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3. As TIC e a sua relação com os cidadãos mais idosos e o processo de envelhecimento ativo

3.3. Propostas e estratégias para uma utilização sistemática e adequada das TIC pelos cidadãos mais idosos

3.3.1. Formação em TIC: Sugestões e cuidados

Os cidadãos mais idosos pretendem fazer um uso prático e pragmático das TIC no sentido de sentirem que estas tecnologias lhes trazem benefícios e vantagens do ponto de vista social, cultural e espiritual. Tal como referem Harley e Fitzpatrick (2008) e Rodotá (2008), estes cidadãos tem que sentir que as TIC passam a ser imprescindíveis, que são relevantes e significativas para o seu bem-estar e qualidade de vida. Para o efeito, uma formação em TIC deve contemplar e assegurar que sejam contempladas as necessidades desses idosos, os seus estilos, as suas limitações, as suas competências e os seus ritmos de aprendizagem, no sentido de se obter sucesso com este tipo de estratégias. Hazzlewood (2000), Bean e Laven (2003), Eisma et al (2004) e Morris et al (2007), propõem que possa e deva ser feita esta formação através de um apoio individualizado e com possibilidades para poderem realizar exercícios/tarefas no sentido de poderem praticar o suficiente para que as novas competências possam ser adquiridas com a eliminação de ambientes que promovam ansiedade ou stress. A realização destes exercícios/tarefas são uma ajuda para os formadores dado que proporcionam um feedback objetivo acerca do que foi aprendido e do que é necessário reformular ou complementar. Como afirma Bean (2204), a realização e a prática torna-se importantes para que os idosos possam aprofundar os seus conhecimentos e também para que na sessão seguinte possam progredir sem ser necessário perder-se mais tempo.

Para Eisma et al (2004), quanto maiores e mais significativas forem as experiencias bem- sucedidas maior será o envolvimento e o empenho dos cidadãos mais idosos em procurar adquirir mais competências em TIC. Esta opinião é partilhada por Slegers, Boxtel e Jolles (2008), ao afirmarem que nas suas investigações se evidencia um aumento substantivo na utilização das TIC por aqueles cidadãos mais idosos que mais frequentemente as utilizam. Contudo, como alerta Bean (2004), é fundamental e imprescindível que os cidadãos mais idosos se sintam motivados e não obrigados a ter uma formação em TIC. Esta via pode ser mais bem-sucedida se houver uma maior atenção e um maior cuidado nos processos, metodologias e estratégias de formação do que propriamente nos tipos de utilização das TIC (Dewsbury et al, 2007). Pois, uma estratégia e/ou metodologia que funciona bem com um público mais jovem pode não surtir o mesmo efeito junto do mais idosos. No mesmo sentido, Borges (2006), faz referência a uma funcionalidade social das TIC que, desta forma, os idosos facilmente incorporarão nas suas rotinas diárias porque sentem que são representativas das

suas necessidades reais. Do mesmo modo, Barnett e Adkins (2004, p. 4), para além de referirem como essencial o acesso s TIC sugerem que se dê atenão a outros fatores: “() how computer competency provides older people with the capacity to engage in domains or fields of interest keenly associated with their individual lifestyles.”

Um aspeto que costuma ser assinalado como muito positivo prende-se com a figura do ‘peer teacher’. Dado que se trata de um formador com características muito semelhantes aos dos formandos (onde ressalta a sua idade e todas as variáveis associadas) tem uma maior e melhor perceção e entendimento acerca das limitações, das necessidades e das prioridades dos seus formandos (Timmermann, 1998; Barnett e Adkins, 2004). Quer isto dizer que uma formação em TIC não deve constituir apenas ‘uma transferência de competências bsicas digitais’ mas deve corresponder a um enquadramento das necessidades efetivas onde a solução pode passar por uma estratgia de ‘peer teacher’. Uma outra dimensão que tambm deve ser tida em consideração tem a ver com o facto das aplicações digitais terem que ser fiáveis e seguras e que não ponham em causa a privacidade e que sejam capazes de manterem a confidencialidade e proteção de dados. Este aspeto é importante porque os cidadãos mais idosos possuem alguma desconfiança em tornarem disponíveis os seus dados num formato online, em especial, os dados relacionados com a saúde que podem ser (mal) utilizados pelas seguradoras e tambm com algum receio do designado ‘Big Brother’, quando estão em jogo aplicações TIC relativas ao e-Governo e ao e-Comércio (Eggermont e Vandebosh, 2010). Apesar de todas as propostas apresentadas há algo que não deve ser esquecido nem menosprezado e que tem a ver com a necessidade de se incentivarem reuniões e espaços para que todos se encontrem presencialmente (’face-to-face meetings’) porque não se podem nem se devem perder os contatos sociais e afetivos que equilibrem as relações e os encontros realizados no mundo virtual.

Em jeito de súmula e, para realçar alguns aspetos que devem estar incluídos no design de uma formação, passam-se a apresentar algumas propostas baseadas na opinião de Jones e Bayen (1998), Timmermann (1998), Bean (2002), Jaeger (2004) e Gil e Amaro (2010):

 Motivação inicial: Como já foi referido este tem que ser o ponto de partida porque por maior que seja a vontade e a disponibilidade do formador e a qualidade da oferta formativa, a formação estará sempre condenada ao insucesso se os formandos não

tiverem vontade em aprender a utilizar as TIC e, mais do que isso, se não estiverem realmente motivados e envolvidos.

 Relevância da formação: Se não existir uma relação direta entre a formação e conteúdos e as necessidades e expetativas dos idosos em relação à sua mais-valia para o incremento da sua qualidade de vida, irá sentir-se muita dificuldade em ser bem-sucedida a sessão de formação. Para o efeito, o formador deve explicitar os objetivos a atingir, os conteúdos e as metodologias e estratégias que irão ser implementadas.

 Hardware e software: Ajustar os monitores em termos de contraste e de luminosidade constitui um aspeto muito importante tendo em consideração as potenciais limitações visuais e cognitivas para que não influenciem negativamente o desempenho dos idosos e evitem o seu cansaço. No caso dos monitores deverão, tanto quanto possível, possuírem dimenses sempre superiores a 15’’. Ainda neste domínio, o rato deve ser ajustado tendo em conta a velocidade de ‘arrastamento’ e a velocidade do ‘clique’, j que a manipulaão deste equipamento tem sido considerada como um dos aspetos mais problemáticos. Em relação ao ambiente de trabalho, deve haver uma organização que se mantenha inalterável e, se possível, muito semelhante ou igual à dos computadores pessoais para que se torne possível alguma mecanização de procedimentos e de rotinas relativamente à disposição de ícones/programas/pastas/atalhos. Na eventualidade de ser necessária a utilização do som deve haver o cuidado de nivelar os agudos/graves e o respetivo volume para que seja audível sem haver a necessidade de um esforço suplementar. Ainda neste domínio, devem ser usadas versões de programas/browser na língua materna. A existência de um manual de utilizaão que possua ilustraes e que seja ‘muito direto e explícito’ com exemplos o mais próximos possíveis daqueles que forem tratados e realizados nas sessões de formação. Em relação à informação escrita, devem ser selecionadas fontes com dimensões adequadas, sem serifa e que facilitem a leitura. No caso da existência de hiperligações, os contrastes de cor devem também ser objeto de uma adequação para que não se apresentem muito ‘berrantes’ ou com cores ‘demasiado vivas’. Um outro aspeto, a não descurar, está

relacionado com a necessidade de se familiarizarem com a opão de ‘Help’ para que tentem, por si próprios, encontrar respostas a dificuldades que possam ocorrer no sentido de lhes conferir uma maior autonomia e autoconfiança.

 Sala: A sala deve ser arejada, ter iluminação natural, com boa acústica e sem ruídos ou barulhos exteriores, existência de climatização (suave), mesas e cadeiras ergonómicas e confortáveis e que possam ser facilmente ajustáveis. Poderão existir mesas sem computadores para que os formandos possam realizar atividades complementares em grupo.

 Horário: Tem-se verificado que os idosos preferem ter sessões de formação nas primeiras horas da manhã pelo facto de se sentirem mais ‘frescos’ e, consequentemente, mais disponíveis para aprender.

 Formador (postura/comportamento geral): Deve falar devagar, utilizando pausas, falar de forma clara e com a utilização de termos que não sejam ambíguos e evitar algumas metáforas dado que se tem verificado que estas metáforas não se coadunam aos idosos por não pertencerem ao seu tipo de vocabulário. A utilização de terminologia próxima do vocabulário dos formandos constituirá uma vantagem porque lhes confere uma maior segurança. A duração da sessão deve ter uma relação próxima com o volume de nova informação a transmitir e, sempre que necessário, prever para a necessidade de poder disponibilizar tempo extra. Em simultâneo, pode (deve) ser distribuído material impresso para poder tornar mais claro ou para complementar os conteúdos transmitidos. Este material impresso deve conter, para além de texto, um conjunto de ilustrações (print screens) semelhantes aquelas que podem visualizar no ecrã do computador.

 Outras estratégias: A aprendizagem e/ou formação com pares (já referenciada) é também uma boa opção a considerar porque se tem verificado que, formandos com dificuldades semelhantes, são capazes de se encorajarem e de se motivarem mutuamente porque possuem uma melhor compreensão das suas dificuldades e/ou

de formação, dá-lhes um sentimento de pertença que terá como reflexo um maior empenho e dedicação. A realização de tarefas entre as sessões de formação também deverá ser implementada com o intuito de praticarem e também para não se esquecerem e criarem rotinas. O programa de formação, apesar de poder ter uma organização formal na sua conceção, a sua implementação deverá assumir um caráter mais informal e flexível para que se possa mais facilmente adaptar a novas necessidades e/ou realidades.

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