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Como foi referido atrás, a literacia engloba um todo, na atualização das competências de processamento escrito nas atividades diárias, abrangendo uma área muito vasta da sociedade. A ela se atribui a capacidade/competência, não só da leitura e os usos concretos da língua, na expressão oral/escrita, mas também as funções que a leitura e a escrita assumem, enquanto elos estruturantes de uma sociedade do conhecimento (Olson, 1994). É neste contexto que a literacia, enquanto competência, tem sido alvo de estudo e investigação nos últimos anos (Ávila, 2008: 83). O conhecimento, ou não, de uma determinada população e a fluência que ela tem na língua pode determinar a capacidade de compreender e analisar, sob o ponto de vista crítico, um tema, um acontecimento, um documento, por questões sociais como desemprego, precariedade, ou exclusão social, factores que lhes estão diretamente associadas e “um dos domínios que surge fortemente associado à pobreza, sendo mesmo considerado um indicador fundamental de desenvolvimento humano é a educação” (Ávila, 2008: 27). Então e, seguindo uma linha de pensamento, a literacia origina “uma real transformação mental que origina a capacidade de entender e de agir num plano superior” (Alves, 2005: 15), sendo facto que a literacia influencia fortemente os resultados económicos, geralmente concebidos em três estágios: o individual, o social (escolas, comunidades e empresas) e macro da economia e da sociedade. Tal aspeto tem efeitos práticos no mercado de trabalho, que pode recompensar os trabalhadores que possuam competências mais elevadas de literacia, reconhecendo as competências atribuindo-lhes salários mais bem remunerados (GEPE, 2009).

De acordo com Ávila (2008), o meio onde nos encontramos inseridos e, independentemente do contexto, proporciona-nos uma panóplia de situações que apelam à leitura e à escrita, desde a lista de compras, à legenda do filme, à leitura do extrato

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bancário, à estruturação de uma receita de culinária. Mas, a mesma autora defende que o contexto que coloca mais desafios às competências de leitura, de escrita e cálculo dos adultos é o meio profissional, estando nós em total consonância com a autora. De facto, consideramos que o meio profissional, após o escolar, é aquele que pelas suas características, é o mais desafiante e estruturante das competências de leitura, escrita e cálculo, nos mais diversos suportes. A este propósito, (Martins, 1998), considera que a aprendizagem da leitura terá repercussões futuras na vida dos indivíduos. De facto, o percurso escolar terá importantes influências na vida futura, sobretudo enquanto adultos, inseridos numa sociedade e que necessitam de recorrer às corretas práticas da leitura e, também da escrita. Esta questão da literacia assume-se, desde há alguns anos, como uma competência fundamental, ou competência-chave, que Ávila (2008: 83) considera essencial, transversal e decisiva para a “aquisição de outras competências (ao longo da vida, e em diferentes contextos de vida) pode ficar comprometida”; Pinto (2010), no seguimento da autora anterior, também formula a sua posição, ao considerar que o cidadão hodierno, por fazer parte de uma moderna sociedade do conhecimento, não aceita aqueles que adotam uma posição de conformidade para com os certificados adquiridos, exigindo cada vez mais a postura da constante atualização dos saberes formais. Segundo a autora, “do ponto de vista cognitivo, independentemente da opção, prosseguir a formação será sempre vantajoso” (Pinto, 2010a:126).

A competência da escrita e da leitura está constantemente presente na vida quotidiana do cidadão hodierno, em vários cenários e contextos, não podendo tornar-se um problema, nas várias dimensões sociais. Com efeito, se o indivíduo não for detentor dessas mesmas competências, corre o risco de exclusão social e profissional. Têm sido os países mais desenvolvidos que têm promovido e sido alvo de estudos, para aferir a posse de literacia por parte dos cidadãos, por constantemente, se confrontar com desafios colocados por parte da sociedade. Mas, as competências podem, em algum momento da vida do cidadão, não serem utilizadas, ou serem mal aproveitadas, podendo, no entender de Ávila (2008), provocar uma regressão na literacia. Ora, esta regressão pode ter vários motivos e segundo a mesma autora as razões são várias: quer por ineficácia do sistema escolar em promover as competências de leitura e escrita em contextos distintos e a não utilização a nível profissional dessas mesmas competências, o que provocará uma regressão nas competências. Pinto (2010b) considera que as preocupações com a proficiência da leitura não se confinam ao território nacional, pois também fazem parte das preocupações dos países estrangeiros. A leitura é a base de uma futura sociedade alicerçada no conhecimento e no desenvolvimento, havendo contudo, que manifestar a interação indelével, entre a literacia e as competências no trabalho, na educação, na sociedade. De facto, para que coexista e permaneçam as competências de literacia, dos indivíduos, nos mais variados contextos, torna-se imprescindível que estas competências sejam treinadas, tenham continuidade e, sobretudo, seja criada uma sinergia entre elas para que as competências não se percam ou sejam destreinadas. No entender de Perrenoud (2003: 13), cabe à escola desenvolver os saberes e tornar as aprendizagens úteis, permitindo construir conhecimentos. Mas, isto tornar-se-á impossível, se os curricula não

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forem orientados nesse sentido, promovendo-se o saber fazer. A questão da posse de competências por parte da população portuguesa é uma questão que deverá preocupar as entidades superiores, de acordo com os últimos censos realizados em 2011 (INE, 2011). Compreende-se que existe uma preocupante percentagem de indivíduos sem qualquer nível de habilitação, já que cerca de 19% da população não possui nenhum nível de instrução, apesar de ter vindo a diminuir desde 1991, onde a média rondava os 35%, em 2001 a média se situa nos 26%.

Gráfico 5 - Estrutura da população por nível de ensino mais elevado e completo em 1991, 2001 e 2011 Fonte: INE, 2011: 23.

Estes resultados parecem-nos ser bastante preocupantes, apesar de preliminares, não havendo, portanto, dados relativos a idades, ou dados percentuais relativos a cada um dos itens considerados. Podemos afirmar, após análise da figura, que a percentagem de indivíduos detentores de nenhum grau académico e os possuidores do 1º ciclo, afetam o desempenho laboral e, em termos macro económicos, a própria economia. Serão indivíduos que terão certamente bastantes dificuldades em responder às constantes exigências do mercado laboral e, num contexto de forte instabilidade e crescente exigência, os indivíduos deverão ser capazes de responder transversalmente, com competências e melhor preparação no mercado de trabalho.

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PARTE II

A Proficiência Linguística: Estudo de

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