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18.2 “Intuitu personae”

4. VÍCIO DE QUALIDADE

Na sequência, outro equívoco: desta feita, voltado para a especificidade do conteúdo do próprio art. 18. A norma diz: os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente “pelos vícios de

qualidade ou quantidade”.

Acontece que o art. 18, caput e seus seis parágrafos, cuidam apenas de vícios de qualidade. Os vícios de quantidade estão regulados no art. 19326. Assim, há mais esse termo inútil no caput em comento.

4.2 Solidariedade

A norma reafirma a solidariedade ao colocar que “os fornecedores”... “respondem solidariamente”. Esse assunto já foi até bastante explorado e é bem claro: todos os fornecedores são solidariamente responsáveis pelos vícios (e pelos defeitos, na medida de suas participações).

4.3 O vício de qualidade

Na sequência da oração é que a norma propriamente especifica aquilo que entende por vício. Diz ela que são vícios de qualidade aqueles que tornem os produtos “impróprios ou inadequados ao consumo e que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária...”.

4.4 Rol exemplificativo

As hipóteses aventadas no caput do art. 18 como determinantes do vício de qualidade são exemplificativas. Isso é decorrência da própria teleologia da norma, porém está expresso no inciso III do § 6°, que dispõe o que entende por impróprio ao uso e consumo327. Como está estabelecido que são impróprios “os produtos que, por qualquer motivo, se

revelem inadequados ao fim a que se destinam”, salta aos olhos o caráter exemplificativo da norma.

4.5 Publicidade e informação

No caso do caput do art. 18 — ao contrário do caput do art. 12 — há referência ao aspecto da publicidade e da

informação — que está posta com o termo “indicação”. De qualquer maneira, refira-se outra vez que sempre entram no rol das possibilidades de causar vício (ou defeito) a oferta e a apresentação, conforme previsão do art. 31 (e o art. 30 cuida da informação e da publicidade). Todas, enquanto elemento essencial do produto, podendo ser de per si causadoras do vício328.

4.6 Vício de qualidade: resumo

Temos, então, que, pela definição legal, o vício de qualidade é aquele que: a) torne o produto impróprio ao consumo a que se destina;

b) torne o produto inadequado ao consumo a que se destina; c) diminua o valor do produto;

d) esteja em desacordo com o contido: d.1) no recipiente (lata, pote, garrafa etc.); d.2) na embalagem (caixa, saco etc.);

d.3) no rótulo (estampado no recipiente ou embalagem); d.4) na mensagem publicitária;

d.5) na apresentação (no balcão, na vitrine, na prateleira etc.);

d.6) na oferta e informação em geral (dada verbalmente por telefone, pessoalmente, no folheto, livreto etc.). Na sequência apresentaremos exemplos de cada uma das hipóteses de vícios. Note-se que os exemplos estão colocados apenas como casos principais no enquadramento legal previsto. Quase como tipos-puros. Nada impede, todavia — aliás é algo bem comum —, que uma mesma situação de vício possa ser enquadrada em mais de uma hipótese. Por exemplo, um automóvel com problemas mecânicos é inadequado ao consumo a que se destina e tem simultaneamente seu valor diminuído. Um forno de microondas que solte faísca sem aquecer corretamente o alimento é inadequado e também impróprio ao consumo. Um produto que se estrague porque a embalagem não manda

impróprio para o consumo. A partição nos exemplos, portanto, tem função didática. Vejamos, assim, exemplos de cada uma das hipóteses.

4.6.1 Exemplos relativos à letra “a”

São casos de vício que torna o produto impróprio para o consumo:

• enlatados cujo conteúdo esteja deteriorado — embolorado, com cheiro de podre etc. (e não foi ingerido); • carnes com zonas (ou manchas) escurecidas ou com zonas ou pontos secos;

• aves com cor esverdeada, cheiro forte ou consistência não firme;

• peixes com corpo flácido ou escamas soltando; peixes secos, como o bacalhau, com manchas úmidas ou avermelhadas;

• os embalados (de salsichas, linguiças etc.) com líquidos dentro da embalagem ou manchas esverdeadas etc. 4.6.2 Exemplos relativos à letra “b”

— veículos com problema elétrico, mecânico etc.; — eletrodomésticos em geral com avarias:

• televisão que não sintoniza algum canal, que tem chuvisco ou sombra etc.; • geladeira que descongela sozinha, solta água, a porta não fecha etc.;

• fogão com queimador entupido, com o vidro do forno rachado, a porta do forno não fecha etc.; • forno de microondas que descongela ou cozinha só de um lado, que não marca o tempo, com prato

giratório que não gira etc.;

• máquina de lavar roupas ou lavar louças que vaza enquanto funciona, ou que não aquece a água etc. — eletroeletrônicos em geral com avarias:

• microcomputador que não salva programas, que não imprime etc.;

• aparelho de som/toca-fitas/CD player/toca-discos/rádio que não sintoniza estações, o CD pula, a fita enrosca etc.;

• videocassete que não volta ou não avança a fita, a fita enrosca, a imagem fica distorcida etc. 4.6.3 Exemplos relativos à letra “c”

São exemplos de vícios que diminuem o valor do produto:

• automóvel com amassados na lataria, com peças não fundamentais quebradas ou avariadas (estofado furado, teto rasgado etc.), com pintura manchada ou riscada, com pontos de ferrugem etc.;

• imóvel construído (apartamento/casa) ou casa pré-fabricada cujo material apresenta pequenas avarias. 4.6.4 Exemplos relativos à letra “d”

São exemplos de vícios de casos em que os produtos estão em desacordo com informações em geral:

• produto em cuja embalagem não constam as condições de acondicionamento ou em que as informações estejam incorretas;

• televisor moderno acoplado a vídeo cujo manual não explica como acionar os botões;

• imóvel construído (casa/apartamento) ou casa pré-fabricada cujo material é diverso e de pior qualidade daquele contido na publicidade e/ou folheto e/ou contrato e/ou informação fornecidos.