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4.1. O caso da Telemedicina

A Telemedicina, atendendo à sua definição, pretende utilizar os sistemas informáticos para poder melhorar o acesso e a informação médica a fim de proporcionar mais e melhores cuidados médicos. Neste contexto, a Telemedicina pretende providenciar apoio médico eliminando barreiras físicas e/ou geográficas a fim de poder chegar a cidadãos que se encontram mais isolados, com a utilização de diversas tecnologias sem qualquer tipo de restrição seja qual for o seu nível de educação, sexo, religião, etnia, faculdades físicas e/ou mentais e idade. Mas quando se pretende implementar este serviço no âmbito da União Europeia vários são os obstáculos que se têm que ultrapassar. Na opinião da WHO (2010), as questões legais representam o maior problema devido à ausência de um suporte legal que permita que médicos possam prestar os seus serviços em diferentes países, assim como, todo o enquadramento legal que salvaguarde a privacidade dos dados, a sua transferência e o seu armazenamento. Um outro espeto que se apresenta como prioritário, prende-se com o facto de não existir uma autenticação formal que ateste que aquele indivíduo é um profissional da medicina/médico. Uma outra questão prende-se com a necessidade de investimento em hardware e software adequado e que funcione sem falhas. Neste particular, os países mais subdesenvolvidos e alguns em vias de desenvolvimento, são aqueles que apresentam mais deficiências e dificuldades na implementação dos sistemas digitais. Este aspeto é um contrassenso, dado que a Telemedicina seria mais fundamental para estes países tendo em consideração as suas enormes carências em serviços médicos. Contudo, para os países mais ricos, a Telemedicina vai também exigir importantes recursos financeiros, tais como, a necessidade de uma manutenção sistemática dos sistemas digitais e uma formação e atualização adequada dos profissionais de saúde na manipulação e utilização desses recursos.

Outras questões mais gerais e de carácter sociocultural podem ser um obstáculo pelo facto da medicina ser encarada de uma forma mais tradicional, ou seja, sem um mediador, uma medicina que privilegia o contacto unívoco entre o médico e o seu paciente. Esta questão sociocultural pode ainda promover outros constrangimentos relacionados com a dificuldade ou impossibilidade de se encontrarem «pontes» que permitam descodificar a informação emitida a distância ou pelo facto dos médicos no local não disporem dos meios, dos equipamentos ou dos conhecimentos que lhes são veiculados.

Um aspeto que não se pode descurar e que pode ser altamente decisivo tem a ver com um consentimento tácito na utilização da Telemedicina por parte de todos os elementos envolvidos neste processo: as estruturas de saúde, os médicos e os pacientes/cidadãos. As estruturas de saúde porque serão estas que têm que disponibilizar recursos para a aquisição e manutenção dos equipamentos e que têm que conferir a respetiva certificação do serviço a disponibilizar. Os médicos que terão que receber formação e acreditar nas potencialidades da Telemedicina e que não sintam que esta possibilidade digital os possa levar para o desemprego pela redução de consultas presenciais. Os cidadãos/pacientes terão que encontrar na Telemedicina uma oportunidade e uma facilidade no acesso aos cuidados de saúde encarando o «computador» como um intermediário «inócuo» e que só lhe poderá trazer vantagens e mais conforto. Como é referido pela WHO (2010), o facto da Telemedicina ainda não ter conseguido mobilizar os políticos para a implementação de um enquadramento legal que a salvaguarde e que a institucionalize pode dever-se ao facto de ainda não haver um número significativo de evidências que testemunhem ou apoiem o seu uso que pode ter por base uma oferta ainda pouco significativa desta ou valência e/ou pelo facto dos próprios cidadãos não a requererem de forma mais sistemática. Investigações realizadas por Rice e Murero (2006) vieram demonstrar que apenas cerca de 11% dos cidadãos utilizam a Internet em detrimento de consultar o médico, valor que é ainda bastante reduzido e que demonstra a fraca implantação destes recursos digitais no seio da população.

Em resumo, passa-se a apresentar o Gráfico 3.2 que apresenta, de forma bastante explícita, as principais barreiras que estão na base da ainda fraca implementação da Telemedicina:

Gráfico 3.2: Principais barreiras na implementação da Telemedicina (Fonte: WHO, 2010)

4.2. Obstáculos de carácter mais geral

Dries et al (2006) são de opinião que as experiências relacionadas com a e-Saúde ainda são muito localizadas e em pequena escala pelo que tornam a sua visibilidade muito fraca. Esta situaão, na opinião de Gaβner e Conrad (2010), deve-se sobretudo ao facto da União Europeia ainda não ter sido capaz de introduzir mecanismos de regulação dos cuidados de saúde nos Estados Membros para que se possam harmonizar os procedimentos. Para ultrapassar esta situação seria necessário um maior investimento e novas formas de organização o que nem sempre é fácil de implementar se adicionarmos o facto das diferenças e dos contextos sociais, culturais, financeiros e organizativos de cada país da União Europeia. Para além destes factos, Gaβner e Conrad (2010), referem ainda a inexistência de um mercado e de uma indstria organizada que seja capaz de promover a distribuição de equipamentos digitais pelo facto de não haver uma regulamentação que identifique objetivamente níveis de qualidade e de usabilidade que possam promover confiança na sua aquisição por parte de terceiros. Ainda ao nível da União Europeia, a barreira linguística surge como uma barreira não somente ao nível

da comunicação propriamente dita mas também à difusão da investigação realizada a qual necessita de ser traduzida, com todos os custos que estão inerentes a este processo.

Um outro grande obstáculo, já referenciado anteriormente noutras secções desta investigação, diz respeito à grande heterogeneidade que o grupo dos cidadãos mais idosos representa associado, maioritariamente, ao facto de possuírem competências muito básicas ou praticamente inexistentes relativamente às tecnologias digitais. Pois, de acordo com EMPIRICA (2008), são geralmente os cidadãos pertencentes aos grupos mais carenciados e aos grupos de cidadãos mais idosos os que mais necessitam destes serviços (ex: doenças crónicas) que se encontram no grupo dos info-excluídos. Mas é também importante realçar o facto de nalguns casos a tecnologia ser disponibilizada sob a forma de uma «plataforma digital», onde se enfatiza a tecnologia em detrimento da componente socio-afectiva, o que vem afastar ainda mais os cidadãos idosos na adoção destes dispositivos. Pois, não se pode escamotear o facto do contacto que os cidadãos têm com os profissionais da saúde ser eminentemente afetiva e relacional. Como é referido por Leandro, Leandro e Rodrigues (2009), reforçam a importância do papel do médico quer em termos técnicos quer em termos relacionais (ex: confiança e fidelidade) podendo decorrer situações prejudiciais para a saúde perante uma perda de confiança ou de grande distância entre o médico e o doente. Neste sentido, os dispositivos digitais associados à e-Saúde têm que ser adaptados a estes cidadãos mais idosos através de um design que melhore a usabilidade para que eles sintam confiança e sintam que as suas necessidades e prioridades podem ser satisfeitas e, como consequência, sentirem que a sua qualidade de vida é melhorada. Neste contexto, Fox e Jones (2009) e Dries et al (2006), acrescentam ainda a necessidade dos serviços de e-Health contemplarem a possibilidade real de serem também utilizadas, de forma complementar, pelos seus familiares e amigos mais próximos pelo que o design deve contemplar esta possibilidade. Esta preocupação pode ser relacionada com um outro aspeto problemático que é reportado por Espanha, Cardoso e Araújo (2007) e que chamam atenção para o facto de muitas vezes o paciente/utente realizar pesquisas na internet sobre o seu caso clínico mas sem uma orientação adequada que pode até deturpar e confundir a informação que lhe foi veiculada pelos serviços de saúde e/ou médico. Para o efeito, é necessário que os serviços de saúde e/ou o médico possam ajudar os pacientes/utentes de forma a orientá-los e a proporcionar um apoio técnico nessas pesquisas para que este procedimento possa ser válido e ser devidamente rentabilizado e adequado. Como consequência de potenciais pesquisas menos bem-sucedidas o paciente/utente não sente e não constata que estes recursos lhe podem proporcionar benefícios e que os mesmos

não lhes transmitem segurança e validade o que leva a que não os utilize em momentos futuros (Jimison, 2008).

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