• Nenhum resultado encontrado

LEGISLAÇÃO SANITÁRIA E URBANÍSTICA ENTRE 1865 E O CÓDIGO DE OBRAS DE

Na primeira República (1889-1930), o algodão permaneceu a principal economia, mas a Abolição da escravidão não condicionou o fluxo imigratório de estrangeiros, o que

3.3 LEGISLAÇÃO SANITÁRIA E URBANÍSTICA ENTRE 1865 E O CÓDIGO DE OBRAS DE

Para o entendimento do processo de urbanização e, principalmente, do ordenamento do espaço urbano, é importante entender o papel da Câmara Municipal na passagem do Império à Primeira República.

A Câmara316 continua atuando na organização do espaço da cidade por meio do levantamento das

plantas de 1875, 1888, e dos quatros Códigos de Posturas de 1865, 1870, 1879 e 1893. Somente em 1932, a Prefeitura Municipal realiza o Código Municipal e a planta de 1932.

Com a expansão crescente da cidade, a partir da década de 1860, surge o Código de Posturas de 1865, que acentua a preocupação com o binômio saúde pública-higiene, por meio de obrigações impostas a proprietários urbanos. Para orientar a expansão crescente da cidade, os mesmos instrumentos do Império permaneceram válidos na Primeira República. Na década de 1860, é redigido um novo Código de Posturas pela Câmara Municipal de Fortaleza, aprovado pela Resolução no 1.161, de 3 de julho de 1865317, contendo 20 capítulos e 11 seções.

Esse código define a função e as obrigações dos arquitetos e engenheiros na orientação do processo de transformações da cidade:

Art. 13. Ao arquiteto, que será engenheiro formado nas escolas do Império, ou estrangeiras incumbe:

§ 1o Alinhar as ruas, praças, pontes, cães, estradas, casas e toda e qualquer obra

CAPÍTULO 3 | O PAPEL DA INICIATIVA PRIVADA NA APROPRIAÇÃO E PRODUÇÃO MATERIAL DAS ÁREAS PLANEJADAS

315Se a Câmara vota ou estatue medidas prejudiciais aos

interesses do município, o Intendente tem o direito de veto, com efeito suspensivo sobre o ato expedido por deliberação do Conselho. Não é porem, o veto absoluto. Ele está sujeito ao corretivo da própria Câmara, que, por dois terços de votos, poderá manter a sua deliberação” (MENSAGEM,1900:9).

316 Em 1870, a Câmara era composta pelos seguintes

vereadores: presidente Cel Joaquim da Cunha Freire (Barão de Ibiapaba) negociante; Trajano Delfino Barroso, advogado; Ten. Cel Ant. Gonçalves da Justa, comerciante e político conservador; Ten. Cel Fco Coelho da Fonseca, negociante (loja de fazenda); Capitão Jose Fco da Silva Albano (Barão de Aratanha), negociante (Albano & Irmão); Ant. Nunes Teixeira de Mello, Bernardo Pinto Coelho, negociante (rua Amélia 187); José Antonio Martins, comerciante (loja fazenda-praça dos voluntários); João Leonel de Alencar, Pedro Nogueira Borges da Fonseca, negociante (herdou a Botica - praça do Ferreira 24) (ALMANAK, 1870:125).

317 Essa postura foi aprovada no governo do bacharel Francisco

Ignacio Marcondes Homem de Mello. Contem 20 capítulos e 11 secções. No regulamento dos empregados da Câmara Municipal da cidade da Fortaleza, no Titulo Único dos empregados, apresenta os cargos dos empregados: secretário, ajudante do secretario, arquivista, porteiro, contínuo, procurador, três fiscais no distrito da Capital, advogado, médico, arquiteto, zelador do matadouro público, zelador da Cacimba do Povo, zelador da cacimba da Alagoinha, um fiscal no distrito de Arronches, em Soure, em Parazinho, em Siupé, em Trairi e em Messejana, um zelador do curral de Arronches e um zelador do açude de Soure.

de arquitetura, medição, arqueação, perfil, nivelamento e calçamento. § 2o Dar a planta, plano e orçamento de qualquer obra municipal.

§ 3o Inspecionar as obras da câmara, quer se facão por contrato, arrematação, ou

administração.

§ 4o Levantar a planta da cidade, e povoações do município, quando lhe for

ordenado pela câmara.

§ 5o Dar seu parecer por escrito, quando assim exigir a câmara, ou seu presidente.

Na Resolução no 1.162, de 3 de agosto de 1865, acentua-se a preocupação com o binômio saúde

pública - higiene, por meio de obrigações impostas aos habitantes.

Os moradores da rua do mercado são obrigados a limpar o riacho que corre pelos quintais de suas casas, quando forem avisados pelo fiscal (Art. 59).

Os habitantes desta cidade são obrigados a ter varrido areia das frentes de suas casas até o meio da rua (Art. 33).

Os despejos de material em vasilhas, das 9 horas da noite em diante em lugares que forem designados pela Câmara (Art. 55).

A secção II disciplina também sobre a salubridade pública, impondo o zoneamento de funções urbanas, sobretudo marcado pelo deslocamento dos ofícios poluentes e barulhentos para os arrabaldes ou subúrbios da cidade, fora do perímetro urbano. É definida, assim, a localização dos curtumes, salgadeiras e das fabricas:

É proibido ter-se nas casas desta cidade, fornos de cozer ou torrar tabaco, fábricas de destilar aguardente; de sabão; de azeite ou quaisquer outras, em que se trabalhe com ingredientes que exalam vapores, que corrompem atmosfera e só serão permitidos nos arrebaldes ou subúrbios com licença da Câmara (Art. 44).

Mesmo que as atividades industriais e comerciais fossem incipientes, as condições e a localização das fábricas na cidade mereciam nesse momento a atenção dos códigos de posturas. Trata-se de uma política da República Velha, em continuidade à do Império, que muitas vezes desagradava os empresários urbanos, tal como se pode ver nesta declaração do “Jornal do Ceará - 1868”:

Colhe-se a declaração de um insatisfeito, o Sr. Carreira, que deixou de fazer o seu alambique funcionar “em virtude de uma postura municipal, que proíbe os alambiques dentro dos limites da cidade”. Diante do embargo, vais transferir a fabrica para Jacarecanga (CAMPOS, 1985:104).

Alguns artigos proíbem hábitos que não podiam ser mais permitidos numa área urbana: “um só individuo conduzir mais de cinco cavalos, burros ou bois, carregados ou sem cargas, pelas ruas....”

CAPÍTULO 3 | O PAPEL DA INICIATIVA PRIVADA NA APROPRIAÇÃO E PRODUÇÃO MATERIAL DAS ÁREAS PLANEJADAS

125

(Art. 20); “equipar-se ou correr a cavalo ou em burro pelas ruas...” (Art. 22); “conduzir-se magotes de gado vacum, cavalar, e muar pelas ruas desta cidade” (Art. 22).

Não se pode deixar de destacar a preocupação dessa legislação de compatibilizar o modo de viver rural com o urbano, principalmente porque o “matuto” e o “sertão” têm presença obrigatória nos hábitos, costumes e no processo de urbanização de Fortaleza. Os próprios nomes das ruas e travessas (das Flores, do Cajueiro, do Pocinho, das Hortas) evidenciam uma maior relação com o sertão do que com o mar (CAMPOS, 1988:83).

Como mencionado no capítulo anterior, essas posturas dispõem também sobre a volumetria dos imóveis, cornijas, largura das calçadas conforme se observa nos artigos 6 e 7:

As casas térreas que se construírem dentro dos limites da cidade terão pelo menos 20 palmos [4,4m] de altura na frente, entre as soleiras das portas e a base da cornija. As portas, quando de verga direita ou de verga semicircular ou gótica fingida, terão no mínimo 13 palmos (2,86m) de altura e cinco e meio de largura, e as janelas oito, e quando de verga semicircular ou gótica aberta, terão as portas 12 palmos (2,64m) de altura até a imposta do arco. Os claros e cunhais terão pelo menos sete palmos (1,54m) de altura e a cornija e acrotérios a quarta parte da altura da frente (Art. 6).

As casas que se construírem nas duas avenidas de cem palmos (22,0m) terão 22 palmos [4,40m] de altura na frente, entre a soleira das portas e a base da cornija. Terão todas as cornijas e acrotérios, cuja altura corresponderá a uma quarta parte de altura de frente. As portas, quando de verga direita ou de verga semicircular ou gótica fechada, terão 14 palmos [3,08m] de altura e 6 de largura [1,32m], e quando de verga semicircular ou gótica aberta, terão as portas doze e meio palmos[2,75m] de altura até a imposta do arco, e as janelas oito palmos. Os claros e cunhais terão pelo menos a largura das portas e as janelas; o espelho terá 8 palmos [1,76m] de altura e as soleiras das portas serão assentadas um palmo[.22m] acima do nível das calçadas, os contraventores serão multados em dez mil réis, além de ser demolida a parte da casa que se não conformar com a presente postura (Art. 7).

Passa a ser exigido, com maior ênfase, o disciplinamento do espaço urbano por meio do respeito do traçado em xadrez formulado em 1863 por Adolfo Herbster. Por exemplo, posturas municipais, publicadas em 1868, mencionam que as choupanas somente poderiam ser construídas com autorização da Câmara, e que estas deveriam estar alinhadas em relação às ruas principais e aos becos. Essa preocupação se reflete na planta de regulamentação do espaço urbano de 1875, quando o arquiteto Adolfo Herbster tenta impor o traçado em xadrez sobre as ocupações das casas existentes318 na antiga estrada do Cocó.

Em 18 de junho de 1868, a Câmara Municipal aprova provisoriamente posturas adicionais319:

Art. 28 Ninguém poderá vender água potável dentro desta cidade, à exceção da Companhia do encanamento d´água do sitio Benfica, ao infrator uma multa de 20 mil réis;

CAPÍTULO 3 | O PAPEL DA INICIATIVA PRIVADA NA APROPRIAÇÃO E PRODUÇÃO MATERIAL DAS ÁREAS PLANEJADAS

318 Esse conjunto está localizado entre a rua Duque de Caxias e

a Clarindo de Queiroz, próximo à estrada de Messejana.

Art. 29 As carroças deverão ser licenciadas; Art. 30 canecas com capacidade de 20 litros; Art. 31 Vestuário dos empregados;

Contrariando a Postura, a Companhia do Encanamento d´água do Sitio Benfica divulga no jornal Cearense, de 14 de julho de 1868, que a água vendida nas carroças custa cada caneco 40 réis e nos chafarizes 20 réis.

Cinco anos depois da vigência desse Código, é estabelecido a Resolução 1.365, de 20 de novembro

de 1870, distribuindo racionalmente os assuntos em 8 títulos e 87 capítulos. Há duas inovações

que dizem respeito, especificamente, à salubridade das casas, ruas e lançamento de dejetos: É proibido fazer limpeza ou despejo de matérias fecais em outro lugar, que não seja na praia do porto das jangadas para baixo, e da ponte do desembarque para cima (Art. 47, § 3).

Lavar roupa de pessoas acometidas de moléstias contagiosas em outro lugar, que não seja a foz do ribeiro denominado Jacarecanga (Art. 47,§ 7).

Demonstra este artigo que o porto das jangadas até a ponte de desembarque, bem como a área das chácaras junto ao riacho Jacarecanga, estavam nessa época fora do perímetro urbano.

A Resolução no 1.365, de 20 de novembro de 1870, publicada pelo presidente desembargador João Antônio de Araujo Freitas Henriques, apresenta um regulamento anexo, com dois capítulos e 28 artigos, que mencionam sobre Edificação – “as ruas e travessas da cidade e povoações do município terão a direcção e a largura indicadas na planta respectiva, ou determinadas pela câmara, observando- se o mais perfeito alinhamento e conveniente nivelamento” (Artigo 1o). Estabelece normas para casas

de palha e taipa (artigo 2o): “nenhuma edificação de casas, ainda mesmo de taipa ou palha, nem

construcção de cercas começara no espaço comprehendido na planta da cidade e na das povoações, sem preceder alinhamento, assim como nivellamento para as casas de alvenaria”. Também determinava um “alinhamento especial affastado um metro do estabelecido para as demais edificações” (artigo 3o).

As posturas de 1870, no capitulo IV, contemplam o uso e aproveitamento de “açudes, riachos

ou aguadas e distribuição d´água potável para consumo.” No art. 49, adverte “os proprietários de terras no Alagadiço Grande, Urubu e Jacarecanga, de não utilizarem sangradouros de açudes e tapagens sem a profundidade recomendada, e largura – de um metro – como o exigirem o inverno e as condições da represa”. (CAMPOS, 1988:108).

A Resolução no 1.682, de 2 de novembro de 1875, acrescenta normas para as casas de palha ou de taipa:

É proibida a edificação de cercas, casas de palha, ou de taipa dentro do quadro limitado pelas ruas do Pajehú, Livramento e Boulevard Imperador, inclusivamente; como também as casas de paredes singelas, de tijolo somente nas ruas que se acharem calçadas. O infrator soffrerá a multa de 10$000 reis e será a obra demolida a sua custa (Art. 2o).

CAPÍTULO 3 | O PAPEL DA INICIATIVA PRIVADA NA APROPRIAÇÃO E PRODUÇÃO MATERIAL DAS ÁREAS PLANEJADAS

127

O Código de 1879 é uma edição melhorada da coleção de leis de 1870. Nesse momento, os

habitantes da cidade ainda “depositam os dejetos fecais ‘durante um ou dois dias´ em ‘depósitos de ferro ou de madeira,´ ‘fazendo à noite a sua remoção para o mar. E mais serio os que habitam as margens dos córregos Jacarecanga e Pajeu servem-se destes para esgoto“ (CAMPOS, 1988:117). Surge a partir desse Código a figura do encarregado da limpeza da cidade, através de carroças, com objetivo de remover

Todas as matérias orgânicas e inorgânicas suscetíveis de se corromperem e de viciarem o ar ambiente pela exalação de miasmas ou de incomodarem as pessoas que transitam e de impedirem o transito publico com pedras, tijolos, telhas etc., terras soltas, lamas, animais mortos, restos vegetais e de animais, águas estagnadas e tudo o que se compreende na palavra imundice320.

Nesse período, a cidade inicia o seu processo de ocupação da área definida pelo plano de Herbster relacionada à sua condição de centro exportador do algodão cearense, o que condiciona maiores investimentos na política higienista então em curso.

As posturas municipais vão sendo aperfeiçoadas com novas providências, como é o caso do código

de 1893321, já da República Velha, que acrescenta medidas inovadoras quanto à pratica da invasão

de moradias em nome da limpeza e saúde, mostrando que tais práticas vêm garantir a reprodução das relações sociais. O artigo 91 determinava que “as casas e seus quintais serão vistoriados quando a intendencia julgar conveniente, a bem da salubridade,ou por intermédio de comissões nomeadas para dito fim”322. Constata-se também mais uma determinação referente à higiene: “o medico fará sempre

parte da comissão necessária para a vistoria, de que se trata”323. Em seu artigo 2o, delimita zonas

exclusivas das palhoças fora do perímetro urbano: “É proibido dentro da circunscrição urbana edificar casas de palha ou de taipa assim como construir cercas ou currais. Multa de 30$000 ao infrator”. Ou seja, na República às palhoças e casas de taipa foram definitivamente apartadas do perímetro urbano. As normas concernentes aos Serviços Sanitários passam, em 1918, a ser de competência da

diretoria Geral de higiene, que elabora um regulamento no qual decreta a inspeção sanitária nas

habitações particulares e coletivas, estabelecimentos, lugares e logradouros públicos, sendo feita uma série de exigências quanto às habitações em geral. Essas rnormas de controle das habitações vêm reforçar aquelas que haviam sido esboçadas no Código de 1893: “todas as casas novas ou reparadas, e as de aluguel que vagarem serão visitadas pelo Inspetor sanitário que verificará se oferecem ou não as condições indispensáveis de higiene e asseio para serem habitadas”324. Essas

normas regulam também as casas de travessa325: “não será permitido a habitação em casas ou

cômodos chamados de travessa, sem área livre ou quintal e sem instalação sanitária (Art. 312) como também “não é permitida a habitação em porões e sótão que tenham iluminação e arejamento deficiente” (Art. 314). Essas formulações de controle de habitação reforçam aquelas que haviam sido esboçadas no Código de 1893, vigente a partir de então por todo o Brasil.

Por outro lado, a cidade passa por um processo de adensamento no sentido leste-oeste desde 1872326, com a presença de inúmeras “casas de travessas”, o que justifica a presença na legislação

CAPÍTULO 3 | O PAPEL DA INICIATIVA PRIVADA NA APROPRIAÇÃO E PRODUÇÃO MATERIAL DAS ÁREAS PLANEJADAS

320 Resolução 1.818, de 01.02.1879, art. 22.

321 Código de Posturas de 1893, In: Jornal A República de

18.11.1893.

322 Código de Posturas de 1893, artigo 91, In: jornal A República,

de 18.11.1893.

323 Código de Posturas de 1893, artigo 91. § 2. In: jornal A

República, de 18.11.1893

324 Regulamento da Diretoria Geral da Higiene, aprovado pelo

Decreto Legislativo no 1.643, em 08.11.1918, artigo 303.

325 Como foi visto, a cidade passa por um processo de

adensamento no sentido leste-oeste desde 1872, com as “casas de travessa”, o que justifica essa legislação.

326 Na Décima Urbana de 1872, as ruas de travessa (leste-

oeste), Assembleia, Flores, Hortas, Municipal, São Bernardo, Trincheiras e D. Pedro já apresentam parcelamentos.

do controle de certas práticas sociais recorrentes espalhadas por toda a cidade, dificultando, portanto, a realização de uma rígida política de especializações dos espaços e segregação social. O regulamento vem reafirmar e ampliar os Códigos de 1879 e 1893, ao proibir também a implantação, dentro do perímetro urbano327, das seguintes fábricas: curtume, sabão e óleo,

couro e sebo, salgadeiras, como também deposito de cal, borracha de maniçoba não beneficiada, estufas de torrefação de tabaco, fundições, ferrarias e outras oficinas de obras metálicas, fábricas ou depósitos que exalem mau cheiro328.

A Câmara Municipal de Fortaleza, por meio da lei de 27 de dezembro de 1917329, normatiza sobre

a limpeza publica:

Art. 1 – Fica desde já prohibido o deposito de lixo das casas particulares, em qualquer ponto do leito das ruas da cidade, inclusive as sargetas e passeios. Art. 2 – As carroças da limpeza municipal receberão o dito lixo, que deverá ser retirado pelos conductores no limiar das portas, onde será collocado em recipientes apropriados, de modo que não deixe escapar nenhuma parcella de resíduos nelles accumulados, quer por extravasão, quer por fendas ou aberturas. Art. 3 – Para execução do artigo antecedente, as suas calçadas da cidade, das 7 horas da manhã até as 4 horas da tarde, serão percorridas pelas referidas carroças, que darão aviso pelo continuo tilintar de uma sineta. (Edital No 25 da Prefeitura de 1917).

Na administração do presidente desembargador José moreira da rocha (1924-28), foram inaugurados os serviços de águas e esgotos sanitários de Fortaleza iniciados em 1908, tendo sido criada para execução e manutenção desses serviços a “Repartição de Saneamento e Obras Públicas”330.

O Prefeito Municipal de Fortaleza, major manuel tibúrcio cavalcanti, considerando o código de

Posturas de 1893 insatisfatório para as “necessidades gerais dos munícipes e da Municipalidade,

por sobremodo omisso e antiquado” e usando de suas atribuições legais, resolve decretar, em 13 de dezembro de 1932, um novo Código Municipal331. Uma das mudanças mais significativas que se

pôde observar foi o fortalecimento do Poder Executivo concentrado na figura do prefeito municipal. No artigo 19, por exemplo, determina que “para os efeitos e aplicação do presente Código e demais fins administrativos fica o município dividido em quatro zonas: central, urbana, suburbana e rural”. Além disso, “a divisão de terrenos em quadras e a destas em lotes somente será permitida se forem devidamente aprovados ou modificados pela Prefeitura os planos respectivos, devendo o interessado requerer, previamente a aprovação de um ante-projeto, com a indicação das ruas a serem abertas” (Art. 25). Por sua vez, “nenhuma construção, reconstrução, acréscimo, reforma, concerto, demolição ou limpeza se fará sem previa licença da Prefeitura” (Art. 70). No capítulo I das “disposições gerais”, determina que “nas ruas de caráter evidentemente residencial as edificações serão sempre recuadas do limite da via pública e isoladas dos lotes ou edifícios visinhos por meio de áreas laterais” (Art. 108). O prefeito, no Relatório de 1932, apresentado à Interventoria, relata: “a construção da planta da cidade (a de 1931) veio tornar evidente a necessidade inadiável de ser adotado um plano para o sistemático desenvolvimento da cidade e a conveniência de ser consultado um urbanista sobre o seu

CAPÍTULO 3 | O PAPEL DA INICIATIVA PRIVADA NA APROPRIAÇÃO E PRODUÇÃO MATERIAL DAS ÁREAS PLANEJADAS

128

327 Em seu artigo 484, define a zona urbana da Capital para os

efeitos deste regulamento: isso será apresentado mais à frente.

328 Regulamento da Diretoria Geral da Higiene, artigo 482,

p.272.

329 Lei publicada pela Prefeitura Municipal no Edital 25 de 1917

na Gazeta Oficial do Estado do Ceará de 1917.

330 Lei no 2.176 de 30 de setembro de 1924, tendo na 1a

Divisão – Administração Central, 2o Divisão Água e Esgotos e 3a Divisão Obras Públicas (Relatório de 1926:55-56).

331 Código Municipal, Decreto no 70 de 18 de dezembro de

129

traçado” (GIRÃO, 1943:205). A política de urbanização da República segue os moldes definidos no Império, criando para tanto novas instruções e quadros técnicos.

Na estrutura administrativa, o prefeito, antes de conceder ou negar o alvará da construção, deverá observar o estudo e o parecer da Secção de Obras e Viação (Art. 74). Trata-se de uma política vigente em todo o País, com base no estabeleimento de uma estrutura administrativa semelhante, destinada a gerir o processo de transformação das cidades brasileiras.

Na nova numeração pautada no sistema métrico-decimal é introduzida por meio deste Código, sendo orientadas as ruas norte a sul, do mar para o sertão, e as ruas leste oeste separadas “pela via- eixo constituída pela sequência da Avenida Alberto Nepomuceno, rua Conde d´Eu, rua Sena Madureira e Avenida Visconde do Rio Branco” (Art. 41), segundo cada uma para o lado correspondente, (os pares relacionados ao lado direito e os impares ao lado esquerdo).

Em seu capítulo XIV, sobre altura dos edifícios, determina (artigo 225)

nas construções e reconstruções de prédios às ruas Floriano Peixoto, Major Facundo e Barão do Rio Branco, no trecho compreendido entre a praça dos Mártires e a rua Pedro Pereira, a rua Gen. Bezerril entre as ruas João Moreira e Pedro Borges; a rua Sena Madureira entre a Avenida Pessoa Anta e a rua Pedro Borges; as ruas João Moreira, Castro e Silva, Senador Alencar e São Paulo, no trecho compreendido entre a rua Sena Madureira e a rua Barão do Rio Branco, a rua Guilherme Rocha, entre a rua Rosário e a Praça Marques de Herval; a travessa