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2.3 O DIÁLOGO ENTRE AS RELIGIÕES NA PERSPECTIVA DE UMA ALTERIDADE IRREDUTÍVEL

2.3.3 A emergência de um ecumenismo planetário

Devido aos vertiginosos progressos científicos e tecnológicos dos últimos anos, todo o planeta está hiperconectado. Há uma mundialização acelerada das informações. As pessoas desenvolveram uma consciência mais aguda dos laços que as unem entre si e com os outros seres vivos (CTIcs 71). Para Geffré, atualmente vive-se a idade planetária da humanidade, caracterizada, de modo geral, pela consciência coletiva da importância de uma convivência saudável entre todos os habitantes do planeta, considerado uma casa comum (LS 164). Diante de graves urgências humanitárias e ecológicas, Geffré toma a palavra ecumenismo, reservada comumente ao diálogo entre os cristãos, e radicaliza o seu significado, cunhando o termo

ecumenismo planetário, a fim de voltar-se à toda terra habitada – οἰκουμένη – e abarcar os

fenômenos da globalização e do pluralismo religioso, tendo como meta última, uma urgente mobilização em prol da sobrevivência da humanidade e da preservação do planeta.676

Cláudio Ribeiro afirma que o ecumenismo planetário em Geffré vai além de um ecumenismo confessional, restrito às tradições cristãs, voltando-se à dimensão de toda terra habitada, incluindo, assim, a pluralidade das religiões, com o intuito de valorizar as práticas ecumênicas relacionadas às grandes causas da humanidade.677 Segundo Geffré, a situação

atual demanda sair dos pares conceituais. É fundamental um diálogo que integre todas as religiões, em suas identidades e diferenças, superando antigos preconceitos, purificando o imaginário e reelaborando novas concepções. Para isso, é necessário elaborar alguns critérios ou pontos de encontro, sobre os quais se constituirão bases ou plataformas de compreensão mútua, de acordos e de colaboração prática. No entanto, surge o seguinte questionamento: no diálogo entre cristãos, dispõe-se de um critério comum: Jesus Cristo. Por mais que haja diferenças simbólicas, rituais e institucionais oriundas de divisões históricas entre as diferentes denominações cristãs, esse critério permanece inquestionável. Contudo, quando se trata de um ecumenismo planetário, o desafio consiste em encontrar um critério de unidade que seja aceitável por todas as religiões. Geffré se debruça sobre essa questão percorrendo um itinerário bastante complexo, evitando, sempre que possível, basear-se em generalizações.678

Para que o ecumenismo planetário se efetive, Geffré elabora critérios comuns para o diálogo, classificados em três níveis diferentes:

676 Cf. GEFFRÉ, Claude. O futuro da religião entre fundamentalismo e modernidade, p. 329-330; Id. Le

fondement théologique du dialogue interreligieux, p. 74; Id. De Babel a Pentecostes, p. 14; Id. Crer e interpretar, p. 143-149; GOMES, Tiago de Fraga. O pluralismo religioso no horizonte de um ecumenismo planetário em Claude Geffré, p. 97; Id. Diálogo ecumênico, promoção humana e busca da paz, p. 56.

677 Cf. RIBEIRO, Cláudio de Oliveira. Pluralismo e religiões, p. 374.

No nível teológico monoteísta, Geffré abrange as religiões adeptas do monoteísmo. Judeus, cristãos e muçulmanos adoram o único Deus: criador e todo-poderoso. Embora possuam divergências doutrinais, ambos têm a vocação histórica de nomear e adorar a um Deus pessoal que dialoga com a humanidade. Nesse primeiro nível, contempla-se pouco mais da metade da humanidade. De uma população mundial de 7,7 bilhões de pessoas, em torno de 2,17 bilhões (31,5%) se declaram cristãos, 1,59 bilhões (23,2%) se declaram muçulmanos e 13,85 milhões (0,2%) se declaram judeus. À vista disso, apesar da sua amplitude, esse ainda não é um critério considerado universal, estritamente falando679;

No nível antropológico idealista, Geffré trabalha o conceito de humano autêntico: algumas convicções fundamentais compartilhadas pelo conjunto da comunidade humana que caracterizam a essência do ser humano, e que, teoricamente, seriam comuns a todas as religiões. Apesar do significado do humano autêntico continuar em aberto, sabe-se cada vez mais sobre o que atenta contra os direitos humanos individuais e coletivos e o que contradiz as legítimas aspirações da consciência humana universal. Em suma, o humano autêntico corresponde àquilo que de mais fundamental há no humano. Desse critério, Geffré abstrai outros dois critérios, o critério ético como tudo o que condiz e não contradiz a humanidade autêntica em um sentido prático, visando à libertação e à felicidade das pessoas, e o critério

místico como a abertura fundamental do ser humano à transcendência. Em última instância, o

nível antropológico corresponde à capacidade humana de alteridade, tanto em relação ao sagrado/transcendente, quanto em relação aos seus semelhantes e à ordem da criação ou natureza/cosmos. Esse já é um critério considerado universal, porém, muito abstrato680;

No nível soteriológico teleológico, Geffré aborda o anseio direto ou indireto de todas as religiões por salvação: como libertação das limitações do eu e/ou do mundo. Esse nível corresponde ao descentramento de si em prol da Realidade última ou do sagrado, sob a designação de um Ser pessoal (tradição bíblica), do Absoluto transcendente, de uma força oculta do Universo (Brahman) ou do ser humano (Atman), do Vazio (Nothingness), do Tao, etc. Esse é um critério universal que contempla as crenças específicas de cada religião e se relaciona com as questões da fé fundamental, da incondicionalidade na ordem do sentido e do ser e da experiência da transcendência como preocupação última681, nas quais convergem

todas as religiões, sendo esse o critério mais básico para o ecumenismo planetário.

679 Cf. GEFFRÉ, Claude. De Babel a Pentecostes, p. 17; Id. Ibid., p. 205-206; Id. Crer e interpretar, p. 149-150;

WORLDOMETERS. World population.

680 Cf. GEFFRÉ, Claude. De Babel a Pentecostes, p. 207; Id. Profession théologien, p. 98-99; Id. Pour un

christianisme mondial, p. 61; Id. Crer e interpretar, p. 150-152; PANASIEWICZ, Roberlei. Pluralismo religioso contemporâneo, p. 122.

Geffré compartilha com Panikkar o desejo de construir um ecumenismo ecumênico, baseado no diálogo sincero entre as pessoas das diversas expressões religiosas. Para Panikkar, um diálogo sincero entre as religiões não visa meramente uma apresentação de ideias ou ideais religiosos atinentes a questões doutrinais ou de interesse comum, mas, sobretudo, pretende defender a dignidade integral das pessoas envolvidas na interlocução. É um encontro entre pessoas e não uma negociação intelectual regida pelo princípio da não-contradição. É a pessoa inteira, com sua atitude de fé, que está envolvida na discussão. Por isso, no diálogo entre as religiões, dois elementos são indispensáveis: esperança e amor. Esperança para trancender os sistemas estritamente dogmáticos, superando o obstáculo da incompreensão, mesmo que por palavras e conceitos divergentes. Amor para descobrir no outro o que falta em si próprio, sem visar a vitória no diálogo, mas com o intuito de alcançar um reconhecimento comum da verdade, sem ignorar as diferenças.682

O diálogo entre as religiões, além de ser um dever histórico, é uma realidade inevitável para o qual a geração atual e as futuras precisam se preparar de maneira adequada. Faustino Teixeira estabelece como disposições necessárias para o diálogo: disponibilidade à abertura e ao acolhimento; convicção religiosa fiel ao engajamento da própria fé; abertura à verdade que prescinda de um sentimento de certeza absoluta e reconheça a ação de Deus na história; convicção de que o diálogo não enfraquece, mas aprofunda a fé, revelando-lhe novas dimensões.683 Para Panikkar, para que isso aconteça, é indispensável que as pessoas cultivem

um senso de autoconhecimento, sondando experiências e convicções que fundamentam as suas crenças religiosas. Todo diálogo genuíno afunda raízes em identidades maduras que se questionam a respeito de suas motivações mais profundas, pois, não há como se engajar em um diálogo sem antes adentrar em uma autocrítica. Muitas armadilhas podem ser evitadas ou mesmo desarmadas, desde que essa dimensão não seja negligenciada. Esse questionamento introspectivo desperta para o desafio da mudança, cuja consequência consiste em uma relativização das próprias crenças, sem, no entanto, cair em um relativismo, porém, sob o risco de revolta a muitos dos padrões tradicionais, até então irrefletidos.684

A reflexão teológica atual ganha cada vez mais uma dimensão ecumênica. Não é mais possível fazer teologia dentro de grupos restritos de forma isolada. Panikkar fala de um

ecumenismo ecumênico da teologia, pois a teologia não pode deixar de ampliar a sua abertura

aos anseios de toda a família humana. Além disso, não é mais possível ignorar a presença e a

682 Cf. PANIKKAR, Raymond. The intrareligious dialogue, p. 69-70.

683 Cf. TEIXEIRA, Faustino. O cristianismo entre a identidade singular e o desafio plural, p. 94-96. 684 Cf. PANIKKAR, Raymond. The intrareligious dialogue, p. 73-74.

mútua influência entre as religiões do mundo. Por isso, é preciso fomentar um encontro sincero entre elas, buscando a unidade na diversidade. O ecumenismo ecumênico almeja considerar, simultaneamente, as condições do contexto mundial atual e o lugar das religiões na vastidão da economia salvífica, sem uma subordinação a priori à autocompreensão cristã. As premissas do ecumenismo ecumênico são: ninguém individual ou coletivivamente possui consciência universal; o encontro entre as religiões não almeja ser um concurso que represente vencedores e perdedores; o objetivo é alcançar um novo ponto de concordância, com lealdade às confessionalidades, porém, em fecundação mútua; os acordos intensionados não implicam em uniformidade de opiniões, mas significam uma harmonia de corações cheios de fé, esperança e amor. Por conseguinte, apesar da dimensão ecumênica da teologia ser uma tarefa ainda a ser intensificada, já se vislumbram belas iniciativas no cenário mundial.685

Panikkar propõe alguns pontos a serem trabalhados para que a dimensão ecumênica da teologia seja fomentada: considerar a realidade humana em sua tensão dialética, valorizando as polaridades como possibilidades dinâmicas e criativas de um processo de crescimento mútuo; salientar o potencial antropológico das religiões em sua capacidade de levar as pessoas à sua autorrealização; reconhecer que todas as expectativas humanas estão envolvidas em uma busca por plenitude, mesmo que por caminhos diversos, e que nenhuma tradição religiosa pode esgotar a totalidade da experiência humana da transcendência; prescindir de todo imperialismo intelectual e monolinguístico para expressar a experiência humana da transcendência; clarear que o ecumenismo não é de forma alguma um irenismo que impeça o desacordo, mas precisa fornecer uma plataforma de diálogo crítico na busca do entendimento mútuo; frisar que a preocupação pela paz e pela justiça é hoje uma aspiração universal que necessita do apoio de todas as pessoas religiosas, e redescobrir a tarefa básica e duradoura da religião em contribuir para a libertação humana.686

Em vista desse apelo dialógico em nível planetário, é oportuno ressaltar três condições fundamentais, enfatizadas por Geffré687, para que haja um diálogo autêntico entre as pessoas

das diversas tradições religiosas:

a) Respeito ao outro em sua identidade própria: não há como dialogar se não houver

respeito ao interlocutor e pelas suas ideias e crenças pessoais, a fim de não incorrer, no dizer de Cláudio Ribeiro, em um encobrimento do outro.688 Coste sustenta que quem diz direito à

liberdade religiosa também diz dever de respeito aos outros, pois direito e dever são

685 Cf. PANIKKAR, Raymond. The intrareligious dialogue, p. 103-105. 686 Cf. PANIKKAR, Raymond. The intrareligious dialogue, p. 106-109.

687 Cf. GEFFRÉ, Claude. Le fondament théologique du dialogue interreligieux, p. 73-103. 688 Cf. RIBEIRO, Cláudio de Oliveira. Pluralismo e religiões, p. 374.

correlativos.689 Além disso, sem empatia, o diálogo não passará de uma afirmação das próprias

convicções, sendo ignoradas as convicções do outro. Segundo Geffré, sem dúvida, é difícil assumir convicções culturais e religiosas estranhas. Por isso, é preciso superar os próprios preconceitos históricos não criticados, resguardando-se de identificar com muita pressa o já conhecido no outro.690 Sendo assim, Cláudio Ribeiro afirma que os elementos-chave da

convivência humana e religiosa em geral são a alteridade, o respeito à diferença e o diálogo colaborativo em prol de uma causa. Portanto, é necessário reconhecer a diferença como a base de uma possível relação.691 Segundo Duquoc, pretender organizar um mercado comum das

ideias e das crenças religiosas, evitando as diferenças que as tornam originais, acaba por anular toda possibilidade de diálogo.692 Nesse sentido, para Geffré, só há diálogo autêntico

quando se respeita o outro em suas diferenças constitutivas, e isso só acontece na medida em que se busca ultrapassar preconceitos espontâneos, conhecendo melhor o outro com suas respectivas peculiaridades. Geffré lembra que o colonialismo ocidental muitas vezes ignorou a identidade própria das culturas e religiões estrangeiras, mas que a acolhida ao estrangeiro, está nas raízes da tradição cristã, de modo que Jesus, em suas parábolas, dá testemunho do respeito devido ao estrangeiro (Mt 25,31-46; Lc 10,25-37).693 Em suma, essa primeira

condição para o diálogo tem o intuito de evitar toda forma de anulação ou assimilação da identidade do interlocutor, propiciando uma abertura ao novo, ao diferente;

b) Fidelidade à própria identidade: não há diálogo a partir de lugar nenhum. Geffré

ressalta que o diálogo entre as religiões é sempre entre essa ou aquela religião histórica, com suas peculiaridades.694 Segundo Panikkar, uma fé não confessada e apenas teoricamente

formulada, não é fé, pois toda experiência do mistério divino não diz respeito a algo meramente intelectual, mas existencial.695 Geffré defende que toda abertura ao outro

pressupõe, ao mesmo tempo, engajamento pessoal e disposição à relação. Sem identidade própria, isso não é possível. Valer-se de uma religião mundial, significa perder a qualidade de interlocutor. Igualmente, a atitude irenista que pretende favorecer o diálogo ao custo de colocar entre parênteses as próprias convicções, suspendendo provisoriamente a própria fé, trata-se, para Geffré, de um cálculo ilusório.696 Segundo Dupuis, no diálogo inter-religioso,

689 Cf. COSTE, René. Théologie de la liberté religieuse, p. 187. 690 Cf. GEFFRÉ, Claude. Crer e interpretar, p. 144.

691 Cf. RIBEIRO, Cláudio de Oliveira. Pluralismo e religiões, p. 379. 692 Cf. DUQUOC, Christian. Dieu différent, p. 140-141.

693 Cf. GEFFRÉ, Claude. De Babel a Pentecostes, p. 16; Id. Ibid., p. 120; Id. Ibid., p. 349. 694 Cf. GEFFRÉ, Claude. De Babel a Pentecostes, p. 18.

695 Cf. PANIKKAR, Raymond. Teologia da libertação e libertação da teologia, p. 175-176; Id. Ícones do

mistério, p. 248-249.

nunca se põe entre parênteses a fé pessoal mediante uma espécie de epoché, mas se requer dos interlocutores um empenho sincero com a integridade da própria fé, pois a autenticidade do diálogo não autoriza o contrário. O diálogo, para ser autêntico, busca a compreensão na diferença, não se enveredando simplesmente pela via da facilidade.697 Para Whaling, sem

desfazer-se das próprias crenças, o conhecimento da religião do outro implica em uma boa dose de empatia: é como entrar na pele do outro, calçar os seus sapatos e ver o mundo como o outro vê.698 Geffré acredita que a defesa argumentada da própria verdade não acarreta,

necessariamente, no desejo de prevalecer ou superar o outro, desde que cada interlocutor descubra que a verdade que é para si objeto de convicção absoluta, não é nem exclusiva nem inclusiva de qualquer outra verdade. Portanto, o diálogo perde sua riqueza e sua eficácia, anulando sua capacidade de transformação dos interlocutores, quando as ideias e convicções de cada um dos interlocutores são omitidas ou falseadas. Sendo assim, é a fidelidade à própria identidade que proporciona que o diálogo não desemboque em um sincretismo fácil, mas que tenha o potencial de ampliar a compreensão de cada um dos interlocutores699;

c) Necessidade de certa igualdade entre os interlocutores: o diálogo sincero acontece

quando há abertura à transformação recíproca, com disposição, até mesmo, de mudar a forma de apropriar-se das próprias verdades, considerando a possibilidade de interpretar de maneira nova as próprias tradições. Segundo Coste, a importância dessa atitude reside no fato de que a essência da abordagem religiosa consiste justamente na busca pela verdade.700 Geffré afirma

que um diálogo sincero conduz a uma inteligência mais aguçada da própria identidade, e tende a culminar na celebração de uma verdade mais elevada e profunda que a verdade parcial de cada um dos interlocutores, pois toda apropriação pessoal da verdade é sempre limitada, e, por isso, relativa.701 No entanto, é necessária a afirmação de uma certa igualdade entre os

interlocutores que leve à prática cordial da alteridade: requer-se que ambas as opiniões sejam consideradas em seu devido valor, sem a predominância prévia de umas sobre as outras. Na medida em que um dos interlocutores se considera mais importante ou superior em relação ao outro, há uma anulação da interlocução sincera pela imposição das próprias ideias, opiniões e crenças. Quando isso acontece, já não há mais diálogo autêntico. Por conseguinte, é preciso acreditar que o outro sempre tem algo a agregar e que todo diálogo autêntico é uma forma de crescimento e de maturação das próprias compreensões e apropriações da verdade.

697 Cf. DUPUIS, Jacques. Rumo a uma teologia cristã do pluralismo religioso, p. 406; Id. Ibid., p. 515. 698 Cf. WHALING, Frank. Christian theology and world religions, p. 130-131.

699 Cf. GEFFRÉ, Claude. De Babel a Pentecostes, p. 121; Id. Ibid., p. 349. 700 Cf. COSTE, René. Théologie de la liberté religieuse, p. 97.

Para Geffré, um diálogo autêntico proporciona às religiões uma visão mais ampla sobre o seu papel diante do cenário mundial atual, superando antigas querelas e percebendo a necessidade de se colocar a serviço das grandes causas da humanidade.702 Em virtude da

consolidação do fenômeno da globalização – caracterizado por Faustino Teixeira por sua abrangência, velocidade e encurtamento das distâncias entre povos e culturas703, e por

Panasiewicz como desenraizamento cultural e uniformização das identidades704 –, há uma

acentuação progressiva de uma consciência universal no tocante à necessidade de preservação da vida humana e do planeta. Por conseguinte, graças ao diálogo entre as religiões, torna-se cada vez mais significativo e decisivo aquilo que as vincula ao invés daquilo que as divide. Nesse sentido, pode-se falar em um diálogo inter-religioso que se estende a toda οἰκουμένη, excedendo divergências e acentuando pontos em comum, em vista da necessidade de edificar uma fraternidade colaborativa a nível planetário.

Segundo Geffré, o diálogo inter-religioso tornou-se uma necessidade em função das grandes causas que solicitam a responsabilidade comum da consciência humana, as quais redirecionaram muitas das prioridades que até então ocupavam a primazia. Em virtude da superação das ameaças que rondam o futuro da humanidade e do planeta, as religiões têm um importante papel na formação de um ethos planetário que fomente uma convivência saudável entre as pessoas e o meio ambiente, enfatizando não a dominação de uns sobre os outros, mas a colaboração de todos em prol da libertação das situações de injustiça e da efetivação de novas conjunturas de paz. É justamente a partir dos recursos espirituais próprios de cada tradição religiosa que o diálogo inter-religioso pode estimular a convivência na diversidade, buscando interesses vinculantes no tocante ao bem comum e à justiça, sem os quais, não há paz.705 O destino do planeta é de interesse comum, pois atinge a todos indistintamente.

Portanto, o diálogo colaborativo entre as religiões é imprescindível na edificação de uma cultura de paz e não violência.

702 Cf. GEFFRÉ, Claude. O Deus de Jesus e os possíveis da história, p. 80.

703 Cf. TEIXEIRA, Faustino. O imprescindível desafio da diferença religiosa, p. 182. 704 Cf. PANASIEWICZ, Roberlei. Pluralismo religioso contemporâneo, p. 111. 705 Cf. GEFFRÉ, Claude. De Babel a Pentecostes, p. 119.

3 LOGOS COLABORATIVO: o diálogo entre as religiões em prol de uma cultura de

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