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Tratando-se de uma nova realidade será conveniente que seja criado um novo paradigma que integre o e-Governo na sociedade. A este propósito, Grnlund (2008, p. 67) afirma que “()e- gov must create theories specific to e-gov practice, which means understanding the relations and dependencies between people, government, and IT, not each separately. E-gov must integrate political science/public administration and IT-related disciplines to understand the role of [ICT] in government and governance process.”

Em termos gerais, há duas formas de se promover ou de se implementar o e-Governo:

a) Uma dessas formas, compreende a designada «bottom-up» ou «ground-up» perspetiva, que se baseia no reconhecimento de que há uma necessidade de permitir aos cidadãos que tenham a iniciativa de participar e de influenciar a «agenda política» através de uma participação ativa através das comunidades locais ou em termos individuais que tenham uma abrangência local ou nacional (Botterman et all, 2008; Macintosh, 2008). Esta possibilidade só se torna possível pelo facto das TIC terem a capacidade de difusão e de partilha mais alargada num formato de «e- democracia» que permita formas inovadoras de participação social e cívica no sentido de criarem oportunidades que possam vir a incluir e aumentar o número de cidadãos de diferentes áreas e/ou serviços. Estas possibilidades serão facilmente atingidas pelo facto da transferência da informação envolver poucos custos, pelo facto de poder chegar potencialmente a todas as partes do país e do mundo delegando para segundo plano questões relacionadas com o espaço temporal e geográfico numa perspetiva de distribuição e de dispersão da informação e da atividade, em contraponto com o conceito de aglomeração subjacente à criação das cidades (Di Maria e Rizzo, 2005). Uma outra vantagem, prende-se ainda com o facto desta comunicação poder ser realizada de «um-para-muitos» mas também de «um- para-um» e em tempo real, o que incrementa os níveis de interatividade e, consequentemente, uma participação mais ativa e interventiva porque podem e devem permitir uma interação em «real time» (UN, 2010). Uma outra vertente associada às TIC, tal como é referenciado por CSTB & NRC (2002, p. 46), prende-se com a multiplicidade de canais utilizados quer em forma escrita, quer na forma

gráfica ou até através de filmes que poderão ser acedidos e difundidos na página web, através de e-mail, através de SMS, via wi-fi onde a ubiquidade comea a tornar-se regra: “access for everyone, access everywhere, and access anytime.” Esta ubiquidade poderá ainda ser reforçada através da instalação de quiosques digitais e através do desenvolvimento de multiplataformas compatíveis (ex: telemóvel, PDA, tablets) que vêm incrementar a acessibilidade dos cidadãos (Serra, 2005). Do mesmo modo, Smith et al. (2008) também enfatizam esta oportunidade proporcionada pelas TIC acrescentando o facto de ser possível através destes meios digitais promover uma maior coesão entre os simpatizantes e até dos militantes de partidos políticos que se encontram geograficamente dispersos, referindo também a possibilidade de permitir a adesão e o «recrutamento» de novos simpatizantes. Esta perspetiva assenta numa lógica de ‘citizen-centricity’ onde o conceito j referenciado de ‘e-democracy’ se enquadra e que vem requerer uma reorganizaão nos processos de administraão publica atravs de uma maior “() transparency and reliability of administrative procedures, decision-making processes and political actions in terms of steps and results (Di Maria e Rizzo, 2005, p. 105).” Este facto vem criar condições para uma maior consistência na criação e na manutenção de comunidades locais e nacionais não apenas pelo «empowerment» dos cidadãos mas também pelo facto da internet se entender como um espaço democrático onde a ‘voz’ dos cidadãos  ouvida no mbito de uma política de maior transparência e de pluralismo e de tomada de decisão ativa e participada.

b) A outra forma de implementação do e-Governo, consensualmente designada por «top-down» é da responsabilidade do setor da administração pública (nacional, regional ou local) e tem como principais objetivos promover um mais fácil e amplo acesso acerca das iniciativas tomadas e a tomar, proporcionando ao cidadão possibilidades para se pronunciar mas mais numa perspetiva de «reacção» e não tanto de «ação». Neste contexto, Whyte (2008, p. 182) refere que “() ICTs provide new opportunities for government to receive feedback from, and consult with, individual citizens directly during policy-making – without the mediation of elected politicians or civil society organizations.” Pode depreender-se que nesta opção o e- Governo pode ser assumido mais como uma ferramenta de «propaganda» com todas as conotações negativas que esta assunção e opção podem acarretar e que,

Castells (2000, p. 108) também realça esta possibilidade ao afirmar que: “() the Internet can be used by citizens to keep track of their governing bodies, rather than by governments to keep track of citizens.”

Em termos gerais o e-Governo deverá ter como principais preocupações a incorporação dos diferentes autores envolvidos, baseado em verdadeiros processos inovadores e não considerando como «inovação» o facto de se estarem a usar as TIC. Ou seja, esta inovação deverá ser encarada numa perspetiva que assenta no conhecimento, na interação dos cidadãos e na tomada de decisão responsável, cívica e partilhada numa dinâmica complexa deixando para as TIC uma função mais «secundária», tal como é sustentado por Zulfiqar e Pan (2001, p. 1019): “() the impact of such implementation has on the public institution is far greater than simply adopting a computer-basedsystem or computerising government activities.” Do mesmo modo UN (2010) refere que e-Governo não deve corresponder ao ‘e’ mas sim  promoão de um governo mais participado e mais centrado pelos cidadãos para a melhoria das suas condições e qualidade de vida. Contudo, esta concretização deverá ser realizada, tal como propõem Pattaro e Schiavone (2005, p. 107), através da criação de uma nova forma de cidadania baseada na: “() participation of all individuals in the provision of services and the decision-making process thanks to the intensive use of new ICT.”

Quer isto dizer que as TIC são uma poderosa e importante ferramenta para os cidadãos, mas não devem ser encarada como «o recurso» mas sim como «mais um recurso» que, associado às suas principais caraterísticas, se apresentam como facilitadoras de uma intervenção mais envolvente, mais participada e mais partilhada ao nível das políticas de decisão da administração pública (nacional, regional e local) pela consequente emergência de novas organizações sociais. Por tudo o que foi afirmado, de acordo com o que é sugerido por McIver e Elmagarmid (2002, 5): “Digital government, as a result, has the potential to profoundly transform citizens’ conceptions of civil and political interactions with their governments in societies around the world. Unlike commercial service offerings, digital government services must be made accessible to all in many societies.” No entanto, à medida que as redes digitais e as tecnologias a elas associadas vão crescendo, começa a verificar-se uma alteração nos comportamentos dos cidadãos que terão que estar de acordo com as suas expetativas, anseios e objetivos e que não ocorrerá de igual modo para estes mesmos cidadãos. Tal facto vai implicar que o e- Governo deva tentar ir ao encontro de uma multiplicidade de novos desafios que irão

desencadear-se. Por isso, Roy (2002, p. 285) refere que: “In a digital world, relationship management will become a core competency of the new public servant. The digital infrastructure must be complemented by human ingenuity, and trust among all partners becomes an essential ingredient in order to navigate an environment of heightened change and uncertainty.” Torna-se necessário que o e-Governo seja capaz de estabelecer pontes e ligações entre as formas tradicionais de administração (nacional, regional e local) para um novo tipo de administração numa sociedade interligada em rede que vai requerer uma nova mentalidade e uma nova cultura que seja capaz de tirar partido das vantagens da presente sociedade digital. Pretende- se também que os governos explorem todas essas vantagens no sentido de promoverem ligações próximas entre os cidadãos e os grupos económicos para que se criem condições para um aumento da riqueza e das possibilidades de emprego (Bopudriga e Benabdallah, 2002). A Figura 4.1 que se apresenta permite tornar mais visível a evolução e as tendências possíveis e esperadas para um novo contexto em que se irá centrar e situar o e-Governo:

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