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3 4 5 7 8 6 100 50 0 300 m 1 Matriz 2 Tesouraria Provincial 3 Tesouraria Geral 4 Palácio do Governo 5 Igreja do Rosário 6 Forte 7 Quartel 8 Hospital 9 Capela da Conceição da Prainha 10 Cemitério da Capela da Conceição da Prainha

11 Chácara dos Guimarães 12 Lagoa do Garrote 13 Açude do Pajeu 14 Outeiro da Prainha

E D I F Í C I O S P Ú B L I C O S , I G R E J A S E M AT R I Z

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Farias, o velho arruador da cidade, integrado às aspirações gerais, não apenas procurou providenciar o levantamento da realidade material que deparava, mas decidiu propor uma expansão do quadro urbano, tanto evidenciando o prolongamento previsto para as ´travessas´ na zona ocidental da cidade, continua, mas, principalmente, oferecendo um risco em retícula para vasta área quase desabitada de além Pajeú (2005:108).

Na expansão para o leste, Liberal de Castro acrescenta:

A fim de configurar a trama viária que se propunha, Simões Faria levantou um sis- tema de ruas paralelas, perpendiculares à rua do Norte e que deveriam ser cortadas por outras tantas `travessas´ paralelas. Como roteiro de ação, tomando como ponto inicial das paralelas a esquina onde morava. Faria traçou uma rua que flanqueava a face sul da chácara da família Guimarães. Em seguida, levantou inúmeras ruas parale- las (`travessas´?) à cerca sul da chácara, diretriz norteadora do seu projeto. Uma des- sas ruas de maior presença nascia na parede do açude do Pajeú, [...]Para além desse ponto, próximo da saída para a Messejana, a cidade se acabava, o que não impediu Farias previsse a continuação das ruas paralelas até bem mais adiante (2005:111).

Comparativamente, às plantas do arruador e cordeador Simões151 e a do engenheiro Herbster

(1859) são distintas. Herbster faz um levantamento rigoroso com auxilio de instrumentos topográficos, resultando numa planta mais exata. Segundo Liberal de Castro, esta planta “não é simples representação topográfica152 mas verdadeiro retrato da cidade, pois nela Herbster assinala a

área ocupada, a nomenclatura das ruas, todas as edificações públicas além de mostrar o uso do solo no perímetro urbano. (CASTRO, 1979:61). Quanto à expansão da área ocupada e edificada, nota- se um processo lento, mas já firmando “vetores de expansão para oeste e para Sul, cuja resultante se dirigia para o Sudoeste, como a indicar antecipadamente a direção de maior peso que a cidade iria conhecer no futuro” (CASTRO, 1979:61). Na planta são assinaladas, além da nomenclatura das ruas, as várias estradas153 de acesso à cidade, todas convergindo para a área central, antecedendo

um futuro plano radial. Espalham-se também na zona periférica vários caminhos ligando locais diferentes, ladeados por casas de palha, chamadas de palhoças. Registra-se um total nove estradas, 15 ruas, nove travessas, cinco praças e três pontes (Prainha [1], Apertada Hora [2] e Chafariz [3],

o Cemitério de São Casemiro e o Cemitério dos Ingleses). Indica também, por meio de convenções gráficas, os vários tipos de solo e vegetação: areia e “comoro” (dunas), capim e outras plantações, árvores e coqueiros, arbustos, terreno cultivado, cereais e casas de palha (Figura 42 e 43).

Ao redor dessa área urbanizada, havia uma concentração de sítios e chácaras, como é o caso das terras do padre Chaves, sesmaria154 que foi fracionada por herança em pequenos sítios e chácaras.

O “sitio Chaves”155, depois conhecido como “Olho d’água”, foi arrematado em hasta publica pelo

sargento-mor Antonio Francisco da Silva, português, rico comerciante, “que se notabilizou porque transacionava diretamente com Lisboa” (GIRÃO, 1975:19)156. Em 1831, foi vendido a Joaquim

Mendes da Cruz Guimarães e, em 1866, a Tesouraria da Fazenda o adquiriu por compra para servir para a construção do Palácio Episcopal e do Seminário157 (MENEZES, 1992:150). Outros

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151 Este levantamento traz algumas incorreções, pois foi

realizado por cordeamento.

152 Na planta, identificam-se dois morros Gravatá (h) e Moinho

(i), “um vale os separava proporcionando na área, um dos poucos acessos diretos à praia, dado topográfico que explica porque a atual rua Padre Mororó se inicia na orla marítima ao contrario das outras ruas paralelas que lhe ficam próximas” (CASTRO, 1979:62).

153 Segundo referencia do mapa: Estrada de Meireles, Cocó,

Messejana, Pacatuba, Arronches, Maranguape, Soure e Jacarecanga, onde se identifica os mesmos caminhos apontados nas plantas de Paulet.

154 As terras da vila constam da sesmaria de 02.04.1683 “pelo

capitão-mor de então, Bento de Macedo Faria, aos soldados Antonio Rodrigues[...] e Manuel de Almeida Arruda [...] era de uma légua de largura, da Lagoa do Mucuripe [...] caminhando para a Fortaleza, e três para o sertão.” (MENEZES,1992:147). Uma parte das terras de Rodrigues foi doada em 1723 a São José, padroeira da igreja Matriz de Fortaleza e as de Arruda para o Padre Domingos Ferreira Chaves. (MENEZES, 1992:104).

155 Em 1749, o testamento do Pe. Chaves designava uma

parte de suas terras, implantado atrás da matriz, onde estava implantado esse sitio para seu afilhado Manuel Ferreira Chaves.

156 Na frente, existia o sitio do engenheiro Sargento-mor

naturalista João da Silva Feijó. Posteriormente passa a pertencer a Manoel Franklin do Amaral e depois de 1875 aos seus herdeiros.

sítios destacam-se ao oeste do riacho Pajeú (o do naturalista Feijó, Marinhas, Cajueiros158, Tauape,

Aguanambi), principalmente nas proximidades dos cursos d’água, “substitutos eficientes para os equipamentos hidráulicos inexistentes nas moradas urbanas” (REIS, 1970:30). Alguns sítios “se dedicavam às atividades nitidamente rurais, com objetivos econômicos” (CASTRO, 2004:103), como por exemplo, o sitio Cocó do cel. Machado, com casas de vivenda, de engenho, de purgar, e de fazer farinha, com aviamentos, engenho de ferro, caldeiras, alambique de cobre e mais pertences, poucos canaviais, coqueiros, laranjeiras, e outras fruteiras, avaliado por 25 contos de reis159. As

chácaras “quase sempre voltadas para produção de consumo domestico, interpolavam o mundo rural com a vida urbana, trazendo o campo para a cidade” (CASTRO, 2004:103).

Como descreve Gustavo Barroso, o naturalista Feijó residia numa casa “em cujos fundos corria o riacho Pajeú [...] e, na chácara que a rodeava, alem do córrego, havia nascentes de boa água. Ficava na antiga rua de Baixo, [...] em frente ao quartel [...] o prédio ficava um tanto afastado do centro da via pública, entre arvores seculares” (BARROSO, 1962:196-7). Notam-se, na área urbanizada, dois núcleos: um à margem esquerda do riacho Pajeú, suportando as diversas atividades urbanas, e outro na praia ligado às atividades portuárias marcado pela antiga alfândega e um trapiche de desembarque. Fora da área arruada, notam-se vários caminhos secundários. Na zona leste, em meio a grande quantidade de casas de palha acompanhando os antigos caminhos para o sertão, já se encontra construída a Casa dos Educandos (atual Colégio da Imaculada Conceição).

Observa-se desde 1850, com o plano de Simões, uma intenção de expandir a cidade para além do riacho Pajeú, na área denominada de Outeiro. O plano oficial de expansão de Adolfo Herbster,

de 1863, é o marco da mudança na estrutura urbana da cidade. É nessa década que Fortaleza

se torna o principal núcleo da Província, graças ao seu papel na comercialização de produtos de exportação, principalmente o algodão, cuja valorização no mercado internacional elevou-se durante a Guerra da Secessão nos Estados Unidos. Thomaz Pompeu, em seu ensaio, descreve a cidade com 16.000 habitantes, “contando com os suburbios occupados por casas de palha”, possuindo 960 casas de tijolo alinhadas e entre estas uns oitenta sobrados, e fora do alinhamento, 7.200 casas cobertas de palha”, o que corresponde a 88 % de choupanas (1997:22). Aqui merecem algumas perguntas: como as palhoças seriam incorporadas ao plano de Herbster? Houve uma política de reassentamento e inclusão da população excluída pelo plano? Ao que indica, o plano e as posturas municipais induziram à eliminação das palhoças nas novas áreas arruadas cabendo à iniciativa privada comprá-las e reedificar novas edificações com materiais construtivos mais duráveis e conforme o alinhamento das ruas.

Sobrepondo o plano de 1863 na planta de 1859, onde se nota uma vasta malha em xadrez encobrindo as estradas que ligavam Fortaleza ao sertão (futuras radiais) (Figura 44). Destas, somente três permaneceram: a Estrada de Messejana (BR-116), a Estrada do Soure (BR-222), a Estrada Arronches (avenida da Universidade), “em pontos relativamente distantes da parte central da cidade.” (CASTRO, 1994: 68).

Com base no estudo de Liberal de Castro, este plano de expansão “seria uma transcrição da planta ´reformada` da cidade, entregue por Herbster aos vereadores em fins de 1861 (Ata da sessão de

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158 Limitado pelas ruas Chafariz (atual Jose Avelino), rua da

Praia (atual Pessoa Anta), rua Sena Madureira e travessa da Praia (atual Boris).

Figura 42: Exercício de reconstituição cartográfica de Fortaleza: quadras e vias, 1859. Autora: Margarida Andrade . Mapa base: Planta Exacta da Capital do Ceará, abril de 1859. Fonte: Planta da cidade da Fortaleza, 1859/ BEZERRA, 1992.

FORTALEZA - 1859