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SUA SIGNIFICAÇÃO

No documento SAHID MALUF - Teoria Geral Do Estado (2013) (páginas 160-162)

O PREÂMBULO NAS CONSTITUIÇÕES

1. SUA SIGNIFICAÇÃO

1. SUA SIGNIFICAÇÃO

O preâmbulo é um enunciado solene do espírito de uma Constituição, do seu conteúdo ideológico e do pensamento que orientou os trabalhos da Assembleia Constituinte.

É o pórtico da Constituição e chama-se também introdução ou prólogo.

Apresenta o preâmbulo uma relevante importância para o estudo das Constituições, como síntese inseparável da interpretação sistemática dos textos. Story considera o preâmbulo como verdadeira chave do pensamento das constituintes. Escreveu ele em Comentários sobre a Constituição dos

Estados Unidos que a importância do exame do preâmbulo, para chegar-se à verdadeira

interpretação das cláusulas da Constituição, foi sempre compreendida e conhecida em todas as decisões judiciais. “É uma máxima admitida no curso ordinário da Justiça que o preâmbulo de um estatuto revela a intenção do legislador, faz conhecer os males que quis remediar e o fim que quer alcançar. Encontramos essa máxima recomendada e posta em prática pelas nossas mais antigas autoridades em direito comum.”

Relata-nos ainda Quincy Wright que foi através da interpretação do preâmbulo que Marshall, Story e Webster abriram o caminho para a exata interpretação da Constituição Federal na Corte Suprema norte-americana.

Idêntico relevo atribuem ao preâmbulo Black, Pomery, Cooley e outros eminentes constitucionalistas norte-americanos, bem como os juristas e comentadores das Constituições francesas.

Contém o preâmbulo, em geral, a declaração da origem do poder constituinte: Deus — nas teocracias; o povo, ou os representantes do povo — nas democracias clássicas; o Estado — nos regimes totalitários e autocráticos; a nobreza — nos regimes aristocráticos; os operários — no Estado comunista russo etc.

O preâmbulo enfático da Constituição Federal norte-americana, refletindo a declaração de direitos redigida por Jefferson em 1776, contém uma síntese de todas as aspirações nacionais, senão mesmo o enunciado de uma doutrina:

Nós, o povo dos Estados Unidos, com o objetivo de formar uma união mais perfeita, estabelecer a justiça, assegurar a tranquilidade doméstica, promover a defesa comum, promover o bem-estar geral e assegurar os benefícios da liberdade para nós e para a nossa posteridade, ordenamos e estabelecemos esta Constituição para os Estados Unidos da América.

Nós, o povo dos Estados Unidos ... isto é, a própria nação, entidade soberana, organizada em

poder constituinte, é quem elabora e promulga a Constituição. Essa declaração da origem do poder tem um sentido mais alto e fiel. Já a Constituição francesa — nós, os representantes do povo .. . — dá a ideia de um agrupamento de políticos que age em nome próprio.

os representantes do povo... , o que se não harmoniza com a boa doutrina. Melhor redigido estava o

preâmbulo da Constituição paulista: “O povo paulista, invocando a proteção de Deus, inspirado nos princípios da democracia e pelo ideal de a todos assegurar o bem-estar social e econômico, decreta e promulga, por seus representantes, a Constituição do Estado de São Paulo”.

A Carta Constitucional brasileira de 1988 adotou o sistema da Constituição norte-americana. Mais extenso que o preâmbulo que constava da Constituição anterior, contém os princípios que serão encontrados no texto:

Nós, representantes do povo brasileiro , reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna , pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil.

O preâmbulo não tem caráter normativo, mas é um instrumento para que o intérprete conheça a orientação seguida pelo texto constitucional no trato dos problemas internos e das relações internacionais.

Os constituintes, geralmente, invocam no preâmbulo o nome de Deus. Essa invocação, diz Pedro Calmon, tem a força de uma preferência religiosa, na exaltação preliminar dos sentidos conservadores da assembleia afastada da indiferença laicista e da hostilidade ao culto abraçado pela maioria da população nacional.

Sem embargo do combate que lhe movem as correntes materialistas, essa praxe da invocação do nome de Deus, esse apelo solene à proteção divina, no pórtico da Constituição, é uma reafirmação da fé que o povo deposita em si mesmo. Corresponde com o pensamento da maioria da população nacional e de toda a humanidade sofredora, sempre voltada para o supremo Criador que orienta e dirige os acontecimentos e a própria vida dos povos.

XXXVII

CONSTITUIÇÃO

1. Conceito. 2. Resumo histórico do sistema constitucional. 3. Conteúdo substancial. 4. Divisão formal das Constituições. 5. Cartas dogmáticas e outorgadas.

1. CONCEITO

O termo Constituição deriva do prefixo cum e do verbo stituire, stituto — compor, organizar, constituir. No seu sentido comum indica o conjunto dos caracteres morfológicos, físicos ou psicológicos de cada indivíduo ou a formação material de cada coisa. Na Ciência do Estado essa palavra tem dupla acepção: lato sensu, é o conjunto dos elementos estruturais do Estado, sua composição geográfica, política, social, econômica, jurídica e administrativa; e, stricto sensu, é a lei

fundamental do Estado, ou seja, segundo a definição de Pedro Calmon, o corpo de leis que rege o Estado, limitando o poder de governo e determinando a sua realização.

Neste sentido estrito e formal, como lei que define e regulamenta a estrutura jurídico-política de um Estado, a palavra Constituição implica, como afirmou Lassale, “um documento, sobre uma folha de papel, estabelecendo todas as instituições e princípios de governo de um país”.

Sempre que a empregarmos no sentido de lei fundamental ou lei máxima do Estado, escreveremos com inicial maiúscula, assim como fazemos com a palavra Estado (entidade de direito público) em todos os pontos do nosso programa.

No documento SAHID MALUF - Teoria Geral Do Estado (2013) (páginas 160-162)