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Como foi referido, anteriormente, a leitura tem como objetivo obrigar à interação entre a linguagem oral e a comunicação humana, através da capacidade comunicativa de cada ser humano. A este propósito, Martins & Niza (1998) apresentam uma sinopse, bastante pormenorizada, das principais funções e objetivos da leitura que pode ter muitas funções, sendo uma das primordiais - adquirir uma determinada informação, pois lê-se para ficarmos informados, sem ter de haver interpretação semântica do sentido, apenas com caráter informativo: lemos um rótulo de um produto, uma notícia, um anúncio, seja de que natureza for. A natureza do texto não é relevante, já que tanto pode ser texto informativo, utilitário ou publicitário

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fazendo-se, contudo, referência ao contexto, de forma a resumir o conteúdo textual. Segundo as autoras, um segundo objetivo refere-se a um tipo de leitura, feita para obter uma informação precisa, ou para classificar e ordenar informação, isto quando pretendemos obter qualquer informação de um horário de um espetáculo, de um transporte, na procura de um significado de uma palavra, no dicionário. É um tipo de leitura bastante seletiva, ao optarmos pelo essencial, preterindo o acessório.

O terceiro objetivo relaciona-se com a tentativa de tentar obter instruções de realização de algo, concretizável na leitura da montagem de um móvel, de funcionamento de um eletrodoméstico, da dinâmica de um jogo, de uma receita de culinária, sendo que neste tipo de instruções há, geralmente, o recurso ao escrito e ao icónico; o quarto objetivo, da leitura, associa-se à fruição do ato, é a leitura por prazer, destinado a provocar a emoção no sujeito, requerendo um tipo de leitura mais intimista, onde o silêncio impera: ao ler um conto, um romance, uma letra musicada, o sujeito deixa-se levar pela emoção desenvolvendo a criatividade estética. Um quinto objetivo da leitura aponta para a simples aquisição de novos saberes, quando se aprofunda um tema, quando se lê um artigo científico, um livro técnico, sendo geralmente um processo lento onde se recorre várias vezes à indagação e interrogação, requerendo a constante formulação de sínteses e correlação com outros assuntos; finalmente, o sexto objetivo da leitura, apontado pelas autoras, refere-se ao ato de leitura, por parte do sujeito, de um texto por si produzido.

Cada leitor vai tomar contato com um texto na sua língua materna e, por língua materna, entendemos aquela que cada um de nós aprende desde os primeiros dias de vida para poder comunicar no seu meio familiar, social e futuramente, no profissional; Sim-Sim (1998:25) define-a como “o sistema adquirido espontânea e naturalmente, e que identifica o sujeito com a comunidade linguística”. Desde a escolarização que o indivíduo toma contato com a língua materna e com todas as regras gramaticais que lhe estão subjacentes. Ora, no Currículo Nacional do Ensino Básico (s/d: 32), entende-se por leitura todo o processo dialético entre o leitor e o texto, onde o primeiro (re)constrói o segundo; por outro lado, o Programa Nacional de Língua Portuguesa para o ensino básico e, concordando com a organização curricular e programas do ensino básico (2004), a leitura surge, a par com a escrita,

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emoldurada no domínio da compreensão escrita com diretrizes chave e bem explícitas quanto ao teor e funcionalidade, para ambas de forma equitativa, para que se promova o gosto pela leitura e pela escrita: “desenvolver o gosto pela leitura e pela escrita e desenvolver as competências de escrita e de leitura” (Programa Nacional de Língua Portuguesa: 146). O Referencial de Competências-chave de Nível Básico (Alonso, 2001: 17) também aborda a questão da leitura e, por conseguinte, da escrita, fazendo, porém, uma ressalva para o uso eficaz da linguagem, sendo que esta área “compreende todas as formas de expressão e revelação do pensamento, não se limitando à noção de ‘Língua’ nem à vertente ‘verbal’” (Alonso, 2001: 17).

A leitura assume algumas dimensões importantes, no sentido de preparar leitores com um nível de competência satisfatório neste domínio, de modo a coadjuvar no uso da sua aprendizagem. Com efeito, as situações comunicativas e a multiplicidade de contextos com os leitores, e realçamos sobretudo os leitores iniciais como as crianças, exigem o domínio da leitura e das competências a ela agregadas, de forma a evitar-se a exclusão social e escolar devido a lacunas nas capacidades do conhecimento. Apontamos, assim, em traços muito gerais, as dimensões que ela congrega: dimensão informativa (ao ler uma notícia de um jornal, ver televisão, ler uma revista, consultar uma entrada no dicionário, leitura de instruções de uso ou de realização de algo); dimensão formativa (associada à leitura literária, realizada com a função de enriquecimento linguístico e vocabular e melhoria da fluência e capacidade crítica); dimensão socializadora (realizada para se operar a capacidade reflexiva, para descobrir ou desenvolver valores); dimensão lúdica (uma das funções da leitura é permitir e promover o sonho a imaginação, lê-se para fruir e comprazer do mundo ficcionado) e dimensão estética (talvez a forma superior de arte de ler, só o leitor experimentado consegue aquiescer a esta dimensão de deleite e de empenho cívico na sociedade) (Cadório, 2001).

Glenna Davis Sloan (1991), refere-se à importância e a necessidade de selecionarmos textos “pessoalmente relevantes e semanticamente significativos”78. Segundo a autora, os textos devem comunicar algo aos seus leitores, caso contrário, pode-se criar uma situação que leve ao inverso, à desmotivação, dificultando o processo de aproximação à leitura. Por isso, os momentos iniciais, de contacto com o texto e com o processo de leitura, permitem desenvolver várias vertentes fundamentais para o desenvolvimento de competências, que, de certa maneira, acompanharão o leitor no seu percurso, enquanto sujeito promotor da função e da capacidade de compreensão de textos escritos, interpretando o que lê, estabelecendo relações com as suas experiências pessoais e fazendo associações entre factos apresentados. O desenvolvimento da competência leitora opera-se ao longo da escolaridade para garantir, ao aluno, o acesso à literacia plena, tendo como objetivo principal a integração do indivíduo nas diferentes comunidades em que atua. Mas, para que esta competência se mantenha ativa

78 Esta autora refere-se, neste contexto, ao processo de ensino-aprendizagem. O professor numa

situação destas deve ter em atenção qual o tipo de textos selecionados, que de preferência devem ir ao encontro dos interesses e expectativas dos alunos.

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e seja relevante na autoformação do leitor, torna-se vital que este se treine, caso contrário, terá o efeito inverso, pois a leitura ativa-se e aperfeiçoa-se quando treinada.

2.3 – A compreensão da leitura e o envolvimento dos processos

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