educativa na participação de todos (Melo et alii, 1998).
48 Na sua dissertação de Mestrado, Recursos Multimédia na Alfabetização, Literacia e Inserção Social,
Universidade Aberta, Luís Manuel António Dias documenta o processo de alfabetização em Portugal, realçando e dando ênfase ao período designado pela Década da Alfabetização.
49 Esta Conferência Mundial realizada em 1990, na Tailândia, tinha vários objetivos a atingir no âmbito
da redução do analfabetismo adulto até ao final da década. Realizou-se em 2000 em Dacar, no Senegal o Fórum Mundial da Educação onde se reafirmou o empenhamento na Educação Para Todos e determinou que até 2015 todas as crianças deveriam ter acesso a educação básica gratuita e de boa qualidade.
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(Tratado de Amesterdão; Cimeiras Governamentais do Luxemburgo, realizada em 1997; Cimeira de Lisboa, Estocolmo e Barcelona, estas visando sobretudo estratégias europeias de emprego). A União Europeia ambicionava construir uma Europa avançada, dinâmica e competitiva. Para que tal acontecesse, era necessário formar e proteger uma mão-de-obra qualificada e moldável. Urgia, então, “potenciar o contributo de todos os trabalhadores, investindo na formação profissional e na certificação (…) apoiando a construção de projetos pessoais realistas, a partir das diferentes formas de vida pessoal, profissional e social, de forma a maximizar o contributo de todos, no aumento da competitividade e na melhoria de aproveitamento de oportunidades de trabalho disponíveis, aumentando as hipóteses de mobilidade profissional” (Alcoforado, 2008: 232; Comissão Europeia, 2001; CEDEFOP, 2005).
Na segunda metade da década de 90, com o XIII Governo Constitucional serão emanadas novas orientações na educação de adultos, que passa a ser considerada uma área de intervenção prioritária, com propostas globais e tentando articular saberes e modalidades formativas, com o intuito de minimizar e aniquilar o estigma e a marginalidade, a que esta vertente da educação esteve votada durante décadas. Tendo como base as palavras de Cavaco (2008: 103), durante esta legislatura previu-se a “articulação entre as medidas da educação e da formação profissional e aposta-se na colaboração entre o Ministério da Educação e o Ministério da Qualificação e Emprego, numa tentativa de integrar a educação de base de adultos e a formação profissional, domínios que estiveram separados, em Portugal.” De facto, a atuação deste governo teve grande influência pelas políticas da União Europeia, determinadas pelo Livro Branco da Educação e Formação (1995), conduzidas no sentido de desenvolvimento do conceito de aprendizagem ao longo da vida. Estas recomendações tiveram eco e a Resolução nº 92/98, de 14 de julho, por decisão conjunta dos Ministérios da Educação e do Trabalho e da Solidariedade50. Vêm efetivamente criar e lançar algumas iniciativas e recomendações, sobretudo o programa Ações S@ber+51. Esta Resolução vem tentar “relançar a educação de adultos em Portugal, por um lado, o pleno reconhecimento do direito à educação e formação ao longo da vida e, por outro, a urgência de um compromisso nacional visando dar resposta às novas exigências da sociedade globalizante e às mutações da vida profissional no mundo atual” (Resolução do Conselho de Ministros nº 92/98, de 14 de julho). Entre muitas orientações e medidas tomadas por esta legislatura, destacamos a criação da Agência Nacional de Educação de Adultos (ANEFA) oficializada através do Decreto- Lei nº 387/99, de 28 de setembro, surgindo pela primeira vez, em Portugal um instituto público, “com autonomia científica, técnica e administrativa”.
O XIV Governo Constitucional (2000) defende as parcerias, a organização local das iniciativas e a articulação entre a formação e emprego, privilegiando a certificação das aprendizagens informais. A ANEFA vem dar atenção e valorizar os Cursos de Educação e Formação de Adultos (cursos EFA), onde os candidatos sairiam com dupla certificação, ou
50 Sob este tema, cf. Melo, 2001: 105.
51 As Ações S@bER+ caracterizam-se por serem ações de curta duração destinadas para a aquisição ou
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seja, certificação escolar e profissional e num contexto mais recente o lançamento da rede de Centros de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências, de que nos deteremos mais adiante. Em 2002, o novo governo extingue a ANEFA e criou a Direcção-Geral de Formação Vocacional (DGFV). Esta mudança vem indiciar novas mudanças no âmbito da educação de adultos. Segundo Lima (2005: 49), passa a “uma nova evacuação dos discursos de política educativa”; mas Alcoforado (2008: 239) considera que não se pode deixar de valorizar o trabalho realizado pela ANEFA, ao longo da sua curta existência, pois conseguiu fazer aquilo que, dificilmente, outra estrutura pública portuguesa conseguiria, realçando em particular “a capacidade de implementar o sistema de RVCC e de criar um clima de esperança e envolvimento”. Pretendia-se a qualificação também dos recursos humanos, num setor extensivo, a política de educação de adultos abrangeria adultos e jovens.
Em suma, a educação de adultos passou por várias fases, umas mais positivas e protecionistas para o cumprimento do seu objeto, outras nem tanto. Atrevemo-nos, após este levantamento teórico, histórico e ideológico a agrupar estas fases em momentos, que consideramos marcos decisivos e categóricos e que bosquejaram o rumo desta área de educação: 1985-1995, época do ensino recorrente e incremento/implantação da formação profissional52; 1995-2002, fase de reorganização da educação de adultos, com o lançamento da ANEFA e das políticas inovadoras que a ela estavam subjacentes, a abrangência, peso ideológico e político desta Agência ficou “aquém das propostas do Grupo de Trabalho (Melo et
alii, 1998) e da proposta da equipa da Universidade do Minho (Lima, Afonso & Estevão, 1999).
Com a Agência nasceu o sistema de RVCC, criação de cursos EFA e Ações S@ber+; no período que medeia 2002-2004, foi um novo período inquietante para a educação de adultos, assistindo-se a nova desvalorização e estagnação das políticas de educação de adultos, extingue-se a ANEFA e surge, no seu lugar a DGFV. Veloso (2011b: 240) considera os anos de 1995-2002 como sendo o período de algum respeito pelos adultos, sobretudo idosos, na tentativa de erradicar com o estigma criado à volta da terceira idade. Tenta-se, com estas políticas, aproveitar o saber e a experiência desta camada da população e transformá-la num política pública, de forma a incentivar e facilitar o acesso à educação, na terceira idade. O período de 2005-2011, consideramos que foi, de certa forma, o período áureo das políticas de educação e adultos, conseguido com a Iniciativa Novas Oportunidades que vem chamar a atenção a uma faixa etária da população já de si esquecida e considerada “remediada”, em termos educacionais, mas onde grande parte da população ainda se mantem no ativo, por diversas razões, acumulando um saber inigualável e inquestionável. É também considerado essencial a qualificação da mão-de-obra portuguesa, objetivo assumido perante a União Europeia e delineado na Estratégia de Lisboa. O período iniciado em 2012 é, em nosso entender, uma incógnita: a educação de adultos regrediu, assumindo-se, novamente, como o complemento do excedente da formação, a população adulta e a menos qualificada, volta a
52 Foi um período importante, como já foi explanado, ao longo desta tese, com o ensino recorrente e
ações no âmbito da educação extraescolar e outras ações financiadas pela CEE, da altura. Pretendia-se a integração no mercado de trabalho (Lima, 1994), sendo que o público-alvo ficou sobretudo concentrada nos jovens e com pouca abrangência aos mais adultos (Rothes, 2000).
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ser relegada para o esquecimento, deixa de ser uma prioridade ter uma mão-de-obra qualificada, que possa competir com os congéneres europeus.
A noção de aprendizagem ao longo da vida teve um grande impulso com o Memorando emanado do Conselho Europeu de Lisboa, em 2000, refletiu-se acerca dos problemas estruturais e as suas influências e participações diretas e indiretas na produtividade e competitividade nacional; o problema das qualificações dos portugueses também foi levantado, concluindo-se que existia um fosso entre a média nacional e as europeias, estimando-se na altura, que em cerca de 4 700 000 de ativos, 2 400 000 não possuíam a escolaridade mínima de nove anos.
A taxa de analfabetismo, em Portugal, tem variado ao longo dos anos, consoante as mutações sociais, mas surge um novo fenómeno, os chamados analfabetos funcionais ou iletrados, aqueles que sabem ler e escrever, mas não possuem qualquer nível de instrução, ainda apresentam um valor demasiado elevado.
Tabela 4 - Taxa de analfabetismo dos anos de 1890, 1900, 1911, 1920, 1930, 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 2001, 2011
Evolução da Taxa de analfabetismo
Anos População 1890 76,2% 1900 73% 1911 68,9% 1920 65% 1930 60,0% 1940 52% 1950 41,5% 1960 26,7% 1970 25,6% 1981 47,3% 1991 34,5% 2001 26,4% 2011 19%
Fonte: INE (Censos de 1890, 1900, 1911, 1920, 1930, 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 2001, 2011)