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3. Análise de conteúdo das entrevistas semiestruturadas: Perspetivas dos Presidentes de Juntas de Freguesia do concelho de Castelo Branco (e-Governo Local)

3.2. Opiniões desfavoráveis e desvantagens das TIC

3.2.1. Opiniões pessoais

Esta foi a subcategoria de «Opiniões desfavoráveis» onde se obtiveram menos opiniões (10 registos/ocorrências). Apenas opinaram quatro dos entrevistados (JF1, JF2, JF6 e JF11) desfavoráveis relacionados com as TIC, em termos de uma utilização de caráter pessoal. Este facto pode indiciar que os entrevistados não encontram nas TIC aspetos desfavoráveis apesar de se poder inferir um certo grau de consciência relativamente aos «limites» que devem possuir na utilização destes recursos digitais (JF1):

“Desvantagens são quase nenhumas se tivermos os devidos cuidados.” (JF1)

De forma mais efetiva, os aspetos desfavoráveis que foram apontados referem-se ao domínio da privacidade, à segurança e com a probabilidade de poder reduzir a comunicação e o convívio entre casais, podendo, no limite, levar até situações desencadeadoras de divórcio (JF1, JF2, JF6 e JF11):

“() não devasse as nossas privacidades.” (JF1)

“() são 8 horas todo o dia com o computador e depois j não apetece, quero estar com as pessoas, falar com as pessoas”; “Os Messenger e o Facebook mas eu não sou

“() as redes sociais como sendo causadoras de alguma desagregaão da família ao favorecer os divórcios”; “() h aqui uma diferena entre a comunicaão e o convívio”; “() h aqui comunicaão mas não se convive mas para as pessoas mais tímidas torna-se mais fcil estabelecer novas relaes atrs da mquina.” (JF6)

“Eu s vezes fico espantada quando entro nalgumas pginas e vejo que as pessoas expem ali toda a sua vida íntima”; “H aqui um problema muito grave que tem a ver com a privacidade e com a segurana.” (JF11)

Na presente Subcategoria de «Desvantagens» foram apurados 27 registos/ocorrências, onde apenas três entrevistados não emitiram uma opinião (JF7, JF8 e JF12).

As questões relacionadas com a privacidade e com a segurança foram aquelas que mais vezes foram referenciadas pelos entrevistados onde se deu um destaque especial às redes sociais pelo seu uso que tem sido, na grande maioria das vezes muito inadequado em relação a estas dimensões (JF1, JF2, JF3, JF6, JF9, JF11 e JF13):

“() problema da tica e da privacidade dos dados.” (JF1)

“Na privacidade, de falarem com outras pessoas do outro lado e que não sabem quem são” (JF2)

“Desvantagens  aquilo que a gente sabe os problemas, a privacidade; “() preciso ter cuidado com certos mails.” (JF3)

“() isto  uma ferramenta e nós sabemos que h perigos que aparecem com as novas tecnologias, especialmente, nas redes sociais.” (JF6)

“A privacidade e a segurana, poderão estar aí concentradas as desvantagens.” (JF9) “As redes sociais porque aí toda a gente fica a ter conhecimento sobre a vida de toda a gente, pelo menos quando não se têm os cuidados que se devem ter.” (JF11)

“Podemos falar nos perigos da segurana e tambm da privacidade se eles l puserem os dados pessoais.” (JF13)

A existência de comportamentos que demonstram dependência e alguma obsessão na utilização «frenética» e sistemática das TIC (internet e redes sociais) implicam um grande gasto de tempo nestas atividades, em detrimento de uma maior disponibilidade para as relações interpessoais e para o diálogo entre a família (filhos e casal) que tem como consequência um desgaste e degradação nas relações que envolvem estes elementos (JF10, JF11, JF12, JF14 e JF15):

“() o acesso exagerado tambm tem os seus custos, os jovens os nossos filhos poderão ter acesso a coisas menos adequadas.” (JF10)

“Eu acho que sou um pouco viciada nas novas tecnologias.”; “() estou muito dependente das novas tecnologias.” (JF11)

“Talvez a grande dependência que elas nos causam e o não termos acesso a elas” (JF12)

“() talvez havendo um abuso da utilizaão das tecnologias.”; “H pessoas que hoje são dependentes do computador”; “H pessoas que chegam a casa e vão logo para o computador, sacrificam a família estão com o computador e não estão com a família, o que  negativo.”; “() pode provocar uma quebra nas relaes familiares.” (JF14) “() muitas vezes assusta-me ver a filha agarrada horas a fio no computador.”; “Têm uma grande dependência do computador e depois nós também não sabemos o que é que eles estão a fazer”; “()preocupa-me muito porque as crianças estão a viver muito com a máquina. (JF15)

Esta dependência parece estar a ser mais acentuada nos jovens, onde se poderá já falar de um comportamento de dependência e que, pelo facto da sua imaturidade, facilmente têm sido envolvidos em situações relacionadas com a pedofilia.

Contudo, há também quem afirme que cada utilizador tem que ser responsável pela forma como utiliza estes recursos e, como tal, terá que assumir a sua forma de utilização. Das opiniões recolhidas parece emergir uma consciência muito clara em relação aos limites e às desvantagens das TIC o que, de certa forma, vem indicar um certo grau de consciencialização em relação à forma de utilização e das potencialidades das TIC (em termos gerais).

É também importante, referir que JF4 indica a questão da fiabilidade e da robustez do sistema informático como um problema, dado que em certas regiões a qualidade das infraestruturas digitais é muito frágil o que põe em causa todas as potencialidades e vantagens das TIC:

“()  quando falta o sistema quando não h sistema mas isso não  culpa das mquinas,  da falta de investimento” (JF4)

3.2.2. Os cidadãos mais idosos e as TIC

No que diz respeito às opiniões que se mostraram desfavoráveis à relação entre os cidadãos mais idosos e as TIC foram recolhidos 24 registos/ocorrências. Não emitiram qualquer opinião desfavorável os entrevistados JF2, JF5, JF11 e JF14.

de contacto com as respetivas tecnologias digitais. Esta realidade faz com que estes cidadãos estejam «à margem» das TIC, até uma certa tecnofobia, considerando que a mesma tem a ver com cidadãos mais jovens (JF1, JF3, JF4, JF6, JF8, JF9 e JF13):

“() eles não estão em nada, eles não utilizam pura e simplesmente.” (JF1)

“Não, só com os mais jovens.”; “Acho que seria um bocado difícil nós estamos com uma populaão para cima dos 70 anos” (JF3)

“Na minha Freguesia os idosos dizem que isso j não  para eles”; “Sim, esta malta nova agora já sabem tudo, até parece que com 1 ano de idade já sabem mais do que nós (risos)”; “() não aderem”; “() para os idosos da minha Freguesia não estou a ver a não ser uma ou outra exceão” (JF4)

“() e h quem esteja  margem e que at tenha receios, fobias para com as tecnologias ” (JF6)

“() eu creio que muito poucos usarão as tecnologias.”; “() os mais idosos j não pegam nisso.” (JF8)

“Eu acho que a actual geraão dos idosos ainda tem algum afastamento, algum não saber usar, algum receio”; “Para estes futuros idosos tudo o que seja utilizar as TIC como obrigação ser complicado”; “() se os idosos da minha Freguesia nem sabem usar uma mquina de escrever quanto mais no computador...” (JF9)

“() estamos um bocado desfasados da realidade se acreditarmos que uma populaão muito idosa terá uma vocação suficiente para as tecnologias.” (JF13)

Apesar de existir uma grande consensualidade de que as TIC não são uma prioridade para os cidadãos mais idosos, podem referir-se algumas experiências de formação neste âmbito, onde se apurou que não era prioritário aprender a usar as TIC mas antes usar esse espaço de formação para conviverem, para estarem juntos de outras pessoas, para comunicarem (JF7 e JF15):

“() fizemos um curso de formaão e equipmos uma sala com 4 computadores para que eles pudessem utilizar mas foi uma guerra perdida.”; Comearam a ir mas aos poucos foram-se desmotivando”; “Pelo menos com a minha experiência as coisas não funcionaram.” (JF7)

“() este curso comea a ser um meio para o convívio, as pessoas frequentam o curso mas também convivem com os outros  uma maneira de haver comunicaão, de estarem juntos com outras pessoas os idosos  uma maneira de aprender, de estar e de conviver.” (JF15)

Nesta Subcategoria relacionada com as «Desvantagens» apenas um dos entrevistados (JF9) referenciou uma desvantagem, o que quererá dizer que é bastante consensual que as TIC não apresentam desvantagens para os cidadãos mais idosos. Contudo, a opinião emitida por JF 9 representa uma desvantagem direta pelo facto de se estar a exigir que todos os procedimentos administrativos passem pela utilização de recursos digitais (ex: portais; plataformas digitais) que não poderão ser utilizadas por quem não domina essas novas ferramentas:

“Presentemente passar todos os procedimentos administrativos para as TIC trs mais desvantagens do que vantagens porque os idosos não têm as habilitações e os conhecimentos, o saber-fazer necessrio” (JF9)

3.2.3. As TIC e o e-Governo Local

Na Subcategoria relacionada com as desvantagens foram recolhidos 20 registos/ocorrências. Nesta Subcategoria houve a menor emissão de opiniões tendo apenas emitido opiniões, nove dos quinze entrevistados.

Pelo facto de ter havido, no passado recente, uma experiencia negativa com as TIC porque não houve robustez nem fiabilidade do sistema, veio criar um clima de desconfiança no seio das Juntas de Freguesia, relativamente, aos cadernos eleitorais digitais/mesas de voto (JF2, JF3, JF7e JF8):

“As tecnologias só estão a falhar e notou-se agora nas eleies foi na eu acho que se o sistema não estava preparado para tal fim, deviam ter deixado as Juntas fazer o que faziam antes, os cadernos estavam preparados, as pessoas tinham o seu cartão de eleitor e chegavam e votavam e não davam esse problema que deu nós tínhamos resolvido o problema” (JF2)

“() eu estar a escrever um mail e depois estar à espera da resposta, não dá, perde-se tempo” (JF3)

“Tem havido um esforo nesse sentido mas depois vemos que as coisas não funcionam o caso agora das eleies (risos) o cartão não funcionou.” (JF7)

“Agora fazemos essas candidaturas atravs da Internet demoraram demoraram para aí um mês mais de um mês, depois vinham indeferidas porque a Segurana Social não estvamos bem mas nas Finanas sim não percebemos nada tivemos que fazer novas candidaturas a 15 de Dezembro e at a esta altura ainda não temos resposta o processo parece que encravou com as tecnologias”; “() nós vamos diretamente ao Centro de Emprego para resolver a situação e eles dizem-nos que só pode ser pela Internet atravs do sistema e não sei quantos”; “Este  um caso concreto onde as

tecnologias não resolvem, quando antes com um telefonema ou uma deslocação tudo se resolvia.” (JF8)

Uma outra questão de índole negativo prende-se com o facto das TIC poderem evitar ou substituir as relações presenciais entre os cidadãos, porque podem «relacionar-se a distncia esta situaão  aquela que todos pretendem evitar pelo que suscita algum receio se as TIC vêm promover um distanciamento entre as juntas de freguesia e os seus cidadãos pelo facto das comunicações digitais serem referenciadas como sendo mais «frias» do ponto de vista afetivo e social (JF5, JF6, JF7, JF8, JF9 e JF12):

“As tecnologias aproximam os cidadãos pela positiva e pela negativa.”; “Exatamente,  mais «fria». Poderá não ser tão eficaz, possivelmente.” (JF5)

“Mas o que acontece  que muitas das vezes as pessoas preferem o contacto pessoal no sentido de permitir o tal convívio.” (JF6)

“Eu penso que as TIC não aumentaram a relaão não” (JF7)

“As tecnologias são ótimas mas parece-me que nalguns casos são frias e distantes.” (JF8)

“São neutras são, são, são, são eu aqui, apesar de poder ser apelidado de conservador, eu penso que nunca se deve perder aquela relação humana com o cidadão e como a Junta, a afetividade, o cara-a-cara”; “() cria outra confiança, outro clima, outra cumplicidade que as TIC são desprovidas desta relaão.” (JF9)

“Se aproximam? Sim, recebemos mails com sugestes, críticas que as entendemos como tal Aproximam mas têm um lado perverso porque podem ser anónimas.” (JF12)

Por último, referem que os cidadãos são, na sua grande maioria idosos que não possuem literacia digital, são cidadãos info-excluídos, o que pode significar uma maior exclusão social se for obrigatório o uso das TIC para todas as atividades e procedimentos que envolvam atos de governo local ou municipal, em especial, quando se trata de uma realidade e de um contexto mais rural (JF6 e JF7):

“Eu acho que estas localidades mais rurais não tenham tido qualquer contacto eletrónico com a autarquia.”; “As tecnologias podem acentuar essa clivagem entre o mundo urbano e o mundo rural.”; “Nos meios rurais as pessoas devido s suas qualificaes acadmicas são muito reduzidas mal sabem ler e escrever daí terem muito mais dificuldade em utilizarem estes meios digitais.”; “Estamos a falar de um fenómeno claramente urbano e não rural.” (JF6)

“() deveria ser o contrrio mas as pessoas aqui não ligam muito s novas tecnologias a formaão escolar  muito baixa ou at não a têm  isso não  apelativa para eles” (JF7)

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