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Na primeira República (1889-1930), o algodão permaneceu a principal economia, mas a Abolição da escravidão não condicionou o fluxo imigratório de estrangeiros, o que

3.5. A TRAMA URBANA E OS ATORES

3.5.3 Reconstituição da área urbanizada entre 1890 e

Na análise do novo imposto predial publicado no Jornal A República de 1911, permite verificar o surgimento de algumas ruas (rua do Lago e da Cruz435 no sentido sul), de novas travessas

(Cemitério, Catolé, Madame e Matadouro) e a ocupação efetiva das antigas. No sentido leste, é criado o boulevard Nogueira Accioly (atual Santos Dumont), futuro eixo de expansão do bairro da Aldeota. Dois bairros novos também surgem- o porto das Jangadas (futura Praia de Iracema) e o

alagadiço Grande no sentido da estrada do Soure.

Confrontando a Décima Urbana de 1872 com a de 1890 na área formada pelas ruas Floriano Peixoto, Major Facundo, Barão do Rio Branco, Senador Pompeu, General Sampaio e 24 de Maio, nota-se uma efetiva ocupação das quadras ao longo da rua General Sampaio (antiga Cadeia), passando de 18 imóveis arrolados para 118436, bem como na rua 24 de maio (antiga Patrocínio),

com 23 imóveis cadastrados em 1872, atingindo 76 em 1890437. Outra ocupação linear acontece

nas ruas Formosa, Major Facundo e Boa Vista, a partir da rua Pedro Pereira (Figura 88).

O número de estabelecimentos comerciais na rua major Facundo438 corresponde a 50% dos

imóveis arrolados na Décima de 1890, passando de 58 casas comerciais para 79439, predominando

432 Com quatro armazéns, alfândega velha e duas oficinas de

melhoramento da ponte.

433 Dentre eles, encontra-se o Quartel da Capitania dos Portos. 434 Resolução no 1.682, de 2 de setembro de 1875.

435 A rua da Cruz será a continuação da estrada do Major

Thomaz.

436 Atingindo, em 1922, 184 imóveis. 437 Atingindo em 1922, 201 imóveis.

438 Existiam também quatro farmácias e um hotel. 439 Segundo o Almanaque do Ceara de 1896. 440 Cabeleireiro, barbeiro, encadernação e ferreiro.

CAPÍTULO 3 | O PAPEL DA INICIATIVA PRIVADA NA APROPRIAÇÃO E PRODUÇÃO MATERIAL DAS ÁREAS PLANEJADAS

Colegio de Educandas Paço Paço Episcopal Santa Casa Gazometro Quartel Mercado Praça Marquez do Herval Detenção Arraial Moura Brasil a çar P a ge d na fl A a d Alfandega Nova Pharol Quebra mar Ancoradouro Seminario Conceição Estação Ferro Carril Fabrica de Tecidos Praça da Sé Praça Coronel Theodorico Caixa d'agua Praça Senador Paula Pessoa Praça Senador Figueira de Mello Escola Praça Senador Fernandes Vieira Poço Praça Barão de Ibiapaba Praça General Tiburcio

Alfabdega Velha Quartel de Marinha Mercado Palacio

Praça Jose d' Alencar

Praça Ferreira s oi ratn ulo V so d aç arP Quartel Policial Lunguinho Rozario Art igos Belicos Açude Pajeu Lago Coração de Jezus Praça N. S. do Livramento Matadouro Publico S. Benedito Passeio Publico Forte de N. S. d' Assumpção Bem Fica Asylo de Mendicidade Cemiterio Catholico Moura Brasil

Estação Central

Praça Senador Carreira

Rua da Mizericordia Rua Senador Castro Silva Rua Senador Alencar Assemblea Rua d' Assemblêa Rua Municipal Rua Comm.or Luiz Ribeiro Rua Dr. Pedro - Pereira Rua Dom Pedro Bulevard Duque de Caxias Rua do Livramento Praça Visconde de Pellotas Praça Com. or Coelho Rua São Sebastião Rua Antonio Pompeu Rua dos Coelhos Rua do Bom Fim Rua do Gado Estrada Pajuçara Estrada de Sour e Rua 14 de Março Via-Ferrea de Baturite Jacarecanga Riacho do Urubu Rua Padre M ororo Bulevard Jacarecanga Praça Dr. Jozé Julio Rua Cons.o Estellita Rua Filgueiras Rua do Paiol Rua Izabel Bulevard Imperador Rua 24 de M aio Estrada Velha General Sampaio de Pacatuba Rua Senador Pompeo Rua Formoza Rua Rua Major Facundo Boa Vista Rua d'Amelia Rua Trindade Rua Lago Rua Açude Rua Cruz Rua c Pajeu Praça senador Machado Cavalhariça Bolevard da Conceição Rua da Gloria Rua Leopoldina Rua Solenidade Rua Alde ota Rua do Corrego Rua de São Luiz Rua de Co llegio Rua do Cajueiro Rua d'Alegria Estrada do Major Thomaz Rua do Sampaio Rua do Visconde d'Eu Rua da Ponte Rua do São Jozé Rua do Sol Rua do Paço Rua da Conceição Rua Seminario ori et u O o d as se va rT Bolevard do Visc onde Rio-Branco oã çi ec no C a d asseva r T Rua do Singlehurst Travessa da Praia Rua da Alfandega Preamar media Baixam ar media Via - ducto Escala de Palmos 0mt 005= 100 palmos Palmos 100 0 1,000 2,000 8,000 4,000 Palmos DIVISÃO ECLESIASTICA

A rua Formosa divide a Capital em duas Freguezias A' de S Jozé = ao Nascente = A' de Nª Sª do Patrocinio = ao Poente = Arrecife Riacho Pajeu Rua do Rosário L E G E N D A Residencial

Não residencial (comércio, serviço, institucional) Misto

FORTALEZA - 1888

USOS

Figura 88:Exercício de reconstituição cartográfica de Fortaleza, 1890. Recorte espacial na cidade da Fortaleza - usos. Autora: Margarida Andrade. Mapa Base: Planta da cidade

da Fortaleza capital da Província do Ceará levantada por Adolpho Herbster, Ex engo da provincia e Archo apozentado da Camara Municipal, 1888.

Fonte: Décima urbana de 1890.

CAPÍTULO 3 | O PAPEL DA INICIATIVA PRIVADA NA APROPRIAÇÃO E PRODUÇÃO MATERIAL DAS ÁREAS PLANEJADAS 170

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as casas importadoras de “grossos” e a “retalho”, estabelecimentos de modas, mercearias e tavernas (62), armazéns de depósito (4), farmácias (4), livrarias (3), uma fábrica de caju e outra de gelo, escritório comercial (1), hotel (1) e oficinas440 (7). A rua Formosa destaca-se também pelo

comercio mais diversificado da região, abrangendo casas importadoras de “grossos” e a “retalho”, estabelecimentos de modas, mercearias e tavernas (34), armazéns de depósito (11), padarias (2), teatro (1), clube (1), restaurante (1), bilhar (1), drogaria (1), agência de leilão (1) e oficinas441

(19), num total de 72 edifícios comerciais. Na rua senador pompeu, observa-se um crescimento significativo de imóveis comerciais, atingindo o total de 41, enquanto a rua Boa Vista continua com o menor número de casas comerciais, passando de 15 imóveis comerciais para 30. Essa área passa gradativamente por mudanças de usos e funções – de predominantemente residencial e térreo para atividades produtivas do setor terciário (comércio, instituições, serviços, administração pública e lazer). Em 1911, pode-se observar na figura 89 o predomínio do uso comercial nas ruas Floriano Peixoto, Major Facundo e Barão do Rio Branco (entre a rua Castro e Silva e a rua Com. Luiz Ribeiro) acentuado principalmente em torno das praças do Ferreira e José de Alencar (antiga Carolina).

Constata-se o deslocamento das residências de alguns proprietários para a rua General sampaio: José Eustáquio Vieira (no14) e Hildebrando Pompeu de Souza Brasil (no 82) Na rua da palma

verifica-se a presença de alguns negociantes: comendador João Antonio Machado (n-102, esquina com a praça do Ferreira), Richard P. Hughes (no 64) e John Willian Studart (no 27). O imóvel mais

caro da rua pertencia ao pequeno comerciante José Felix de Almeida442 (no 84, valor do imposto

144$000); o segundo, a Diogo José da Silva (no 71, valor do imposto 129$000); e o terceiro ao

Barão de Aquiráz (no 86, valor do imposto 120$000).

O comércio também convivia com residências na rua Formosa, marcada pela presença de grandes comerciantes - antônio Gonçalves Justa (no 94), luis ribeiro da cunha (no 70), severiano

ribeiro da cunha (no 84). Os cinco imóveis mais caros pertenciam ao barão de aquiráz (no 37,

imposto 84$000, no 103, no 105 e no 104, imposto de 60$000 cada).

O cartão postal de 1909, mostra um trecho da atual rua Barão do Rio Branco e representa a coexistência de usos na área central da cidade (Figura 90).

Pode-se concluir que após ter se estabelecido o regime republicano443, Fortaleza continuou com o

processo de modernização social e tecnológica. As transformações na vida urbana com a chegada de linhas de bondes elétricos (1913) e do automóvel (1909), da rede de esgotos, de abastecimento de água, da iluminação elétrica, o fornecimento de energia em instalações privadas contribui para a transformação da vida urbana. O comércio se apresentava com bases mais sólidas “em parte pela importância já adquirida pelo seu mercado consumidor, em parte pelo estabelecimento de relações diretas com mercados estrangeiros, através da importação de artigos finos” (TINHORÃO, 1966:25). O centro foi então definido enquanto tal, tornando-se o lugar do comércio, dos serviços e do lazer, com a inauguração do teatro José de alencar (1910) e dos cinemas polytheama, (1911),

majestic (1917) e moderno, (1920). É um período de intensa efervescência cultural fortalezense,

com o surgimento de várias associações cientificas e literárias: Clube Literário444 (1886), Instituto

441 Litografias (5), marmorista, alfaiataria (2), fotografia,

barbeiro e cabeleireiro (3), encadernação (3), bauleiro, chapeleiro, funileiro, ourivesaria.

442 Pequeno comerciante, possuía uma taverna na rua da Palma

73 e outro imóvel na rua Formosa 85 no valor de 40$000.

443 Não deve ser esquecido o fato de que o Estado enfrentou

seguidas secas: 1877-79, 1888 e 1900. Todas provocaram “o

fluxo de volumosas correntes migratórias para a Amazônia, então vista como terra de enriquecimento fácil e rápido por via da exploração da borracha” (CASTRO, 1992:71).

444 Tinha por objetivo “promover e activar o progresso intelectual

de seus associados, só podendo, por isso, enfileirar-se nele os homens realmente dados às letras” (BARREIRA,1986:117).

445 Segundo Tinhorão no Instituto Histórico reuniam “os mais

velhos e mais responsáveis ligados, na maioria, às famílias dirigentes da Província”, enquanto “os moços, representantes da novíssima geração da classe média, eram absorvidos pela Escola Militar, dentro do espírito previdente das famílias remediadas de onde se originavam, e cujo maior desejo era lhes ´garantir o futuro”, ao passo que “os literatos da geração de ´novos`, isto é, os intelectuais não aquinhoados com a distribuição da cargos administrativos, levada a efeito pelos beneficiários da Republica, iriam alardear a sua disponibilidade na Padaria Espiritual, com a preocupação de épater lês bourgeois” , finalmente o grupo de

espírito mais pratico e descontentes “com a dispersividade de

alguns componentes da nova associação, a Padaria Espiritual"

direcionaram para o Centro Literário (1966:65-66).

CAPÍTULO 3 | O PAPEL DA INICIATIVA PRIVADA NA APROPRIAÇÃO E PRODUÇÃO MATERIAL DAS ÁREAS PLANEJADAS

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Figura 89: Exercício de reconstituição cartográfica - Fortaleza 1911: Recorte espacial na cidade de Fortaleza – usos. Autora: Margarida Andrade. Mapa Base: Planta da cidade da Fortaleza capital da

Província do Ceará levantada por Adolpho Herbster, Ex engo da provincia e Archo apozentado da Camara Municipal, 1888.

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do Ceará (1887), Escola Militar (1889), Academia Cearense de Letras (1894), Fênix Caixeiral (1891), Padaria Espiritual (1892), Centro Literário (1894). Assim “à volta de cada uma das novas instituições vinham grupar-se elementos também novos, segundo suas diferentes ‘tendências’ e ‘inclinações’445, isto é, mais exatamente, segundo a direção a que os encaminhava a sua posição na

escala social” (TINHORÃO, 1966:65).

A arquitetura adquire novos aspectos morfológicos, resultado desse processo de mutações, “assim, começam a aparecer tanto casas de esquina como entrada pelas `travessas´ como casas situadas no meio dos quarteirões com a entrada recuada com alinhamento da rua” (CASTRO, 1987:219). A sede da sociedade assistencial e cultural - Fênix Caixeiral (1905) é um exemplo, localizada na praça Marquez de Herval com a rua Guilherme Rocha que reproduzia o novo padrão de casas de esquina com entrada lateral (Figura 91).

antonio pinto nogueira accioly446 (1896-1900 e 1904-1912) assumiu o controle político do

Ceará, enquanto a Intendência da capital estava a cargo do coronel Guilherme rocha (1892-1912). Algumas obras de modernização foram realizadas, como a remodelação das praças - Ferreira, Marques de Herval (atual José de Alencar), da Sé, Praça Fernandes Vieira447, - e do calçamento de

alguns pontos da cidade. Os melhoramentos urbanos pautavam-se no Código de Posturas de 1893, então em vigor, nas linha dos Códigos sanitários vigentes nos demais centros urbanos do Brasil.

Em 16 de agosto de 1909, foi prorrogado por mais 35 anos o prazo concedido à Ceará Gas Company Limited, de Londres, para a exploração do serviço de iluminação pública de Fortaleza, ficando obrigada a substituir o atual sistema de iluminação pelo de incandescência, no prazo de três anos448.

446 Cria também a Faculdade de Direito em 1903. 447 Foi realizado o calçamento em 1908 (1.558m). 448 Mensagem do Presidente do Estado de 1911. CAPÍTULO 3 | O PAPEL DA INICIATIVA PRIVADA NA APROPRIAÇÃO E PRODUÇÃO MATERIAL DAS ÁREAS PLANEJADAS

Figura 90: Cartão Postal de 1909, mostrando o trecho da atual Barão do Rio Branco no sentido do Passeio Público. Destacam-se as casas com 5 portas, 4 portas e 3 portas, alguns sobrados e os transportes: bonde puxado a burro e as carroças.

Fonte: Coleção Nirez.

Figura 91: Sede da Fênix Caixeiral, associação dos empregados do comercio, datada de 1905. Localizava-se na esquina rua Municipal (atual Guilherme Rocha) com a rua General Sampaio. Fonte: Coleção Nirez.

Quanto à arquitetura, é indispensável um exame mais atento nas obras construídas neste período até os primórdios do século XX. “As construções em Fortaleza, com raras exceções, eram executadas com alvenaria de tijolos, como aliás no restante do País, usando-se a madeira para o travejamento das cobertas, forros e pisos” (DIOGENES, 2010:101). Com a integração do Ceará ao mercado internacional, as inovações tecnológicas advindas da Revolução Industrial chegam à Província: “um fenômeno completamente novo na arquitetura: os edifícios importados, produzidos pela industria” conseqüência das “ novas condições de transporte, criadas com a instalação das ferrovias e linhas de navegação fluvial (REIS, 1970:156).

a alfândega nova449 (1884-1891) é um exemplo das inovações tecnológicas então em curso.

Construída pela empresa concessionária dos serviços do porto, “Ceará Harbour Coporation”, “mostrava uma aparência pesada, com uns toques de arquitetura vernacular britânica em pedra” (CASTRO, 1987:217). No entanto, seus elementos construtivos eram colunas, escadaria, balcões, corrimãos e gradis fornecidos pela empresa Walter Mac Farlane & Co, de Glasglow, a mesma da

futura obra do Teatro José de Alencar (Figuras 92 e 93).

O mercado de Ferro450 é outro exemplar. Trata-se de um “mercado aberto”451 e “constitui-se

também de um valioso testemunho da portabilidade da arquitetura do ferro” (SILVA, 1986:171). Situado na praça José de Alencar (antiga Carolina), em frente à Assembleia Provincial, dispunha-se

em dois pavilhões paralelos ligados por uma rua coberta de cinco metros de largura. A estrutura metálica fabricada nas oficinas “Guillot Pelletier”, de Orleans, é composta de 16 colunas internas de ferro fundido e 28 colunas externas. Manifesta uma elegância “graças à abertura de suas fachadas, guarnecidas por grades de ferro em quase toda sua altura e à esbelteza das colunas que suportam as delgadas treliças de coberta” (SILVA, 1986:171) (Figuras 94, 95, 96, 97 e 98).

A igreja do pequeno Grande localizada ao lado do Colégio da Imaculada Conceição452, inaugurada

em 1903, é mais um dos poucos exemplares remanescentes, e segue tendências estéticas do ecletismo, com padrões neogóticos.Liberal de Castro pressupõe que a origem da estrutura metálica seja de procedência belga e o autor do projeto e construção de isaac correia do amaral

CAPÍTULO 3 | O PAPEL DA INICIATIVA PRIVADA NA APROPRIAÇÃO E PRODUÇÃO MATERIAL DAS ÁREAS PLANEJADAS

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Figura 94: Mercado de Ferro de Fortaleza. O desenho da fachada mostra o partido dos dois pavilhões ligados por uma rua coberta. Fonte: CAPELO, 2003.

Figura 92: Evolução formal do edifício da Alfândega de Fortaleza. Fonte: http://www.ofipro.com.br/preservando/alfandega.htm

Figura 93: Av. Pessoa Anta. À direita destaca-se o trilho do bonde e a Alfândega, em 1908.

Fonte: Coleção Nirez.

Figura 95: Rua Floriano Peixoto, à esquerda o “Mercado de ferro” inaugurado em 18.04.1897.

Fonte: Coleção Nirez.

449 Edifício tombado pelo Patrimônio Estadual em 2005. 450 Em 1938, o Mercado foi desmembrado, sendo transferido um

dos pavilhões para a praça dos Pinhões e o outro para a praça São Sebastião, posteriormente para a praça da Aerolândia.

451 Classificação sugerida por Geraldo Gomes da Silva, 1986.

452 Antigo Colégio das Irmãs inaugurado em 1857 “para

servir de hospital aos moradores do Outeiro caso fosse esta capital invadida pelo cólera-mórbus” (BEZERRA DE MENEZES,1992:85), foi posteriormente designado Casa de Educandos e em 1866 passou a funcionar o Colégio das Órfãs e depois o Colégio da Imaculada Conceição.

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em parceria com o engenheiro escocês Robert Gow Bleasby(CASTRO, 1992:75), (Figura 99 e 100).

Segundo descrição de Liberal de Castro,

A igreja consta de nave única, vencida por pórticos de perfis metálicos em H, cujos trechos correspondentes à coberta apresentam forma pontiaguda, objetivando a formação de abas de telhado bastante íngremes. Um feixe de meios-porticos se reúne na cabeceira posterior da igreja, criando uma espécie de abside poligonal. Forte cabos de aço funcionam como tirantes destinados a absorver os empuxos, ajudados por pequenas rosáceas lobuladas que servem de elementos de reforço estrutural, beneficiando a hiperestaticidade dos pórticos. [...] Contornada exteriormente por paredes de alvenaria de tijolos sem função estrutural. [...] A coberta, íngreme, é revestida com telhas plana de ardósia, material cuja imitação entrou em moda nos avarandados de muitas casas fortalezenses na época (1992:74).

O teatro José de alencar é mais outro exemplar, espécie de “teatro de jardim”, seu projeto concilia estrutura de ferro com alvenaria de tijolo453 (Figura 101 e 102). Foi construído em 1910,

no governo oligárquico de Antônio Pinto Nogueira Accioly, com estrutura metálica fornecida pela casa Walter Macfarlane & Co, de Glasglow, na Escócia. Segundo Mensagem à Assembléia Legislativa

do Estado do Ceará em 1908,

Tornou-se uma verdadeira aspiração popular a construção de uma casa de espetáculos nesta capital. Convencido da sua necessidade e dos resultados indirectos que as diversões artísticas podem trazer ao nosso desenvolvimento social, resolvi, fundado na Lei no 768, de 20 de agosto de 1904, encommendar aos Srs. Boris Fréres,

de Pariz, um theatro de ferro, de acordo com a planta organisada pelo 1o tenente

Bernardo José de Mello. A encommenda foi executada com todas as regras d´arte, e o Governo já se acha de posse do material férreo, [...]. O theatro obedece ao typo dos theatros-jardins, sendo composto de quatro secções (1908:12)454.

O projeto do bloco de acesso, em dois pavimentos, foi realizado por Bernardo José de Mello (1868- 1910) “segundo os ditames do decorativismo eclético” (CASTRO, 1982b: 8). O pavimento superior é destinado ao foyer “com excelente disposição acústica, de modo que deva ser utilizado para concertos, conferencias e sessões literárias” (MENSAGEM, 1908:15).

Segundo palavras de Liberal de Castro,

Trata-se do mais notável remanescente da arquitetura metálica do país, proposta artística ligada às concepções Art Nouveau, pelo menos na traça do frontispício. A caixa do palco é de autoria do arquiteto mineiro Herculano Ramos455 (1856-

1928) que, estando em Natal a projetar e construir o teatro Djalma Maranhão, veio ao Ceará cooperar na construção do teatro José de Alencar (1982b:8).

No plano estadual, alguns administradores da década de 1920 merecem destaque: Justiniano

de serpa456, ildefonso albano457 (1920-24) e José moreira da rocha458 (1924-1928). Eles

CAPÍTULO 3 | O PAPEL DA INICIATIVA PRIVADA NA APROPRIAÇÃO E PRODUÇÃO MATERIAL DAS ÁREAS PLANEJADAS

453 Implantado na praça Marquez de Herval (atual José de

Alencar), entre o quartel do Batalhão de Segurança e a Escola Normal.

454 http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1449/000012.html

(pesquisado em 08.01.2012).

455 Diplomado no Rio de Janeiro pela Academia de Belas Artes,

“figura como o primeiro arquiteto de formação profissional explicita em atividade no Ceará” (CASTRO, 1982b:8).

456 Justiniano de Serpa (1852–1923), jornalista, bacharel em

Direito (1888) na Faculdade de Direito de Recife, deputado geral pelo partido conservador entre 1882-1889 e um dos fundadores da Academia Cearense de Letras.

457 Ildefonso Albano ( 1885-1957) foi prefeito de Fortaleza, de

1912 a 1914 e de 1921 a 1923 e governador do Ceará, de 12 de julho de 1923 a 12 de julho de 1924.

458 José Moreira da Rocha (1869–1934) governou o Ceará de

1924 a 1928. Bacaharel em Ciências Jurídicas na Faculdade de Direito do Recife.

459 Entre 1923 e 1924, Adolfo Gonçalves de Siqueira como

presidente da Câmara Municipal assume interinamente a Prefeitura.

460 Álvaro Nunes Weyne (1881-1963), comerciante, eleito na

primeira eleição de voto secreto em 1928 e afastado do cargo pela revolução 1930. Estudou no Ginásio Cearense e no Instituto de Humanidades. Casou-se com Maria José Rodrigues Weyne. Fundador do Centro Espírita Cearense em 1910 e Presidente do Rotary Clube de Fortaleza, dirigiu o Asilo de Mendicidade e a Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza. Primeiro Grão-Mestre da Grande Loja Maçônica do Ceará entre 1928 e 1932.

Figura 97: As três estruturas metálicas do antigo “Mercado de Ferro” de Fortaleza. Cartão Postal por volta de 1910.

Fonte: Coleção Nirez.

Figura 96: Rua Floriano Peixoto, à direita o “Mercado de Ferro” desmontado em 1938.

imprimirão maior ritmo às obras publicas, arrefecido na administração de José Carlos de Mattos Peixoto (1928-1930)” (CASTRO,1987:230). Merecem também destaque os intendentes e prefeitos459 nomeados pelos presidentes do Estado nesse período, ildefonso albano (1921-

1923), Godofredo maciel (1924-1928) e alvaro Weyne460 (1928-1930).

A administração estadual de Justiniano de serpa (1920-23) e do ildefonso albano (1923-24) foi marcada pela modernização do sistema educacional, consequentemente, foram construídos novas instalações de edifícios escolares. Os primeiros grupos escolares da capital dentro desse plano educacional foram o Visconde do Rio Branco e Fernandes Vieira (atual Juvenal Galeno). Projetado por Armando de Oliveira, estabeleceram um padrão de arquitetura “dita ´tradicionalista` pelos seus prosélitos, porém mais conhecida por neocolonial, não passava de uma tentativa de criar uma versão de uma tentativa de criar uma versão nacional do ecletismo arquitetônico ”(CASTRO, 1987:231) (Figura 103 e 104). Por outro lado, duas outras escolas foram projetadas por José Gonçalves

da Justa (1870-1944) - Grupo Escolar do Benfica461 (Figura 105 e 106) de “feição classicizante”,

(1923) (atual Faculdade de Ciências Econômicas) e a Escola Normal (1923). A Escola Normal está situada no meio da praça Figueira de Melo, fazendo conjunto com o Colégio Imaculada Conceição e a Igreja do Pequeno Grande. Segundo o jornal O Nordeste “o estylo da composição é flamengo moderno. A sua composição lembra a nova biblioteca de Lausanne” (apud CASTRO, 1987:240). Destaca-se a escadaria de entrada “entalada entre dois torrões do tipo klokgevel (empena-relógio), que por certo lhe caracterizam o ´estylo flamengo` (CASTRO, 1987:240) (Figura 107 e 108). Na mesma época, foram realizadas obras públicas importantes, como a construção da Ponte de