• Nenhum resultado encontrado

DA “VILA DO FORTE” à “CIDADE DA FORTALEZA DE NOSSA SENhORA DA ASSUNÇÃO”

DE EXPANSÃO DA CIDADE E AS NORMAS REGULADORAS (1810-1863)

CAPÍTULO 2 | FORTALEZA CAPITAL DA PROVÍNCIA DO CEARÁ E A ECONOMIA DO ALGODÃO

2.3 DA “VILA DO FORTE” à “CIDADE DA FORTALEZA DE NOSSA SENhORA DA ASSUNÇÃO”

No período entre 1810 e 1822, várias medidas foram adotadas para a melhoria do desenvolvimento da cultura do algodão e da infraestrutura urbana. Durante a gestão do 4o Governador do Ceará

independente de Pernambuco, Manoel Ignácio de Sampaio, o engenheiro tenente coronel do Real Corpo de Engenheiros José da Silva Paulet traçou duas plantas da vila e seu porto, que mostram a estrutura básica dos antigos caminhos que ligavam o núcleo urbano às outras áreas do “termo” e às outras vilas (Figura 31). Têm-se assim a Picada do Mocuripe137, a Estrada da Crusinha138, a Estrada

do Laga Mar do Cocó, duas Estradas d´Messejana (Aquiraz), Estrada do Tauape (Riacho), Estrada Mont Mor (Baturité), Estrada d´Arronches (atual Parangaba) e Estrada d´Soure (atual Caucaia). Alguns desses caminhos que articulavam a vila ao comércio regional vão orientar a expansão futura de Fortaleza, num esquema radioconcêntrico, convertendo-se nos vetores de crescimento da cidade.

A “Planta da Vila da Fortaleza e seu Porto” (1831)139, decorrente de Paulet (1818), apresenta um

número mais reduzido de caminhos à (da Crusinha e o de Messejana), acrescentando a Estrada de Jacarecanga em direção à Barra do Ceará, e nomeando outras como o Laga Mar do Coco para Precabura, Messejana para Aquiraz e Tauape (riacho) para Olarias (Figura 32).

Segundo o desembargador José Raimundo de Paços de Porbem Barbosa140, em 1822, a cidade

estava dividida em cinco bairros: Bairro da Matriz, Bairro da Prainha, Bairro das Trincheiras (nas proximidades da atual praça do Ferreira), Bairro do Pocinho e Bairro do Açougue (LIMA, 1999:80).

Em 1841, Daniel Kidder comentava:

A cidade é inteiramente construída sobre areia. Se andamos a pé, a areia incomoda os pes; se o sol está quente, ela nos queima e, se sopra o vento, a areia enche-nos os olhos. São de areia os leitos das ruas e o passeio lateral, com exceção dos pontos pavimentados com lages ou tijolos. Quer se saia a pé, a cavalo ou em algum veiculo, a areia nos incomoda sempre! E não raro são necessarios dez bois para um só carro (1980).

CAPÍTULO 2 | FORTALEZA CAPITAL DA PROVÍNCIA DO CEARÁ E A ECONOMIA DO ALGODÃO

66

136 Lei no 135, de 1 de setembro de 1838.

137Saía do Largo da matriz e seguia pela Cacimba do Povo (rua

do Sol, atual Costa Barros).

138 “... partia também do Largo da Matriz, separava-se da picada

do Mocuripe na cacimba do povo, buscando rumo de sueste, atravessava quase diagonalmente” a atual praça Figueira

(BEZERRA, 1992:141).

139 Esta Carta Geographica do Ceará, No 57, foi, segundo Barão

de Studart, “redigida segundo uma carta manuscripta levantada em 1817 por ordem do governador Aampaio por Paulet, e as observações e cartas marítimas do Barão de Roussin, por Mr Jos: Schwarzmanne Mr Le Chev: de Martius, Munich, 1831. (1923, p.359) Numero 781 no Catalogo da Mapoteca da DSGEX” (CASTRO, 1997:33).

140Membro da Junta de Governo da Villa de Fortaleza, dividiu a

67

Figura 31: Planta da Villa da Fortaleza e seu Porto Carta Geographica do Ceará / Provincia do Imperio do Brasil/ redigida segundo uma carta manuscrita levantada em 1817 por ordem do Governador Manoel Joaquim de Sampaio por Antonio José da Silva Paulet e segundo as observações e as carta marítimas do B. Roussin/ POR/Mr JOS: SCHWARZMANN E Mr LE CHEV. DE MARTIUS, 1831.

Fonte: Mapoteca da DSGEX

Figura 32: Detalhe da Carta / Marítima e Geográfica / da / Capitania do Ceará. / Levantada por ordem / do / Govor Manoel Ignácio de Sampayo / por seu ajudante d’ordens / Antonio Joze Sa Paulet 1818.Planta da Villa da Fortaleza e seu Porto.

Fonte: Mapoteca da DSGEX

A gravura de Joaquim José Reis Carvalho (Figura 33), datada de 1859, reitera a imagem descrita por Kidder e representa Fortaleza ainda como uma pequena cidade, concentrada, sobre uma colina, com uma estreita faixa de praia fronteira.

Instala-se em Fortaleza, em 1825, o boticário Antônio Rodrigues Ferreira Filho, futuro militante do Partido Conservador, e gestor da cidade por quase duas décadas como presidente da Câmara (1842-1859)141. No inicio da gestão do Boticário Ferreira (1842), a área urbanizada mais densa

estava concentrada ao oeste do riacho Pajeú e ao longo das ruas da Amélia (Senador Pompeu), da Palma (Major Facundo) e da Boa Vista (Floriano Peixoto), todas no sentido norte-sul. Mesmo com as restrições imposta às câmaras municipais no período imperial, Ferreira conseguiu realizar importantes obras, tais como a abertura de cacimbões em praças públicas e a redefinição do contorno da praça D. Pedro II (atual do Ferreira), eliminando o chamado “beco do Cotovelo”142, que

cortava a praça em diagonal, remanescente da antiga estrada do Arronches143 (Figura 34). “Buscando

dar à praça forma retangular, a Câmara obteve do governo provincial a lei [n. 264 de 06.12.1842] que autorizava a intervenção,” anunciando em seu artigo 1. “Fica a camara municipal desta capital autorisada a reformar o plano da mesma eliminando delle a rua do Cotovello afim de ficar alli uma praça que se denominará – Praça de D. Pedro II”. Demoliu também os chamados “quartos d´Agostinha” na antiga Praça José de Alencar para construção da nova Assembléia. Outra interferência que merece destaque é a do Largo do Garrote (hoje Voluntários da Pátria), onde o Boticário “fez demolir uma casa que estava fora do alinhamento144, obstruindo a passagem franca e a vista para [a Estada de

Messejana] o actual boulevard do Visconde do Rio Branco” (FONSECA,1887:37).

Nota-se, com efeito, o aumento das articulações da vila com o sertão, em decorrencia do ao crescimento do comércio do algodão. Com a nova dinâmica econômica regional e a conseqüente expansão urbana da Capital, foram realizadas diversas obras de infraestrutura: estradas, pontes e principalmente as quatro “aguadas públicas” (Cacimbas do Povo, Pocinho, Lagoinha e Jacarecanga) (OUTRO ARAMAC,1958:247).

Quando o Boticário Ferreira assumiu a Presidência da Câmara, em 1842, solicitou elaboração de uma planta da cidade, no entanto, somente em 1850, a Câmara Municipal promoveu o levantamento da planta da Cidade da Fortaleza, realizado por Antônio Simões Ferreira Faria.

Figura 33: Aquarela de Fortaleza vista do mar, elaborada por Joaquim José dos Reis Carvalho, 1859. Fonte: Coleção Nirez.

CAPÍTULO 2 | FORTALEZA CAPITAL DA PROVÍNCIA DO CEARÁ E A ECONOMIA DO ALGODÃO

68

141 O presidente da Câmara naquela época possuía poder

executivo.

142Com as demolições das casas que formavam o triângulo,

permitiu definir a forma retangular da praça. As casas pertenciam ao “coronel Machado, negociantes Martinho Borges, D. Anna Senhorinha e Antonio Lopes Benevides.” (FONSECA,

1887:36).

143 Antigo nome da Parangaba.

144 Segundo a Ata de 19.04.1848, essa casa pertencia a Antônio

Simões Ferreira Faria, antigo auxiliar de Silva Paulet e torna-se arruador e cordeador da Câmara até a chegada de Herbster.

69

CAPÍTULO 2 | FORTALEZA CAPITAL DA PROVÍNCIA DO CEARÁ E A ECONOMIA DO ALGODÃO

0 10 20 50m Uso institucional Uso residencial Uso comercial

Ocupação do Beco do Cotovelo

FORTALEZA - LARGO DAS TRINCHEIRAS - DÉCADA DE 1840