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Na opinião de Varela (2009), a informação e o conhecimento possuem uma forte componente social pelo que a sua criação, acesso e partilha vêm contribuir, de forma significativa, para o fortalecimento das comunidades e até de um país na perspetiva de que se possa gerar mais e melhor conhecimento. Mas para isso é necessário que essa informação seja bem utilizada e que os cidadãos possuam as competências necessárias e suficientes para a poderem usufruir. Para o efeito, Dudziak (2001) apresenta o conceito de ‘information literacy’ que vem implicar nos cidadãos o domínio de um conjunto de competências que lhes permitam avaliar a informação tendo em consideração vários critérios, tais como, a relevância, a objetividade, a pertinência, a lógica e a ética, para que possam fazer a incorporação desta informação selecionada e tratada nos seus conhecimentos, referenciais e valores. Só com o domínio e aplicação destas competências é que os cidadãos estarão aptos a realizarem intervenções inteligentes, com independência, com autonomia, com espírito crítico e numa perspetiva de aprendizagem ao longo da vida. É também esta a opinião de Neves e Santos (2009) e de Gil e Amaro (2011) ao considerarem que as pesquisas na internet devem ser realizados por cidadãos que estejam habilitados ao rigor e à flexibilidade da pesquisa referencial digital, com a priorização dos recursos de busca pois, caso contrário, a informação recolhida pode ter efeitos muito negativos. Não são apenas as competências tecnológicas mas, mais importante que estas, são as competências que os cidadãos devem possuir no sentido de serem capazes de explorar instrumentos intelectuais, desenvolvendo o espírito crítico e a autonomia nas pesquisas efetuadas na internet.

No caso concreto da e-Saúde é importante que a informação disponibilizada seja apresentada sem erros e acessível. O que se prevê, no futuro próximo, é que os dados e as informações de saúde eletrónicas passarão a ser partilhados entre os diferentes instituições e serviços de saúde e os cidadãos pelo que se torna necessária uma compatibilidade e interoperabilidade entre os diferentes sistemas. E, como adverte Cabrnoch (2010), a e- Saúde será necessária,

cada vez mais, para intervir em situações de tratamentos de longa duração decorrente do aumento da esperança de vida e do aumento do envelhecimento global. Cada vez mais haverá mais pessoas a viverem sozinhas e com maiores níveis de dependência pelo que a e-Saúde pode vir a desempenhar um papel relevante no apoio e na assistência médica para os mais idosos permitindo que estes possam permanecer nas suas casas com melhores níveis de qualidade de vida. Neste sentido, Espanha (2009) refere que é importante compreender como as instituições, os profissionais de saúde e os médicos de diferentes especialidades e em diferentes contextos sabem e/ou conseguem lidar com a interação que as tecnologias aportam com os diferentes públicos e, também, como os próprios médicos gerem a sua autonomia profissional no que diz respeito ao recurso das tecnologias digitais na sua prática clínica.

Os dados estatísticos são bastante claros em demonstrarem que o aumento da esperança de vida tem vindo a progredir num ritmo que se antevê continuar a verificar indo, naturalmente, estabilizando num valor médio de cerca de 2,5 por cada década e que tem como consequência o crescente aumento do número de idosos (Wilson, 2009). Os Gráficos 3.3 e 3.4, que se passam a apresentar, evidenciam esta tendência na EU-27 países membros no sexo feminino e no sexo masculino, respetivamente:

Gráfico 3.3: Esperança de vida na EU-27, no período compreendido entre 2004-2050, no sexo feminino

Gráfico 3.4: Esperança de vida na EU-27, no período compreendido entre 2004-2050, no sexo masculino

(Fonte: Eurostat, 2004)

Como se pode observar, essa tendência de aumento tem vindo a estabilizar sendo que, no sexo feminino, os valores são muito mais elevados o que faz antever uma sociedade bastante envelhecida. Mas esta realidade deve também ser encarada de um ponto de vista mais positivo, porque uma sociedade com mais idosos será certamente uma sociedade mais rica, mais instruída, portadora de mais conhecimentos e de experiências e, por estas razões, também deverá ser cada vez mais exigente. Como refere Bandeira (2009), este fenómeno do envelhecimento global não deve ser encarado nem como positivo nem como negativo mas sim como uma nova sociedade para qual nos temos que preparar e adaptar porque se trata de algo novo com que passámos a conviver. De acordo com o Ministério da Saúde (2004), o envelhecimento deve ser encarado como uma parte natural do ciclo da vida mas que seja possível proporcionar condições para que o processo de envelhecimento possa ser realizado de forma a permitir que se possa continuar a viver de forma saudável e autónoma o mais tempo possível. Mas este objetivo, tal como defende Gil (2012), só poderá ser alcançado se forem implementadas políticas que sejam mais sensíveis às necessidades das pessoas mais idosas para que se possam reduzir as suas incapacidades numa estratégia mais global através do envolvimento da comunidade, numa perspetiva de responsabilidade partilhada que possa potenciar os recursos existentes e estar mais próxima dos idosos.

Esta nova realidade tem que promover mudanças estruturais mais profundas. Estas mudanças têm que chegar às Escolas e às Universidades, é urgente que se reformulem os currículos e se

o envelhecimento, sobre a gerontologia, sobre o conceito de envelhecimento ativo. Como refere Kalache (2009), hoje sabemos tudo sobre a psicologia do desenvolvimento desde a infância até à idade adulta, mas nada ou muito pouco se aprende na forma como devemos lidar com os idosos. Para concluir, é importante reter a ideia que as tecnologias são importantes mas as pessoas são ainda mais importantes. Na opinião de Cardoso et al (2007, 39), as redes que são promovidas pelas tecnologias digitais são instrumentais e “() necessitam de definies prévias de objectivos e estratégias, sem o que não criarão culturas de redes formais, perpetuando culturas informais e laterais aos processos produtivos das instituies de sade.” O que a e-Saúde pode promover é que se possa passar da situação de ´pacientes’ mais ou menos informados, para o desenvolvimento de ‘cidadãos informados’ incrementando o seu bem-estar e qualidade de vida através da salutar interposição entre o paciente e profissional de saúde como também entre estes profissionais e, entre estes e as instituições de saúde numa perspetiva holística. Só deste modo será possível aos cidadãos poderem usufruir das potencialidades das tecnologias digitais quando cada indivíduo for capaz e/ou as conseguir integrar, naturalmente, nas suas práticas diárias. Pois, aquilo a que se tem vindo a assistir é a um crescente contexto de autonomia que abarca todas as áreas de ação dos indivíduos, criando-se condies para se passar de ‘paciente informado’ para ‘cidadão informado’ (Espanha, 2009). Pois, tal como afirma Castells (2003), a confiança «cega» e subserviente do paciente, conhecida por «Blind trust» seja substituída pela «Informed trust», num modelo informático onde o médico e o paciente terão que ser uma dupla que coopera e que se entreajuda.

Face ao exposto, é importante ressalvar que a e-Saúde deve, ao mesmo tempo, proporcionar os equipamentos, os mecanismos e os processos dos diferentes serviços de saúde com uma melhoria significativa dos mesmos, com uma maior eficiência e eficácia num contexto que terá sempre que envolver os profissionais de saúde e os utentes. Para o efeito, é necessário que seja facilitado o acesso aos idosos de todas estas ferramentas tecnológicas/digitais encorajando-os a aproveitarem o máximo das suas possibilidades para que seja reforçada a sua autonomia com saúde e continuarem a ser ativos na sua comunidade (Wintley-Jensen, 2009; Gil, 2012b). Neste contexto, torna-se importante insistir para que os mais idosos venham a adquirir a literacia digital que lhes confira a autonomia para acederem e utilizarem cada vez mais as tecnologias. Tal como é afirmado por Jimison (2008, 39), os idosos que tenham já um acesso à internet evidenciam uma maior confiança nas tecnologias e, em particular, nas

valências que estão associadas à e-Health: “The most frequente factor associated with increased use of the interactive consumer health IT was the patient’s perception of a health benefit.” Quer isto dizer que  importante que os idosos sintam, percebam e verifiquem que a utilização dos dispositivos inerentes à e-Saúde lhes confere benefícios. Mas, tal como já foi referido anteriormente, para que se atinja esta fase é necessário que todos os parceiros estejam devidamente envolvidos e não ter a tentação de replicar algumas soluções bem- sucedidas porque para cada caso há um contexto e variáveis que lhe são próprias e que podem servir «apenas» para proporcionar pistas ou sugestões para contextos diferentes. Esta é também a opinião de Dries et al (2006), que afirma que de um modo geral as iniciativas de «pequena escala» levadas a efeito por pequenos grupos têm sido positivas pela sua maior personalização e adaptação mais ajustada quando comparadas com iniciativas de «grande escala» onde os resultados obtidos são muito menos positivos.

O envolvimento de todos os parceiros  uma tarefa rdua e difícil trata-se de envolver diferentes setores, com stakeholders provenientes de diferentes áreas com prioridades e metas diferenciadas que necessitam de uma organização administrativa e uma liderança que seja transparente e objetiva. De acordo com indicações da WHO (2010), é importante o envolvimento de instituições do ensino superior e de agências de investigação para que se proceda a uma testagem, a uma avaliação e a processos que conduzam a práticas e processos inovadores e mais adequados. No entanto, é conveniente o envolvimento daqueles que mais diretamente irão utilizar estes dispositivos tecnológicos onde é necessária uma articulação das tarefas ou das funções com os indivíduos que as realizam e as tecnologias disponibilizadas para as realizar. Na opinião de Cardoso et al (2007), a importância desta articulação está no facto de vir a permitir um «empowerment» dos profissionais (médicos, enfermeiros, técnicos de saúde e administrativos) para que a formação possa ser planificada para uma melhor adequação aos utentes e às circunstâncias contextuais. Em termos de produto final, espera-se que quanto mais estes profissionais reconhecerem e sentirem que a e-Saúde melhora a sua atividade profissional, maior será a sua adesão e, consequentemente, maior utilização será efetuada por parte dos utentes. Cardoso et al (2007) propõem algumas medidas para que este objetivo seja atingido:

a) Definição de objetivos, tendo como ponto de partida resultados de intervenções anteriores, com a adaptação aos contextos;

b) Planificação da adoção de sistemas e/ou de aplicações tecnológicas/digitais com a corresponde identificação das áreas e/ou serviços que se pretendem melhorar; c) Explicitação das vantagens desta intervenção para os próprios profissionais que vão

estar implicados na sua implementação, para a organização/instituição, para o seu trabalho diário e para os utentes;

d) Explicitação e clareza quanto às alterações, modificações ou adaptações decorrentes no que diz respeito à autonomia e ao exercício de poder;

e) Planificação de um plano formativo em função das tarefas a desempenhar e das necessidades dos utentes e dos recursos disponíveis;

f) Prever e promover um plano de apoio pós-formativo que sirva de suporte para o esclarecimento de dúvidas e para a solução de problemas numa perspetiva de continuum para que se sinta que a formação é um processo que decorrerá no tempo e que estará presente sempre que as condições se modificarem.

É evidente que todo este processo terá que estar sob uma liderança que promova o espírito de equipa, de uma colaboração que envolva todos os participantes em que cada um se sinta responsabilizado pela sua atuação no seio da sua instituição e na sua atividade para com os utentes. É só a partir de uma triangulação de «quereres e de vontades», numa articulação em contexto organizacional entre as tecnologias digitais e as pessoas que se poderão obter melhores resultados na adesão, na implementação e na racionalização de recursos para que a e-Saúde possa ser reconhecida como uma valência que pode proporcionar uma maior qualidade de vida e de saúde, em especial, para quem mais precisa, onde os idosos se apresentam potencialmente como aquele que exigem uma presença mais significativa destes recursos: e-Saúde.

CAPÍTULO IV

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