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Neste capítulo, pretendemos expor e justificar os processos e opções metodológicas utilizadas para operacionalizarmos os pressupostos da investigação que nos propusemos alcançar. Com esta metodologia, pretendemos orientar o processo de análise, provando, mediante determinados parâmetros nocionais e operacionais, presentes no referido estudo, e realçando três aspetos fundamentais, como entendem Andersen & Burns (1989): o posicionamento, a finalidade e o plano de investigação. Para esta análise, elegemos o paradigma quantitativo de investigação. Esta escolha resulta do facto de considerarmos que o inquérito por questionário se integra, entre os métodos e técnicas, de maior produtividade investigativa (Pinto, 1997). Por seu lado, Costa (2001) entende que a realização de questionários, recorrendo a contactos pessoais de carácter pontual, é dos métodos e técnicas mais indicados para um estudo de caso. Optámos, pois, por esta opção por ser “a técnica de

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construção de dados que mais se compatibiliza com a racionalidade instrumental e técnica que tem predomínio nas ciências e na sociedade em geral” (Ferreira, 2001: 67), bem como pela dualidade de perspetivas que esta técnica oferece: “é extremamente útil, em especial se apresentar características de flexibilidade nomeadamente mediante o atenuar da sua excessiva diretividade pela inclusão de questões abertas, mais aptas a respeitarem o discurso dos inquiridos” (Lopes, 1997: 83). Permite, ainda, a inferência estatística, sem a qual não seria possível verificar hipóteses nem analisar as correlações que as hipóteses oferecem, ideia que vai ao encontro da posição de Quivy & Campenhoudt (1998) e que consideram que uma das principais vantagens na aplicação de um questionário assenta na possibilidade de quantificar uma multiplicidade de dados. Na nossa perspetiva, consideramos que numa investigação se torna essencial selecionar e definir as técnicas de recolha de dados que melhor se adequam à situação estudada, de modo a permitir uma boa avaliação da investigação e que esta seja representativa daquilo que se pretende estudar. Assim, a técnica de recolha de dados utilizada deve ser abrangente e permitir ultrapassar limites no tratamento de dados, além de também permitir despontar diferentes visões dos indivíduos sobre um tema definido (Galego & Gomes, 2005). Optámos por apenas utilizar o método quantitativo por este nos parecer o mais adequado ao tipo de público-alvo em que assenta e desenvolvemos a nossa investigação. Outra razão que norteou a nossa opção, por um só método de pesquisa, foi a natureza breve bem como as características concetuais do processo RVCC. Tornava-se, deste modo, cronologicamente inexequível a aplicação de outro método investigativo que não este, muito embora considerarmos que a complementaridade ao nível dos dois métodos – quantitativo e qualitativo106 – poderia ter sido contemplado sempre que possível, pela natureza explicativa da realidade tratada e pelos vínculos dinâmicos estabelecidos entre os sujeitos intervenientes (Caws, 1989). Porém devido à amostra (60 indivíduos) e devido à durabilidade do processo, considerámos não ser viável a utilização concomitante dos dois métodos.

Procedemos, então, à elaboração de três questionários que foram aplicados em três fases distintas. O instrumento é constituído com perguntas do tipo fechado, predominando as de escolha múltipla e visando possibilitar as respostas alternativas. Este tipo de questões que aqui figuram são sobejamente recorrentes na maioria dos inquéritos que pretendam aferir o grau de satisfação, no funcionamento de um CNO, ou de proficiência do processo de RVCC.

106 As investigações que norteiam as Ciências Sociais e Humanas tendem a optar por determinados

métodos que parecem ser dominantes no paradigma da investigação em educação. Geralmente, optam por estes métodos os investigadores que põem em prática processos de medida ou métodos experimentais ou quasi-experimentais, análise estatística de dados e modelos de matemáticos destinados a testar hipóteses, ou a descrever situações educacionais de forma mais rigorosa. Segundo Chizzotti (2003), a pesquisa qualitativa readquire atualmente, um campo transdisciplinar que envolve todas as ciências humanas e sociais e da educação, assumindo paradigmas de análise que derivam do positivismo, da fenomenologia, da hermenêutica, do construtivismo, entre outros. Na investigação qualitativa é imperioso a seleção de um focus-group, que sirva de estudo, para a recolha de dados, aplicação de questionários e entrevistas, registo áudio ou vídeo e outras técnicas de observação relevantes para a investigação.

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Nesta investigação, é nosso objetivo aferir o grau de proficiência linguística que o processo de RVCC tem nos adultos que frequentam este tipo de formação ao longo da vida não descurando que, além desta vertente, a ela está associada a questão da leitura e da escrita, bem como os hábitos desenvolvidos, antes e após o processo. Neste sentido, não podemos deixar de referir Giasson (1993), Sardinha (2005) ou Cruz (2007), entre outros, que apontam um conjunto de métodos, associados à leitura, encontrando-se os mesmos em permanente dialética com as capacidades metacognitivas, aliás, essenciais para a compreensão do texto.

Até um passado recente, os CNO’s tiveram uma grande procura por parte de uma percentagem considerável de portugueses que pretendiam aumentar as suas qualificações por terem níveis escolares incompletos. No entanto, será que o aumento de qualificações acompanha o aumento dos níveis de literacia e da proficiência linguística dos adultos? Tal como referimos e, sendo a literacia, num sentido lato, a capacidade de compreender e analisar criticamente a realidade não se limitando o seu sentido concetual a saber ler e escrever, mas alargando-se a outros domínios não menos importantes (sobretudo a leitura, a escrita e a numeracia), urge questionar a sua viabilidade e proficuidade na capacidade de entendimento das capacidades linguísticas dos adultos que frequentaram o processo de RVCC. Na realidade, os CNO’s emergiram no seio de recentes políticas de Educação e Formação de Adultos, na última década, como consequência da valorização das aprendizagens experienciais decorrentes dos mais variados contextos de vida, tendo como objetivo a redução de défices significativos de qualificações escolares e profissionais da população portuguesa, impedindo a implementação de uma cultura de inserção social e de valorização escolar e profissional. De facto, após vários anos de preocupações constantes nesta área e de várias políticas que se destinavam a aumentar a escolaridade da população, atualmente a realidade portuguesa afasta-se da europeia: “numa Europa em que 12 anos de escolaridade e formação se vai tornando norma, mais de 2/3 da população adulta portuguesa, cujo nível de aproveitamento escolar não ultrapassa os 6 anos, desenham um quadro social preocupante.” (Melo, 2001: 120).

Almeida (2003) conduziu um estudo onde constata que as principais mudanças holísticas no indivíduo se relacionam com as mudanças em torno da valorização pessoal, aumento da autoestima, motivação para integração em futuras ações de formação. Trata-se, pois, “de um processo bastante enriquecedor e que proporciona uma melhoria nomeadamente a nível intrapessoal, da qualidade de vida do sujeito, dando-lhe a possibilidade de ir sempre mais além” (Almeida, 2003: 196). Em 2004, foi elaborado um outro estudo conduzido pelo CIDEC, com vista a demonstrar o impacto do processo de RVCC ao nível formativo dos adultos, tendo-se concluído que “13% dos adultos inquiridos prosseguiram estudos no âmbito do sistema do ensino regular, tratando-se maioritariamente de mulheres e jovens que já tinham frequentado o 3º ciclo do Ensino Básico, trabalhadores por conta de outrem e com situação profissional mais favorável do que a média da amostra respondente” (CIDEC, 2004: 61). Estas conclusões corroboram o estudo de Carneiro (2009c: 45) que, baseando-se em factos apontados pela OCDE, refere que “o crescimento do PIB em Portugal poderia ter sido em

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média mais elevado, entre os anos 70 e 90, se os nossos níveis de escolaridade estivessem equiparados à média da OCDE”. Opinião semelhante tem o estudo conduzido pelo CNE (2011), apontando que a última década é a percursora da grande alteração das habilitações da população portuguesa, que as viu aumentadas, sobretudo no ensino básico: “ o grupo que tem como habilitação máxima o 1º e o 2º ciclo do ensino básico decresceu de 55% para 40,6%, enquanto os detentores de 3º ciclo do ensino básico evoluíram de 14,5% para 22,2%” (CNE, 2011:20). Estes estudos comprovam os efeitos positivos do processo de RVCC na vida das pessoas, a vários graus, não podendo descurar os efeitos que este tem a nível psicológico, refletindo-se, indubitavelmente, a nível escolar e profissional.

A nossa investigação incide nestes pontos. Pretendemos contribuir para mais um esforço de investigação a inscrever-se nesta linha de pesquisa. Além do mais, o nosso envolvimento neste projeto de certificação, como formadora, desde maio de 2005 a dezembro de 2008 e como profissional de RVC, de janeiro de 2009 a dezembro de 2011, permitiu-nos um contacto muito próximo com os adultos com quem trabalhámos, facto que terá contribuído para nos apoderarmos de uma visão privilegiada desta modalidade de formação, nomeadamente a emergência do interesse exploratório que este processo tem na vida das pessoas que precocemente abandonaram a escola, mas que a dado momento das suas vidas tiveram a coragem e ousadia de quererem ver as suas competências e percursos de vida certificados. Sustentamos as hipóteses de que a frequência do processo de RVCC, enquanto modalidade de educação e formação de adultos, fomenta uma maior predisposição para a participação ativa dos indivíduos no mercado de trabalho, na vida laboral, em ações de formação que promovam a aquisição e melhoria das competências pessoais e profissionais. Estas posições, na nossa perspetiva, ancoram no impacto que este processo tem na vida das pessoas e nas competências e aptidões desenvolvidas, ao nível linguístico. Abordado numa perspetiva de aprendizagem ao longo da vida (lifelong) e em todos os domínios da vida (lifewide), os indivíduos tornam-se seres ativos, participativos e responsáveis da sua formação e auto-aprendizagem.

Entendemos que a análise das competências linguísticas desenvolvidas após a frequência do processo de RVCC pode ser considerada uma investigação, em virtude de contribuir para a melhoria das competências de literacia da leitura e da escrita, num contexto social e profissional. A utilização dos métodos analíticos na investigação experimental, ou neste caso quase-experimental, pressupõe a observação de fenómenos, de uma amostragem, da formulação de hipóteses explicativas que corroborem as teorias iniciais, bem como a verificação ou rejeição das hipóteses iniciais.

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