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A designação de e-Health, numa perspetiva mais internacional, pode ser designada através de uma tradução mais literal para o português como e-Saúde ou ainda como é designada na documentação da União Europeia por «saúde em linha».

Mas, afinal, o que se entende por e-Saúde? Este conceito, de acordo com Espanha (2009), vai mais além do que a simples procura de informação sobre saúde na internet incluindo novas e diferentes possibilidades de tratamento médico, a procura de outras fontes de informação alternativas e de políticas que sejam inovadoras. Ou seja, constituirá a aplicação das tecnologias da informação e da comunicação a toda a gama de funções e de serviços que intervêm no setor da saúde (EU, 2004). Neste sentido, Rys (2010), refere que a e- Saúde representa muito mais que tecnologia pois, na sua opinião, a e-Health vai implicar novas formas e dinâmicas nas atividades laborais, diferentes atitudes que vão implicar um compromisso para a implementação de redes numa perspetiva mais global e mais abrangente. Quer isto dizer que a e-Saúde não se confina apenas à utilização da internet mas antes à inclusão de ferramentas para as autoridades e para os profissionais da área da saúde, para os doentes e para os cidadãos. Esta questão tem a ver com o conceito utilizado por Shilling (2002) e por Henwood et al (2003), que corresponde ao conceito de ‘paciente informado’ mas que, apesar de poder estar informado, continua a responsabilizar o seu médico assistente sobre o seu estado de saúde. Na opinião de Espanha (2009), surgem novas formas de comunicação onde existe uma transmissão e troca de informações que terão que ser forçosamente partilhadas por todos os indivíduos envolvidos no processo que deverá ter como objetivos a promoção de ações de prevenção ou de promoção, de ações para dar a conhecer necessidades, permitir e incentivar a troca de informações, crenças, de estabelecer entendimentos, criar e manter relações para que estejam presentes todas as condições no sentido de se proporcionarem melhores cuidados de saúde e uma melhor promoção da saúde em estreita ligação com o paciente e o seu médico. É também a opinião de Glascok e Kutzik (2006) que enfatizam a importância da e-Saúde como

sentido de poderem melhorar e incrementar os cuidados de saúde no seio da residência de cada um, especialmente, para os idosos no sentido de contribuírem para um melhor conforto e uma melhor qualidade de vida. Tal como ainda afirmam estes autores, a e-Saúde pode proporcionar uma maior independência aos cidadãos (idosos) pelo facto de poderem recolher informações a distância de uma forma menos «intrusiva».

As principais ferramentas da e-Saúde compreendem redes de informação sobre saúde, sobre os registos digitais de saúde, sobre os serviços de telemedicina, sobre os portais de saúde, sobre os dispositivos pessoais que monitorizam os doentes e sobre todos aqueles dispositivos que se enquadram no apoio à prevenção, ao processo de diagnóstico, nos tratamentos e nas consequentes monitorizações (ex: estado cardíaco dos doentes). Como ainda refere Espanha (2009), o principal papel da comunicação na saúde pode ser enquadrado em três níveis:

1. Melhorar os cuidados de saúde nos casos das doenças crónicas e agudas. 2. Promover a redução dos impactos socioeconómicos, raciais, étnicos ou em doenças específicas nos respetivos cuidados de saúde.

3. Melhorar uma efetiva promoção da saúde e na sua prevenção.

O que se pretende é que estas ferramentas tecnológicas/digitais possam agregar a análise e o armazenamento de dados clínicos em toda a sua diversidade, com informações atempadas ´à medida’ dos cidadãos que as requerem e que delas necessitam. Como é defendido por Raeve (2010), este manancial de informação só será útil se as informações puderem ser partilhadas entre as diferentes instituições de saúde e se puderem chegar a todas as áreas geográficas, principalmente, às mais remotas. Ao mesmo tempo, estas ferramentas tecnológicas/digitais permitem o acesso às mais recentes descobertas científicas e podem (devem) também ser canais de comunicação e de colaboração entre diferentes instituições, organizações e profissionais do setor da sade para a partilha e cooperaão. É esta ‘deslocalização’, a possibilidade de se aceder em qualquer lugar (desde que haja numa ligação à internet que esteja acessível e disponível) aos registos e/ou história do doente com o acesso aos exames e aos diagnósticos anteriores podem ajudar, por exemplo, no caso de cirurgiões, a serem mais céleres na preparação de intervenções com um alto nível de urgência. No caso dos radiologistas, com a possibilidade da imagiologia digital, vem criar ‘outros espaços de trabalho’, com um alargamento do local de trabalho (EU, 2004). Para uma melhor perceção destas novas

hipóteses de trabalho, passa-se a apresentar a Figura 3.1 que representa, em termos percentuais, as intervenções médicas com a utilização da Internet:

Gráfico 3.1: Intervenções médicas, em valores percentuais, com a utilização da Internet em diferentes países da

União Europeia (Eurobarometer, 2002).

Da observação do Gráfico 3.1 pode constatar-se que há alguma discrepância entre os diferentes países da União Europeia mas deve ressalvar-se o facto destes dados corresponderem ao ano de 2002 e que foram o ponto de partida para a criação de um Plano de Intervenção com alterações organizacionais e com o desenvolvimento de novas competências para uma prestação de melhores cuidados de saúde, com menos custos mas mais centrados nos cidadãos. De acordo com as premissas do referido Plano, esta centralidade no cidadão deve respeitar as diversidades de cada país, as suas tradições e as suas culturas.

Na opinião de Wilson (1997) podem existir quatro diferentes modelos ou condutas de procura de informação na Internet:

1. ‘Atenção passiva’, onde a procura e aquisião da informaão não  intencional.

2. A ‘procura passiva’ quando se verifica que um dado comportamento permite a aquisição de algum tipo de informação que é relevante.

3. ‘Procura ativa’ quando se verifica uma intencionalidade clara e objetiva na obtenão de informação.

4. A ‘procura em decurso’ que vem na sequência de uma procura ativa onde um dado

Internet and Health

% Medical Practices connected to the Internet. June 2002

0 % 10 % 20 % 30 % 40 % 50 % 60 % 70 % 80 % 90 % 1 00 % 9 8% 97 % 94% 89% 76 % 72% 6 5% 57 % 57 % 5 4% 50 % 4 8% 42 % 40 % 2 4% S UK FIN DK F NL I A IR L LUX B E D P EL

mais ou menos ocasionais permitem ou a atualização da informação ou a obtenção de informações complementares.

Estas diferentes condutas podem estar relacionadas com os níveis de literacia do cidadão que pode ser mais ou menos capacitado para a obtenção da informação que procura ou que necessita. Nos dois primeiros casos, pode-se depreender que não há, de forma intencional, o tratamento da informação e/ou a existência de uma filtragem da informação o que poderá levar a algum desnorte e confusão. Nos dois últimos casos, depreende-se a existência de uma grande sobrecarga da informação, com níveis mais altos de interatividade e que pode levar a maiores níveis de esclarecimento e de conhecimento. De acordo com Thomas (2006), a comunicação em saúde pode realizar-se nos seguintes níveis: 1. Individual. 2. Rede social. 3. Organizações. 4. Comunidade. 5. Sociedade. Esta comunicação não contradiz Wilson (1997), vindo reforçar a tese de que as atividades de comunicação e de procura de informação em saúde, que são objetivamente deliberadas e pensadas, poderão ajudar os indivíduos a melhor compreenderem o seu estado de saúde, a dos seus familiares e, também as necessidades da sua comunidade para que possam maximizar práticas que proporcionem o bem-estar.

Como é afirmado por Espanha (2009), a internet surge como uma plataforma que permite a criação de redes e de projetos que podem ser individuais ou coletivos mas que transforma a saúde, em termos individuais, e a saúde numa esfera organizacional, mais abrangente e mais ecltica. O fluxo de informaão  ‘colossal’, quer pela enormíssima diversidade das suas fontes, quer pela enorme variedade de canais de informação onde todos interagem (ou podem interagir) com todos, ou seja, com médicos e outros profissionais de saúde, com colegas, com familiares, com amigos, com ‘internautas’ e com comunidades virtuais, vem fazer com que haja um incentivo para que cada um se venha a tornar mais responsável pela sua saúde e pala saúde daqueles que lhes estão mais próximos (Kivits, 2004). Criam-se, portanto, novos contextos relacionais entre o paciente e o seu médico. Se, por um lado, o médico tal como já se descreveu, passa a dispor de um manancial de informação sobre o seu doente através das ferramentas tecnológicas/digitais, o doente, por seu lado, ganha um novo estatuto e/ou uma nova autonomia pela informaão que j consultou, uma espcie de ‘empowerment’ que  agora proporcionado ao doente (Friedman, 1996). Este novo contexto deve rentabilizar todos os aspetos positivos que acarreta no sentido de poder aproximar mais o doente do seu médico atravs de um ‘consentimento informado’ do doente em relaão s decises do seu mdico.

Pois, como é afirmado por Espanha (2009, 33), se as tecnologias são domesticadas pelas pessoas e se moldam aos seus padres e matrizes, “() a sade enquanto valor da sociedade contemporânea cruza-se também com a forma como domesticamos a tecnologia em função dos nossos interesses e necessidades, marcando desse modo a nossa forma de lidar com a saúde atravs das tecnologias da comunicaão e da informaão.” Quer isto dizer que o mdico constitui um ‘elemento-chave’ e fundamental na ligaão que os cidadãos promovem com a informação que se encontra disponível em formato online mas numa perspetiva dinâmica na relação que se estabelece entre o médico e o doente para a construção de uma autonomia através da recolha de informação sobre saúde que possa ser encontrada e disponibilizada em todos os meios. Contudo, como adverte Kivits (2004), o incentivo e a utilização exaustiva da internet só será possível de existir uma certeza da qualidade e da credibilidade dos conteúdos que são disponibilizados que poderá ser uma realidade se forem desenvolvidos esforços em soluções de certificação para que os utentes se sintam seguros para poderem aproveitar e utilizar os recursos numa perspetiva mais dinâmica e mais interativa.

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