autor, proposto o abandono da visão marxista clássica da luta de classes.

Callinicos (1989, p. 5) dedicou todo um livro a rejeitar tal propo- sição. Tudo que foi escrito a respeito do Pós-Modernismo, escreveu ele, tem pouco calibre intelectual, é quase sempre superficial, ignorante e muitas vezes incoerente. Neste sentido, Pós-Modernismo seria melhor visto como um sintoma.

Sintoma do quê? Ainda segundo Callinicos, da disposição da

intelligentsia em rejeitar a revolução socialista, seja como factível, seja

como desejável; da rejeição ao Iluminismo; sintoma de obscurantismo, de uma consciência milenarista e catastrófica, com uma visão apoca- líptica da civilização ocidental. Em uma palavra, o pós-moderno é a fragmentação, o imediatismo, e isso é muito ruim.

Como se pode perceber, a Pós-Modernidade ora é subenten- dida como manifestação cultural (estilos artísticos, formas de vida), ora como nova etapa histórica de uma sociedade que teria sofrido alterações essenciais, ora como uma nova escola sociológica, que pretende ganhar foros de pioneirismo teorizando sobre a “condição Pós-Moderna”, assim açambarcando neste conceito tanto as manifes- tações culturais quanto a nova sociedade empírica.

Os significados da Pós-Modernidade:

No documento Em busca da boa sociedade (páginas 109-112)