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1.4 POR UMA LEITURA PLURAL DA ECONOMIA DA REVELAÇÃO CRISTÃ

1.4.3 A economia da revelação cristã numa perspectiva plural

A Dominus Iesus afirma que a ação salvífica de Cristo se estende para além dos limites visíveis da Igreja, a toda humanidade (DI 12). Por isso, a teologia é chamada a meditar sobre o significado das outras religiões no plano salvífico de Deus (DI 14), sem deixar de afirmar o carácter definitivo e completo da revelação de Cristo (DI 5). Contudo, a DI 4 considera que o pluralismo religioso de princípio ou de direito é de índole relativista. Geffré esclarece que esse posicionamento é na realidade uma reação ao relativismo de alguns teólogos que chegam a sacrificar a unicidade da mediação de Cristo e a relativizar a plenitude da revelação cristã sob o pretexto de facilitar o diálogo inter-religioso. No entanto, para Geffré, a reflexão sobre o pluralismo religioso de princípio ou de direito tem uma grande relevância na teologia da revelação, pois amplia o horizonte da teologia cristã atual sobre a economia da salvação. Trata-se de ir além de uma compreensão linear da história da salvação, a fim de perscrutar uma economia do mistério divino como história ontológica, cujas origens remontam ao próprio Cristo enquanto princípio e plenitude dos tempos.342

Geffré não pretende negar o caráter completo e definitivo da revelação de Deus em Cristo ou sugerir que essa revelação necessite ser completada pelo conteúdo das outras tradições religiosas. O que de fato Geffré afirma é que a forma como o conteúdo da verdade cristã se expressa, enquanto emoldurada pela linguagem humana, é limitada. No entanto, Geffré acredita que é preciso uma reflexão mais aprofundada sobre a origem e a meta da pluralidade de vias para Deus à luz da vontade de salvação universal de Deus, esclarecendo que isso não nega, nem mesmo invalida, o caráter definitivo da revelação cristã, a inspiração das Escrituras, o dogma de Calcedônia – que define a unidade pessoal entre o Logos de Deus e Jesus de Nazaré –, a unicidade da mediação de Cristo e a universalidade de seu mistério. Segundo Geffré, a questão nevrálgica situa-se em um problema semântico: o conceito de

pluralismo de princípio ou de direito não consegue traduzir satisfatoriamente a dimensão

profunda do que é problematizado quando se faz referência ao mistério da pluralidade de vias para Deus, oculto, desde os séculos em Deus, e manifestado em Cristo (Ef 3,6-11). Sendo assim, infelizmente, esse conceito ainda é fonte de incompreensões entre o magistério católico oficial e os teólogos que excedem as fronteiras estritas do inclusivismo institucional.343

342 Cf. GEFFRÉ, Claude. De Babel a Pentecostes, p. 49-50. Para Faustino Teixeira, é preciso indagar sobre um

pluralismo religioso de princípio ou de direito, situado – além das conjunturas contingentes – no próprio desígnio de Deus (Cf. TEIXEIRA, Faustino. O cristianismo entre a identidade singular e o desafio plural, p. 90-91).

343 Cf. GEFFRÉ, Claude. L’avenir du dialogue interreligieux aprés Dominus Iesus, p. 8-13; Id. Profession

A Redemptoris Missio dá um passo significativo na recepção conciliar afirmando que “é através da prática daquilo que é bom nas suas próprias tradições religiosas, e seguindo os ditames de sua consciência, que os membros das outras religiões respondem afirmativamente ao convite de Deus e recebem a salvação em Jesus Cristo” (RM 29). Segundo Geffré e Faustino Teixeira, essa asserção se constata no fato de que a história humana sempre foi a história da busca do ser humano por Deus e da busca de Deus pelo ser humano. Por isso, é preciso conhecer, respeitar e valorizar um sentido de mistério emergente nas doutrinas, nos ritos e nas atitudes morais que constituem as grandes tradições religiosas, e questionar a pretensão cristã de se estabelecer como mediação exclusiva e revelação única, universal e absoluta. Para Schlette, a história humana é também história da salvação, e as religiões, são autênticos caminhos de salvação queridos por Deus. Toda a história é o lugar do desvelamento da glória de Deus e da sua ação salvífica e transformadora, não havendo uma separação entre história da humanidade e história da salvação. A história da salvação, enquanto relacionamento salvífico entre Deus e a humanidade, já ocorre desde as origens. Por conseguinte, Geffré afirma que uma teologia cristã das religiões tem como desafio trabalhar a ação universal de Deus, sem, no entanto, comprometer a unicidade da mediação de Cristo.344

Em Cristo, Alfa e Ômega (Ap 22,13), mediador único e universal (DI 5), Deus age nas culturas e religiões como em vias derivas ou participadas de salvação. Segundo Geffré, é possível conciliar um cristocentrismo constitutivo e um pluralismo inclusivo, sem cair em um

teocentrismo indeterminado. Para isso, é preciso distinguir entre a universalidade da religião

cristã – que não se realiza de fato – e a universalidade do mistério de Cristo em sua natureza ontológica e eterna – evitando identificar, pura e simplesmente, a dimensão concreta, histórica e contingente de Jesus com a sua dimensão crística e divina, pois, em uma mesma pessoa, há duas naturezas, sem divisão, porém, sem mistura e sem confusão. Apenas assim, será possível preservar o mistério inacessível de Deus, que escapa à toda identificação, e, ao mesmo tempo, afirmar a união desse mistério absolutamente universal com a realidade absolutamente concreta de Jesus de Nazaré.345 Essa distinção entre as naturezas divina e humana e a

afirmação de sua unidade na pessoa de Jesus Cristo, possibilita uma abertura dialogal do cristianismo em relação às outras religiões, pois diferencia o princípio jesuânico de limitação e o princípio crístico de ilimitação – que corresponde ao próprio Logos de Deus.

344 Cf. GEFFRÉ, Claude. “Révélation et révélations”, p. 1415; Id. De Babel a Pentecostes, p. 52-56; Id.

Réflexions théologiques sur le pluralisme religieux, p. 106-107; Id. Como fazer teologia hoje, p. 213; TEIXEIRA, Faustino. A substância católica e as religiões, p. 32; SCHLETTE, Heinz Robert. As religiões como tema da teologia, p. 54; Id. Ibid., p. 57; Id. Ibid., p. 67. A respeito disso, ver: GOMES, Tiago de Fraga. Hermenêutica teológica da revelação, p. 208-209.

Para Duquoc, a dinâmica da encarnação, enquanto manifestação do mistério absoluto de Deus em Cristo – inserido na particularidade de um condicionamento histórico – obsta a tentação de absolutização do cristianismo.346 Além disso, segundo Geffré, assim como a

revelação testemunhada pelo Novo Testamento não esgota as riquezas do mistério de Cristo e a própria mensagem de Cristo possui uma natureza escatológica que será levada à plenitude pela ação do Espírito (Jo 16,13), da mesma forma a verdade cristã não é nem exclusiva e nem inclusiva de toda verdade, mas é singular e relativa – não em um sentido relativista, mas relacional – à verdade portada pelas outras religiões. A unicidade da mediação de Cristo é mais ampla que o cristianismo histórico, e, até mesmo, que a própria economia do Logos encarnado, pois, mesmo essa, é o sacramento de uma economia mais vasta. Uma consciência mais viva da particularidade histórica do cristianismo leva a pensar sobre a sua originalidade

não imperialista e sobre o enigma da pluralidade irredutível das religiões – que na pedagogia da diferença proporciona uma reinterpretação criativa da própria identidade cristã.347

Em relação aos números 9 e 10 da Dominus Iesus, Geffré professa uma única economia salvífica que contempla e mantém unidas a ação do Logos eterno de Deus antes, durante e depois da sua encarnação. A respeito dos números 13, 14 e 15 da mesma declaração, Geffré reafirma o significado e o valor singular e único da unicidade e da universalidade salvífica do mistério de Cristo para toda a humanidade. É preciso frisar a respeito dos números 16 e 17 da declaração em questão que em nenhum momento Geffré põe em dúvida a sacramentalidade salvífica da Igreja católica, mas a situa para além de um ponto de vista individualista ou intimista (PD 13), na dimensão da historicidade. Geffré interpreta a atuação de Deus na história a partir da lógica encarnacional, com o intuito de reduzir a influência do pensamento totalitário no cristianismo. Para Geffré, a identidade cristã está fundada em uma

ausência originária que necessita de complemento para realizar o seu próprio acabamento.

Nesse sentido, segundo Juscelino Silva, assumir-se em falta e em busca de complemento é uma demonstração de coragem e de fidelidade por parte do próprio cristianismo, o qual não é uma totalidade fechada, mas uma religião vocacionada a ultrapassar-se a si mesma, enquanto alicerçada na universalidade concreta do Logos encarnado, que vincula misteriosamente Deus e realidade – transcendência e imanência –, porém, sem uma identificação completa entre ambas. A consciência dessa dinâmica paradoxal é o segredo para evitar a idolatria e a prepotência do discurso teológico.348

346 Cf. DUQUOC, Christian. Dieu différent, p. 126-127.

347 Cf. GEFFRÉ, Claude. De Babel a Pentecostes, p. 59-66; Id. Como fazer teologia hoje, p. 213. 348 Cf. SILVA, Juscelino. Experiência e nomeação de Deus na teologia de Claude Geffré, p. 87-88.

Segundo Geffré, Babel (Gn 11,1-9) simboliza a edificação orgulhosa da torre única, rival da unicidade de Deus. Esse relato condena a ambição idolátrica de uma humanidade monolítica sob o signo de uma única língua, que no afã por poder, exerce uma soberania de domínio, anulando as diferenças. Como perspectiva justaposta, Pentecostes (At 2,1-11) traduz a docilidade humana à ação do Espírito de Deus que se manifesta na pluralidade das línguas e das culturas. Pentecostes lembra que Deus criou o ser humano plural, como homem e mulher, plasmados à sua imagem e semelhança, para viver na diversidade, como imago Trinitatis, destinados a suscitar a comunhão que se realiza em meio às diferenças. Para Geffré, Pentecostes permite pensar que a pluralidade das línguas e das culturas é necessária para uma tradução mais plena das riquezas do mistério multiforme de Deus349, que, conforme Torres

Queiruga, é uma tarefa humana sempre inacabada.350

A diversidade de expressões do mistério divino, através das culturas e das religiões, constitui o que Geffré chama de história da salvação diferenciada, coexistente com a história espiritual da humanidade, ou seja, uma economia da salvação que supera uma visão linear e cronológica da história, para abraçar uma história ontológica, cuja origem e fim situam-se na própria ação do Logos divino. Para Geffré, desde que há humanidade, há uma revelação geral que se particulariza segundo uma economia diversificada, tendo como meta uma salvação. Portanto, é preciso respeitar e valorizar as diferenças irredutíveis de cada uma das religiões, dentro dos contextos e das globalidades sistêmicas que as constituem. Em suma, o fomento de uma leitura plural da economia da revelação cristã, fundamentada na própria dinâmica do

Logos encarnado, favorece o diálogo entre os cristãos e os crentes de outras religiões, evita a

propagação de um senso de domínio entre as religiões e incentiva a promoção de uma cultura de paz e não violência, na certeza de que ambas as religiões, embora trilhando caminhos diversos, situam-se em uma história comum, enriquecida por uma pluralidade de itinerários.351

349 Cf. GEFFRÉ, Claude. De Babel a Pentecostes, p. 67. Sobre isso, ver: GOMES, Tiago de Fraga. O pluralismo

religioso no horizonte de um ecumenismo planetário em Claude Geffré, p. 94-95.

350 Cf. TORRES QUEIRUGA, Andrés. O diálogo das religiões, p. 22.

2 LOGOS DIALÓGICO: a economia do Logos encarnado e a questão do diálogo entre as religiões

O segundo capítulo, na dinâmica do Logos que se fez dia-logos, trabalhará a dimensão do Logos dialógico (julgar/analisar). A questão de fundo é a seguinte: partindo de uma leitura plural da economia da revelação cristã e tendo em vista que a economia do Logos encarnado, enquanto sacramento de uma economia mais vasta, não anula a alteridade irredutível das outras religiões, como fundamentar o diálogo entre as religiões partindo do próprio cerne da fé cristã? Buscando responder a essa questão, pretende-se refletir a partir da economia do

Logos encarnado que mesmo Cristo não esgota a plenitude do mistério de Deus, e meditar

sobre a unicidade do cristianismo, superando a ideia triunfalista cristã sobre as outras religiões. Por essa razão, o tema a economia do Logos encarnado e a questão do diálogo

entre as religiões será desenvolvido em três momentos:

a) A economia da revelação cristã alarga seu horizonte de compreensão na medida em que defronta-se com o fenômeno do pluralismo religioso atual, pois as outras religiões fornecem elementos que aprofundam as riquezas do próprio mistério cristão. Refletir sobre o significado das religiões no plano de salvação de Deus, ajuda a superar o luto mal resolvido, herdado da derrocada da cristandade medieval, e a abdicar do triunfalismo cristão, a fim de afirmar a universalidade do mistério de Cristo – e não do cristianismo histórico – e de reconhecer uma certa cristianidade da qual cada pessoa desse mundo participa, em virtude do desígnio criador e salvador de Deus para a humanidade;

b) A economia do Logos encarnado, como sacramento de uma economia mais vasta, se embasa no paradoxo cristológico da manifestação do Absoluto na relatividade histórica, propiciando uma hermenêutica do diálogo inter-religioso que prescinda de uma visão absoluta do próprio cristianismo. Ampliar a percepção das manifestações do mistério divino, despoja o cristianismo de sua pretensão totalizadora e abre-o à nomeação histórica da experiência de Deus em Jesus Cristo à luz do Espírito Santo, respeitando as inúmeras manifestações de Deus na vastidão da economia salvífica;

c) O diálogo entre as religiões na perspectiva de uma alteridade irredutível, busca reconhecer, escutar e interpretar as religiões em sua diferença, a fim de ultrapassar uma postura apologética e edificar um ecumenismo planetário. A alteridade é essencial tanto na revelação cristã, quanto em outras culturas e religiões, e reveste-se de grande importância para a integralidade do humano. A disposição em deixar-se transformar pelo diálogo, proporciona ao cristianismo e às outras religiões um intercâmbio de dons e um enriquecimento mútuo.

O Logos divino é ontologicamente dialógico (Jo 1,1-18). Para Feuillet e Boismard, o

Logos que age em toda a história humana é o Cristo em sua existência pré-terrena, possuindo,

assim, uma força iluminadora universal incomparável, derivada de sua divindade.352 O Logos

joanino resgata a unidade do plano de salvação de Deus que abraça a totalidade da história. As alianças cósmica e mosaica, por exemplo, conservam a sua atualidade como o resultado da atuação do Logos, única fonte da luz divina que ilumina toda humanidade (Jo 1,4.9). O Logos que assume a natureza humana em Jesus Cristo, torna-se o ponto de convergência e a chave interpretativa de todo processo da autocomunicação divina. Porém, a dinâmica encarnacional da economia salvífica de modo algum obscurece a presença e a ação permanente do Logos divino na história. Conforme afirma O’Leary, a contingência da encarnação do Logos e a universalidade de sua manifestação caminham de mãos dadas na economia salvífica.353

Em Jesus Cristo, há uma profunda e misteriosa comunhão no nível ontológico da unicidade da pessoa, designada como communicatio idiomatum, segundo a qual, lembra Bruno Forte, as propriedades humanas são atribuídas ao sujeito divino e a humanidade deste sujeito divino apresenta-se como verdadeiro sacramento de Deus. Por isso, o humano pode veicular, mas não conter, absorver ou exaurir, o divino que infinitamente o transcende.354 A

pessoa divina do Logos, segundo Dulles, não se esgota nos elementos de sua aparição histórica, pois esta lhe confere limitações inevitáveis.355 Torres Queiruga sustenta que Deus

não despeja na humanidade os esplendores de sua onipotência, mas em Jesus, assume e compartilha uma forma simples, que por si só é a Boa Nova. A confluência dessa linha dupla em Jesus – Deus para o homem e o homem para Deus – define o núcleo de seu mistério.356

Para Daniélou, a originalidade irredutível do cristianismo está contida na dinâmica dialógica da encarnação do Logos divino, como movimento de Deus para o ser humano, que revela a intimidade do mistério intratrinitário e convida a humanidade à participação na vida divina.357

A economia do Logos encarnado, por meio da qual o Deus invisível fala aos homens como a amigos (DV 2), confere uma perspectiva dialógica à história da salvação e favorece o reconhecimento dos limites inerentes ao cristianismo histórico e à própria humanidade de Jesus. Segundo Geffré, o Logos que se fez dia-logos é o sacramento de uma ação mais ampla

352 Cf. FEUILLET, André. Le prologue du quatrième évangile, p. 166-167; BOISMARD, Marie-Émile. Le

prologue de Saint Jean, p. 43-49.

353 Cf. O’LEARY, Joseph Stephen. La vérité chrétienne à l’âge du pluralisme religieux, p. 280.

354 Cf. FORTE, Bruno. Teologia da história, p. 111. A respeito disso, ver: LUTERO, Martinho. Debate sobre a

divindade e a humanidade de Cristo [1540], p. 277.

355 Cf. DULLES, Avery. Models of revelation, p. 190.

356 Cf. TORRES QUEIRUGA, Andrés. Repensar a cristologia, p. 18-20.

357 Cf. DANIÉLOU, Jean. Saggio sul mistero della storia, p. 128-131; Id. Il mistero della salvezza delle nazioni,

do mistério divino. Essa dinâmica convoca a ir ao encontro do outro, do diferente, vendo-o como um colaborador na missão de testemunhar os valores do Reino de Deus no mundo. Geffré acredita que isso será possível na medida em que as religiões assumirem a sua missão como mudança de mentalidade, em prol da descentralização de si, em benefício do Reino de Deus e do humano autêntico, produzindo, assim, uma transformação recíproca, sem proselitismos.358 Coste afirma que é preciso questionar-se sobre o desafio constante de viver a

plenitude e a dinamicidade da própria fé respeitando a liberdade das outras tradições religiosas e estabelecendo caminhos para o diálogo.359

O que Cristo inaugurou em relação à Antiga Aliança judaica, segundo Brill, não tem a ver imediatamente com um novo culto, um novo sacerdócio e um novo templo, mas está mais para uma radicalização da Lei mosaica e do profetismo veterotestamentário do que para uma ruptura radical.360 A grande novidade cristã, para Geffré, está no espírito novo com que se

assumem as antigas categorias da religião bíblica. Na prática, a missão junto aos não judeus provocou o discernimento daquilo que é especificamente cristão. Geffré chega até mesmo a se questionar sobre o que é mais importante no cristianismo, se é um conjunto de ritos, práticas e representações – elementos estruturalmente comuns a todas as religiões – ou o poder inovador e imprevisível do Evangelho. Diante disso, percebe-se como o diálogo com as outras religiões pode ajudar o cristianismo a se ater ao que é realmente essencial e relevante na mensagem do Evangelho. Geffré acredita que o encontro do cristianismo com as outras religiões permite descobrir traços comuns entre as religiões e faz pensar naquilo que o cristianismo tem de original, mas que não consegue explicar por si mesmo. Nesse sentido, as religiões não cristãs podem fornecer ao cristianismo a possibilidade de uma reinterpretação enriquecedora do mistério insondável de Deus e da relação do ser humano com a transcendência. Por isso, uma compreensão mais ampla da economia da revelação cristã passa pela possibilidade de uma teologia cristã do pluralismo religioso.361

Sendo assim, com o intuito de desenvolver o tema a economia do Logos encarnado e

a questão do diálogo entre as religiões, o presente capítulo articula-se em três blocos de

reflexão, interligados entre si: a economia da revelação cristã diante do pluralismo religioso hodierno; a economia do Logos encarnado como sacramento de uma economia mais vasta; o diálogo entre as religiões na perspectiva de uma alteridade irredutível.

358 Cf. GEFFRÉ, Claude. Como fazer teologia hoje, p. 306; Id. De Babel a Pentecostes, p. 256. 359 Cf. COSTE, René. Théologie de la liberté religieuse, p. 454-455.

360 Cf. BRILL, Alan. Judaism and other religions, p. 17.

361 Cf. GEFFRÉ, Claude. From the theology of religious pluralism to an interreligious theology, p. 45-59; Id. A

2.1 A ECONOMIA DA REVELAÇÃO CRISTÃ DIANTE DO PLURALISMO RELIGIOSO

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