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3. As TIC e a sua relação com os cidadãos mais idosos e o processo de envelhecimento ativo

3.5. Por uma aposta nas TIC com os cidadãos mais idosos

A presente sociedade do conhecimento tem que ser capaz de integrar todos os cidadãos ao introduzir e promover novas e diversas formas de solidariedade e que seja capaz de conseguir estabelecer ligações estreitas entre as gerações do presente e as do futuro. Esta premissa equivale a afirmar que ninguém fique para trás e que ninguém possa ficar excluído porque o conhecimento tem que ser um bem disponível para todos sem exceção. De acordo com Bindé (2007), é importante não esquecer o papel primordial dos mais idosos dado que possuem a experiência necessária que permite equilibrar a relativa superficialidade da comunicação veiculada em «tempo real» e fazer recordar-nos que este conhecimento constitui tão-somente um caminho para se poder alcançar a sabedoria. Tendo em consideração o que anteriormente foi exposto, há uma sensação de que existem muitas razões para que se considerem as TIC como algo que pode alterar, para melhor, a qualidade de vida dos cidadãos mais idosos. Contudo, tal como advertem Dickinson e Gregor (2006), apesar de se defender que a utilização das TIC seja considerada útil e desejável, é ainda necessário desenvolver-se mais investigação sobre esta questão pelo que se devem tomar precauções e não se ser demasiado «positivo» na tomada de uma opinião definitiva e inflexível que possam por em causa outras soluções. Como é sabido, a introdução e a aquisição de qualquer inovação requer tempo e, no caso particular das TIC, foi preciso esperar quase uma geração para que estas se tornassem numa rotina e numa integração nos hábitos do quotidiano. Presentemente, as TIC têm demonstrado e evidenciado um impacto muito positivo na participação democrática mais alargada e mais presente, especialmente, na participação dirigida à defesa e/ou à denúncia de causas cívicas, políticas e sociais.

O que está em jogo é a erradicação da infoexclusão. Contudo, a infoexclusão não deve ser, numa forma bastante simplista, associada à facilitação do acesso e da conectividade. Na opinião de Bind (2007), a infoexclusão corresponde não apenas a uma ‘divisão digital’ mas também a uma ‘divisão cognitiva’, com uma relaão direta com barreiras educativas, culturais e linguísticas que podem por em causa a construção de sociedades do conhecimento. Quer isto dizer, que o final da infoexclusão não se reporta a uma questão de

instalação de infraestruturas porque será inútil ligar comunidades e populações através de fibras óticas se não forem feitas, concomitantemente, esforços para o desenvolvimento de capacidades para a produção de conteúdos. Ainda de acordo com Bindé (2007), só existem sociedades do conhecimento se estas forem capazes de utilizar a informação para criar e aplicar conhecimentos necessários ao desenvolvimento das pessoas. Para o efeito, torna- se necessário que se proporcione a autonomia, a pluralidade, ambientes de coesão, de participação e também ambientes solidários. Desta forma, poderão criar-se condições para o estabelecimento de padrões horizontais em vez de hierarquias verticais para que a comunicação flua entre os seus intervenientes de igual modo, com igual importância e relevncia de uma forma mais democrtica e mais participada!

Neste novo contexto, a enfase não está baseada na transmissão mas sim no «aprender a aprender», «aprender a ser», «aprender a pensar», «aprender a duvidar» e «aprender a adaptar-se», num ambiente mais flexível e mais informal rentabilizando todas as potencialidades que as TIC oferecem. No entender de Bind (2007, p. 317): “() as sociedades do conhecimento poderão ser bem sucedidas, lá onde a sociedade da informação fracassou parcialmente, na promoção de uma verdadeira partilha de significado, de um dilogo entre culturas e novas formas de cooperaão democrtica.” Contudo, como advertem Stephenson (1998) e Stephenson (2001), a utilização das TIC depende de muitos fatores (acesso, literacia, motivação, vontade, sexo, idade, género, nível socio- económico) mas esta mudana social e de atitudes vai depender na forma como as TIC vão ser utilizadas e não tanto nas tecnologias em si mesmas.

Para o efeito, torna-se necessário que se promovam políticas holísticas que englobem estratégias diretamente relacionadas com a aprendizagem ao longo da vida. Neste sentido, deverão ser incluídas e envolvidas todos os tipos de instituições e de organizações, sejam públicas ou privadas, para que essas estratégias possam incluir diferentes serviços e áreas sociais (Ala-Mutka et al, 2008; Amaro e Gil, 2011b). Mas neste ‘grupo de trabalho e de intervenão’ os idosos tambm têm que estar presentes e serem tidos em consideraão nas decisões a serem empreendidas. E, nesta diferente abordagem de aprendizagem ao longo da vida que tem a sua intervenção em espaços informais, as TIC podem ser o suporte mais adequado através da utilização das comunidades pertencentes às redes digitais onde os cidadãos mais idosos vão ter a possibilidade de trocarem informação,

conhecimento e de poderem interagir e partilhar com indivíduos de diferentes idades (promoção de relações intergeracionais). Porque, em última instancia, os cidadãos mais idosos não estão tão interessados na tecnologia pela tecnologia mas, pelo contrário, estão interessados naquilo que a tecnologia lhes pode proporcionar, num meio que lhes permita alcançar uma melhor qualidade de vida. Na opinião de Rosa (2012), o futuro da sociedade, em relação ao atual processo de envelhecimento vai depender da forma como vier a ser «programado» porque as próximas décadas vão ter uma maior percentagem de pessoas mais idosas mas terá que ser um mundo produtivo e «feliz» se nele forem incluídos todos os cidadãos para a criação de uma sociedade mais inteligente. É neste contexto que as TIC se podem e se mostram relevantes e prioritárias para os cidadãos mais idosos. No entanto, esta realidade continua a ser um grande desafio ao qual ainda tem que se despender muito trabalho e investigação pois, de acordo com Odebrecht e Gonçalves (2000), ainda muito pouco se conhece das preferências, objetivos e formas de realizar as tarefas pelos idosos, o que gostariam de fazer e como gostariam de ser ajudados, a sua condição económica e como todos estes fatores afetam a sua visão perante as tecnologias digitais, assim como, qual o tipo de tecnologias que consideram necessárias. Tal como é referido por Selwyn (2004), os cidadãos mais idosos têm que deixar de ser encarados como “on the receiving end” e devem passar a estar ativamente envolvidos nas novas soluções e dispositivos digitais. Como também é referido por Prendergast e Roberts (2008, p. 3), a preocupação deve residir num outro tipo de prioridade: “Not thinking just in terms of new product innovations, but innovations in practice (and) recognize that practices are dynamic in that require continual reproduction.”

Em suma, de acordo com a opinião de Ala-Mutka et al (2008, p. 18): “() ICT tools for learning should adapt to the needs of the learners, rather than older learners adapt to them.”

CAPÍTULO III

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