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Quando se trata da forma como se conhecem os objetos é necessário fazer, de início, um retrospecto sobre a lógica para que se tenha ao menos um fio condutor que oriente este plano, com as regras de um pensar correto criticamente formulado. A lógica adota a análise como estrutura do pensamento e busca separar os elementos para estabelecer a validade formal dos juízos.

A análise em geral, a descrição ou a interpretação de uma situação ou de um objeto qualquer nos termos dos elementos mais simples pertencentes à situação ou objeto em questão. A finalidade desse processo é resolver a situação ou o objeto nos seus elementos, de modo que um processo analítico é considerado bem-sucedido quando tal resolução é realizada. Esse processo foi empregado por Aristóteles na lógica da demonstração (apodítica), com a finalidade de resolver a demonstração no silogismo, o silogismo nas figuras, as figuras nas proposições (An. pr., I, 32, 47 a 10).73

Cabe destacar que a questão da lógica pode ser dividida, na prática, em dois grandes grupos: o que restringe o plano da lógica à teoria da inferência formal válida, aos moldes propostos por Aristóteles, e posteriormente por Frege, que adota a lógica como instrumental de validação e controle de um pensar correto; e a teoria do Port-Royal que tem a lógica uma “ciência das leis necessárias ao entendimento e da razão geral”74.

A discussão desse tema se faz necessária, pois permite encaminhar a discussão, promovendo uma separação nítida entre a implicação analítica fundada em proposições assertatórias – empíricas – pelo vetor verdadeiro/falso, o qual compreende a lógica antiga e atual; e a concepção que está subjacente à lógica Port-Royal, que se orienta pelo vetor de uma racionalidade posta em graus de razoabilidade.

Na lógica antiga e também na contemporânea,

essa tendência coincide substancialmente com a tendência empirista (no sentido metodológico do empirismo [v.]) a restringir a investigação aos “fatos observáveis” e às relações entre tais fatos: tendência que implica, em cada caso, a exigência de indicar o método ou o procedimento mediante o qual o fato pode ser efetivamente observado. Nesse sentido, o procedimento analítico leva à eliminação de realidades ou de conceitos “em

73 ABBAGNANO, Nicola, op. cit., p. 51-52.

si”, isto é, absolutos ou independentes de qualquer observação ou verificação e pressupostos como realidade ou verdades “últimas”.

A lógica psicológica de Port-Royal que parte também da análise, mas que relega, de certa forma, o fundamento empírico a um segundo plano, adota a razão a priori como matriz de racionalidade. A análise para os racionalistas é “toda obra do intelecto”:

Segundo Kant, é analítico o procedimento próprio da “lógica geral”, porquanto “resolve toda a obra formal do intelecto e da razão nos seus elementos e expõe esses elementos como princípios de toda valorização lógica de nosso conhecimento” (Crít. R. Pura, Lóg. transc., intr.,3). O mesmo procedimento também é próprio da lógica transcendental, que isola o intelecto, isto é, a parte do conhecimento que tem origem só no intelecto (conhecimento a priori), mais precisamente da Analítica transcendental, que é “a resolução de todo o nosso conhecimento a priori nos elementos do conhecimento puro intelectual”75.

Para manter uma coerência argumentativa adota-se o estudo da lógica nos termos postos por Tugendhat, que examina o tema essencialmente nos primeiros capítulos de seu livro indicado, cuja síntese é suficiente para ter um conhecimento necessário às exigências expositivas postas no presente estudo.

Tugendhat classifica a lógica, “grosso modo“, em três períodos: a) lógica antiga – ou pensamento clássico – que se estende desde o seu fundador, Aristóteles, até o final da Idade Média; b) a lógica moderna, iniciada com a chamada Lógica de Port-Royal (1662), e que se caracteriza em face da sua “predominância de problemas ligados à teoria do conhecimento e à psicologia”; e c) a lógica contemporânea, iniciada por Frege (1879) caracterizada pela lógica matemática simbólica (ou também denominada de “logística“) e que se caracteriza em face da sua concepção, segundo as leis da linguagem e pela fundamentação em cálculos.

Diante dessas três épocas, então, se pode referir que a lógica tem modos diferentes de conceber a verdade investigando sempre leis, regras ou relações.

a) A concepção da lógica antiga que investiga leis do ser ou da realidade: concepção neste estudo denominada de ôntica como se referiu que promove a concepção do ser por via do analítico;

Em geral, uma disciplina ou uma parte de disciplina cujo método fundamental é a análise (v.). Aristóteles chamou de análise a parte da lógica

75 ABBAGNANO, Nicola, op. cit., p. 52.

que visa resolver qualquer raciocínio nas figuras fundamentais do silogismo (Primeiros analíticos) e qualquer prova nos próprios silogismos e nos primeiros princípios, que constituem suas premissas evidentes (Segundos analíticos).76 Desse ponto de vista, a análise estendeu-se e consolidou-se em detrimento daquilo que se chama “metafísica”, isto é, do domínio das realidades absolutas e das verdades necessárias.77

b) A concepção psicológica – caracterizada pela lógica de Port Royal, que define a lógica como a arte de bem guiar a razão – adotada como se mostrou por Kant78;

Kant chamou de “analítica transcendental” a primeira parte da “doutrina dos elementos“ na Crítica da Razão Pura e na Crítica da Razão Prática (enquanto a segunda parte é a Dialética), entendendo por analítica a determinação das condições a priori do conhecimento e da ação moral. A Crítica do Juízo contém, além disso, uma analítica do belo, uma analítica do sublime e uma analítica do juízo teleológico, que determinam as condições a priori: respectivamente, as primeiras duas do juízo estético, a outra do juízo sobre a finalidade da natureza.

c) A lógica contemporânea, cuja concepção se guia pelas leis da linguagem (concepção lingüística) direcionada a um empirismo lógico em que se aproximam os analíticos aristotélicos da analítica de Port-Royal.

Na filosofia de Heidegger, a análise está voltada para a existência, isto é, para as situações mais comuns e repetíveis em que o homem se encontra no mundo. No empirismo lógico, a análise é análise da linguagem e tende a eliminar as confusões mediante a determinação e a verificação do significado ou modo de uso dos signos. Essas tendências analíticas da filosofia contemporânea são mais ou menos opostas à metafísica tradicional e tendem a conferir à metafísica tradicional e tendem a conferir à pesquisa filosófica um método rigoroso para confirmação e a verificação de seus resultados. Ao mesmo tempo, todas elas condescendem, em maior ou menor grau, com certas inflexibilidades metafísicas: ao se falar, p.ex., de “dados últimos”, como Bergson, de “formas ou essências necessárias”, como Husserl, de “estruturas necessárias”, como Heidegger, de “proposições atômicas” ou de “fatos atômicos”, como o empirismo lógico, etc. Pode-se dizer, contudo, que a tendência das filosofias analíticas e da diretriz analítica das ciências consiste na progressiva eliminação de “pontos finais”, isto é, de elementos ou estruturas que, por sua substancialidade e necessidade, bloqueiem o curso ulterior da análise e a imobilizem em resultados assumidos como definitivos e, portanto, subtraídos a toda verificação passíveis de correção ou retificação. Desse posto de vista, a

análise é o equivalente atualizado do empirismo tradicional e a ela se contrapõe a metafísica no sentido clássico do termo, como ciência ou pretensa ciência daquilo que, sendo “necessariamente” e “em si”, não

76 ABBAGNANO, Nicola, op. cit., p. 54. 77 Ibid., p. 53.

tem necessidade de ser analisado, isto é, descrito, interpretado ou compreendido mediante procedimentos verificáveis. 79 (grifo nosso) Cabe mencionar, justificando os grupos, que o empirismo tradicional irá estar presente no curso das discussões, uma vez que a tese visa exatamente comprovar que renda se enfeixa num elemento empírico.

Por um corte metodológico, em face da necessidade do comentário aos argumentos básicos, se manterá a discussão orientada pelos dois modos de inferência acima referidos, lembrando que o terceiro período praticamente readotou o paradigma de argumentação da teoria aristotélica. O retorno se deu pela simples exclusão do teor psicológico incluído nos contornos desta ciência, pela escola sucedida, mantendo a necessária concepção analítica conjugada com a formação do conhecimento a priori daí decorrente.

A lógica contemporânea, terceira corrente, retorna à lógica como objeto do estudo no sentido estrito que fora relegada a um segundo plano pela Escola de Port Royal. Esta concepção lógica, que se seguiu à concepção psicológica, adota a denominada teoria do pensamento correto, segundo Tugendhat seria demasiado indeterminada, mas podem-se deduzir alguns princípios. O principio da inferência válida promovida em forma dos enunciados (juízos) que se dividem em dois conceitos: o da inferência e o da forma lógica. Importante é reter na memória, então, a contraposição dessas duas teorias.

Pela Escola Port-Royal foram relegados a um segundo plano a lógica no sentido estrito e os conceitos lógicos básicos de justificação da validade de um raciocínio. Tal tradição lógica de Port-Royal é muito importante, contemporaneamente, uma vez que suas concepções racionalistas (psicológicas) influenciaram Kant e Hegel. Tem-se então como fator importante a anotar que este terceiro período, em que a lógica se caracteriza por sua concepção lingüística, é novamente ter-se separado nitidamente os problemas especificamente lógicos dos problemas psicológicos. Essa questão retornará como um ponto fundamental no capítulo 5, da hermenêutica, e se prestará para ilustrar a diferença de concepção dos juízos entre a teoria denominada de Positivismo metodológico e a Fenomenologia Hermenêutica.

Tugendhat80 dá um exemplo de como seria a concepção, de cada uma das

três das teorias lógicas, adotando como objeto de concepção “o princípio da contradição” por via do qual se afirma “que algo não pode ao mesmo tempo ser e não ser o caso”.

A justificação dessa afirmação seria feita da seguinte maneira: 1) os que adotam a concepção ôntica da filosofia antiga afirmam que o fundamento é essência, ou seja, a matriz ôntica formada dos elementos que são captados analiticamente do ser; 2) o psicologista justifica a afirmativa a partir da essência do pensamento, abandonando a concepção analítica, e 3) os últimos justificam a afirmação a partir da essência da linguagem.

Essa divisão em épocas permite estabelecer de uma forma indicativa a lógica com que se formaram as concepções das verdades nas épocas históricas, tema que adiante se examinará.

Cabe desde logo adiantar, a compreensão da concepção psicológica, tendo em vista que esta continua subjacente à orientação da doutrinaria no Direito Tributário brasileiro, em face da acentuada influência de Kant e Hegel. Pela contraposição da Escola Aristotélica, retomada no terceiro período, com a lógica de Port-Royal se poderá ter uma visão tênue sobre os principais problemas que afetam o pensamento hermenêutico no Direito Tributário nacional.

Nesse sentido, Tugendhat refere-se aos conceitos da lógica nesses períodos: a lógica de Port-Royal define a lógica como a arte de bem guiar a razão. Segundo ele o entendimento mais comum é que a lógica stricto senso tem a ver com os princípios da inferência válida, para ser mais exato, ter-se-ia que completar: “na medida em que essa inferência se baseia na mera forma de enunciar os juízos”; entende-se por inferência a forma através da qual de um juízo se deduz outro.

Em face dessa exposição, se tem um núcleo que diferencia essas duas correntes da lógica: para os lógicos modernos (e também para os aristotélicos), a teoria que constitui a lógica é a inferência válida. Para os teóricos da Lógica de Port- Royal, a lógica é a teoria do pensamento correto.

Vê-se então que a teoria do Port-Royal abrange o pensamento como um todo, que deve ser correto; para os aristotélicos e modernos, a lógica se restringe somente a uma inferência válida, pela qual se demonstra a validade de um juízo.

Kant diz: “Toda experiência encerra, além da intuição dos sentidos para a qual algo é dado, o conceito de um objeto que é dado ou aparece na intuição, por isso, na base de todo conhecimento experimental há conceitos de objetos em geral como condições a priori, dever-se-á ao fato de que só graças a elas é possível a experiência (segundo a forma do pensamento)” (Ibid., Analítica, §14). E ainda: “A experiência apóia-se na unidade sintética dos fenômenos, numa síntese, segundo conceitos, do objeto dos fenômenos em geral, sem a qual nunca seria um conhecimento, mas uma rapsódia de percepções que nunca poderiam adaptar-se umas às outras, no contexto regular de uma (possível) consciência inteiramente unificada, portanto, nem à unidade transcendental necessária da percepção. 81

Tugendhat refere que no século XVII, tendo em vista a ciência entender que a inferência – na forma proposta pela lógica antiga – era a forma de extrair a verdade do que já era conhecido, era por isso estéril. Em face disso, passou a utilizar a lógica também como método confiável para encontrar a verdade. Então, não se passou a diferenciar mais entre a ars inveniendi e a ars demonstrandi, entre o encontrar a verdade e demonstrar a verdade.

Com isso o objeto da lógica de fundamentação da verdade passou a ter um apêndice: o de encontrar a verdade. Neste rumo, a lógica de Port-Royal se afastou da teoria lógica e se aproximou do que hoje é chamado de teoria do conhecimento. Assim a lógica, como genuína doutrina de um método de verificação da validade formal dos juízos, foi desconstruída pela agregação de um outro objetivo: o da descoberta da verdade. Por isso correm como objetos de uma mesma lógica elementos antagônicos: a descoberta da verdade, com o método de controle de validade dos juízos.

Com o pensamento orientado na descoberta da verdade, passou-se a promover inferências indutivas, ao invés de manter-se a lógica da inferência formal dedutiva; Tugendhat, referindo-se à inferência formal dedutiva esclarece: “Evidentemente, uma tal inferência não é válida do ponto de vista formal.”82

Tugendhat menciona:

A lógica do Port-Royal define a lógica como “a arte do bem guiar a razão” (raison). Encontramos uma delimitação mais nítida em Kant: a lógica e a “ciência das leis necessárias do entendimento e da razão em geral ou, o que é o mesmo, da mera forma do pensamento em geral “Kant enfatiza, com efeito, que isso não deve ser entendido psicologicamente: a lógica é a “ciência do uso correto do entendimento e da razão em geral, mas não é subjetiva, isto é, não se pauta por princípios empíricos( psicológicos ) de como entendimento pensa, mas sim objetiva, isto é, se pauta por princípios

81 ABBAGNANO, Nicola, op. cit., p. 412.

a priori de como ele deve pensar “ Num sentido amplo, porém, a concepção de Kant é psicológica, na medida em que ela parte justamente do conceito de entendimento, isto é, de algumas realizações do pensamento mesmo que seja acessíveis a priori.

Essa teoria do pensamento correto abrange a lógica do conceito, a lógica do juízo, a lógica da inferência e a doutrina do método. Tem-se então uma concepção que pode ser fundamentada numa tríade: conceito-juízo-inferência, realizações do pensamento (mesmo que sejam acessíveis a priori).

Tugendhat se utiliza, para expor o que é inferir, da explicação de Kant: “Por inferir deve-se entender aquela função do pensamento através da qual um juízo é deduzido a partir de um outro”. 83

Essa primeira teoria de inferência formal válida foi desenvolvida por Aristóteles e ampliada por Frege, como forma de contraditar a concepção psicológica, que por sua vez passa a denominar a lógica como a teoria do pensamento correto.

Segundo o autor a diferença entre a concepção denominada nesta tese de ôntica e a psicológica pode se fundar em dois extremos. Na forma moderada, o juízo, nas duas concepções, pode ter uma referência a um estado de coisas, estabelecida por via de proposições. No lado oposto pode-se falar de extremo, por via dessas duas concepções (a concepção ôntica, e a concepção psicológica).

O autor dá um exemplo de oposição frontal entre a duas concepções, adotando como objeto de explicação do que é

um estado de coisas: adotando posições de dois autores, mais representativos de cada uma destas concepções: uma concepção analítica; Wittgenstein84 afirmando que “um estado de coisas é concebido, é apreendido pelo pensamento, como uma conexão entre objetos-coisas. (tractatus 2.01)

Como uma concepção situada no outro extremo, a psicológica – usual no século XVIII – também defendida por Kant (logic § 17 ) entende que um estado de coisas é concebido por via de representação de unidade da consciência. Vê-se, então, que a lógica de Port-Royal abandona a base analítica e adota o apriorismo isoladamente. Tomando como objeto um estado de coisas num extremo, a lógica

83 TUGENDHAT, Ernst; WOLF, Ursula, op. cit., p. 12. 84 Ibid., p. 18.

ôntica é concebida como elemento empírico descrito por via de proposições analíticas, como uma conexão dos objetos.

No extremo oposto está a concepção psicológica: que promove a representação lógica de um estado de coisas por mera representações de unidades de consciência, ou seja, por via de uma concepção formada absolutamente a partir do pensamento a priori em que os sentidos – a partir dos quais se forma a concepção analítica – estão excluídos.

Cabe aqui levar em conta que a lógica requer uma formulação específica em linguagem, em que as frases devem se formuladas a partir de uma metodologia específica. Para tal efeito Tugendhat cita Aristóteles:

Toda a frase tem um sentido (semantikós) (...) nem todas, contudo, apresentam algo (apophantikós), mas sim apenas aquelas que podem ser verdadeiras ou falsas, Nem todas podem sê-lo; assim, um pedido é, com efeito, uma frase, mas não é nem verdadeiro nem falso. Essa diferenciação se tornou clássica e também se encontra nos lógicos de hoje: há um tipo de frase – Aristóteles as chama de frases apofânticas; em português podem chamar-se de frases enunciativas ou frases assertatóricas – cuja função expressiva consiste especialmente em um apresentar (poder-se-ia esclarecer isso do seguinte modo em dizer que algo é o caso), e para essas frases há o critério de que, com relação a elas, pode-se sempre perguntar significativamente se elas são verdadeiras ou falsas. 85

Como se vê a formulação da lógica requer uma linguagem específica e especial, que não é a apropriada para formular uma descoberta da verdade, mas para a validação do argumento, sobre um “estado de coisas“. São os elementos ônticos, postos como algo em linguagem, que estão contidos numa frase enunciativa. A enunciação de um elemento é verdadeira ou falsa, dependendo da realidade existencial analiticamente estabelecida por via de enunciados assertórios. Wittgenstein refere que: “a frase, se ela é verdadeira, mostra como as coisas estão”. (Tractatus 4. 022)86

Neste sentido, a lógica conduz ao plano ôntico da existência das coisas e trata das coisas como elas são realmente. Por isso as frases sobre as coisas ou são verdadeiras ou são falsas. Sem dúvida, então, há que se examinar as coisas e verificar como são; trata-se de um conceito analítico.

Tugendhat refere:

85.TUGENDHAT, Ernst; WOLF, Ursula, op. cit., p. 22. 86 Ibid, p. 18.

Kant explica que: Em todos os juízos em que é pensada a relação de um sujeito com o predicado (... ) essa relação é possível de dois modos. Ou o predicado B pertence ao sujeito A como algo que está contido (encobertamente) nesse conceito A; ou B está totalmente fora do conceito A, ainda que ele esteja, com efeito, ligado a este. No primeiro caso eu chamo o juízo de analítico: no segundo de sintético. Juízos analíticos (os afirmativo) são, portanto, aqueles nos quais a ligação do predicado com o sujeito é pensada por meio da identidade; aqueles contudo em que a ligação é pensada sem a identidade devem ser chamados de juízos sintéticos (... ) P. ex., se digo: todos os corpos são extensos, então isso é um juízo analítico. (... ) Por outro lado, se eu digo: todos os corpos são pesados, então o predicado é algo totalmente diferente daquilo que penso no mero conceito de um corpo em geral. O acréscimo de uma tal predicação produz portanto um juízo sintético. 87

Aqui já se identifica a compreensão do que em lógica se entende por necessário, ou seja, quando o predicado posto na frase – o como as coisas são – “pertence ao sujeito”. Nesses casos, se fala em possibilidade de conhecimento a