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Barreiras e desvantagens das TIC relacionadas com os cidadãos mais idosos

3. As TIC e a sua relação com os cidadãos mais idosos e o processo de envelhecimento ativo

3.2. Barreiras e desvantagens das TIC relacionadas com os cidadãos mais idosos

De um modo geral, é estabelecida uma relação direta entre «tecnofobia» e os «cidadãos mais idosos». Contudo, tal como é afirmado por Dickinson e Hill (2007), o que se passa é que entre os cidadãos mais idosos se instalam níveis elevados de ansiedade quando se trata das TIC, mas esta ansiedade não é consequência de uma atitude de tecnofobia mas tem como origem uma falta de conhecimentos, ou melhor, de competências/literacia digital. Uma outra causa, de acordo com Hazzlewood (2000), pode estar relacionada com uma formação prestada onde se sobrevalorizaram os aspetos técnicos por razões associadas ao tipo de hardware utilizado ou

pelo software com características comumente designadas de serem pouco intuitivas ou ‘friendly’.

Quando se associam as TIC aos cidadãos mais idosos há, de um modo geral, uma opinião consensual que relaciona as principais barreiras ou obstáculos com os seguintes fatores:

a) Problemas inerentes ao processo de envelhecimento associadas a perdas de faculdades físicas, motoras, mentais e/ou cognitivas: Como consequência do processo de envelhecimento, Hazzlewwood (2000) e Harley e Fitzpartick (2008) associam este problema relacionado à diminuição de interações sociais o que leva a um declínio dos seus padrões de qualidade de vida e a um maior isolamento. Na opinião de Dickinson e Hill (2007) esta situação pode ser ainda mais agravada pelo fato de muitos destes cidadãos mais idosos poderem encontrar-se internados (institucionalizados) em lares, o que leva geralmente a um maior isolamento e à perda de contatos anteriores já que algumas destas instituições se encontram longe do seu local de residência. Geralmente, esta situação costuma ser o resultado de uma perda ou diminuição não de apenas um aspeto mas à combinação da perda de várias faculdades o que faz com a utilização de dispositivos digitais tenha que ter uma grande flexibilidade e abrangência capaz de poder dar uma resposta adequada a uma multiplicidade de necessidades (Selwyn et al, 2003; Goodman-Deane e Keith, 2008; Eggermont e Vandebosch, 2010). Muitas das perdas dos cidadãos mais idosos reportam-se à acentuação das dificuldades cognitivas, de memória, perdas na audição e na visão, tremores generalizados, o que vem tornar mais difícil a manipulação de dispositivos digitais (Bean, 2004; Zaphiris e Kurniawan, 2007). Estas dificuldades encontram-se associadas a uma maior dificuldade na utilização do teclado e do rato (principalmente a função de duplo clique, a utilização dos seus botões e a velocidade de deslocação do cursor do rato), a dificuldade de executar ou posicionar o cursor em determinados locais do ecrã (por exemplo, a escolha de opções e de menus) que no seu todo originam grandes níveis de ansiedade que têm como resultado o abandono ou grandes sentimentos de frustração e de incapacidade que tornam ainda mais difícil a realização e novas tentativas (Bean, 2002). Outras situações que vêm acrescentar mais barreiras prendem-se, por exemplo, com a utilização de software numa língua estrangeira e ao certo tipo e tamanho das fontes que incrementam as dificuldades. Este tipo de situações são, de um modo geral, associadas aos estereótipos que relacionam os cidadãos mais idosos com um sentido de tecnofobia

que se tem que evitar a todo o custo e que leva Barnett e Adkins (2004, p. 4) a afirmar: “Older people’s self-perceptions are, therefore, a possible hindrance to their initial engagement with [ICT], and not to be discounted or confused with assumptions based on stereotypical ideas about their capacities.” Pois, de acordo com Ala-Mutka e Punie (2007), as competências para a aquisição de novas dos cidadãos mais idosos não se perdem, podem tornar-se mais lentas mas necessitam de uma maior e mais fácil direcionalidade e objetividade.

b) Falta de uma exposição e utilização anterior das TIC (infoexclusão): Para além de todas as perdas de faculdades inerentes a este processo de envelhecimento faz com que qualquer aprendizagem relacionada com as TIC seja mais lenta acrescida pelo facto de não terem tido experiências anteriores e estarem pouco familiarizados na utilização das TIC (Crossan et al, 2001; Selwyn et al, 2003). Esta situação pode levar os cidadãos mais idosos a nem sequer perceberem qual a vantagem e, principalmente, a utilidade prática das TIC porque para além dos custos inerentes à sua aquisição e utilização, o tempo requerido para as aprendizagens parecem exigir demasiado esforço em relação aos benefícios que podem ser recolhidos (Eisma et al, 2004; Morri set al, 2007). Neste contexto, é ainda frequente assistir-se a queixas dos cidadãos mais idosos relativamente à documentação (manuais) de difícil compreensão, pouco adaptados às suas necessidades, à falta de apoio continuado e, para alguns, as experiências pouco positivas que já puderam vivenciar podem agravar a sua motivação e predisposição para a sua posterior utilização. Associado a este aspeto pode ainda acrescentar-se o facto de se assistir a uma contínua e rápida evolução técnica (hardware) e até do próprio software o que faz com que os cidadãos mais idosos se possam sentir, de novo, excluídos pelo facto de não conseguirem acompanhar estas atualizações (Selwyn et al, 2003; Lobet-Maris e Galand, 2004). O caso relacionado com a formação é também tido como um obstáculo porque os idosos referem que o ritmo de ensino é demasiado rápido para as suas faculdades e pelo facto de muitas das aprendizagens requererem pré- requisitos que estes cidadãos não possuem o que torna este processo mais ‘doloroso’ e muito pouco eficaz (Bean, 2004). Este processo é ainda agravado pelo facto destes cidadãos terem coexistido nos seus locais de trabalho e nos restantes serviços com a introdução das TIC e, ao mesmo tempo, a utilização dos meios convencionais sem que

tenham tido suficiente tempo para se poderem acomodar a esta transição o que fez aumentar a confusão e até alguma desconfiança à introdução dessas práticas inovadoras (Hazzlewood, 2000; Chisnell, 2005; Arenas et al, 2009). Esta complexidade que é associada às TIC fazem com que estes cidadãos comecem a desenvolver alguma relutância na sua adoção (Lobet-Maris e Galand, 2004).

c) Inexistente ou muito fraca política da indústria em investir em TIC que sejam mais adequadas ou adaptadas às reais necessidades dos cidadãos mais idosos: É uma realidade o facto da indústria não ter em consideração as necessidades e as competências e literacia dos cidadãos mais idosos, menosprezando as idiossincrasias destes cidadãos (Hazzlewood, 2000). Também Selwyn et al (2003), Ala-Mutka e Punie (2007) e Harley e Fitzpatrick (2008) possuem a mesma opinião, ou seja, a indústria foca a sua atenção nos mais jovens (nativos digitais) pelo facto de terem neles a maior percentagem de consumidores e, ao mesmo tempo, de serem divulgadores das inovações que são comercializadas porque, ao invés dos cidadãos mais idosos, os jovens conseguem promover uma imediata incorporação das TIC nas suas rotinas. Este facto apresenta uma relação direta com as perspetivas de retorno do investimento a realizar pela indústria que no caso do mercado dos cidadãos mais idosos se sentir que muito dificilmente este retorno consegue colmatar o investimento realizado (Notess e Lorenzen-Huber, 2006). Esta situação é ainda reforçada porque muitas das TIC são desenhadas e concebidas para o mundo laboral no sentido de poderem incrementar a produtividade e eficiência, aspetos estes que não se coadunam com os objetivos e realidade de vida dos cidadãos mais idosos o que pode provocar ainda mais o seu isolamento devido a uma menor exposição às TIC (Harley e Fitzpatrick, 2008; Malanowski, Özcivelek e Cabrera, 2008).

Apesar de poder haver um sentimento de uma certa injustiça para com esta situação é importante não se esquecer que os idosos constituem o grupo de cidadãos mais heterogéneos com diferentes necessidades, prioridades e expetativas o que faz com que se sinta uma grande dificuldade no desenho de soluções/produtos digitais para estes cidadãos. Pois, de acordo com a opinião de Bean (2002) e de Gil e Amaro (2011b), dada a grande heterogeneidade deste grupo particular de cidadãos, não existe um ‘idoso típico’ e só percebendo quais os principais

fatores que afetam o processo de envelhecimento é que se poderão ter pistas para uma melhor adequação das TIC. Ou como afirma Jaeger (2004, p. 19): “() ICT does not have one single meaning for seniors.” Do mesmo modo, Mynatt e Rogers (2002), são de opinião que os cidadãos mais idosos têm cada um deles caraterísticas únicas pelo que um levantamento prévio das suas necessidades e requisitos se torna fundamental. Mas esta problemática é ainda acentuada pelo facto dos cidadãos mais idosos não terem uma grande capacidade de pressão e de reivindicação junto da indústria porque eles próprios, pelo facto de não terem tido uma ampla exposição e utilização das TIC não se sentem capazes e/ou habilitados a darem sugestões (Eisma et al, 2004). A existência de diferenças culturais entre os cidadãos mais idosos e os mais jovens fazem com que as adequações necessárias não sejam mesmo compreendidas ou sejam até menosprezadas por não constituírem necessidades atuais. Este problema é ainda mais acentuado, tal como referem Barnett e Adkins (2004), porque os investigadores e designers em TIC são também eles próprios jovens e, por essa razão, têm como prioridade as necessidades dos jovens porque se identificam muito melhor com as suas necessidades e prioridades. Um outro aspeto que é referenciado pela Comissão das Comunidades Europeias (2007b) reporta-se à proteção de dados pelo que os cidadãos mais idosos devem estar bem informados acerca dos riscos que podem por em causa a sua privacidade quando utilizam serviços em linha. Esta situação gera, de um modo geral, uma grande desconfiança indo ou podendo promover ainda uma maior afastamento das TIC.

Em termos mais gerais, não se pode esquecer outro tipo de problemas que os cidadãos mais idosos têm que enfrentar, em especial, aqueles que se encontram em zonas rurais, em zonas sem banda larga e para aqueles em que os custos associados à aquisição de equipamentos e ligação à internet se mostram difíceis de ultrapassar (Millar e Falk, 2000). Nestes casos, onde o isolamento se apresenta como principal barreira ao acesso à internet, tal como atestam investigações já realizadas, constituem uma boa forma de poderem proporcionar a estes cidadãos idosos uma vida social através desta rede digital (Swindell, 2000; Zaphiris e Kurniawan, 2007).

3.3. Propostas e estratégias para uma utilização sistemática e adequada das TIC

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