• Nenhum resultado encontrado

FORTALEZA 1859 QUADRAS E VIAS

2 Paiol da Pólvora

3 Hospital de Caridade e Liceu

4 Igreja Matriz

5 Tesouraria Provincial

6 Tesouraria Geral

7 Igreja de N. S. do Rosário

8 Palácio da Presidência

9 Casa da Câmara Municipal

10 Igreja de N. S. da Conceição da Praia 11 Alfândega 12 Curral do Matadouro 13 Açude do Pajeú 14 Ponte do Chafariz 15 Igreja N. S. do Livramento

16 Trapiche e Trilho da Alfandega

17 Quartel de Polícia 18 Igreja N. S. do Parto 19 Mercado Público 20 Cadeia 21 Cemitério Inglês 22 Antigo Paiol 23 Cemitério Público 24 Igreja 25 Igreja de N. S. do Patrocínio

26 Projeto duma Casa de Assembléia 27 Casa de Educandos 28 Cavalaria da Polícia A Praça d'Amélia B Praça do Paiol C Largo do Quartel D Largo da Matriz E Praça da Carolina (Feira Velha) F Largo do Palácio

G Praça Pedro II ou Municipal

82

CAPÍTULO 2 | FORTALEZA CAPITAL DA PROVÍNCIA DO CEARÁ E A ECONOMIA DO ALGODÃO

Figura 44: Exercício de reconstituição cartográfica do plano de Herbster na planta de Fortaleza de 1859. Autora: Margarida Andrade. Mapa base: Planta Exacta da Capital do Ceará, abril de 1859.

14.11.1861), compilada por determinação da Câmara para resolver problemas então surgidos com o crescimento fortalezense” (CASTRO, 1994:85). A planta registra “uma área projetada para expansão que equivaleria umas seis ou sete vezes aquela ocupada pela cidade na ocasião” (CASTRO, 1994:86). No sentido leste a oeste “cobria uma largura de cerca de dois quilômetros, desde a atual Rua João Cordeiro até a Praça Gustavo Barroso (do Liceu)” (CASTRO, 1994:86).

2.4.1 Traçado Urbano e a Implantação das edificações nos lotes

O parcelamento do solo predominante em Fortaleza foi orientado por um traçado ortogonal, com “ruas” no sentido norte-sul e “travessas” no sentido leste-oeste. A ocupação aconteceu primeiramente nas ruas de sentido norte-sul, nos lotes do lado da sombra, isto é, na testada leste, “protegida do sol à tarde, principalmente depois das 4 horas em que todos gostavam de se aprontar para espairecer à janela ou na calçada” (CASTRO, 1982a:71) Estes lotes, no primeiro momento, íam de um extremo a outro da quadra, tendo frente para uma das ruas e fundo para outra. Mais tarde ocorreu a ocupação das testadas do “lado do sol”, também de rua a rua, e, em seguida, “à medida que a cidade crescia os vazios urbanos iam-se preenchendo. Assim as casas de esquina começaram a subdividir o quintal, [...] cujo muro se voltava para as ‘travessas’ construindo quartinhos ou pequenas casas de aluguel” (CASTRO, 1982a: 72) (Figura 45).

Observam-se nos inventários várias casas em lotes profundos que iam de rua a rua, principalmente na rua Amélia (Senador Pompeu), com “fundo correspondente” para a rua General Sampaio, rua Nova e rua da Palma. Um exemplo é a casa com três portas na rua da Palma com fundo para a rua Formosa, pertencente a Martinho de Borges (Inventário de 1864), contígua ao sobrado que foi de Vicente Mendes. As ruas demarcam quadras de formato retangular, com lotes de dimensões variadas: “as dimensões das testadas das casas procediam dos velhos padrões de divisão fundiária, usuais no período colonial [...] Eram medidas em palmos e seus múltiplos de frente das casas testadas” (CASTRO, 2007:21). Esse padrão corresponde ao “sistema de fenestração das fachadas, de feição, expresso pelo ritmo porta/janela/porta, em que prevalecem os cheios sobre os vazios“ (CASTRO, 1999:67).

2.4.2 Características do Tecido Urbano e da arquitetura

O exercício de reconstituição cartográfica da cidade na década de 1850 revela a área urbanizada, composta de espaços pouco especializados, verificando-se a mistura das funções urbanas numa mesma área (residência, uso misto, comércio, serviços, edifícios públicos, civis, religiosos e militares) (Figuras 46). A única exceção é a atividade portuária situada na praia, com alfândega, armazéns de exportação e trapiche. No Outeiro da Prainha, observa-se a presença de inúmeras casas de palha espalhadas ao longo dos caminhos que articulavam Fortaleza ao entorno. O exercício revela também que boa parte dos imóveis pertence a negociantes e capitalistas.

CAPÍTULO 2 | FORTALEZA CAPITAL DA PROVÍNCIA DO CEARÁ E A ECONOMIA DO ALGODÃO

84

CAPÍTULO 2 | FORTALEZA CAPITAL DA PROVÍNCIA DO CEARÁ E A ECONOMIA DO ALGODÃO

Figura 45: Exercício de reconstituição cartográfica - Fortaleza : processo de ocupação fundiária de Fortaleza. Autora: Margarida Andrade. Mapa base: Planta aerofotogramétrica de Fortaleza, 1972.

Constata-se a predominância das casas térreas (Figura 2.16), de uso exclusivamente residencial, com duas portas ou de porta-e-janela. Sua implantação se enquadra na divisão fundiária típica do esquema colonial, ocupando a testada de lotes estreitos e profundos, com cerca de 20 palmos (4,40m) de frente e um ou meio quarteirão de fundo, sem recuos frontais e laterais, portanto no alinhamento das ruas. Esse “lote padronizado, ensejaria a difusão da chamada casa-corredor, cujo plano se repetia sem alterações em qualquer lote“ (CASTRO, 1987:219). As variantes das “casas de duas portas160” “contava aproximadamente com 20 palmos (4,40m); das de três portas, com

30 palmos (6,60m); com 40 palmos (8,80m); e assim por diante. (CASTRO, 2007: 21). O programa dessas casas segue um padrão recorrente em todo o Brasil, com ou sem corredor, lateral ou central, articulando a sala na frente, as alcovas, a “varanda” ou no fundo, um pequeno “puxado” com a cozinha, tal como descreve Nestor Goulart Reis no Quadro da Arquitetura do Brasil, publicado em 1970. Nas casas de duas portas, entretanto, “o acesso aos interiores cruzava a sala de visitas, enquanto nas casas ´casas de três portas` e em variantes mais amplas, o ingresso à casa já se fazia isoladamente por meio de uma ´entrada`, nome dado a um estreito vestíbulo, que se prolongava pelo corredor de circulação” (CASTRO, 2007: 21).

Este modelo servia de critério de taxação dos edifícios urbanos. O inventário post-mortem de antônio Francisco da silva161 confirma a tipologia, os materiais, as técnicas e os sistemas

construtivos predominantes, bem como o predomínio de casas destinadas a renda de aluguel. Por exemplo: casa de porta e janela, de taipa, na rua da Palma, avaliada em 100$000; outra de porta e janela, com bica, na mesma rua da Palma, avaliada em 50$000; e outra coberta de telha, avaliada em 600$000. Na praça Carolina, uma casa “com frente de tijolo e demais compartimentos de taipa” foi avaliada em 800$000 réis e estava alugada por 4$290 réis. O inventário de antônio

Gonçalves da Justa162, de 1852, dá a ideia do valor das casas na rua Amélia: uma casa com três

portas e cacimba foi avaliada em 1:500$000 réis; uma casa com duas portas e cacimba foi avaliada por 1:500$000 réis; outras duas com três portas e cacimba, foram avaliadas por 1:600$000 réis. O inventariado possuía nove casas entre uma e três portas.

Geralmente as casas térreas de pequeno porte têm o sistema de cobertura de meia-água voltada para o quintal. Segundo Tedim Barreto, essa expressão “é conhecida e consagrada em todo o Brasil [...] (mas) não será ocioso notar que entre nós, há telhados de duas, três, quatro e mais águas; mas apenas o telhado de uma água é chamado de ‘meia-água’. (BARRETO,1975:206). Ao longo desse período, a volumetria da cidade foi lentamente se transformando. Nos primeiros anos, a paisagem urbana era caracterizada por casas térreas, datando apenas da década de 1820 os primeiros sobrados. Desse período são os dois sobrados na praça D. Pedro II (atual Ferreira), de Francisco José Pacheco de Medeiros163 (Figura 47), adquirido pela Câmara Municipal em 1831, e o sobrado

do rico comerciante português Coronel Jose Antônio Machado164 (Figura 48), com três andares,

construído em 1825 pelo engenheiro militar Conrado Jacob Niemeyer165. Em 1850, Fortaleza já

contava com 26 sobrados, sendo três de madeira.

O sobrado do coronel Machado tinha aparência robusta e a modulação de três portas para a rua da Palma (Major Facundo). No térreo, observam-se três portas e no primeiro andar três janelas rasgadas com guarda-corpo individual, o que indica provavelmente seu uso misto – comercio

CAPÍTULO 2 | FORTALEZA CAPITAL DA PROVÍNCIA DO CEARÁ E A ECONOMIA DO ALGODÃO

85

Figura 47: Sobrado do Pacheco, depois Câmara Municipal. Fonte: Coleção Nirez.

160 “Portas, em fala fortalezense, designavam portas e também

janelas. Na verdade, uma ´casa de duas portas` era, de fato, uma ´casa de porta e janela`. Esses tipos de casas térreas conheceram disseminação nacional, embora recebessem nomenclatura que variava com os locais” (CASTRO, 2007:20).

161 Inventário de 1837, Pacote 87-A. 162 Inventário de 1852, Pacote 95.

163 Nobre afirma que o José Pacheco provavelmente foi “o seu

próprio construtor ou mestre de obras, reconhecidamente habilidoso” (1989:122). Com as seguintes dimensões: 50 palmos (11m) de frente e 96 palmos (21,12m) de fundo, e a “outra na Rua Nova com 96 palmos (21,12m) de frente compreendendo a parte do fundo para parte do quintal da mesma casa do sobrado” (LIVRO 15, CAIXA 3 – Livro de notas).

164 “Acreditava-se que sobre as areias de Fortaleza não se

podia construir e edificar casas elevadas e sobrados porque o terreno frouxo não suportaria o peso de um alto edifício, além disso, não era admissível um particular possuir uma casa mais alta do que a do presidente. Levantar um sobrado, além de ser uma empresa perigosa, seria também um desafio à autoridade” (NOGUEIRA, 1980). Na Décima Urbana de 1922, o imóvel pertencia a Gerson Gradvohl e em 1927 foi vendido ao comerciante Plácido de Carvalho.

165 Presidente da Comissão Militar que julgou e executou os

revoltosos da Confederação do Equador no Ceará (GIRÃO, 1989:34).

Figura 48: Sobrado do Coronel José Antônio. Machado. Fonte: Coleção Nirez.

Figura 46:Exercício de reconstituição cartográfica - Fortaleza, na década de 1850: quadras e vias. Autora: Margarida Andrade. Mapa base: Planta da cidade de Fortaleza - Antonio Simões Ferreira de Faria em 1850 / desenhada em escala reduzida por F. B. de Oliveira, 1883.

Fonte: Outro Aramac, 1979/ MENEZES, 1992/ CASTRO, 1994, Planta Exacta de 1859, Herbster.

FORTALEZA