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FORTALEZA DÉCADA

12. José antonio machado

2.5.5 Os setores médios da população urbana

Como se detectou anteriormente, os grupos sociais dominantes nesse período são comerciantes portugueses e cearenses e os estrangeiros proprietários de firmas relacionadas ao comércio internacional. Entre os homens urbanos, identificam-se inúmeros oficiais mecânicos que ganham

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230 Tendo como maior acionista o próprio Presidente Alencar.

Foi fechado em 30.03.1839, depois do Banco do Brasil foi o primeiro a ser instalado (LEITE, 1994:118).

231Possuía vários imóveis na Praça do Ferreira

232 Inventário de 1854, (Pacote 134) Possuía 13 escravos, ouro,

prata, cobre e gados e um sobrado na rua Formosa 37 com cinco portas de frente com fundo para a rua Amélia, “no lugar do primitivo Matadouro” (OUTRO ARAMAC, 1958:234), avaliado em 12:000$000, outro sobrado de quatro portas na mesma rua , avaliado em 1:000$000, com dividas ativas entre outros Manoel Franklin do Amaral.

mais de 200$000 réis por ano, com um padrão de vida superior a outros segmentos urbanos233,

também compondo a pirâmide social local (Tabela 9). Tristão de Alencar Araripe indica 276 artífices com renda inferior a 200$000 réis (ABREU, 1919:120).

TABELA 9

Artífices de Fortaleza com renda anual de 200$000 ou superior - 1851

Profissão 18/25 26/50Faixas etáriasmais de 50 Total 200$ Grupos de renda (*)250$ a 500$ mais de 500$ Alfaiates 09 35 02 46 40 06 - Arquitetos - 01 - 01 - - 01 Carpinteiro 05 40 02 47 45 02 - Chapeleiros - 03 - 03 03 - - Ferreiros 01 05 01 07 07 - - Funileiros 04 03 - 07 06 - 01 Impressores 05 02 - 07 05 02 - Latoeiros 01 - - 01 01 - - Marceneiros 02 04 - 06 04 02 - Oleiros 08 - 10 18 18 - - Ourives 05 03 02 10 07 02 01 Padeiros 02 02 01 05 03 01 01 Pedreiros 07 09 01 17 17 - - Sapateiros 11 44 03 58 58 - - Seleiros - 01 - 01 01 - - Tanoeiros - 01 - 01 - 01 - Tartarugueiros - 02 - 02 02 - - Torneiros 02 - 01 03 03 - - Total 25,8%62 64,6%155 9,6%23 240100%234 91,7%220 6,7%16 1,6%04

Fonte: Qualificação para o serviço ativo da Guarda Nacional da Comarca da Fortaleza em 1851, no Arquivo Público, apud NOBRE, 1989:108-116.

Destaca-se nesse quadro grande proporção de trabalhadores manuais, relacionados ao vestuário, com a presença marcante de oficinas de alfaiates (46) e de sapatos (58). As mais importantes

oficinas de alfaiatarias são as de Luis Figueira de Albuquerque Lins, José Barcelos e Silva (rua

Amélia), Luis José Bolachinha (travessa das Trincheiras), José Felipe Santiago Aratu, Antonio Lourenço e João Furtado de Mendonça235. Quanto aos sapateiros, alguns pertencem a famílias

importantes: Antônio de Sousa Catunda, Antônio José de Oliveira Praxedes, Francisco da Cunha Bezerra, Rufino José Pacheco de Medeiros236, Modesto de Almeida Brasil, Raimundo Cavalcante

Uchoa e Pascoal Bailão (NOBRE, 1989:108-109). Nem sempre eram os proprietários dos imóveis onde desenvolviam suas atividades e, quando muito, possuíam a própria morada. Na tabela 9, observa-se a expressiva presença de trabalhadores ligados à construção civil, como pedreiros (17), oleiros237 (18), arquitetos (um) e mestres de obras (seis), “a primeira vista insuficientes as

necessidades de uma população crescente” (NOBRE,1989:109). Dentre eles, Francisco de Paula Tavares Coutinho foi qualificado como artífice e registrou uma renda anual de 600 réis. Geraldo Nobre fala de sua origem pernambucana e que aqui na cidade “projetou, como arquiteto, edifícios públicos e residências particulares, e contratou a execução de varias obras, ao ponto de granjear elevado conceito na sociedade fortalezense” (NOBRE, 1989:109), o que explica sua renda anual elevada. Os oleiros também são muitos, “certamente os fabricantes de tijolo e telhas, pois seriam

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233 Segundo Geraldo Nobre “A renda daquelas oficinas [pedreiros,

carpinteiros, marceneiros [...] era equivalente, em muitos casos, à dos negociantes, agricultores, funcionários públicos e outras categorias profissionais [...] atingindo a duzentos mil réis anuais, o que tornava obrigatória a inscrição deles na Guarda Nacional” (NOBRE, 1989:107).

234 Tristão de Alencar Araripe (ABREU, 1919:120) indica um

numero de 276 artífices, supõe-se talvez corresponde aqueles com renda inferior de 200$000 mil réis anuais não arrolados na Guarda Nacional.

235 Outro Aramac refere-se apenas a seis alfaiates na sua

descrição da Fortaleza de 1845.

236 Filho de Francisco José Pacheco de Medeiros, proprietário

do sobrado situado na atual Praça do Ferreira e adquirido pela Câmara Municipal em 1831.

237 Aqueles fabricantes de tijolo e telha. Outros produziam potes,

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numerosos os que trabalhavam o barro, produzindo potes e outros vasos, de grande utilidade e consumo [...]” (NOBRE, 1989:110). Os mestres de obras são em número de seis, a saber: João Francisco Rabelo, João Francisco de Oliveira, Antônio Simões Cadarcho, Augusto Fernandes Hitzsckhy, Manuel Duarte Pimentel e José Antonio Seifert238 (OUTRO ARAMAC, 1958: 248-249).

Entre os profissionais da construção, destaca-se o engenheiro alemão Augusto Fernandes Hitzschky, responsável pelo serviço de pavimentação, e pela reconstrução da Igreja Matriz, no valor de 1:030$000 réis. Na leitura da partilha de seus bens, de 1858, sobressaem grandes porções de terras fora do perímetro urbano239. Constrói a Igreja Outeiro da Prainha (N. S. da Conceição),

em 1839, com planta assinada pelo arquiteto José Antônio Seifert (alemão). Quanto aos mestres

carpinteiros (47) e os mestres marceneiros (6)240, observa-se um numero bastante significativo.

Entre os primeiros aparece o filho do comerciante português Manoel da Costa Moura Bravo, Brasilino da Silva Braga, pertencente à família do capitalista José Joaquim da Silva Braga.

Quantos aos outros profissionais envolvidos nas obras públicas oficiais e de infraestrutura urbana, há, no governo de Manuel Ignácio de Sampaio (1812-1820), o ajudante de ordens e tenente–co- ronel de engenheiros Antônio José da Silva Paulet e o mestre de obras públicas Antônio Simões Ferreira de Faria241.

No grupo dos artesãos, destacam-se também os ourives242, com as seguintes funções:

[...] conserto de relógios, jóias, caixas de musicas e outros instrumentos com armação de metal, chumbavam dentes, etc. prestando os seus serviços à população de renda mais alta e afeiçoada ao luxo, enquanto as pessoas de menos posses se contentavam com objetos confeccionados com ossos ou substancias assemelhadas, a exemplo do casco da tartaruga, aproveitado, no fabrico de bolsas e de pentes, principalmente, por artífices especializados, cuja raridade é atestada pela falta de registro, nos dicionários, da palavra tartarugueiro, encontrada na relação de qualificados de que se faz menção (NOBRE, 1989:111).

Os ferreiros e os funileiros (fornilheiros) eram poucos, apenas sete em cada ramo: os primeiros com renda anual de 200$000 réis; os segundos com a renda até de 600$000 réis. Este reduzido número talvez se justifique, num contexto em que os materiais dominantes eram o barro, a madeira e o couro243. Existiam também somente três oficinas de torneiros244.

Outro grupo bastante incipiente é o de representantes das artes gráficas, registrando-se sete impressores, cuja renda anual variava entre 400$000 réis a 200$000 réis. Manuel Felix Nogueira trabalhava na impressão de alguns jornais da Província, como o Cearense, além de dirigir uma tipografia. Antonio Ribeiro do Nascimento245 era proprietário do estabelecimento industrial,

destacando sua renda anual de 950$000 réis, cifra somente atingida por “negociantes grossistas, exportadores e importadores” (NOBRE, 1989:113).

Quanto aos funcionários públicos, também compõem o quadro social da cidade em número expressivo (170), conforme se observa na tabela 10, destacando-se principalmente os funcionários da Assembleia Provincial, (31), da Alfândega (25) e da Administração(22).

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238 Morava no sobrado da praça do Garrote (OUTRO ARAMAC,

1958:249).

239 Terras na Água Fria, no Cocó, com casa de morada, fábrica de

açúcar, de aguardente e farinha de mandioca, possuía também seis escravos.

240 Carpinteiros: Joaquim Antonio de Sousa, Manuel José de

Santiago, João da Costa Pontes, Manuel da Costa Moura Bravo Junior, Antonio Simões Ferreira Junior, Brasilino da Silva Braga, Manuel Francisco de Holanda e José Rufo Tavares Junior. Marceneiros: Aderaldo de Alencar Araripe, Francisco Herculano Rocha Escura, João Beviláqua e Jose da Silva Baima Junior,” pertencentes a famílias de notória influencia.” (NOBRE, 1989:109).

241 A partir de 1820, quando Paulet deixa o Ceará, “Farias

continuou integrado ao quadro mínimo de profissionais da municipalidade. Trabalhou por décadas como arruador da cidade, [...] bem como exercendo paralelamente as atividades outras no serviço publico e no setor privado.” (CASTRO, 2005: 99) É dele o plano de expansão para Fortaleza em 1850. Somente foi substituído por Adolfo Herbster em 1863.

242 Os mais evidentes- João Cassiano de Menezes, Joaquim

Rodrigues Corumba (Cazumba) e Cipriano Corlino (Carolino) de Morais. José Flamino Benevides obteve ao longo dos anos um alto prestígio: dirigente da União Artística, depois eleito para a Câmara Municipal de Fortaleza e finalmente para Assembléia Legislativa Provincial. Outros profissionais de grande experiência: Elias Martins de Sá e Joaquim Gomes Brasil. Também merecem destaque Vicente do Carmo Ferreira Chaves e Manoel do Carmo Ferreira Macedo.

243 “O barro, a madeira e o couro constituíam, no estágio de

civilização atingido na Província ao findar a primeira metade do século XIX, as matérias-primas suficientes para prover a população da quase totalidade dos bens necessários à subsistência, ao conforto e às próprias atividades econômicas, em termos de instrumental, parecendo ainda muito distante a Idade do Ferro, tímidos, como eram, os ensaios de metalurgia [...]” (NOBRE, 1989:111).

244 Manuel Pereira de Jesus, o seu filho José Pereira de Jesus. 245 Proprietário também de cinco padarias em Fortaleza, bem

maior do que as de Pedro Lopes de Azevedo, dos irmãos Manuel Rodrigues da Silva e Antônio Rodrigues da Silva, e de Galdino da Costa Guerra.

TABELA 10

Cidade de Fortaleza: Funcionários Públicos (1845)

Grupos Ocupacionais Números Autoridades Judiciais 09 Funcionário da Administração 22 Funcionário da Assembléia Provincial246 31

Instrução Pública secundaria e primária 16 Juízes da Paz 04 Funcionários da Alfândega 25 Funcionários do Correio 04 Oficiais militares247 30 Funcionários da Câmara248 16 Tesouraria da Fazenda 13 total 170

Fonte: Outro Aramac (1958, 241-246)

Quanto aos profissionais liberais, totalizam 47, conforme se pode aferir na tabela 11, destacando- se os advogados (18), os médicos (24) e os dentistas (5).

TABELA 11

Cidade de Fortaleza: Profissionais Liberais (1845)

Grupos Ocupacionais Números

Advogados 18

Dentista 05

Médicos 24

total 47

Fonte: MENEZES,1895: e Almanaque 1896

Quanto à incipiente manufatura cearense, destacam-se fabricas de cigarros, (cuja concorrência do sul impediu a expansão de suas atividades), a “Fundição Cearense”, (fundada por estrangeiros, depois adquirida por empreendedores locais), bem como as padarias que cresceram “devido à iniciativa de portugueses recém-chegados ao Ceará.” (NOBRE, 1989:24).

Conclui-se, então, que, em fins do século XIX, existia em Fortaleza um número significativo de artesãos livres, que compunham os setores médios da população, estimulando o mercado imobiliário rentista, já que muitos não eram proprietários de imóveis e os alugavam de terceiros. Basicamente os setores médios da população de Fortaleza eram integrados por trabalhadores relacionados a ofícios mecânicos (pedreiros, marceneiros etc.), funcionários públicos e profissionais liberais (advogados, médicos e dentistas). Comparativamente ao período precedente, é notável o crescimento da cidade e o incremento da vida urbana, com uma divisão técnica e social do trabalho cada vez mais acentuada.

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246 Suplentes dos deputados- 02. 247 Oficiais reformados- 14. 248 Suplentes- 03.

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