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Em term os ideológicos é salientar cada vez m ais, as tendências «econom icistas» e «hum anistas» da orientação profissional. N esta óptica, segundo Jean G uichard (2002; 2005) são quatro os princípios que sustentam, actualm ente, as práticas de orientação:

I o- U m a concepção individualista da sociedade.

As sociedades ocidentais são “individualistas”, no sentido em que se espera que cada um cuide si próprio em relação ao seu sucesso profissional, fam iliar e social. C onsequentem ente, as práticas da orientação centram -se no sujeito. N esta perspectiva, questionar-se-á o seguinte: o que é que o indivíduo deve fazer da sua vida.

Para aliviar um pouco este panoram a egocêntrico, seria correcto perguntar o que é que o sujeito enquanto mem bro de uma com unidade deve fazer por ela, um a vez que ela é a sua esfera de sobrevivência (G uichard, 2005).

2o- A responsabilidade do próprio para encontrar uma resposta face ao seu projecto de vida.

N esta asserção, surgem as frases do tipo “descobre quem queres ser e constrói-te a ti m esm o”. Com sociedades cada vez mais diversificadas, algum as com m ais ofertas em detrim ento de outras, o sujeito pode abandonar as suas origens e to m ar-se mais autónom o, à procura de novas formas de vida, circunscrito às suas próprias capacidades e habilidades. A m obilidade poderá ser mais um a vez a alternativa.

3o A centralidade na actividade profissional na construção da identidade, bem com o na sua integração social.

P elas transform ações verificadas desde o final do século passado, no que diz respeito ao tem po dedicado ao trabalho constata-se, efectivam ente, um a dim inuição do m esm o. A realização pessoal através das actividades laborais cede o seu lugar aos m om entos de prazer e realização por via de outras actividades, com o o voluntariado, por exem plo.

N a opinião de autores, com o Rifkin, Meda, Perret, Laville, a escassez cada vez m aior de em pregos, potenciará outras formas de realização pessoal, tais com o o envolvim ento em actividades culturais, com unitárias e internacionais.

Em bora se encontre opiniões que divergem desta perspectiva, com o é o caso de Y ves C lot (1999, in G uichard, 2002), que segundo ele, o sujeito prefere-escolher a sua actividade profissional e ficando em sintonia com as suas actividades extra- profissionais. Com efeito, am bas existem de forma coerente com as características do próprio sujeito. A actividade profissional acaba por ser, em últim a instância, um dom ínio social, com o qual o sujeito se identifica.

A lgum as investigações recentes sublinham que o trabalho continua a ser um instrum ento poderoso de autonom ia e de integração psicossocial, tendo a sua hegem onia em relação aos am igos, cultura e lazer. Apenas a fam ília se sobrepõe à dim ensão profissional. Significa isto, que estar empregado atribui um estatuto social dando ao sujeito um sentido de dignidade e levando os outros a respeitá-lo.

N o caso dos desem pregados, bem como, das pessoas destituídas de um estatuto profissional, verificam -se p o r vezes, sentimentos de hum ilhação, pelo que se. sentem envolvidas num a nova form a de exclusão social (Shnapper, 1998). Com o se pode constatar, a actividade profissional continua a ser entendida com o um a das fontes m ais im portantes e fundadoras do sentido para a vida humana.

4o A concepção do m undo com o entidade incerta e instável.

O em prego para toda a vida já não faz parte das m etas deste novo século, dado que a possibilidade de se trabalhar na mesma instituição/organização até à idade de reform a desvanece na actualidade. Efectivamente, são as em presas e as industrias que passam pela vida do sujeito neste mom ento, uma vez que, o tem po de vida é m uito curto para algum as em presas (caso não sejam com petitivas com parativam ente a outras à escala mundial).

É neste contexto de m udanças que as práticas da orientação profissional têm que se ajustar, de form a a poderem apoiar os desem pregados e em pregados na gestão das suas carreiras profissionais. Coexistem , de form a considerável, um a série de fenóm enos com rupturas, não só no cam po profissional, m as também a nível fam iliar, geográfico, social, entre outros, im plicando a ocorrência de reajustam entos sucessivos. O sujeito confronta-se, assim , com situações cujas estratégias a adoptar terão de ser a curto prazo.

Com efeito, a orientação profissional tem de considerar o efeito dos vários fenóm enos de ruptura considerados por «transições», tal como defende D enis Pelletier e B em adette D um ora (1984, p. 28), citado por G uichard (2002). As actuais práticas da orientação não podem , por isso, deixar de ensinar às pessoas «estratégias a curto prazo» e «ajustam entos sucessivos» (p. 7). N este registo, é de salientar o papel do processo do Balanço de C om petências, pois, perm ite criar um tempo e espaço de reflexão onde o adulto reflecte sobre as suas experiências. N ão se trata de ensinar propriam ente dito, mas poder-se-ia dizer, que se “dá a cana da pesca (em vez de se darem os peixes) ”, para que a partir daqui, o sujeito possa reiterar os seus ensinam entos e aprender com os mesmos.

G uichard, (2002) evidencia alguns trabalhos de autores contem porâneos, tais com o R iveran-Sim ard, 1996; Boutinet, 1998; Dubar, 2000. A centuando o facto das «carreiras profissionais» reflectirem mais um caos do que um desenvolvim ento vocacional, ou seja, que o desenvolvim ento de form a contínua desvanece em prol do descontínuo.

Do m esm o m odo, a perspectiva do pensam ento educativo defende, actualm ente, os valores da pessoa, bem com o, a sua liberdade, autonomia, responsabilidade pessoal e social, a construção da sua identidade e aquisição de em pow erm ent (no sentido de atribuir poder a si m esm o), no decurso da sua formação ao longo da vida. São, pois, alguns dos valores dom inantes, quer no âm bito da educação e form ação de adultos, quer ao nível das práticas da orientação profissional. De realçar, A m brósio, 2004, quando afirma: “ a com plexidade da form ação enquanto realidade social im plica um a formação com plexa, que além do m ais é uma realidade pessoal” (p. 23). C onverge com esta opinião M orin (2002), defendendo que os m odelos de desenvolvim ento das sociedades actuais, cada vez m ais, se enquadram numa abordagem com plexa da realidade.

3. C iclos de vida e o desenvolvim ento pessoal e vocacional do adulto

Pelo exposto no ponto anterior, é im portante frisar as questões inerentes ao desenvolvim ento vocacional do adulto e aos seus ciclos de vida, pois será no processo de construção de sentido que o sujeito vai fazendo os seus reajustam entos ao longo da sua vida. Desta form a, tom ar-se-á em consideração as características do sujeito, o que significa que face à realidade física e social, o sujeito na sua idiossincrasia, procura, questiona e experim enta, organizando os seus esquem as cognitivos. Daí resulta uma transform ação das suas representações e, consequentemente, u m a reconstrução do seu m undo pessoal, form ativo e laborai. Pelo conseguinte, através de um m odelo cíclico do desenvolvim ento vocacional (figura na página seguinte), im plica um a dinâm ica de questionam ento e de exploração, no seio da qual vão em ergindo pequenos projectos que se vão reform ulando e a partir dos quais, em ergem outros, num processo constante de construção pessoal. Deste m odo, pressupõe-se a existência de m om entos de acção/diferenciação e tam bém m om entos de reflexão/integração, ancorados por uma relação segura, apoiante, m as tam bém desafiante, com a qual os sujeitos exploram a sua relação com o m undo, constroem significados para os seus projectos de vida. É num contexto de vinculação percebido como seguro, que o sujeito tem encontrado as condições favoráveis para a expressão de sentimentos, exploração e integração das suas experiências e o suporte necessário para o risco envolvido na experim entação de novas alternativas de pensar, sentir e agir sobre a realidade (Coimbra, C am pos & Imaginário,

RECONSTRUÇÃO TRANSFORMAÇÃO

D esen v o lv im en to v o ca cio n al e v id a adulta: V iana, A., 2005 (A daptado a p artir d e C am pos & C o im b ra, 1991)