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A designação de e-Governo, que será utilizada no decorrer deste capítulo, corresponde à tradução mais literal e direta da designação de «e-government» que é conhecida e reconhecida internacionalmente. Neste momento importa apresentar-se qual a definição relativa ao e- Governo com o objetivo de, posteriormente, se passar a apresentar as potencialidades que lhe estão inerentes, assim como, refletir acerca dos principais e mais evidentes obstáculos para a sua implementação e as estratégias a desenvolver para que a sua posta em prática seja uma realidade.

Na presente sociedade digital, a emergência das tecnologias associadas à internet e, em particular, à Web 2.0 (consensualmente designada por «Web Social») e das redes sociais que têm vindo a impor a sua presença em todas as áreas sociais, comerciais e políticas têm provocado uma adoção destes dispositivos digitais na perspetiva de poderem proporcionar diferentes formas de governo e de administração política. Neste sentido, Micelli (2005, p. 178) enfatiza esta importncia ao referir que: “Technology can provide a trigger for a process of internal reorganization of the administrative back office and become the prerequisite for modernization of public organization considered globally.” Pois, desta forma, os cidadãos poderão ter um acesso mais facilitado a todos os processos administrativos que lhe estão mais intimamente associados. Esta maior proximidade através da utilização das TIC, de acordo com o CSBT & NRC (2002, p. 3), fará com que se promovam alterações nas formas como os procedimentos administrativos se passarão a implementar: “() the application of information technology, combined with changes in agency practices, to develop more responsive, efficient, and accountable government operations.” Estas alteraes no relacionamento da administraão pública é realizada em diferentes níveis: com o cidadão, com as empresas, entre os diferentes níveis de governo e até mesmo com outros governos (no seio da União Europeia, dos PALOP ou no seio da comunidade internacional).

No entender da APDSI (2003), e-Governo define-se como a utilização das TIC com o intuito de poder promover melhorias nas informações e nos serviços que são disponibilizados para os cidadãos, tal com também já referenciado, numa forma que permita o aumento da eficiência e da eficácia na gestão pública promovendo-se, ao mesmo tempo, uma maior transparência entre o setor público e os cidadãos. Neste contexto, Santos (2008) refere ainda que, para além de processos mais transparentes, o e-Governo poderá também promover uma redução na corrupção, nos custos e numa maior comodidade ou até crescimento das receitas. Desta forma, proporcionam-se condições para um aumento e para um reforço de uma cidadania pela proximidade que é gerada passando os cidadãos, as empresas e os restantes serviços a estarem e a ocuparem uma posição mais central no processo decisório.

Para Scoll (2008, p. 21) esta é a principal essência do conceito: “The use of information and technology to support and improve public policies and government operations, engage citizens, and provide comprehensive and timely government services.” Mas Becker (2008) vai mais além ao propor a capacidade de disponibilização da informação da administração pública de forma ininterrupta: «24 horas por dia; 7 dias por semana». Na sequência desta linha de atuação, a aposta no e-Governo irá permitir a concretização de uma visão mais global e uma efetivação da designada «sociedade da informação», pois, para os países que não enquadrem o e-Governo nas suas prioridades terão como principais consequências, tal como é advogado pela UN (2010, p. 1): “() tend to remain mired in the typical institutional pathologies of supply-driven services and procedures, remoteness between government and citizen, and opaque decision- making processes.”

Do que já foi referido, importa realçar o facto do e-Governo não ser apenas uma forma de governo que utiliza as TIC e que proporciona uma maior e mais fácil disponibilização da informação. Pretende-se que o e-Governo venha introduzir novas e diferentes formas de se exercer o ato de governação que, na opinião de Davies e Lithwick (2010) este conceito deve alargar-se e compreender as dimensões de «e-government», «e-governance» e «e- participation» onde os cidadãos sejam realmente tidos em consideração através do feedback que poderão e deverão realizar em relação às informações e/ou medidas implementadas pela administração pública. Neste sentido, Zulfiqar e Pan (2001, p. 1011) sugerem as seguintes perspetivas: “() the addressee’s (citizen) perspective, the process (reorganization) perspective, the (tele) cooperation perspective, and knowledge perspective. In particular, they pointed out that e-government relies on a fundamental redesign of the interaction between public

administration and citizens (including commerce firms) which is coupled with a reorganization of the business processes within public administration.”

De acordo com o exposto, pretende-se que o e-Governo esteja ao serviço dos cidadãos garantindo-lhes «empowerment» no sentido de ser realizada uma intervenção ativa para que se possa privilegiar e intensificar todos os processos interativos que lhes permitam a capacidade de tomada de decisão (McIver e Elmagarmid, 2002). Ou, como é realçado por Codagnone e Osimo (2009, p. 7), não se deve encarar apenas o e-Governo mas também outras dimensões: “() about policy/service design and modelling and about creating public value through intelligent use and provision of information.”

Esta nova realidade vem permitir que se criem condições para que sejam oferecidas novas formas de «expressão civil» pela utilização e gestão de dispositivos tecnológicos (Di Maria e Rizzo, 2005). Contudo, deve entender-se esta nova realidade como uma forma dos cidadãos incrementarem a sua presença centrada na sua capacidade de comunicação e de transmissão em rede, em detrimento de uma presença passiva que assente apenas na receção de mensagens oriundas da administração pública. Pois, tal como é entendido por Chen et al (2008, p. 6), “() the most successful networks are those which collectively generate, share and borrow information.” Esta participação cívica que é proporcionada pelo e-Governo vem permitir um conjunto de relações de diversa natureza que se consubstanciam em três vetores: informação, comunicação e transação. No seu conjunto, de acordo com Santos (2006), estas relações vêm permitir que o governo se torne mais acessível, que seja incrementada a qualidade do serviço público que é prestado, que seja aumentada a eficiência interna e, fundamentalmente, a participação dos cidadãos em todos os processos que impliquem decisões de caráter político. Todas estas premissas vêm ao encontro de preocupações relacionadas com o reforço da já anteriormente mencionada eficácia e eficiência, com o consequente aumento da transparência e da democraticidade nos processos numa sociedade que se pretende moderna e pró ativa. No entanto, tal como é assinalado por UN (2005), estas interações são complexas e a sua complexidade não deve permitir a inclusão de um certo caos que poderá levar a uma potencial perda dessa eficiência e de eficácia. Essas múltiplas relações são as seguintes, de acordo com UN (2005, p. 15): “government-to-government (G2G); government-to-business (G2B) and its reverse; and government-to-consumer/citizen (G2C), and its reverse.”

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