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A LUTA PELA ESCOLA ITINERANTE EM SANTA CATARINA

No documento A Escola da luta pela terra (páginas 60-62)

A necessidade de se construir escolas nos acampamentos do MST em Santa Catarina está relacionada à sua origem, pois desde as primeiras ocupações havia a preocupação com a escolarização dos filhos e filhas dos Sem Terra. Para que isso se tornasse realidade era necessário travar lutas. Em um primeiro momento, o Movimento procurava as redes municipais de educação para a criação de escolas nos acampamentos ou a inclusão das crianças nas escolas existentes no município em que se localizava o acampamento. O frequente deslocamento dos acampamentos de um município para outro mostrava um grande limite de inserção das crianças nas redes municipais de ensino. A cada município todo o processo se iniciava novamente.

Nessa luta nem sempre havia a garantia de construção de escolas ou a inclusão das crianças nas escolas existentes no município, porque a estrutura física das escolas municipais não atendia a demanda

e a construção de escolas levava algum tempo e, com isso, as crianças acabavam perdendo o ano letivo. Para que as crianças Sem Terra não ficassem fora do processo educacional escolar, a comunidade acampada em conjunto com o setor de educação do MST organizava a escola, mesmo sem o reconhecimento legal do Estado. Os educadores eram escolhidos pela comunidade acampada, sendo que se observavam alguns critérios como: estar acampado, ter gosto pelo magistério e pelo estudo e ter o maior grau de escolaridade.

Assim como descrito anteriormente, neste primeiro momento se buscava legalizar as escolas dos acampamentos junto aos municípios em que estas se situavam. Onde as administrações eram mais simpáticas à luta pela terra, as escolas eram legalizadas como extensão de uma escola da rede municipal, mas em outros municípios, os representantes das secretarias municipais de educação argumentavam que a lei não permitia. A partir desta situação se percebeu que a solução do problema não era definitiva. Começa então uma nova etapa de luta pela escola das comunidades itinerantes.

Como no Rio Grande do Sul a aprovação da Escola Itinerante é de 1996, o MST de Santa Catarina buscou nessa experiência subsídios para a elaboração do projeto de Escolas Itinerantes no estado. A elaboração do projeto para a criação dessa modalidade de escola em Santa Catarina surge da demanda de garantir a escolarização das crianças e o reconhecimento das experiências de escolas já desenvolvidas. O projeto estava amparado na legislação vigente: a Constituição Federal e Estadual; o Estatuto da Criança e do Adolescente; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; a Resolução nº 01/2002/CNE/CEB que trata das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo e a Lei Complementar Estadual nº. 170/1998.

Nos acampamentos do MST no estado de Santa Catarina, quando da aprovação do projeto da Escola Itinerante, havia oito escolas em funcionamento. Algumas destas escolas não possuíam o reconhecimento legal e outras se encontravam legalizadas pelos municípios como extensão de outras escolas municipais. Nestas oito escolas em funcionamento contava-se com 11 educadores e 252 educandos e hoje (2009), estão funcionando com 11 educadores e 144 educandos.

No período em que funcionavam as escolas nos acampamentos sem o reconhecimento legal, em algumas situações houve uma forte pressão do poder judiciário para o fechamento delas. Um exemplo de como eram tratadas as escolas de acampamento, antes da aprovação da Escola Itinerante, foi o ocorrido no acampamento Manoel Aves Ribeiro, localizado no município de Três Barras, onde os pais e o educador foram intimados e processados pela justiça. O educador por se dispor a desenvolver atividades pedagógicas para educar as crianças do acampamento e os pais por quererem que seus filhos estudassem. Nas palavras do próprio educador Cléber: “Na delegacia, quando o delegado me chamou, olhou bem, dos pés à cabeça, e indagou:- Então, é você o criminoso? - Se dar aula de graça for crime, então sou eu mesmo - respondi.” (Menezes Mori, 2006 p.12).

Para a conquista do reconhecimento legal das escolas nos acampamentos foi necessário mobilizar o conjunto do MST e empreender lutas junto ao poder público estadual. As mobilizações utilizadas foram várias, tais como: a marcha no ano 2003, em que aproximadamente oitenta Sem Terra atravessaram o estado e um dos pontos de pauta foi a aprovação das Escolas Itinerantes. Além disso, foram feitas diversas audiências com a Secretaria Estadual de Educação e com o governador do Estado Luiz

Henrique da Silveira3.

Esta luta foi feita não só pelos adultos. Os Sem Terrinha também estiveram presentes. Exemplo disso foi o 3º Encontro Estadual dos Sem Terrinha, realizado em 2004, em Florianópolis, quando ocorreu uma audiência com o Governador do Estado e o Secretário Estadual de Educação.

Os diversos espaços e momentos de luta, aliados a uma abertura do então secretário de educação para o diálogo, culminou na aprovação do projeto que autoriza o funcionamento das escolas dos acampamentos, na modalidade de Escola Itinerante como experiência pedagógica, pelo Conselho Estadual de Educação, sob parecer 263 de 21/09/2004, por um período de dois anos. Posteriormente, esta experiência foi prorrogada por um período de quatro anos.

Após a aprovação desse projeto foram realizadas reuniões de formação e discussão sobre a organização e funcionamento dessa escola em todos os acampamentos. O encaminhamento construído com as famílias foi de que todas as escolas dos acampamentos passariam a ser itinerantes e vinculadas à Escola Base 30 de Outubro e, portanto, à Rede Estadual de Ensino. A exceção foi a escola do acampamento Oziel Alves. O ano letivo teve início no dia 21 de fevereiro de 2005 em todas as escolas.

No documento A Escola da luta pela terra (páginas 60-62)