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Contributos do Balanço de Competências na compreensão do desenvolvimento vocacional do adulto

6. O papel dos conselheiros dé orientação profissional no BC

Uma vez já m encionadas as características inerentes ao trabalho desenvolvido no program a BC, bem com o as suas origens e o seu futuro no âm bito da orientação profissional desenvolvida em Portugal, nos CE, referir-se-á, igualm ente o papel dos CO P durante o acom panham ento os desempregados.

É im portante referir o papel do COP de acordo com Jordão ( 1995), no que diz respeito às suas intervenções ao longo do BC que consistem em:

- criar as “ forças” de m anutenção e de relação do grupo;

- m otivar os participantes para os objectivos a alcançar para todos, levando-os a tom ar consciência da im portância das tarefas e das questões que são colocadas no decurso das sessões;

- levar os participantes a colocarem questões a partir das suas experiências concretas e não a partir de “ideias feitas” ou “ lugares comuns” ;

- valorizar os sentim entos e em oções pessoais e estar atento ao contexto sócio-cultural dos participantes. Cada um tem a sua “história de vida” m uita própria, bem com o o seu quadro de referências;

- dar a conhecer ao grupo a sua função não directiva, de apoio e estim ulo da iniciativa; criatividade e espontaneidade do grupo, evitando tom ar decisões pelos seus m em bros; - procurar que os participantes se comprometam na procura de soluções m ais adequadas; não dando “ respostas prontas” às questões levantadas, mas devolvendo-as ao grupo.

O papel do conselheiro de orientação profissional é, fundam entalm ente, pedagógico e de acom panham ento. De referir ainda, que não é o COP que orienta, é o participante que se orienta a partir da informação recolhida sobre si próprio e sobre o m eio envolvente, com o resultado das dinâmicas im plem entadas ao longo das sessões do BC. O trabalho de acom panham ento permite ao participante descobrir por ele próprio, progressivam ente, as realidades que lhe dizem respeito e não deverá atribuir ao CO P a responsabilidade para a consecução do processo. Os participantes vão evoluindo, cada um ao seu ritmo, ou seja, se passaram anteriormente por fases da sua existência em que souberam dar uma resolução satisfatória ou, no caso de outros, existiram os sentim entos de rem orsos, arrependim ento, nostalgia, resignação ou outra forma de aborrecim ento,

que poderão dom inar e contam inar o “estado de espírito” actual e com prom eter, assim, o seu futuro. Poderão igualm ente surgir m om entos de redescoberta, preconizados por um a atitude existencial de sabedoria (Boutinet, 1988).

Em suma, o COP no desem penho da sua função dinâm ica e hom eostática, junto do grupo, vai introduzindo algum as informações conducentes ao processo de

aprendizagem da cada participante. Ele próprio como investigador/anim ador

circunscreve-se num processo de construção, m ediante a procura, a exploração e a investigação.

O grupo, por seu lado, tem uma função tranquilizante e facilita todo este processo dinâmico. As aprendizagens são também o fruto das interacções entre os vários m em bros. O novo conceito atribuído à noção de adulto (anos oitenta), fruto de “ novas m udanças sociotécnicas” , conform e afirma Boutinet (cit in C aspar e Carré, 2001, p. 189) passa de uma lógica unitária para uma lógica global. O adulto passa a definir-se dentro dc uma perspectiva dinâmica, isto é, associado à noção de um sistem a com plexo e inacabado, com elem entos em interacção (os outros).

F u n çõ e s técnicas do COP

O enfoque, actualm ente, atribuído ao papel do CO P, passa m ais pelo reconhecim ento das suas com petências relacionais e qualidades hum anas, do que propriam ente, pelas capacidades técnicas, assente na criação de um a “ aliança”, de form a a estabelecer uma relação de ajuda na (re) construção do projecto de vida do sujeito/co nsulente.

As funções técnicas do COP caminham no sentido de fazer prevalecer a orientação profissional nos adultos numa perspectiva de orientação educativa e, não apenas, numa perspectiva de adaptação ao m undo do trabalho. O trabalho do C onselheiro é um trabalho de mediação humana, isto é, realiza várias tarefas desde, ajuda, acom panham ento, aconselham ento, avaliação e prestação de inform ação, m ediante o recurso a técnicas, m étodos e instrumentos, mas consciente de que a vontade de m udar pertence ao utente (cliente), conforme defende C. Rogers (1961).

A função do COP é, no fundo, a de ajudar e acom panhar, centrado na escuta, de cada um. com intuito de com preender como é possível auxiliar a pessoa a percorrer um determ inado caminho.

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No contexto do BC é, pois, o adulto que faz a prospecção e exploração dos seus adquiridos em m atéria de form ação e experiências vividas contribuindo assim , para o desenvolvim ento da sua autonom ia. Desta forma, o sujeito expressa as suas intenções quanto à possibilidade de construção de um projecto pessoal e profissional, quiçá, no futuro, com a perspectiva de realizar uma formação e/ou reconhecim ento de com petências escolares e profissionais.

Pelo exposto ao longo deste capítulo, a orientação profissional pode ser pensada com intervenção educativa, tal com o defendido por Ambrósio (2004), sustentada em “ percursos alternativos e integrados baseados em princípios éticos, form adores da

Pessoa H um ana Integral, constituindo sujeitos históricos e participativos” (p. 31), e não

apenas com um papel de ajustam ento aos processos de mudança de uma sociedade. Com o desaparecim ento de algumas profissões e a im plem entação de novas form as de trabalho, em erge a necessidade de se pensar a orientação profissional numa linha de gestão e desenvolvim ento da carreira profissional ao longo de toda a vida. Com efeito, o Balanço de C om petências como instrumento de trabalho nesta perspectiva pode increm entar m om entos de reflexão e auto-fonnação. O processo de reflexividade é, igualm ente, im portante neste contexto formativo inerente ao processo do Balanço de com petências, na medida, em que ajuda os adultos a tomarem consciência das suas aprendizagens, desencadeando assim, atitudes mais participativas, em detrim ento dos com portam entos de consternação, associados, por vezes à situação de desem prego.

Em últim a análise, a orientação profissional pode ser entendida com o um processo contínuo, de forma sistem atizada, integrada e individualizada.

Síntese:

A ctualm ente, as finalidades da OP não passam apenas pela avaliação das potencialidades do sujeito, centram -se, igualmente, nas características e oportunidades do m ercado de trabalho, numa perspectiva de gestão de carreira. R econhece-se, assim , a im portância dos factores externos, bem como a capacidade dos sujeitos construírem novas com petências a partir das suas vivências e aprendizagens experienciais. Desta forma, o sujeito é visto com o um ser inacabado, na sua esfera dinâm ica e em construção perm anente (Erickson, 1982; Boutinet. 1997; Couceiro, 2000).

CA PÍTU LO IV; AS O PÇ Õ ES E ABORD A GENS M ETO D O LÓ G ICA S

“A prática precisa da avaliação como os peixes precisam de água e a lavoura da chuva”

(Paulo Freire, 1989)

Introdução

Uma vez apresentados os fundamentos teóricos da investigação nos prim eiros capítulos, apresentar-se-ão as opções m etodológicas consideradas na realização do trabalho em pírico, bem com o a justificação das técnicas de recolha e tratam ento dos dados. São igualm ente apresentados, de forma sucinta, os pressupostos teóricos que estiveram na génese da investigação.

A abordagem utilizada pelo investigador depende sem pre da finalidade da investigação, pelo que as opções m etodológicas correspondem à necessidade de com preender as suas interrogações (estas, são apresentadas sob a forma dc questões orientadoras), m otivo pelo qual foi utilizada a m etodologia qualitativa para a realização do trabalho em pírico, tal com o justificado no ponto 2, deste capítulo.

O quadro teórico de referência da presente investigação circunscreve-se por um lado, às correntes da educação e formação de adultos, e por outro, às correntes do desenvolvim ento do ser hum ano, subjacente à teoria hum anista no cam po da Psicologia, dado que as práticas de orientação potenciam o desenvolvim ento pessoal e social do sujeito. Importa realçar que de acordo com Rogers (1985) e Freire (1993) o desenvolvim ento do hom em pode ser sustentado por ele próprio, atingindo a sua própria m aturação vocacional e reconhecim ento das aprendizagens. N este m esm o contexto, é de reconhecer igualm ente a im portância dos m odelos da educação e form ação de adultos no seu desenvolvim ento, num a perspectiva psicodinâm ica (Erickson, 1982) em que o desenvolvim ento decorre ao longo da vida está dependente das oportunidades proporcionadas pelo meio e pelas aprendizagens adquiridas.

A pesar do tema do estudo se centrar nas questões do desem prego e form ação/desenvolvim ento do adulto, não se pretende com preender o fenómeno do desem prego em si, corno factor de exclusão social. Pretende-se, sobretudo, com preender o que se passa com um adulto, desem pregado e inscrito num Centro de Em prego (CE),

depois dos trinta e cinco anos. N este contexto, tenta-se com preender, sim ultaneam ente, o papel da orientação profissional com o uma intervenção educativa, e não apenas como um papel de ajustam ento aos processos de m udança de um a sociedade.

R elem bram os a questão de partida desta investigação: em q u e m edida o Balanço de Com petências, no contexto da orientação profissional é um instrum ento potenciador na reorganização da vida pessoal e profissional dos'desem pregados?

Assim, as práticas da orientação profissional desenvolvidas pelos conselheiros de orientação profissional são, no fundo, estratégias de acom panham ento aos candidatos inscritos nos centros de em prego. O program a de orientação profissional, utilizado no presente estudo, designado po r Balanço de Com petências (BC), é um instrum ento de trabalho ancorado num a linha desenvolvim entista/construtivista.

O trabalho do BC apresenta-se numa perspectiva descritiva, explicativa e com preensiva, com vista ao reconhecim ento das aprendizagens e à valorização da auto- estim a, potenciando a dim ensão form ativa do adulto.

Em sum a, o BC visa proporcionar ao sujeito conhecer-se, reconhecer-se, de form a a gerir os seus saberes adquiridos pessoais e profissionais, conform e defendido por Jordão (1995).