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Já se verificou em secções anteriores deste capítulo que a inclusão digital ainda não se verifica quer em Portugal quer nos restantes países seja qual for o seu nível de desenvolvimento. O problema acentua-se quando à já existente exclusão social que afeta, principalmente, cidadãos com menos recursos financeiros e económicos, às mulheres, aos desempregados, aos cidadãos com baixos níveis de literacia, aos deficientes e aos idosos, se acrescenta para estes cidadãos a infoexclusão, o que os torna duplamente penalizados. No caso dos idosos, esta problemática parece poder acentuar-se pelo facto de ao longo da sua carreira e/ou percurso profissional não ter havido uma exposição e uma utilização sistemática das TIC pelo que são, em termos gerais, considerados como analfabetos digitais. Esta situação afasta os cidadãos mais idosos das TIC, não somente pela resistência que lhes fazem mas, fundamentalmente, por se sentirem desconfortáveis por não as saberem utilizar. Neste contexto, os objetivos associados ao e-Governo pretendem que as TIC promovam, ao inverso do exposto, oportunidades para que os cidadãos mais idosos possam tornar-se infoincluidos (Becker, 2008; Petrauskas, Bilevičienė e Kiškienė, 2008; UN, 2005).

De acordo com dados apresentados pela AGIMO (2009), tem-se verificado um incremento na utilização das TIC e, em particular, da internet, de correio eletrónico e também de SMS por parte dos cidadãos mais idosos. Do mesmo modo, Hampton et al (2009) referem também que os cidadãos mais idosos que tiveram alguma experiência ao longo da sua carreira profissional ou que realizaram uma formação no âmbito das TIC parecem apresentar atitudes mais positivas em relação às tecnologias digitais havendo até um incremento nas suas relações através das redes sociais. Uma outra constatação de Hampton et al (2009) refere-se ao facto destes cidadãos mais idosos realizarem, promoverem e apresentarem uma atitude mais positiva em relação aos seus vizinhos, em associações de voluntariado e em diversas atividades públicas. Também Smith et al (2009) apresentam uma opinião semelhante indicando que uma maior utilização das TIC tem como consequência uma ainda maior utilização futura o que vem demonstrar que a formação ao longo da vida, tal como já foi mencionado anteriormente, deverá constituir uma prioridade. Contudo, a realidade não é ainda tão positiva e a Figura 4.2 ilustra o

fenómeno bem presente da «info-ex-inclusão» a partir de dados recolhidos pelo Relatório das Nações Unidas (UN, 2005):

Figura 4.2: O fenómeno da «info-in-exclusão» (Fonte: UN, 2005).

As principais barreiras que os cidadãos mais idosos têm que enfrentar correspondem ao seu processo de envelhecimento associado à perda de várias faculdades, tais como, a visão, a audição, restrições na sua mobilidade (membros superiores e/ou inferiores) e, também, ao nível cognitivo e à sua menor capacidade de memorização. Todas estas limitações fazem com que a navegação em páginas da internet constitua uma tarefa muito pouco facilitada e que vem acrescentar mais limitações como, por exemplo: perceberem quais os links já visitados e aqueles que ainda não o foram, por não serem capazes de distinguir as mudanças de cor;

tamanho do ecrã constitui um problema, especialmente, quando a informação disponível se encontra mais abaixo o que significa realizar o scroll, tarefa que geralmente não é realizada por distração ou por dificuldade para executar essa ação; o tamanho das fontes que é normalmente utilizado é considerado muito reduzido dados os problemas de visão dos mais idosos; o contraste de cores no ecrã é também uma outra dificuldade associada à visão; a manipulação do rato e a funão de ‘duplo-clique’ constituem uma grande barreira dadas as maiores dificuldades dos mais idosos nas tarefas que envolvam a componente óculo-manual; um outro aspeto prende-se também com a velocidade e capacidade cognitiva que faz com que nalguns casos o tempo previsto expire e não permita a conclusão de uma atividade e/ou tarefa. Todos estes exemplos de limitações constituem as principais barreiras que os cidadãos mais idosos têm que enfrentar o que, naturalmente, impede uma utilização mais sistemática das TIC que se tem mostrado difícil de ultrapassar (Becker, 2005; CSTB & NRC, 2002).

Para contrariar esta realidade e esta tendência, Serra (2005) propõe que se implementem cursos de formação ao longo da vida, no sentido de serem conferidas as competências digitais para todos aqueles cidadãos que se encontrem numa situação de infoexclusão. Para Codagnone e Osimo (2009) deverá incluir-se um novo paradigma que inclua duas vertentes que devem ou que poderão coincidir em simultâneo: «helping individuals use ICT» e «using ICT to help individuals». Tal como sugerem McIver e Elmagarmid (2002, p. 19-20), as TIC devem potenciar a participação dos cidadãos para que se possam criar diferentes formas de utilizar as TIC através de novas soluções que se poderão adaptar com facilidade junto dos cidadãos mais idosos: “() text-to-speech and speech-to-text conversion devices and software, text magnification features offered in desktop operating systems and applications, voice-activated controls for computer applications, telecommunications devices for the deaf, closed captioning for video data, and computer-based Braille devices for the blind.” No mesmo sentido, Rocha (2002) advoga, igualmente, que sejam criados programas de formação ao longo da vida para os infoexcluídos, mas com objetivos muito precisos e direcionados para as suas reais necessidades e que toda esta formação faça parte de um percurso que terá que ser avaliado regularmente a fim de poder ser reajustado, e que neste processo esteja prevista a participação de especialistas das diferentes áreas, previamente sinalizadas, onde há maior urgência e pertinência em intervir fazendo todo o sentido a promoção de parcerias com instituições científicas. Esta formação deverá incluir a possibilidade de se poderem utilizar ecrãs tácteis, interfaces que reajam à voz e também com a possibilidade da utilização «multichannel» que

telefone, da televisão digital, de quiosques internet, de espaços wi-fi de modo a que as TIC se apresentem simples, flexíveis e ajustadas a cada cidadão. Este ajustamento, para além dos aspetos puramente tecnológicos, também deverão acautelar informação na língua materna (dado que uma grande maioria da informação está em inglês) e os contextos culturais e sociais. Todos estes condicionalismos preveem, em última instância, um serviço personalizado que irá reforçar as expetativas e as necessidades individuais. Finalmente, apela-se à difusão das experiências e dos resultados obtidos para que possam ser reutilizados e adaptados noutros contextos onde se privilegiem aspetos relativos à usabilidade e à ergonomia tendo como prioridade as necessidades e exigências dos utilizadores. O que se pretende é promover um «acesso universal» onde as dificuldades, sejam elas quais forem, não sejam impeditivas para o uso das TIC e, consequentemente, para a implementação e usufruto das potencialidades e das vantagens do e-Governo. Esta é uma questão fundamental a que Petrauskas, Bilevičienė e Kiškienė (2008) referem, como a necessidade de se proporcionar o conceito de «independent living» no sentido das TIC poderem salvaguardar, complementar e auxiliar os cidadãos, especialmente os mais idosos e aqueles que apresentem limitações, a terem uma vida considerada normal. Tal como já anteriormente foi referenciado, é importante, reforça-se o facto de uma inclusão digital, poder não necessariamente corresponder a uma inclusão social. A inclusão social através das TIC tem a sua concretização quando os cidadãos vêem incrementada a sua qualidade de vida através do seu uso. No entanto, de acordo com UN (2010, 89): “Giving a community with a piece of hardware and software means little. () Socially inclusive use of ICTs requires comprehensive education on the use of ICTs to diverse groups including marginalized social or cultural groups, the disabled – and the largest group of all: women. It is a matter of promoting a change of mentality and a change in the way ICT is developed, produced and used.” Será apenas quando se concretizar a «apropriação» das TIC pelos cidadãos (mais idosos) que se promoverá a tão almejada inclusão social e digital. Já em 2005, no Relatório das Nações Unidas se afirmava que as TIC possuíam todas as possibilidades para uma melhor aprendizagem individual e para uma melhor partilha mundial do conhecimento: “This unique opportunity is the bedrock of innovation, progresso and the future of development (UN, 2005, p. 139).”

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