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Enquadramento das TIC e potenciais vantagens para os cidadãos mais idosos

3. As TIC e a sua relação com os cidadãos mais idosos e o processo de envelhecimento ativo

3.1. Enquadramento das TIC e potenciais vantagens para os cidadãos mais idosos

Na opinião de Hazzlewood (2000) há uma clara e muito próxima relação entre o processo de envelhecimento e as TIC no que diz respeito ao seu impacto na economia, no mercado do trabalho, na educação e no lazer. E este crescimento do número de idosos vai promover, consequentemente, um maior interesse relacionado com a aprendizagem ao longo da vida através da utilização das TIC como forma de poder promover um envelhecimento mais saudável ou até, no caso dos cidadãos no ativo, permitir que estes possam continuar integrados na sua profissão garantido o seu local de trabalho. Ou seja, a aquisição de competências digitais não tem apenas como consequência permitir aceder às TIC mas também e, fundamentalmente, incrementar a sua independência e desta forma melhorar a sua autoestima e a sua qualidade de vida.

Na opinião de Selwyn et al (2003), a presente sociedade da informação e do conhecimento é, ao mesmo tempo, uma sociedade do envelhecimento e, por esse facto, as TIC tem que constituir um pré-requisito ‘natural’. Algumas das razes que são apontadas compreendem as seguintes dimensões: a) As TIC podem ser consideradas intergeracionais porque são capazes de interagirem positivamente com todos os cidadãos, sem exceção; b) Conseguem fazer uma cobertura em todos os aspetos sociais pela sua capacidade de poderem apoiar e auxiliar qualquer cidadão; c) São pluralistas e permitem a interação e a comunicação estreitando os laços entre os cidadãos, entre as instituições e permitem ainda uma intervenção mais ativa e cívica. Constituem, pois, a possibilidade dos cidadãos mais idosos poderem “() reconnect or improve their connection with the outsider world (Selwyn et al, 2003, p. 563)”.

Neste âmbito, Gamberini et al (2006) chegam mesmo a afirmar que as TIC ao permitirem um contacto mais fácil entre familiares e amigos vêm proporcionar condições para uma maior

segurança a todos os níveis pelo apoio que podem facultar. Este apoio é tanto mais importante para quem estiver mais isolado e para quem sofra de problemas de saúde crónicos onde a possibilidade de se poder dar um apoio emocional via ligações wireless/online representa uma enorme vantagem das TIC pelo facto de proporcionarem um sentimento de um maior bem- estar. Esta função das TIC é geralmente designada por ‘tecnologia assistiva’ como sendo qualquer dispositivo digital que possa aumentar, manter ou melhorar o desempenho de um indivíduo que tenha algum tipo de limitação com vista a um aumento das suas relações interpessoais, numa melhor comunicação com os demais. E, com refere Borges (2006), com uma maior participação social e com uma maior e melhor independência. Neste particular, as atuais redes sociais digitais poderão constituir uma hipótese bastante válida na complementação e concretização destes objetivos. Neste sentido, Dickinson e Gregor (2006), Harley e Fitzpatrick (2008) e Amaro e Gil (2011) são de opinião que o incentivo a um maior envolvimento social dos idosos é um aspeto a promover, chegando mesmo a admitir que a presença de um cidadão mais idoso numa comunicação online tem um impacto muito positivo para toda a comunidade (jovens e mais idosos). Também a comunicação offline, no caso particular do e-mail é também apresentada como um aspeto vantajoso que vem, tal como no caso anterior, propiciar a comunicação podendo manter-se um contacto mais estreito com familiares e amigos, de uma forma informal, com custos relativamente baixos e que não exige uma resposta imediata, podendo o idoso tomar o tempo que entender, sem pressões, para poder responder quando assim o entender, entendido como uma forma ‘apenas’ complementar de poder comunicar com os outros (Dickinson e Hill, 2007). Contudo, apesar de terem uma posição semelhante, Crossan et all (2001) propõem que quer o e-mail quer a comunicação online possam e devam servir para mais coisas para além da comunicação com os outros como, por exemplo, utilizar a comunicação mediada por computador para recolher informações sobre assuntos das suas áreas de interesse e para poder interagir de forma direta (ex: e- banking; e-government; e-commerce).

Há alguma tendência em se desvalorizarem as experiências adquiridas pelos cidadãos mais idosos durante o seu processo de envelhecimento. Esta perceção é muitas vezes associada à seguinte expressão: «You cannot teach an old dog.» Neste particular, Hazzlewood (2000), Fox (2004) e Amaro e Gil (2010), são de opinião que esta assunção é errada e que se trata de um mito que se gerou em torno dos cidadãos mais idosos o que pode ter como consequência o facto de se privarem estes cidadãos de novas oportunidades e de novas experiências de vida.

mais idosos por se considerar que as TIC estão associadas aos cidadãos mais jovens. Do mesmo modo, Boulton-Lewis et al (2006) e Gil e Amaro (2011), reafirmam e realçam a importância das experiencias vivenciadas e das competências adquiridas pelos cidadãos mais idosos junto dos mais jovens numa forma complementar em relação às TIC e respetivas valências.

As atuais (e futuras) mudanças demográficas propiciam elas mesmas mudanças nas formas como os cidadãos usam as TIC, principalmente, pelo fato das TIC se tornarem praticamente indispensáveis nas atividades e rotinas do quotidiano não apenas nas atividades laborais mas cada vez mais na forma como influenciam os estilos de vida e nas comunicações estabelecidas com familiares e amigos (Goodman-Deane e Keith, 2008). Quer isto dizer, tal como defendem Barnett e Adkins (2004), que as TIC se encontram integradas, ou melhor, incorporadas no seio das comunidades e nas suas rotinas e, como tal, fazem «parte das vidas de cada um» e de cada estilo de vida. Ou ainda como refere Hazzlewood (2000), as TIC são ‘pervasive’, o que leva a que tenham que ser usadas de forma sensata e inteligente. Lobet-Maris e Galand (2004) também fazem referência a esta caraterística mas vão um pouco mais longe ao referirem a necessidade ou a importância daquilo a que estes autores denominam de «domestication». Esta opinião é também partilhada por Jaeger (2004) ao referirem que esta «domestication» corresponderá a um processo de apropriação, de incorporação e de conversão no âmbito das rotinas do dia-a-dia. No mesmo sentido, Selwyn et al (2003) referem também que, atendendo à parafernália tecnológica digital existente (televisões, gravadores de vídeo, máquinas fotográficas, telemóveis, faxes,..) só se têm que encorajar os cidadãos mais idosos a utilizá-los: é única solução! Para Lobet-Maris e Galand (2004) esta problemática pode resumir-se aquilo a que denominam por ‘personal equation’, a qual engloba três variveis responsveis por aquilo que cada um pretende ou não fazer com as tecnologias, quando, como e em que circunstâncias:

a) A utilidade do ‘objeto’: Esta utilidade tem uma relação direta com as potencialidades que determinado dispositivo tecnológico possui para a melhoria das rotinas diárias e a sua adoção mais ou menos imediata (curto prazo).

b) A sua complexidade: Este ponto tem a ver com a representação que se tem no sentido de se perceber qual o esforço que terá que ser despendido na aquisição das competências relacionadas com a sua manipulação.

c) A norma social: Este aspeto tem uma relação com a pressão social que é exercida sobre todos os cidadãos sempre que se trata de uma novidade que se entende tenha que ser incorporada na ‘teia’ dos relacionamentos e atividades socias.

Cada estilo de vida tem uma ligação direta com a forma como cada qual se relacionou em termos sociais, assim como, as suas atividades lúdicas e de lazer. Neste contexto, não se deve escamotear a forma e as iniciativas e atividade que desenvolveu no âmbito das suas aprendizagens. Tal como é afirmado por Hodkinson, Ford e Hawthorn (2008), a aposentação constitui um processo de mudança mas também representa um processo de aprendizagem ao tomarem contato com novas situações, novas oportunidades e também com novos obstáculos. Perante todas estas alterações os idosos poderão ter uma atitude mais reativa ou proactiva dependendo das variáveis em questão. Neste processo tem-se verificado que para aqueles cidadãos idosos que apresentam algum interesse nas tecnologias e na educação há uma maior predisposição para a aprendizagem. Para outros cidadãos idosos que tem uma relação mais afastada da educação, mas que possuem uma relação mais próxima com as tecnologias, apresentam uma atitude que se tem mostrado capaz de reduzir as barreiras associadas à aprendizagem. Pois, na atual sociedade o processo de aprendizagem modificou-se passando- se de um processo de aprendizagem que era mais solitário e/ou individual para um processo que cada vez é mais interativo e colaborativo.

No que diz respeito às TIC e, como referem Ala-Mutka et al (2008), alguns termos, tais como, ‘re-skilling’ e ‘up-skilling’ estão conotados não com uma apreciaão pejorativa mas antes como uma nova realidade fruto da introdução das TIC em meio laboral e em meio social. Este facto é que vem reforçar a necessidade de todos os cidadãos terem que adquirir competências digitais para poderem usufruir e para poderem ter uma adequada inclusão social: «infoinclusão». Em termos gerais, na opinião de Rosa (2012), o conhecimento não é encarado como um valor concorrencial, ou seja, o conhecimento é tanto maior quanto maior for o número de indivíduos que o possuírem. Neste sentido, o conhecimento não está subjugado a barreiras artificiais, tais como, a nacionalidade, sexo e a idade. No caso dos cidadãos mais idosos, todo o capital de sabedoria e de experiência, adquiridos no decurso das suas vidas são e podem constituir uma mais-valia para o sucesso coletivo tendo os cidadãos mais idosos, neste particular, um potencial decisivo e crucial. Neste sentido, Xie (2006) e Ala-Mutka et al (2008), reforçam a

necessidade de se manterem e de se estimularem os cidadãos mais idosos para uma aprendizagem ao longo da vida, em particular, as TIC pelo facto de não terem tido uma grande exposição a estas enquanto cidadãos ativos. Hazzlewood (2000) afirma mesmo que encorajar os cidadãos mais idosos a manterem-se informados e a continuarem a aprender criam condições para uma melhor relação com as inovações (e com as TIC, em particular). Estas aprendizagens irão promover a aquisição de novos conhecimentos relacionados com aspetos ligados à saúde, à realização de atividades práticas do dia-a-dia, tais como, as ligações online que envolvam jovens e/ou idosos de forma a que se sintam devidamente integrados independentemente da sua idade. Nesta linha de pensamento, Hodkinson, Ford e Hawthorn (2008, p. 7), a este propósito referem: “() when a person experiences changed changed life circumstances after retirement, they are becoming through learning, as they learn to adapt to those circumstances () retirement itself is a process of becoming, and learning is an integral part of that process.” Do mesmo modo, Bindé (2007) reitera o facto da ‘infoinclusão’ não se reportar apenas a uma ligação ou acesso mas fundamentalmente a uma questão relacionada com conteúdos, com informação e com o conhecimento. Pois, os conteúdos e a informação que estes possuem é que poderão gerar novos conhecimentos pelo que Bindé (2007, p. 29) refere ainda que: “It results from the nowlege divide as much as from the digital divide, and relates to educational, cultural and linguistic barriers that make the [ICT] alien and inaccessible to population groups marginalized by globalization.”

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