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ORGANIZAÇÃO MUNICIPAL DE FINS DO IMPÉRIO à PRIMEIRA república

Na primeira República (1889-1930), o algodão permaneceu a principal economia, mas a Abolição da escravidão não condicionou o fluxo imigratório de estrangeiros, o que

3.2 ORGANIZAÇÃO MUNICIPAL DE FINS DO IMPÉRIO à PRIMEIRA república

Como visto, a partir da Independência (1822), foi implantada uma nova organização político- administrativa no Império, que persistiu até o advento da Republica. O Ato Adicional (1840) alterou a Constituição de 1824, eliminando o Conselho do Estado, criando as Assembléias Provinciais com grandes poderes, como por exemplo o de “fixar as despesas municipais e das províncias” e “lançar os impostos necessários ao atendimento dessas despesas, contanto que não prejudicassem as rendas a serem arrecadadas pelo governo central” (FAUSTO, 2006:87).

Segundo Faoro,

O segundo Reinado, cuja centralização será sua nota essencial, ruiu quando os suportes dessa realidade política e administrativa entraram em colapso. A exaustão do trabalho servil e o crescente aumento do contingente assalariado puseram em risco a teia comercial e creditícia armada na corte (2008:521).

O Decreto no 4.644, de 24 de dezembro de 1870, ampliou os poderes dos presidentes de províncias por

meio de nomeações e demissões e, no transcorrer da segunda metade do século XIX, estes foram “os agentes do poder central na gestão dos assuntos politico-administrativos, econômicos e judiciários” (LE- MENHE, 1991:108). Outra medida importante no Império foi a aprovação, em janeiro de 1881, da Lei Saraiva, que propunha uma reforma eleitoral, estabelecendo o voto direto para as eleições legislativas.

A centralização imperial não era mais possível- o esteio que a mantinha de pé, na década de 80, estava partido. A abolição deu-lhe o golpe fatal, não porque arredasse do trono a classe agrícola, mas ao romper o esquema tradicional da agricultura comercial, vinculada ao crédito, negócio de intermediação exportadora, e, com ela, o estamento político. Retornar a ela, como no fim da Regência, seria impossível, por falta dos suportes do poder (FAORO, 2008:526-7).

Com o advento da República em 1889, instala-se uma nova organização político-administrativa, referendada pela Constituição Federal de 1891. Observa-se no artigo 68 que “os Estados organizar- se-ão de forma que fique assegurada a autonomia dos municípios, em tudo quanto respeite ao seu peculiar interesse”. O texto do decreto inaugural de ordenamento jurídico republicano, de 15 de novembro de 1889, estabelecia no artigo 1o como “forma de governo da Nação Brasileira a Republica

Federativa” e versava no artigo 2o sobre as ex-províncias que passariam a partir de então a compor

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Figura 60: Anúncio do suco de caju, 1913. Fonte: Almanak Hénault, 1913.

os Estados Unidos do Brasil. No artigo 3o estabelece que “cada um desses Estados, no exercício

de sua legitima soberania”, decretaria oportunamente a sua Constituição. O Governo Provisório, por meio do Decreto no 7(20.11.1889), extinguiu as assembléias provinciais, fixando os poderes

dos governadores, “competentes para exercerem também em caráter provisório funções executivas e legislativas”310. O Decreto no 29 (03.12.1889) estabeleceu uma Comissão com o propósito de

elaborar um Anteprojeto de Constituição, para ser enviado à Assembléia Constituinte.

A primeira Constituição republicana é promulgada em fevereiro de 1891 e a Constituição Política do Estado do Ceará311 foi promulgada em 12 de junho de 1892. Como consequência da Proclamação

da Republica, as Câmaras Municipais foram dissolvidas e substituídas pelos conselhos de

intendência municipal. O Decreto no 3-A de 15.01.1890, cria o Conselho de Intendência Municipal

em substituição às Câmaras, até a promulgação definitiva da Constituição dos Estados Unidos do Brasil e do Estado Confederado do Ceará. No lugar dos vereadores, foi nomeado um Conselho “composto de cinco membros. Sob a presidência de um d´elles, eleito na primeira sessão de cada mez” (Art.1o), com a incumbência de “fixar a receita e despeza publica dos municipios, com aprovação do

governo” (§ 1o), “ordenar a despeza e arrecadar as rendas” (§ 2o) e “fazer executar todas as obras

municipaes”, além de fornecer a policia administrativa e econômica, assim como a tranquilidade, segurança, comodidade e saúde de todos os seus habitantes (§ 4o). O parágrafo 5o acrescenta

como atribuição “rever, alterar, substituir, revogar os actuaes editaes e posturas municipaes, creando novas se assim o exigir o bem publico do municipio”. Cabia ainda ao Conselho de Intendência “o exame e a syndicância de todos os actos da camara dissolvida, de todos os contractos existentes, providenciando nos termos das leis vigentes, ratificando ou annulando quaesquer delles, ainda que estejam em execução”312, reservando ao Governo Provisório o direito de restringir, ampliar ou

suprimir quaisquer dessas atribuições.

A Constituição Política do Estado do Ceará, de 12 de junho de 1892313, determina a Câmara

Municipal como principal responsável pelos órgãos da administração municipal, composta de vereadores, um intendente na sede do Município, “funções executivas e tantos subintendentes quantos forem os districtos em que a camara dividir o municipio”. Os vereadores deveriam eleger dentre eles o intendente e os subintendentes seriam eleitos pela Câmara Municipal, composta de dez vereadores314. São atribuições da Câmara Municipal “deliberar, resolver e legislar sobre

qualquer assunpto que entenda com a policia, economia e administração local de accordo com a Constituição do Estado e a da União” (art.101). Quanto às ações do Intendente, eram “prestar contas annualmente de sua administração, no primeiro dia da primeira sessão da Camara, apresentando semestralmente o balanço da receita e despeza, com a demonstração e documentos comprabatórios” (art.106 - item 4). Além disso, “apresentar relatorios, orçamentos dados estastisticos, relativos aos serviços, obras, bens e negócios municipais” (art.106 - item 5). A Lei de 5 de setembro de 1895 redefiniu a competência das Câmaras Municipais para taxar o exercício de industrias e profissões, porém sem exceder a terça parte da importância dos lançados pelo Estado, proibindo a taxação sobre o transito de produtos de um município para outro (MENSAGENS, 1896:28). Mesmo assim, quase todas as Câmaras do Estado “tem entendido que são completamente soberanas, continuando a não ligar grande importância às leis” (MENSAGEM, 1896:28). “Essas irregularidades, porem,

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310http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/

tesesabertas/0014242_02_cap_03.pdf.

311 A Constituição do Estado conferiu ao Poder Legislativo, e

não aos conselhos municipais, o direito de elaborar a sua lei orgânica, definindo os seus poderes, especificando as suas funções (MENSAGEM, 1900:9).

312 Decreto 04.01.1890, artigo V. 313 TITULO VI - Município

314 Os cargos de vereador, intendente e subintendente não são

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confio, serem sanadas pela proxima execução da lei no 264, de 26 de setembro ultimo, que conferiu

ao Presidente do Estado a faculdade de nomear e demitir livremente os intendentes municipais” (MENSAGEM, 1896:28). Observa-se, pois, uma divisão do Poder Legislativo da Câmara315 (que

delibera), e do Poder Executivo e administrativo (exercido pelo intendente), entretanto a Câmara ainda era a responsável por medidas relativas ao espaço urbano.

A lei do Estado do Ceará no 1.190, de 5 de agosto de 1914, promoveria outra alteração, substituindo o

nome do intendente municipal pelo de prefeito. Casimiro Ribeiro Brasil Montenegro (1864-1947) foi o último intendente e o primeiro prefeito de Fortaleza com mandato de 1914 a 1918. A lei no 764, de 12 de

agosto de 1904, altera o art. 96 da Constituição Estadual, que dava aos vereadores a faculdade de eleger entre si o Intendente, passando então os prefeitos municipais a serem nomeados pelo Presidente do Estado. A Lei no 1.942, de 14 de novembro de 1921, dispõe sobre a organização municipal, e determina

que a Camara “é o poder deliberativo do município e compor-se-á de 12 vereadores na capital, de 9 nas cidades e de 7 nas vilas” enquanto “o prefeito é o chefe do governo executivo do municipio”. Ambos são eleitos por sufragio direto e maioria de votos do eleitorado do município (art. 15 e 27). A Constituição Estadual de 1925 deine que os prefeitos e a Câmara “são eleitos por suffragio directo do eleitorado do municipio, aquelles por dois annos e estas por quatro, exceto o Prefeito da Capital que é de livre escolha do Presidente do Estado” (art.89).

3.3 LEGISLAÇÃO SANITÁRIA E URBANÍSTICA ENTRE 1865 E O CÓDIGO