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TEORIA REALISTA OU INSTITUCIONALISTA

No documento SAHID MALUF - Teoria Geral Do Estado (2013) (páginas 40-43)

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO

9. TEORIA REALISTA OU INSTITUCIONALISTA

A teoria realista ou institucionalista, modernamente, vem ganhando terreno em face das novas realidades mundiais.

É forçoso admitir que a soberania é originária da Nação, mas só adquire expressão concreta e objetiva quando se institucionaliza no órgão estatal, recebendo através deste o seu ordenamento jurídico-formal dinâmico.

Impõe-se afastar a confusão oriunda do voluntarismo radical entre os dois momentos distintos da formação do poder soberano: o momento social ou genético, e o momento jurídico ou funcional.

A soberania é originariamente da Nação (quanto à fonte do poder), mas, juridicamente, do Estado (quanto ao seu exercício).

Patenteia-se então irrelevante, em última análise, a polêmica entre os dois grandes grupos doutrinários que disputam a primazia no tocante à titularidade do poder e suas consequências: a escola francesa da soberania nacional e a corrente germânica da soberania do Estado.

Se é certo que Nação e Estado são realidades distintas, uma sociológica e outra jurídica, certo é também que ambas compõem uma só personalidade no campo do Direito Público Internacional. E neste campo não se projeta a soberania como vontade do povo, senão como vontade do Estado, que é a Nação politicamente organizada, segundo a definição que nos vem da própria escola clássica francesa.

Este entendimento, evidentemente, não exclui a possibilidade de retomar a Nação o seu poder originário, sempre que o órgão estatal se desviar dos seus fins legítimos, conflitando abertamente com os fatores reais do poder.

O eminente Prof. Machado Paupério, em sua magnífica monografia O conceito polêmico de

soberania, tira a conclusão de que “soberania não é propriamente um poder, mas, sim, a qualidade

desse poder; a qualidade de supremacia que, em determinada esfera, cabe a qualquer poder”.

É, pois, um atributo de que se reveste o poder de auto-organização nacional, e de autodeterminação, uma vez institucionalizado no órgão estatal.

Caberia acrescentar, como inarredável verdade, que todas as correntes doutrinárias da soberania se resumem, afinal, numa afirmação dogmática da onipotência do Estado.

Fora da teoria anarquista, o Estado é sempre a racionalização do poder supremo na ordem temporal, armado de força coativa irredutível, autoridade, unidade e rapidez de ação, para fazer face, de imediato, aos impactos e arremetidas das forças dissolventes que tentem subverter a paz e a segurança da vida social.

Portanto, embora seja poder essencialmente nacional, quanto à sua origem, sua expressão concreta e funcional resulta da sua institucionalização no órgão estatal. Passado o momento genético de sua manifestação na organização da ordem constitucional, concretiza-se a soberania no Estado, que passa a exercê-la em nome e no interesse da Nação.

Este entendimento não se confunde com as teorias absolutistas do Estado nem com o radicalismo voluntarista da soberania nacional defendido pela escola clássica francesa. Conduz à conceituação da soberania como poder relativo, sujeito a limitações como a seguir se ressalta.

10. LIMITAÇÕES

direitos dos grupos particulares que compõem o Estado (grupos biológicos, pedagógicos, econômicos, políticos, espirituais etc.), bem como pelos imperativos da coexistência pacífica dos povos na órbita internacional.

O Estado — proclamou Jefferson — existe para servir ao povo e não o povo para servir ao Estado. O governo há de ser um governo de leis, não a expressão da soberania nacional, simplesmente. As leis definem e limitam o poder. E a este conceito, brilhantemente desenvolvido por Mathews, acrescentou Krabbe esta afirmação eloquente: a autoridade do direito é maior do que a

autoridade do Estado.

Limitam a soberania os princípios de Direito Natural, porque o Estado é apenas instrumento de

coordenação do direito, e porque o direito positivo, que do Estado emana, só encontra legitimidade quando se conforma com as leis eternas e imutáveis da natureza. Como afirmou São Tomás de Aquino, uma lei humana não é verdadeiramente lei senão enquanto deriva da lei natural; se, em

certo ponto, se afasta da lei natural, não é mais lei e sim uma violação da lei. E acrescenta que

nem mesmo Deus pode alterar a lei natural sem alterar a matéria — Neque ipse Deus dispensare

potest a lege naturali, nisi mutando materiam. Ergo lex naturalis est immutabilis seu proprio mutari omnino non potest.

Limita a soberania o direito grupal, porque sendo o fim do Estado a segurança do bem comum,

compete-lhe coordenar a atividade e respeitar a natureza de cada um dos grupos menores que integram a sociedade civil. A família, a escola, a corporação econômica ou sindicato profissional, o município ou a comuna e a igreja são grupos intermediários entre o indivíduo e o Estado, alguns anteriores ao Estado, como é a família, todos eles com sua finalidade própria e um direito natural à existência e aos meios necessários para a realização dos seus fins.

Assim, o poder de soberania exercido pelo Estado encontra fronteiras não só nos direitos da pessoa humana como também nos direitos dos grupos e associações, tanto no domínio interno como na órbita internacional.

Notadamente no plano internacional, a soberania é limitada pelos imperativos da coexistência de Estados soberanos, não podendo invadir a esfera de ação das outras soberanias.

Uma vez não contrariando as normas de direito nem ultrapassando os limites naturais da competência estatal, a soberania é imperiosa, incontrastável. Sem ser arbítrio nem onipotência, acentuou Mouskheli, é poder absoluto, encontrando, porém, sua limitação natural na própria

finalidade que lhe é essencial.

Assim, no plano internacional limita a soberania o princípio da coexistência pacífica das

soberanias.

Atualmente, as nações integram uma ordem continental, e, dentro dessa ordem superior, o poder de autodeterminação de cada uma limita-se pelos imperativos da preservação e da sobrevivência das demais soberanias.

Na ordem internacional, essas limitações decorrem das participações dos Estados em organizações internacionais, são justificadas pelas necessidades de coexistência pacífica, segurança e desenvolvimento e são alavancadas pela globalização, merecendo, pela relevância dos temas, o tratamento específico, constante do capítulo seguinte.

VIII

SOBERANIA: LIMITAÇÕES NA ORDEM INTERNACIONAL,

No documento SAHID MALUF - Teoria Geral Do Estado (2013) (páginas 40-43)